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terça-feira, 30 de junho de 2015

LENDO A CANÇÃO

Por Leonardo Davino*






Somos cantados desde o útero materno. E nossa mãe é a sereia primordial: aquela que nos oferece a força matriz - uma constante humana - da tomada de posição na vida. A razão estética das mães e das sereias se constitui, portanto, no ato deliberado de cantar o filho-navegador. Ou seja, se a mãe e a sereia vivem para cantar, elas só existem porque cantam: cantar o outro é o que mantém-nas vivas.

E eis o desenho dessa complexa relação de reciprocidade, pois, por outro lado, ser cantado - ser ouvinte (filho e navegador) - implica em tornar-se dependente do canto, e de quem canta: veneno-remédio. Afinal, como Kafka anota em O silêncio das sereias: "As sereias, porém, possuem uma arma ainda mais terrível do que seu canto: seu silêncio".

Fora do útero, passamos a vida cantando e sendo cantados, não necessariamente com a mesma exuberância paradisíaca, daí a circularidade permanente da ilusão e, até porque, precisamos cantar também: ser mães e ser sereias de outros.

A neosereia, o cancionista moderno, que faz uso da aparelhagem técnica e das gravações mecânicas disponíveis ao seu cantar, investe no paradigma humano ao reciclar temas e estilemas que tencionam a presença do indivíduo no mundo.

Daí a alegria latino-americana com sua profusão de ritmos e estilos cancionais. Por aqui, há mimos para todos os gostos e necessidades. O cancionista daqui trabalha com um raio imenso de significantes oriundos das misturas, da mestiçagem e da hibridação que nos constituem, sem medo de assumir influências, pois sabe que a autoria e a assinatura da canção estão no lugar do rearranjo que engendra com aquilo que as canções que lhe antecederam oferecem.

Tal rearranjo não se dá se qualquer jeito, mas precisa criar no ouvinte uma experiência estética forjadamente despretensiosa e aí reside o trabalho poético do cancionista. A fim de ninar o ouvinte, letra, palavra e gesto vocal precisam se equilibrar no eixo exato do desejo de quem ouve - quando não criar desejos - naquele instante ficcional em que a vida, com seus efeitos especiais, parece valer a pena.

O cancionista moderno é um ouvinte de canção. E isso não é pouco, pois sugere a mobilização da tradição. O cancionista moderno, a neosereia, usa as mídias como forma de canção. É isso que Marcela Bellas - no disco Será que Caetano vai gostar? (2009) - faz com a canção "Mamãe sereia", de Mário Mukeka e André Mury.

Marcela Bellas trabalha misturando sons de sintetizadores e tambores afim de criar uma cama sonora líquida - molhada - para a voz da mãe/sereia do título da canção. Isso radicaliza a mensagem do sujeito que pede à figura mítica: "Bota esse menino pra nascer / Bota esse menino pra correr / Bota esse menino no mundo que é pra ele ver".

O pedido deixa vazar um corte agridoce no cordal umbilical que vai do ouvinte ao seu cantor: filho/mãe; navegador/sereia. Ao justapor a figura da mãe e da sereia, o sujeito da canção coloca diante do espelho dois seres cantantes - Medusas no espelho - neutralizando e/ou exacerbando suas forças.

Para tanto, o sujeito recorre a Iemanjá e a Oxum - entidades que reinam sobre as águas - como metáfora poética do mergulho do sujeito liberto no mundo sonoro que ele mesmo passa a criar para si, sem a mediação materna e/ou sirênica.

Obviamente, seja como for, a interdepedência fica configurada: mães, sereias e deuses assim são porque assim os presentificamos em nossas vidas. Cabe ao indivíduo, assim como afirma fazer o sujeito de "Mamãe sereia", botar linha nas conchinhas da mamãe sereia (da vida) e fazer um colar. Aliás, é isso que faz Marcela Bellas ao se debruçar sobre nossa potência latino-americana tropicalista.


***

Mamãe sereia

(Mário Mukeka / André Mury)

Ê mamãe sereia
Transforme a areia em estrelas do mar
Ê mamãe sereia
Suas conchinas eu boto linha e faço um colar

Bota esse menino pra nascer
Bota esse menino pra correr
Bota esse menino no mundo que é pra ele ver

Ouvir o canto da sereia
Andar no véu de Iemanjá
Ver o ouro de Oxum lá no fundo do mar



* Pesquisador de canção, ensaísta, especialista e mestre em Literatura Brasileira pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e doutor em Literatura Comparada, Leonardo também é autor do livro "Canção: a musa híbrida de Caetano Veloso" e está presente nos livros "Caetano e a filosofia", assim como também na coletânea "Muitos: outras leituras de Caetano Veloso". Além desses atributos é titular dos blogs "Lendo a canção", "Mirar e Ver", "365 Canções".

segunda-feira, 29 de junho de 2015

O FORRÓ COMO CULTURA POPULAR: DA CELEBRAÇÃO DO POVO AOS CURRÍCULOS ESCOLARES - PARTE 05

Por Silvério Leal Pessoa



RESUMO

Esta pesquisa está voltada para os Estudos Culturais e para área de Didática dos conteúdos específicos. Tem como objetivos investigar a relevância do forró como cultura popular e estruturador da identidade de um povo, e propor a inserção do forró nos temas transversais do currículo escolar. Utilizando de pesquisa bibliográfica, este estudo tem início com a análise dos conceitos de cultura popular e hegemonia. Analisa também o processo de globalização e como as novas tecnologias da comunicação e do mercado, influenciam a adoção de padrões culturais por parte da escola pública diferentes dos padrões culturais dos seus alunos e alunas. O currículo é averiguado como espaço de resistência e que envolve a construção de significados e valores culturais. Entretanto, não é um estudo que vai de encontro ao diálogo cultural, multicultural, pois avalia o conceito de hibridismo vinculado à identidade e subjetividade dos alunos e alunas em constante contato com diversas culturas. Assim, esta pesquisa não parte de uma perspectiva ortodoxa, isolando as culturas, e sim de uma interação e integração cultural averiguando o forró como possível fortalecedor de uma identidade, para daí iniciar o processo de diálogo. Para que essa proposta seja efetivada, o forró e a cultura popular devem ser inseridos como temas transversais do currículo escolar.


PALAVRAS-CHAVE: Cultura popular; forró; Hibridismo; Currículo escolar.


O CURRÍCULO ESCOLAR: ESPAÇO DE RESISTÊNCIA

O currículo escolar é um território construído sóciohistoricamente. Nele, em função de sua própria natureza, estão presentes elementos da vida humana nas suas mais diversas dimensões. É no currículo escolar que forjamos a identidade do que queremos na escola. O currículo é também o grande palco onde a educação escolar é encenada. Neste tópico, vamos refletir como o currículo escolar pode ser uma cronotopia de resistência cultural.

A questão mais importante que está envolvida com o currículo é a de saber qual o conhecimento deve ser ensinado. A questão central é: o quê deve ser ensinado? Para responder a essa pergunta, as diversas teorias podem recorrer a discussões sobre a natureza humana, sobre a natureza da aprendizagem ou sobre a natureza do conhecimento, da cultura e da sociedade. A questão básica é: o que os alunos e as alunas devem saber? Qual conhecimento ou saber é considerado importante ou válido ou essencial para merecer ser considerado parte do currículo? O currículo sempre é o resultado de uma seleção. Um amplo universo de conhecimentos e saberes são selecionados e vão fazer parte do currículo. As teorias do currículo vão exatamente justificar por que “esses conhecimentos” e não “aqueles” devem ser selecionados. (SILVA, 2009, p. 14-15).

Antes de responder a pergunta “o quê” deve ser ensinado, as perguntas: “o quê eles ou elas devem ser?” melhor dizendo, “o quê eles ou elas devem se tornar? Formam o conjunto de indagações que envolvem a seleção de conteúdos do currículo e a busca de modificar as pessoas que vão “seguir” aquele currículo. Para cada ideal de pessoa que se quer formar para uma determinada sociedade, um currículo. Portanto questões de “identidade” ou de “subjetividade” envolvem as teorias do currículo.(SILVA, 2009, idem).

