sábado, 10 de junho de 2017

PETISCOS DO MUSICARIA

Por Joaquim Macedo Junior


Bezerra da Silva: sambista, malandro, carioca típico, nascido no Recife-PE


Alguns dos maiores ícones artísticos, políticos, intelectuais e avulsos de vários países e regiões não são naturais do país ou local em que são ídolos.

O caso mais clássico que me vem à mente é de Carlos Gardel, o maior representante do tango e certamente o maior ícone da cultura popular argentina. Presume-se que nasceu em Paris; há quem garanta que é uruguaio de nascença, mas poucos se atrevem a negar-lhe a identidade nacional argentina.

Prefira-se, então, para evitar confusões, a formulação que ele mesmo fez para afastar-se dessa incômoda questão: “senhor Gardel, afinal, onde de fato o senhor nasceu”, perguntou o entrevistador. Rápido, como as nuances de um tango, disse “sou nascido na Argentina desde os 4 anos”.

Há o caso conhecido de Milton Nascimento, o mais mineiro das Alterosas. Nascido, porém no Rio de Janeiro.

Mas aquele que mais chamou a atenção foi Anthony Quinn, ator de mais de 150 filmes, entre os quais “As Sandálias do Pescador”, “Lawrence da Arábia” e “Zorba, o grego”, o belíssimo filme que colocou Quinn, ainda em 1964, no patamar dos grandes atores épicos.

À parte a ligação direta com o nome do filme, até bem pouco tempo tinha Quinn como grego mesmo, quem sabe, talvez, originário de algum dos países balcânicos, hoje Iugoslávia. Pois bem, Quinn é conterrâneo de Mario Moreno, o Cantinflas, portanto, um mexicano.

Mas essa coisa não chega a ser tão incomum assim, não. Quando quero zoar com os cariocas, afirmo que 3 (três) dos maiores sambistas do Rio são mineiros: Ataulfo Alves, João Bosco e Ary Barroso.

Nesta linha trago para a coluna de hoje um dos maiores e mais originais sambistas cariocas. Da linhagem de Moreira da Silva e Dicró, Bezerra da Silva compôs um álbum parodiando os três tenores – Pavarotti, Carreras e Placido Domingo.

Ok, Bezerra da Silva é mesmo patrimônio do samba de partido alto, do fundo de quintal e do bom pagode do Rio de Janeiro.

Pois bem, José Bezerra da Silva é sim um carioca da gema, nascido no Recife em 23 de fevereiro de 1927, falecendo no Rio, em janeiro de 2005.

Foi cantor, compositor, violonista, percussionista, oficialmente intérprete dos gêneros coco e samba em especial partido alto.

No princípio, dedicava-se a gêneros nordestinos, principalmente o coco, até se transformar num dos principais expoentes do samba.

Por meio do samba, cantou os problemas sociais encontrados dentro das comunidades, apresentando-se no limite da marginalidade e da indústria musical.

Bezerra da Silva estudou violão clássico por 8 (oito) anos e passou outros 8 (oito) anos tocando na orquestra da TV Globo, sendo um dos poucos partideiros que lia partituras.

Gravou seu primeiro compacto em 1969 e o primeiro disco em 1975. Lançou 28 álbuns em toda a carreira, que venderam mais de 3 (três) milhões de cópias. Ganhou 11 Discos de Ouro, 3 (três) de platina e um de platina duplo (?).

Apesar de ser um dos artistas mais populares do Brasil, foi praticamente ignorado pelo “mainstream”.




– Aos 15 de idade, depois de ser expulso da Marinha Mercante, Bezerra viajou ao Rio, com o objetivo de encontrar o pai (separado de sua mãe) e fugir da pobreza. Teria encontrado o pai, mais a relação não foi boa e acabou ficando sozinho.

Passou a trabalhar na construção civil, como pintor de paredes e tinha como endereço a obra na zona central do Rio. Pelos idos de 1949, foi morar com uma dona no Morro do Cantagalo, na Zona Sul.

Parece que Bezerra da Silva seria, hoje, muito atual


Juntamente com o trabalho de pintor, começou a desenvolver a verve musical, a partir do coco de Jackson do Pandeiro e logo ingressou na bateria do bloco carnavalesco “Unidos do Cantagalo”, tocando tamborim.

Boêmio e malandro foi detido dezenas de vezes pela polícia e acabou desempregado, em 1954. Durante muitos anos, viveu como morador de rua em Copacabana, quando chegou a tentar o suicídio.

Ligou-se a um terreiro de Umbanda e lá descobriu sua mediunidade. Sua mãe-de-santo teria lhe confirmado que seu destino era a música.

O sambista pernambucano foi tema do livro “Bezerra da Silva – Produto do Morro”, de Letícia Viana, lançado em 1998.

O cantor Marcelo D2 prestou-lhe uma homenagem, 2010, com o Álbum “Marcelo D2 canta Bezerra da Silva”.

Em 2012, foi lançado o documentário “Onde a Coruja Dorme”, de Marcia Deraik e Simplício Neto, que destaca os compositores de suas músicas, trabalhadores anônimos, que abordavam em suas letras temas da realidade brasileira como o malandro, o otário, o alcaguete, a maconha.

Foi casado com Regina de Oliveira, também sua empresária e até mesmo uma de sua compositoras, sob o pseudônimo de Regina do Bezerra. Antes de se fixar como grande nome do partido alto, Bezerra fez cocos como este:




Semana que vem, tem mais…..

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