O currículo pode ser compreendido como o espaço em que se desenvolvem, nas escolas e nas salas de aula, os fenômenos relativos ao conhecimento escolar. É no currículo que se travam entre professores e alunos, os conflitos que constituem ingredientes fundamentais para a formação das identidades sociais de nossos estudantes. É compreensível então a ênfase no currículo e o aumento crescente das reformas curriculares em vários países do mundo. (PACHECO, 2003, p. 5).

Quanto à etnologia da palavra “currículo”, SILVA (2009) esclarece que vem do latim currículum, que significa “pista de corrida”, e que no curso dessa corrida que é o currículo terminamos por nos tornar o que somos. Um outro significado de currículo é o que vem da palavra latina Scurrere, correr, e refere-se a curso (ou carro de corrida). Como implicação etimológica desse significado, o currículo é definido como um curso a ser seguido, ou, mais precisamente, uma direção a ser apresentada. (GOODSON, 1995, p. 31). O conhecimento que estrutura o currículo está diretamente ligado envolvido naquilo que somos, naquilo que nos tornamos; na nossa identidade, na nossa subjetividade. O currículo é também uma questão de identidade. Nesse sentido a cultura popular e o forró como conteúdos curriculares, comprovam e fortalecem a identidade de um grupo social que frequenta a escola pública. No caso aqui estudado, os filhos e filhas de migrantes do interior que frequentam as escolas públicas das capitais. O currículo como questão de poder e hegemonia.

Selecionar é uma operação de poder. Privilegiar um tipo de conhecimento é uma operação de poder. Destacar, entre as múltiplas possibilidades, uma identidade ou subjetividade como sendo a ideal é uma operação de poder. As teorias do currículo não estão, nesse sentido, situadas num campo “puramente” epistemológico, de competição entre “puras” teorias. As teorias do currículo estão ativamente envolvidas na atividade de garantir o consenso, de obter hegemonia. As teorias do currículo estão situadas num campo epistemológico social. As teorias do currículo estão no centro de um território contestado. (SILVA, 2009, p. 16).

O currículo é um agrupamento de sistemas de pensamento que inserem em sua estrutura as regras e padrões através dos quais a razão e a individualidade são construídas. (POPKEWITZ, apud SILVA, 1994, p. 194). São as regras e os padrões que somados aos demais fatores que constituem a cultura de um grupo social, que a individualidade das crianças e jovens se formam. Para que isso seja possível o currículo prioriza em vez do contexto o estudo regional.

O teórico POPKEWITZ (1994) apresenta o conceito de história regional não como um lugar localizado geograficamente, mas uma região como um campo discursivo que posiciona como a criança é conhecida e conhece o mundo. A criança vem para escola e é classificada por sistemas simbólicos que lhe transfere um espaço epistemológico particular em vez de um lugar geográfico. Apresenta-se um campo de distinções e diferenciações sobre a criança.

Onde entram a escola e a educação nesse processo? O currículo da escola tem a cultura dominante como base: através da linguagem ele se expressa e transmite o código cultural dominante. As crianças e jovens pertencentes à classe dominante reconhecem esse código cultural, estão acostumados com esse código, e se sentem à vontade no ambiente cultural e afetivo desse código. É o seu ambiente original. Ao contrário das crianças e jovens da classe dominada, esse código não é decifrável, esse código funciona como uma linguagem estrangeira. A vivência familiar dessas crianças e jovens advindas do interior, e que frequentam a escola pública da cidade, não acostumou essas crianças e esses jovens com esse código “estranho”. Ou seja, as crianças e jovens da classe dominante são bem-sucedidos na escola, enquanto as outras crianças encaram possivelmente o fracasso escolar e não encontram o ambiente cultural de origem, adequado ao seu desenvolvimento escolar. (SILVA, 2009, p. 35).

A escola, o currículo escolar e os conteúdos selecionados a partir do currículo, estão imersos no campo social. Os grupos dominantes utilizam o campo social como espaço de convencimento ideológico para manter sua dominação. É exatamente nesse esforço de convencimento que existe a hegemonia cultural. O currículo não é um corpo neutro, inocente e desinteressado de conhecimentos, ele é estruturado a partir de processo de seleção que não consulta os valores consensuais da sociedade, ele é constituído de um conhecimento particular e reflete interesses particulares das classes e grupos, que aqui são entendidos como classes e grupos dominantes. Por esse motivo é que indagações com relação à estrutura do currículo devem ser feitas, tais como; Por que esses conhecimentos e não outros? Por que esse conhecimento selecionado é considerado importante e não outros? Trata-se do conhecimento de quem? Quais são as relações de poder envolvidas no processo de seleção que resultou nesse currículo particular? Como se formam resistências e oposições ao currículo oficial? Essas perguntas buscam entender se o currículo é ou não reprodutor social e cultural. idem, p. 46).

A resistência demonstrada por estudantes e professores frente ao currículo oficial, pode ser canalizada para desenvolver uma pedagogia e um currículo com conteúdo político e crítico das crenças e dos arranjos sociais dominantes. E os professores e as professoras não podem ser vistos apenas como técnicos ou burocratas, mas como agentes ativos nas atividades da critica e do questionamento, a serviço da resistência cultural. Para sintetizar, SILVA (2009) apresenta o currículo como “política cultural”, relacionado com a formação da identidade e subjetividade das crianças e jovens, e justamente por isso é que;

O currículo envolve a construção de significados e valores culturais. O currículo não está simplesmente envolvido com a transmissão de “fatos” e conhecimentos “objetivos”. O currículo é um local onde, ativamente, se produzem e se criam significados sociais. (ibidem, p. 55).


O currículo e o multiculturalismo

A diversidade cultural é tema necessário quando se estuda o currículo e as diversas formas culturais do mundo contemporâneo, e essa diversidade cultural convive com fenômenos como a homogeneização cultural. É nesse contexto que surge as conexões entre currículo e multiculturalismo. O multiculturalismo surge nos países dominantes do Norte, e tal e qual a cultura contemporânea, é ambíguo. Por um lado o multiculturalismo é um movimento legítimo dos grupos culturais dominados dentro daqueles países para terem seus valores culturais reconhecidos e ganharem representatividade na cultura nacional. O multiculturalismo também pode ser entendido como a solução dos problemas que a presença de grupos raciais e étnicos coloca, no interior daqueles países, para a cultura nacional dominante. (SILVA, 2009, p. 85).

O que não se poder perder de vista é a relação de poder que envolve o multiculturalismo, uma vez que foi essa relação de poder que obrigou as diferenças culturais, raciais, étnicas e nacionais a conviverem no mesmo espaço. Os enormes fluxos de migração em direção aos países ricos estão relacionados com as formas de exploração responsáveis pelos desníveis profundos entre as nações do mundo. Esse macro fenômeno pode ser presenciado no Brasil nos constantes fluxos migratórios entre o interior e as cidades, e é no resultado das migrações que encontra-se os problemas relacionados com a cultura popular, com as crianças, com os jovens e o currículo escolar. No espaço do currículo é que se pode refletir sobre as diferenças culturais e a constatação de que “ Não é possível estabelecer nenhum critério transcendente pelo qual uma determinada cultura possa ser julgada superior à outra”. (SILVA, 2009, p. 86).

O multiculturalismo foi o responsável por expandir os problemas das diferenças culturais além das teorias e acionar políticas cultuais efetivas no campo da problemática imigratória em todo mundo, chamando atenção para temas relacionados com a raça e a etnia. É através do vinculo entre conhecimento, identidade e poder que a teoria curricular amplia a discussão. O texto curricular, entendido de maneira ampla, diz respeito ao livro didático e paradidático, as lições orais, as orientações curriculares oficiais, os eventos escolares e as datas festivas e comemorativas, tudo revestido de narrativas nacionais, étnicas e raciais. Normalmente essas narrativas contemplam os mitos da origem nacional, confirmando o privilégio das identidades dominantes e tratando as identidades dominadas como exóticas e folclóricas. (Idem, p.102).

Portanto, em relação ao currículo e ao multiculturalismo, englobando temas como identidade, subjetividade e conflitos culturais, e acreditando no currículo escolar como espaço e tempo de estrutura de identidade, o que a escola necessita compreender é que;

Não podemos mais olhar para o currículo com a mesma inocência de antes. O currículo tem significados que vão muito alem daqueles aos quais as teorias tradicionais nos confinaram. O currículo é lugar, espaço, território. O currículo é relação de poder. O currículo é trajetória, viagem, percurso. O currículo é autobiografia, nossa vida, curriculum vitae: no currículo se forja nossa identidade. O currículo é texto, discurso, documento. O currículo é documento de identidade. (SILVA, 2009, p. 150).


Currículo, globalização e mundialização

Vivemos em uma sociedade da informação, em que os atores, os desafios e as relações sociais mudaram profundamente. Nessa sociedade, a globalização e a mundialização significam a imposição de uma cultura dominante, resultado dos interesses de mercado, e também a estrutura de identidades culturais nacionais, inclusive no momento de critica à escola pública. (PACHECO, 2005, p. 147).

Sobre a globalização, Woodward (2000, p. 21) diz que ela produz resultados diferentes no campo da identidade. Provoca um distanciamento da identidade referente à comunidade e à cultura local, pois o mercado global sugere homogeneidade cultural. Globalização, de forma alternativa, pode resultar em resistência, fortalecendo algumas identidades nacionais e locais ou estimular o surgimento de novas posições de identidade. É o ambiente da contradição provocada pela globalização.

Segundo Bauman , “Doravante, as pessoas não podem ser separadas por obstáculos físicos ou distancias temporais. Com a interface dos terminais de computadores e monitores de vídeo, as distinções entre aqui e lá não significam mais nada”. Isso aponta para uma nova relação entre as pessoas, os povos, os países, os mercados e a educação. Geograficamente a partir dessa “nova tecnologia” o mundo tem outra referência de distância, de relações pessoais e interpessoais, ou seja, outra maneira de aprender e educar. Outra estrutura curricular e educacional necessárias para compreender e se posicionar dentro desse novo sistema. (1999, p 24-25):

Relacionado com o mundo estratificado, e consequentemente com a sociedade divida em classes sociais, o que atinge em cheio a escola, a educação e o aluno e a aluna de escolas públicas, é ainda em Bauman que observamos adequada colocação, colocando a sociedade pós-moderna de consumo, semelhante às outras sociedades, como uma sociedade estratificada. De acordo como os de “classe alta” e os de “classe baixa” se colocam diante de uma sociedade de consumo, ou seja, a extensão diante do consumo é o seu grau de mobilidade. Seria essa sua liberdade de escolher onde estar, ao mesmo tempo um critério natural de classificação social. (1999, p. 94)

Como o currículo escolar tem relação direta com a estrutura das identidades dos alunos e das alunas, as identidades nacionais sofrem assim um afrouxamento nesses processos globais, que diminuindo as distâncias através de mecanismos virtuais e novos meios tecnológicos de comunicação, coloca em xeque a identidade local quando confrontada com outras identidades. Hall (2004) denomina como identificações “globais” essa nova identidade resultado dessa compressão do tempo e espaço. De acordo com a exposição que as culturas nacionais se encontram com as influências externas, é difícil manter as identidades culturais intactas, ou mesmo fazer com que elas não se enfraqueçam com o assédio da “infiltração cultural”.

A globalização interfere diretamente na base das matrizes culturais dos diversos povos, influenciando seu histórico, valores e representações. O autor indica os fatores que promovem uma homogeneização cultural e a resistência das culturas locais;

Quanto mais a vida social se torna mediada pelo mercado global de estilos, lugares e imagens, pelas viagens internacionais, pelas imagens da mídia e pelos sistemas de comunicação globalmente interligados, mais as identidades se tornam desvinculadas – desalojadas – de tempos, lugares, histórias e tradições específicos e parecem “flutuar livremente. (Hall, 2004, p. 75).

Defender a identidade ou nos globalizar? A globalização é um processo que envolve a economia, os mercados, os países, a educação e consequentemente as representações que estão ligadas às várias culturas, pode se tornar um instrumento homogeneizador ou definidor de particularidades. Ao encontrar culturas e valores distintos, existe uma tendência de fortalecimento do “que se é” quando vemos e conhecemos o “outro”.

A globalização exerce poder sobre as culturas pela diminuição das distâncias imaginadas. Atualmente somos visitados por várias maneiras de ver o mundo, de valores e de posicionamento diante da vida que formam um padrão cultural de cada povo, de cada comunidade. Esse fenômeno de incorporação de novos hábitos ao nosso cotidiano alcança as escolas e os diversos conteúdos trabalhados a partir do currículo escolar. A maneira como é selecionado os conteúdos, as prioridades nessa seleção, as formas como esses conteúdos são trabalhados, demonstram se a escola fortalece a cultura local e promove diálogos com outras culturas, ou se fortalece a ideia da homogeneidade cultural. Nesse cenário está a cultura popular e o forró.

O mundo está reordenando a realidade. As mudanças econômicas, comunicacionais, tecnológicas e culturais, denominado por globalização, vai exigir da escola uma postura. Atitude e disposição para compreender essa diminuição dos espaços (internet, viagens, publicidade, TVs, rádio) e consequentemente dos encontros entre culturas, que serão vivenciados pelos alunos que estão vendo e vivenciando um mundo visto pelas antenas parabólicas, MTV, internet e rádios. O sentimento de identidade sofre confronto, e conforme Canclini (1999, p. 52).

d) a consequente redefinição do senso de pertencimento e identidade, organizado cada vez menos por lealdades locais ou nacionais e mais pela participação em comunidades transnacionais ou desterritorializadas de consumidores (os jovens em torno do rock, os telespectadores que acompanham os programas da CNN, MTV e outras redes transmitidas por satélite).

O que ocorre com a cultura local quando ela se confronta com outras culturas diferentes advindas não só de movimentos migratórios, mas através de meios de comunicação e novas formas de economia? O conjunto de elementos que formam a cultura local, ligados às artes cultas e às populares, não desaparecem. Porém perde peso, diminuem em um mercado cujas culturas eletrônicas transnacionais são hegemônicas. Isso acontece quando a vida social é realizada menos nos bairros e famílias, nos passeios nos parques, e se deslocam para os Shoppings que trazem um modelo padronizado de espaço, parecidos e copiado uns dos outros em todo mundo. (CANCLINI, 1999, p. 134)

Para Ortiz (2000), analisando o processo de mundialização e cultura, existe um pensamento que determina a globalização como um processo homogeneizador das culturas diversas: “Para muitos, a “aldeia global” consagraria uma homogeneização dos hábitos e do pensamento. As tecnologias de comunicação, ao aproximarem as pessoas, tomaria o mundo cada vez menor e idêntico”. Com relação às tradições populares, o choque da modernidade desloca-as enquanto fontes de legitimação. Como exemplo a Revolução Industrial, originando as nações, comprometeram definitivamente as antigas maneiras de viver, sendo regionais, locais, cujas expressões literária, poética e espiritual, tinham características particulares. (ORTIZ, 2000, p.32-183-184).


Currículo e o conceito de hibridação/hibridismo


O conceito de hibridação é utilizado para redefinir o modo de falar sobre identidade, cultura, diferença, desigualdade, multiculturalismo, além de ampliar a compreensão sobre dicotomias em ciências sociais sobre: tradição-modernidade, norte-sul, local-global. O conceito de hibridação é historicamente utilizado por historiadores que registram o termo para se referir a chegada de migrantes em Roma, a mestiçagem no Mediterrâneo, a expansão da Europa na direção da América, processos interétnicos, globalizadores, viagens e cruzamentos de fronteiras, fusões artísticas, literárias e de comunicação, e no campo também da gastronomia e em junções de coorporações empresariais. O conceito está adequado e inserido na problemática do entendimento sobre cultura, cultura popular e sobre os impactos sofridos pelas matrizes culturais a partir dos novos processos de comunicação diante dos encontros entre culturas. (CANCLINI, 2008, p. 17-18).

A escola pública das capitais trabalha com um coletivo de alunos e de alunas advindos do interior, principalmente os filhos e filhas de migrantes, e que tiveram uma maneira particular de viver com seus hábitos e valores, crenças, celebrações. O currículo escolar pode contemplar essa cultura local ou não, e se contemplar, não isolar a cultura popular e sim favorecer estratégias para conhecer outras formas de viver no mundo, outras culturas. Esse é um questionamento que o hibridismo favorece para entender os cruzamentos culturais. O teórico Canclini parte de uma primeira definição: “entendo por hibridação processos socioculturais nos quais estruturas ou práticas discretas, que existiam de forma separada, se combinam para gerar novas estruturas, objetos ou práticas”. (CANCLINI, 2008, p. 19).

As estruturas ou práticas discretas foram consequências de hibridações, por isso não podem ser consideradas “fontes puras”. (CANCLINI, idem). A hibridização ajusta sob um só termo experiências distintas, tais como: a música dos nativos africanos com batidas eletrônicas, os casamentos mestiços, a combinação entre santos católicos e figuras indígenas ou Africanas, culinárias diversas reunidas em um só espaço gastronômicos, autores de países diferentes escrevendo sobre situações ou ficções que se passam em outro pais de origem, tudo gira em torno do conceito de hibridização. Como ocorre o processo de hibridação de estruturas e práticas discretas em novas estruturas e práticas?

Às vezes, isso ocorre de modo não planejado ou é resultado imprevisto de processos migratórios, turísticos e de intercâmbio econômico ou comunicacional. Mas frequentemente a hibridação surge da criatividade individual e coletiva. Não só nas artes, mas também na vida cotidiana e no desenvolvimento tecnológico. Busca-se reconverter um patrimônio (uma fábrica, uma capacitação profissional, um conjunto de saberes e técnicas) para reinceri-lo em novas condições de produção e mercado. (CANCLINI, 2008, p. 22).


O currículo e o hibridismo na escola pública

A hibridação na escola pública acontece pelas imagens, programações veiculadas pela televisão, que a cada vez mais alcança as cidades do interior e apresenta modelos diferentes da comunidade local, (por ex: a MTV, as finais de campeonatos de futebol europeu, as parabólicas com canais como o Multishow, CNN, Le monde, roteiros de novelas que apresentam bem definido a sociedade estratificada), os livros didáticos que em alguns estados são adotados levando termos, palavras, histórias, diferentes da cultura do lugar no qual está a escola, os Shopping Centers, o fechamento das salas de cinemas transferidos para os multiplex, a programação das rádios que se estabelecem nas várias cidades e apresentam programações advindas do eixo Rio-São Paulo, geralmente vinculadas às gravadoras, trilhas de novelas ou bandas com poder econômico para remunerar a veiculação de seus produtos.

Esse complexo de acontecimentos é recepcionado pelos alunos e pelas alunas e levados para o interior da escola. As novas informações encontram na escola uma estrutura organizada ou não para trabalhar com o aluno. É nesse panorama que se coloca em confronto as identidades e as formas de preservá-la ou combiná-la com outras identidades. Ou seja, em um mundo interconectado, a classificação identitária de uma classe, nação, etnias, se reestruturam em meio a conjuntos interétnicos, transclassistas e transnacionais. (CANCLINI, 2008, p. 23).

processo de hibridação não ocorre sem indeterminação, com liberdade irrestrita. A hibridação acontece diante de meios específicos de sistemas de produção e consumo e que agem com coação, como se percebe na vida de muitos imigrantes. As cidades são exemplos de outra entidade, diferente da escola, que vivencia o processo de hibridação, principalmente as que convivem com processos migratórios, multilíngües e multiculturais, tais como, São Paulo, Berlim. Nova Yorke, Los Angeles, Buenos Aires, México, Hong Kong, estudadas como centros que promovem maiores conflitos e criatividade cultural a partir do convívio. (idem, p. 30).

Devidamente associada à globalização, a hibridação recebe acentuação dos processos globalizadores através da criação dos mercados mundiais e bens materiais. As fronteiras e alfândegas diminuíram os movimentos migratórios e o acesso aos meios de comunicação e transportes facilitaram o reconhecimento de outros idiomas e maneiras de vida. Os intercâmbios comercias e as políticas de integração educacional estimuladas por Estados nacionais, acrescidos dos resultados da mistura da indústria cultural, facilitaram o processo de diálogo, fusão, hibridização. (ibidem, p. 31).

A hibridação não descarta as variadas formas de resistência e movimentos que resistem a esse processo. Existem resistências à teoria da hibridação porque resultam em insegurança nas culturas e podem conspirar contra a auto-estima etnocêntrica. O teórico também coloca que é desafiador ao pensamento político moderno e analítico, reconhecer o processo de hibridação, acostumado ao pensamento binário de ver o civilizado e o selvagem, o nacional e o estrangeiro, o anglo e o latino. (ibidem, p. 33).


As fontes do currículo. A cultura popular e o forró como fontes.

No currículo efetiva-se e toma forma uma série de princípios de índoles diversas; ideológicos, pedagógicos e psicopedagógicos. Esses princípios demonstram o rumo geral do sistema educacional. “ O currículo é o elo entre a declaração de princípios gerais e sua tradução operacional, entre a teoria educacional e a prática pedagógica, entre o planejamento e a ação, entre o que é prescrito e o que realmente sucede nas salas de aula”. (COLL, 1996, p. 33-34).

Os grupos sociais colaboram com seus membros a assimilar a experiência culturalmente organizada e depois se transformarem em agentes de criação cultural, ou, o que é o mesmo, favorecem o desenvolvimento pessoal desses novos agentes na cultura do grupo. É nesse processo que encontramos a transmissão hereditária de uma cultura e o fortalecimento dessa cultura. Por esse motivo é que o forró como cultura de um grupo social, inserido como conteúdo curricular, vai favorecer o ensino-aprendizagem dos alunos e alunas de escola pública das cidades, muitos como filhos e filhas de migrantes do interior para as capitais. Inserir o forró como elemento cultural de um grupo social nos conteúdos selecionados pelo currículo escolar afirma a identidade desse grupo e a aprendizagem torna-se significativa.

As fontes do currículo faz parte da complexa elaboração de sua base estruturadora. São nas fontes que vamos encontrar as informações para definir as intenções, objetivos e conteúdos do currículo. Os “sociólogos” situam a fonte de informação principal para escolher os objetivos na averiguação da sociedade, dos seus problemas, necessidades e características. A análise sociológica permite determinar as formas culturais ou conteúdo do currículo, por ex; os conhecimentos, os valores, as habilidades, as normas etc. O aluno nessa análise assimila o que é preciso para se tornar um agente de criação de sua própria cultura. (COOL, 1996, p. 47-48).

A vinculação entre o currículo escolar e a cultura popular, vai melhor esclarecer a necessidade da inserção de temas da cultura popular, como o forró, no interior do currículo. A cultura popular no currículo escolar transcende questões estéticas ou formais e trabalha a identidade do aluno e da aluna na prática pedagógica. Por isso:

Preferimos começar por questões mais fundamentais incluindo algumas que são levantadas por professores. Por exemplo: que relação os meus alunos vêem entre o trabalho que fazemos em classe e as vidas que eles levam fora da sala de aula? Seria possível incorporar aspectos da sua cultura vivida ao trabalho da escolarização, sem simplesmente confirmar aquilo que eles já sabem? Seria possível fazê-lo sem banalizar os objetos e relações que são importantes para os alunos? E seria possível fazê-lo sem discriminar determinados grupos de alunos como marginais, exóticos, e “outros” dentro de uma cultura hegemônica? (GIROUX; SIMON, apud MOREIRA; SILVA, 1995, p. 104-105).


O currículo e a pedagogia crítica

A prática pedagógica pressupõe uma visão sobre a pedagogia, que aqui está sendo entendida como uma pedagogia crítica, que observa a escola como espaço de luta e que promove diálogos com os professores e professoras para que esses estejam ao lado das classes desfavorecidas economicamente. Propor a inserção do forró como cultura popular no currículo da escola pública, levanta perguntas tais como; qual a música que os professores e as professoras escutam? Qual a posição da escola pública diante de um mercado que não contempla a música do nordeste, ou música regional, como uma música que afirma a identidade de um grupo social que frequenta essas mesmas escolas públicas? Como a música regional ou tradicional é vista no interior da escola pública? Como folclore? Efeméride? Episódica? Datada pelo calendário cultural de festejos? Uma música sazonal?

Aqui não se trata de solicitar do professor suprimir ou esquecer o que sabem e como sabem. A luta pedagógica se enfraquece sem tais recursos. No entanto professores e alunos necessitam encontrar possibilidades de evitar que um único discurso se transforme em lugar de certeza e aprovação. Os professores e professoras precisam encontrar meios de criar espaço para um engajamento recíproco das diferenças vividas, que não exija o silêncio de uma variedade de vozes por um único discurso dominante. É nesse contexto que a pedagogia crítica rejeita a falta de posicionamento. A pedagogia crítica procura sempre incorporar a experiência do aluno ao conteúdo curricular “oficial”. Uma pedagogia crítica verifica minuciosamente e por meio de diálogo os caminhos pelos quais as injustiças sociais contagiam os discursos e as experiências que estruturam a vida cotidiana e as subjetividades dos alunos e alunas. (GIROUX; SIMON, apud MOREIRA; SILVA, 1995, p. 106-117).




REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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O FORRÓ “PÉ DE SERRA” E A MOTIVAÇÃO DOS JOVENS FORROZEIROS DE BELO HORIZONTE - PARTE 05

Por Camila Moura Cardilo*


RESUMO: 
O forró “Pé de Serra” contagia muitos jovens da cidade de Belo Horizonte. Assim, este estudo procura compreender o motivo que os levam a viver e reviver esta dança, música e espaço definido como forró. Primeiramente foi realizada uma pesquisa bibliográfica para apresentar o significado do forró “Pé de Serra”, do jovem e da motivação. Posteriormente, uma observação em um dos espaços da cidade em que se realiza o forró e uma aplicação de questionários a 20 jovens freqüentadores, deu continuidade à pesquisa. Quanto aos resultados verificou-se que, mesmo com as influencias externas do meio, os jovens possuem um forte envolvimento intrínseco com o forró pelo forte despertar de sentimentos e emoções.

PALAVRAS-CHAVE: Dança. Atividades de Lazer. Recreação.


CONSIDERAÇÕES FINAIS: A MOTIVAÇÃO DOS JOVENS PARA VIVER E REVIVER O “PÉ DE SERRA”

Por meio desse estudo, percebe-se que a motivação abrange uma dimensão ampla e dependente de fatores internos e/ou externos para manifestar-se. Foi possível diagnosticar a força da manifestação das emoções e dos sentimentos quando os jovens “vivem” o forró “Pé de Serra”. São reações internas incontroláveis, que os permitem: sorrir, chorar, amar, apaixonar, “chamegar”, enfim... emocionar. O forró torna-se um momento único de esquecer os problemas, de viver como se fosse a última vez, de fazer com que se queira reviver aquela experiência novamente. Alceu Valença mostra numa de suas músicas o quanto o homem ilude-se, ao achar muitas vezes, que “o coração” não tem valor em seu comportamento, porém é ele que define muitas vezes nossas respostas a favor do amor, da compreensão, do perdão... é ele que age impulsivamente, sem controle, sem direção e sem permissão. O cantor chama de “Coração bôbo”:

Meu coração tá batendo
Como quem diz não tem jeito
Zabumba, bumba esquisito
Batendo dentro do peito
Teu coração tá batendo
Como quem diz não tem jeito
O coração dos aflitos
Batendo dentro do peito 
Coração bobo, coração bola
Coração balão, coração São João
A gente se ilude
dizendo Já não há mais coração
(ALCEU VALENÇA, 1980).

Portanto, talvez seja pela força incontrolável das emoções e dos sentimentos, que os jovens forrozeiros têm como motivação principal o envolvimento intrínseco com as músicas e com a dança do forró “Pé de serra”. Essa motivação traz prazer e leveza ao corpo e a alma desses jovens. No entanto, percebe-se também, a importância do meio externo na construção da identidade e na presença do prazer, por meio da vivência do forró “Pé de Serra”, na vida dos jovens forrozeiros. Assim, sem os fatores externos (o ritmo e letras das canções, envolvimento com o outro na dança, clima e visualização do ambiente ou, até mesmo, roupas e acessórios) seria impossível que os jovens sentissem o amor, o chamego, a paixão, o acelerar do coração, o arrepio do corpo e o prazer de viver o forró. Então, verifica-se a importância da interação do homem com o meio para que o corpo possa falar, sentir e expressar a necessidade de viver novamente a experiência.

Ser jovem e ser forrozeiros: é aventurar-se; é se encontrar e descobri quem realmente você é, é entregar-se ao que realmente admira; é ter coragem para afirmar-se na sociedade e caminhar em busca dos seus objetivos e ideais; é ser, viver e buscar prazer através da sensibilidade dos sentimentos e emoções. Portanto, foi possível perceber, em cada jovem pesquisado, a importância: do meio social, da vivência com o ambiente agradável, da relação com outras pessoas, dos acessórios e roupas que os deixam á vontade e, principalmente, do envolvimento emotivo e sentimental quando ouvem ou dançam o forró... o som e o ritmo tocam, de forma mais intensa e marcante, os corações desses jovens. Eles expressam o prazer que vem “de dentro”. Essa vivência é tão boa que os fazem reviver a experiência de viver o forró, como disseram alguns jovens pesquisados: “é um vício”, um “refugio”, uma “paixão”. Neste contexto, o forró “Pé de serra” se torna uma alternativa de lazer para esses jovens, faz bem ao corpo físico e psicológico. Ele é um meio cultural, social e histórico que estimula a educação e o respeito através da relação com o outro, ativa as reações fisiológicas importantes para um bom funcionamento do organismo (o batimento acelerado do coração, sudorese, aumento da circulação sanguínea...) e promove a motivação intrínseca não somente para a vivência do forró, mas também para a vida afetiva, familiar, profissional e pessoal, pois, o forró leva-lhes o bem estar, prazer, harmonia, felicidade...proporcionando-lhes autoestima, vontade de viver. Com o forró eles se encontram, permitem-se, sentem a necessidade pelo prazer de ser e viver o “Pé de Serra”.

Concluindo, Bergamini citado por Bandeira (2008), relata que tanto os comportamentos condicionados quanto os incondicionados exigem alguma necessidade ativa intrínseca para se realizarem de forma enérgica, motivando o comportamento. Então, considera-se que a motivação dos jovens forrozeiros é envolvida por vários fatores que compõe o forró, fazendo surgir prioritariamente os fatores intrínsecos, que despertando sentimentos e emoções e que os motivam a viver e reviver essa experiência. 




REFERÊNCIAS

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* Bacharel em Educação Física pela PUC- Minas.

sábado, 27 de junho de 2015

GAL REVESTE SEU RECÉM-LANÇADO ÁLBUM DE SONORIDADE POP E NOVIDADES

Cantora completa 50 anos de carreira com repertório de compositores que nunca havia gravado

Por Ailton Magioli 




Se, em seu disco anterior – 'Recanto' –, Gal Costa rompeu com o rótulo de cantora clássica para trazer à tona a intérprete roqueira e (até) eletrônica, no recém-lançado Estratosférica ela volta à estética pop, mostrando que um nada mais é do que consequência do outro.

“Estratosférica só existe por causa de Recanto”, afirma, em entrevista por telefone, a cantora baiana, que comemora 50 anos de carreira com o disco produzido por Kassin e Moreno Veloso, no qual, sob a direção artística e de repertório de Marcus Preto, ela canta 15 canções, sendo 14 inéditas, a maioria de jovens artistas que nunca cantou e/ou gravou antes.

“Marisa Monte, por exemplo, fez especialmente para mim Amor se acalme, em parceria com Arnaldo Antunes e Cezar Mendes”, diz Gal, orgulhosa. Ela conta que ouviu cada uma das canções que gravou várias vezes, até assimilá-las. “Fomos por eliminação”, afirma, sobre o método de escolha. Ela ouviu, ao lado de Marcus Preto, um sem-número de canções.

Já um veterano na feitura de letras, nas quais se especializou na carreira pop construída ao lado da irmã Marina Lima, Antônio Cícero, por exemplo, compôs Sem medo nem esperança, em parceria com Arthur Nogueira. A música se encaixa à perfeição no momento vivido por Gal. “É linda a canção, belíssima. Nela está tudo que eu queria dizer. É tão representativa do momento! É a letra do disco que mais forte me bate”, afirma ela, cuja interpretação é realmente digna do balanço de meio século de carreira.

“Não sou mais tola/Não mais me queixo/Não tenho medo/Nem esperança/Nada do que fiz/Por mais feliz/Está à altura/Do que há por fazer”, diz a letra. Porta-voz dos amigos tropicalistas Caetano Veloso e Gilberto Gil, exilados na Europa, em plena ditadura militar, Gal diz que faria tudo novamente, ainda que ela não tenha ido para Londres, ao lado deles, por falta de dinheiro.


CENSURA

“Não foi nada pensado. Foi a vida que nos impôs aquilo. Eu, na verdade, fiquei defendendo a Tropicália”, recorda ela, que, além de ter sido agredida, literalmente, nas ruas, por causa do visual black power, teve o disco Índia, no qual aparece de tanguinha na capa, censurado em 1973. “Além da venda liberada apenas com um invólucro na capa, ainda tivemos a canção Presente cotidiano, de Luiz Melodia, censurada e, posteriormente, liberada”, lembra Gal, cantarolando trechos da letra: “Tá tudo solto por aí/Tá tudo assim/Tá tudo assim...”

Autora da canção que puxa o disco, Mallu (ex-Magalhães) é a caçula dos autores gravados por Gal. A parceria de estreia de Milton Nascimento com o rapper Criolo, Dez anjos, é outro momento destacado pela baiana. O hermano Marcelo Camelo, que Gal Costa diz “adorar”, se juntou ao irmão-poeta Thiago Camelo para compor Espelho d'água. “É algo meio João Gilberto, manso, doce, bonito.” O único autor repetido no repertório de Estratosférica é o pernambucano Júnio Barreto, que agora comparece com Jabitacá, com Lira e Bactéria, e com a faixa-título, que compôs com Pupillo e Céu.

Feita sob encomenda, Estratosférica chegou para suprir o desejo de Gal de ter uma música dançante no novo repertório. “Pedi ao Pupillo (que gravou o disco com ela), que foi para casa e, no dia seguinte, apareceu com a música pronta.” Com Kassin, ela comentou que havia algo de Lincoln Olivetti na canção, que a remetia a Festa do interior, de Moraes Moreira. Resultado: Olivetti, que havia feito arranjo para aquela, logo foi procurado para fazer o que seria, provavelmente, o seu último arranjo, pouco antes de morrer. Dele, ela ainda gravou Muita sorte, da parceria com Rogê.

Ouça à faixa 'Dez Anjos', de Criolo e Milton Nascimento




BÔNUS

Gravado pela primeira vez por Gal Costa, Guilherme Arantes fez especialmente para ela Vou buscar você pra mim, que vem de faixa-bônus na versão digital do disco. “Adoro. Tinha tanta vontade que ele compusesse para mim”, afirma, lembrando que Kassin foi o porta-voz do pedido feito ao compositor.

Morando em Nova York, atualmente, Thalma de Freitas comparece com Ecstasy, da parceria com João Donato, enquanto Tom Zé retorna ao repertório da musa dos tropicalistas com Por baixo. Já o amigo Caetano Veloso está presente com Você me deu, com o filho Zeca Veloso, enquanto Johnny Alff é responsável pela outra faixa-bônus, Ilusão à toa. Moreno Veloso divide com Domenico Lancellotti a autoria de Anuviar, enquanto Alberto Continentino se responsabiliza por Casca, ao lado de Jonas Sá.

O show de lançamento do CD, segundo Gal Costa, deverá começar a ser ensaiado em agosto. “Pode ser que ache um diretor, mas não quero nada de cenário. Gostaria de fazer algo mais simples, bem minimalista, com uma bela luz que funcione de cenário.”

A propósito da turnê que vai reunir Caetano Veloso e Gilberto Gil para celebrar os 50 anos de carreira de cada, Gal Costa garante não ter pensado o mesmo em relação à amiga Maria Bethânia. “Não gosto de comemorar datas”, justifica Gal, lembrando que a primeira a se lançar artisticamente foi Bethânia, seguida de Caetano e ela, enquanto Gilberto Gil era gravado por Elis Regina.

Em um rápido balanço de sua trajetória, Gal Costa diz ter construído uma carreira maravilhosa de meio século, pautada por mudanças em variados momentos. “É uma carreira rica em mudanças, algumas radicais. Faço um balanço bem positivo de tudo. Orgulha-me, fui muito corajosa. Era muito angustiante estar aqui sozinha, enquanto Caetano e Gil estavam lá em Londres. De vez em quando, eu ia e trazia algumas canções.”

sexta-feira, 26 de junho de 2015

RAUL SEIXAS, 70 ANOS

Se vivo, o maluco beleza estaria completando sete décadas de existência ao longo de 2015

Por Luciano Bonfim




Neste breve artigo apresentamos algumas possibilidades da presença do pensamento filosófico de Friedrich Nietzsche na obra musical de Raul Seixas. Para cumprir esse objetivo dividimos a argumentação em 6 (seis) momentos: no primeiro momento denominado: primeiro acorde da canção, apresentamos as questões que motivaram a pesquisa; no segundo momento, o caso Nietzsche, sucintamente, apresentamos a vida e a obra de Friedrich Nietzsche; a vida e a obra de raul Seixas são apresentadas no terceiro momento, denominado: as aventuras de Raul Seixas na cidade de Thor; palavras cruzadas, é o quarto momento onde apresentamos as possibilidades da presença do pensamento filosófico de Nietzsche na obra musical de Raul Seixas; no bloco denominado: à guisa de conclusão, realizamos as considerações finais e apontamos algumas possibilidades de aprofundamento da pesquisa, para em seguida apresentarmos a bibliografia consultada.



Sem música a vida seria um exílio
Nietzsche

Prefiro ser essa metamorfose ambulante
Raul Seixas

Para Djacir Soares e Chico Barros.




PRIMEIRO ACORDE DA CANÇÃO


Muitos são sabedores das inclinações de Friedrich Nietzsche para a música e das  letras das canções de Raul Seixas apresentarem um quê de filosofia, tendo o primeiro realizado, para aquém do seu pensamento, algumas poucas composições e o segundo, para além da sua música, ter adquirido a fama de filósofo do rock.

Então, em que esquinas da vida poderiam se encontrar tais senhores? Em que momento, se é que existe mesmo esse momento, a música produzida por Raul Seixas se aproxima da filosofia de Friedrich Nietzsche? Vejamos...


O CASO NIETZSCHE

Nietzsche nasceu em Röcken, pequena cidade próxima a Leipzig, em 15 de outubro de 1844. Em homenagem ao rei da Prússia, que fazia aniversário naquela data, foi batizado Friedrich Wilhelm.

Nascido em uma família historicamente vinculada à Igreja Luterana, seu pai e seu avô haviam ensinado teologia e sua mãe era filha e neta de pastores luteranos; segundo RUSSELL [2001:372], esta circunstância conferiu ao seu lar um fundo de piedade e retidão;  matiz que se conserva no tom altamente moral das obras de Nietzsche, mesmo nas mais rebeldes.

Segundo nos informa HALÉVY (s/d),

O pequeno Nietzsche foi tardo em falar. Olhava para todas as coisas com olhos graves, e calava-se. Aos dois anos e meio, diz sua primeira palavra. O pastor gosta muito deste companheiro silencioso e leva-o com prazer nos seus passeios.[...]Nietzsche jamais se esqueceu do som dos sinos longínquos sobre a planície imensa e semeada de lagos, nem da impressão de sua mão apertada na forte mão de seu pai. [HALÉVY, s/d: 7]

Seu pai, no mês de agosto de 1848, enquanto tentava consertar o telhado da igreja da paróquia onde era pastor, tombou do alto de uma escadaria e bateu violentamente com a cabeça nas pedras da calçada. O choque precipitou a eclosão de uma terrível doença. Karl-Ludwig Nietzsche, homem culto e delicado, perdeu a razão e morreu depois de um ano de loucura e sofrimento.

No mesmo ano, 1849, morre Joseph, irmão caçula de Friedrich Wilhelm.

A mãe, por conta dos últimos acontecimentos, mudou-se com a família para Naumburg, pequena cidade às margens do Saale, onde durante os dez anos seguintes viveria o pequeno Nietzsche em companhia de sua mãe, Franziska, e de sua irmã, Elizabeth, dois anos mais moça que ele – além da avó e duas tias.

Como todos os homens da família, quis também um dia ser pastor – um dos eleitos que vivem perto de Deus e falam em seu nome; tanto era o seu intento e dedicação que chegou mesmo a ser cognominado, pelos seus colegas de escola, “pequeno pastor”.

Deste período registram-se suas primeiras tentativas como compositor e poeta.

Segundo HALËVI [s/d],

Aos nove anos, suas inclinações artísticas se estenderam: a música foi-lhe revelada por um coro de Haendel que ouviu na igreja. Estudou piano. Escreveu versos e, mãe, avó, tias e irmã receberam, em cada aniversário, um poema com sua respectiva música. [...]Tivera, desde a primeira infância, o instinto da frase e da palavra, do pensamento visível. Não cessou de escrever, e nem uma nuance de sua inquietação nos ficou escondida. [HALÉVY, s/d:14].

Com amigos de infância, em 1860, ainda em Naumburg, criou uma sociedade lítero-musical denominada “Germania”, em cujas reuniões apresentou peças musicais, poemas e ensaios de sua autoria.

Na literatura: Hölderlin, acima de tudo. Além deste, seus interesses e leituras estavam então voltados para a mitologia nórdica, Goethe, Byron, Shakespeare, Schiller e Lessing.
Na juventude, em certa ocasião folheou uma obra cujo autor lhe era desconhecido: O Mundo como Vontade e Representação, de Schopenhauer. Desde então, a filosofia passou a interessá-lo.

Nietzsche estudou letras clássicas na célebre Escola de Pforta e na Universidade de Leipzig. Foi professor, durante onze anos, de grego e latim na Universidade da Basiléia, na Suiça, e por outro igual tanto de tempo vagou errante, em pequenas cidades da Itália, Suíça, França e Alemanha.

Escreveu, entre tantos livros essenciais para o pensamento ocidental: “A Gaia Ciência”, “Humano, Demasiado Humano”, “Assim Falava Zaratustra”, “Além do Bem e do Mal”, “Genealogia da Moral”, “Ecce Homo”, etc., tornando-se o filósofo da potência, do além do homem, da crítica ao homem rebanho, da crítica à moral cristã, da crença otimista na vida construída pelo ótica dos fortes, dos que não se anulam porque aguardam a chegada de um mundo ideal ou fictício.

No início de 1889, como acontecera anteriormente com seu pai, Nietzshe perde a razão. Viveu, quando se agravaram as crises, sob os cuidados da mãe e da irmã, vindo a falecer, vítima de uma infecção pulmonar, no dia 25 de agosto de 1900.


AS AVENTURAS DE RAUL SEIXAS NA CIDADE DE THOR 

Raul Santos Seixas nasceu em Salvador, Bahia, em 28 de junho de 1945 – 101 anos após o nascimento de Nietzsche,  e no ano da bomba atômica, como diria depois, em diversas entrevistas, o próprio Raul Seixas.

Filho de Raul Varella Seixas e Maria Eugênia Santos Seixas, teve um único irmão: Plínio Santos Seixas, nascido em 1948, para quem, mais tarde, Raul iria escrever e vender histórias e desenhos.

Em entrevista concedida a Ana Maria Bahiana, Raul Seixas relatou um trecho de sua história de vida assim:

Quando eu era guri, lá na Bahia, música pra mim era uma coisa secundária. O que preocupava mesmo eram os problemas da vida e da morte, o problema do homem, de onde vim, pra onde vou, o que é que eu estou fazendo aqui. O que eu queria mesmo era ser escritor. Desde pequeno eu fazia e vendia livros pro meu irmão menor, quatro anos mais moço que eu. [PASSOS, 2003: 13].

Durante os anos de 1952 a 1956 fez o curso primário. No ano de 1957 funda o Elvis Presley Rock Club e, no mesmo período, durante o curso ginasial, repete a 2a série três vezes, o motivo, segundo o próprio Raul Seixas, é que: matava aula pra ouvir discos de rock.

Cria em 1962 o grupo Os Relâmpagos que em 1963 muda o nome para The Panthers, em seguida modificado para Raulzito e os Panteras –  regularmente acompanhavam nomes consagrados da Jovem Guarda quando estes iam se apresentar na Bahia.

Raul Seixas sempre leu e gostou de filosofia, vindo mesmo, desde cedo, a desconfiar da existência da verdade absoluta. Ao iê-iê-iê ingênuo e romântico presente na cena musical brasileira dos anos de 1960, Raul Seixas, através das letras de suas canções, acrescentou desassossegos para a construção de uma sociedade galgada na lei e na moral do mais forte.

Em 1968 grava o primeiro LP, Raulzito e os Panteras, também neste período realiza composições que são gravadas por outros interpretes.
Após este momento, com outros companheiros de aventura, e sem a devida permissão, grava e lança o LP: Sociedade da Grã-Ordem Kavernista Apresenta Sessão das 10 – o que resulta na sua demissão da gravadora CBS, onde era produtor musical.

Com os Beatles [ALVES: 1993, 27]Raul percebeu que poderia usar a música para dizer o que ele pensava – era isso que faziam os Beatles. Raul começa a compor, para dizer em suas músicas, o que ele pensava.

Em 1972 participa do Festival Internacional da Canção comLet Me Sing, Let Me Sing e Eu Sou Eu, Nicuri É O Diabo. Gravou em 1973 o LP Kring-Há, Bandolo!, onde aparecem sucessos como “Ouro de Tolo’, “Metamorfose Ambulante”, “Mosca na Sopa”, entre outros. Ganhando, a partir de então, notoriedade nacional como cantor e compositor.

Grava, em 1974, o LP Gita, que lhe garante um disco de ouro e traz músicas como “Medo da Chuva”, “As Aventuras de  Raul Seixas na Cidade de Thor”, “Sociedade Alternativa”, “S.O.S”, “Gita” e “O Trem das Sete”.

Gravou muitos outros discos. Foi polêmico e controverso. Tornou-se um artista ímpar em nossa cultura brasileira. Disse não pertencer a nenhum grupo dentro da linha evolutiva da música popular brasileira e buscou abrir portas para “verdades” individuais, as suas e as dos outros.

Este mesmo Raul Seixas, vítima de uma parada cardíaca causada por pancreatite crônica, morreu em São Paulo em 21 de agosto de 1989.


PALAVRAS CRUZADAS

            Nietzsche escolheu e utilizou, principalmente, o aforismo como forma de inquietar o mundo através de seu pensamento. Em livros construídos com a matéria, perspicácia e maestria de um grande artista consciente da força e da beleza de sua arte, nos legou inconformismos e desconfianças que ainda hoje soam como marteladas que podem dobrar até os mais densos metais.

CHAUÍ [1994:354], aludindo ao pensamento de Nietzsche, nos diz que:

Contra a moral dos escravos, afirma-se a moral dos senhores ou a ética dos melhores, dos aristoi, a moral aristocrática, fundada nos instintos vitais, nos desejos e naquilo que Nietzsche chama de vontade de potência, cujo modelo se encontra nos guerreiros belos e bons das sociedades antigas, baseadas na guerra, nos combates e nos jogos, nas disputas pela glória e pela fama, na busca da honra e da coragem. Essa concepção encontra-se em Nietzsche e em vários filósofos contemporâneos.”[CHAUÍ, 1994: 354] 

Incluímos neste rol o mago inglês Aleister Crowley que muito influenciou o pensamento de Raul Seixas e Paulo Coelho, este, seu parceiro mais constante.

Nas letras de suas canções, como propôs Nietzsche em sua filosofia, Raul Seixas realiza, e também sugere, uma “transvaloração” de valores – dos valores presentes e vigentes em nossa sociedade. Esta inquietação é passada para os seus fãs, capturados pela audição, de maneira rápida e agradável através da pulsante batida  do rock’n’roll, conseguindo assim, mesmo que não saibam da fonte primeira, um grande número de interessados para este pensamento – algo que a obra de Friedrich Nietzsche, pela natureza de sua filosofia, pela construção e não convencionalidade de suas idéias, ainda não conseguiu alcançar em nosso meio.

            Raul é um filósofo no sentido de manter acesa a chama das indagações sobre o mundo e a vida, possuindo frente a estas questões uma verdadeira atitude filosófica, pois segundo CHAUÍ [1994],
[...] interrogando-se a si mesmo, desejando conhecer por que cremos no que cremos, por que sentimos o que sentimos e o que são as nossas crenças e os nossos sentimentos. Esse alguém estaria começando a adotar o que chamamos de atitude filosófica. Assim, uma primeira resposta à pergunta “O que é filosofia?” poderia ser: A decisão de não aceitar como óbvias e evidentes as coisas, as idéias, os fatos, as situações, os valores, os comportamentos de nossa existência cotidiana; jamais aceitá-los sem antes havê-los investigado e compreendido. [CHAUÍ,1994:12].

E segundo MARTON [2000: 47],


[...] é preciso coragem para praticar a desconfiança, descartar os pré-juízos, evitar as convicções. É preciso destemor para desfazer-se de hábitos, abandonar comodidades, renunciar à segurança. É preciso ousadia para abrir mão de antigas concepções, desistir de mundos hipotéticos, libertar-se de esperanças vãs. Enfim, é longo o processo para o espírito tornar-se livre [MARTON, 2000: 47].


Apesar de corajosamente manter esta atitude filosófica em sua obra e em sua vida, não se pode atribuir a Raul Seixas a denominação de “filósofo” no sentido de ele ter construído um sistema de pensamentos, valores, regras, escolas, ou de ter realizado uma investigação aprofundada sobre a vida e o mundo.

Que a obra de Raul Seixas está repleta de referências filosóficas é um fato, e muitas vezes por não conter a identificação de seus autores primeiros, acaba-se creditando ao maluco belezaalgo que não foi construído pela sua mente, como nos informa FRENETTE [1999], quando comenta o livro Baú do Raul:.

[...] deixando nesses textos mais qualidade literária do que aquela que pretendia exprimir nos textos “filosóficos”. Também há nesse Baú do Raul muitos textos escritos sem muito, digamos, rigor técnico, o que leva o leitor, sobretudo aquele menos afeito a leituras, a crer que quem disse que “O homem nasce livre mas em toda parte encontra-se acorrentado” e afirmou que “Quem quer que seja que ponha as mãos sobre mim para me governar é um usurpador, um tirano e eu o declaro meu inimigo” tenha sido Raul Seixas; quando, na verdade, a primeira frase é o início do famoso Contrato Social de Rosseau, e a Segunda é uma premissa anarquista de Proudhon. Porém, como estamos no mundo do rock, e não numa academia de letras, está tudo certo. Mas essas observações são importantes para esclarecer aqueles que, por serem fãs de carteirinha, querem dar a Raul o que não é de Raul. Ele foi um roqueiro, e dos bons, mas não um filósofo. Tentou filosofar, e ganhamos com isso, pois, ao confundir egocêntricas divagações existencialistas com filosofia, trouxe ao rock nacional um discurso libertário que estava fazendo falta. [FRENETTE, 1999: 24].

Há homens que nascem póstumos, esta pérola do pensamento de Nietzsche, a encontramos dentro do referido livro Baú do Raul, sem nenhuma indicação de quem é o autor, o que, se não confirma o que esta indicado acima, aponta para esta possibilidade.

            Raul Seixas realiza este ato de livre “transposição de filosofias” para as letras de suas composições de maneira brilhante mas, parecendo não se contentar, também a realiza com algumas melodias e arranjos, por exemplo: Rock das ‘Aranha’ apresenta enormes coincidências com Killer Diller, do americano Jim Bredlove, e da guitarra presente na introdução de Rock do Diabo com o início da música It dos Beatles; quando perguntado sobre estas coincidências, Raul Seixas ria e depois, geralmente, dizia:Meti a mão!

            Mas como nos indica o próprio NIETZSCHE [2005a:123]quando a arte se veste de tecido mais gasto é que melhor a reconhecemos como arte;  e um bom escritor não tem apenas o seu espírito, mas também o espírito de seus amigos.

Ana Maria Bahiana, jornalista e pesquisadora, arremata a questão nos dizendo que:

[...]é possível discutir tudo em Raul Seixas: suas proposições, suas crenças, sua música, sua posição dentro da música. (É formidável que exista uma pessoa ainda capaz de provocar tais tumultos ideológicos.) Mas é um pouco difícil ficar imune ao fascínio que ele exerce. Raul Seixas, polígono de muitos lados, espelho de muitas imagens.(PASSOS, 2003: 30).

Assim: Raul Seixas realiza uma transmutação de pensamentos que, muitas vezes, pela formulação e profundeza originais, não se tornam de fácil entendimento, e os transforma em uma espécie de filosofia ao alcance de todos. Raul, vale lembrar, ousou perguntar de maneira inédita o que até então não havia sido considerado tema na história da música popular brasileira.

E, no que se refere especificamente ao pensamento de Nietzsche, ressaltamos os seguintes aspectos presentes na obra de Raul Seixas: a filosofia e a vida vinculadas à ação, a transvaloração dos valores, a possibilidade de nos tornarmos homens e espíritos livres, a construção de uma nova moral que se encontra presente na moral dos fortes, dos senhores[diferente da moral construída sob a ótica dos servos e escravos], uma constante atitude de desconfiar das verdades absolutas, a clareza e a coragem de se impor para que não se torne mais um “homem-rebanho”.

Onde encontramos estas manifestações na música de Raul Seixas?
“Aumente o volume”  e confira em canções como:


Ouro de Tolo
[Composição: Raul Seixas. Disco: Krig-Há, Bandolo! Ano: 1973. Gravadora: Philips.]

Eu devia estar contente/Porque eu tenho um emprego/Sou um dito cidadão respeitável/E ganho quatro mil cruzeiros por mês// Eu devia estar contente/Por ter conseguido tudo o que eu quis/mas eu confesso abestalhado/que eu estou decepcionado// Porque foi tão fácil conseguir/E agora eu me pergunto: e daí?/Eu tenho uma porção de coisas grandes/Pra conquistar, e eu não posso ficar aí parado// É você olhar no espelho/Se sentir um grandessíssimo idiota/Saber que é humano, ridículo, limitado/ Que só usa dez por cento de sua cabeça animal// E você ainda acredita que um doutor, padre ou policial/ Que está contribuindo com sua parte/ Para o nosso belo quadro social// Eu que não me sento/No trono de um apartamento/Com a boca cheia de dentes/ Esperando a morte chegar.


Sapato 36
[Composição: Raul Seixas. Disco: O Dia em que a Terra Parou. Ano: 1977, Gravadora: WEA]

Eu calço é 37/Meu pai me dá 36/Dói, mas no dia seguinte/Aperto meu pé outra vez/Eu aperto meu pé outra vez// Por que cargas d’águas/Você acha que tem o direito/De afogar tudo aquilo que eu/Sinto em meu peito/ Você só vai ter o respeito que quer/Na realidade/No dia em que você souber respeitar/A minha vontade/Meu pai/Meu pai.

A Lei
[Composição: Raul Seixas. Disco: A Pedra do Gênesis. Ano: 1988. Gravadora: Copacabana]
A lei do forte/Essa é a nossa lei e a alegria do mundo/Faz o que tu queres há de ser tudo da lei/Fazes isso e nenhum outro dirá não/Pois não existe Deus  senão o homem.// Os escravos servirão/Viva a sociedade alternativa/ Viva viva.


Conserve seu medo
[Composição: Raul Seixas e Paulo Coelho. Disco: Mata Virgem. Ano: 1978. Gravadora: WEA]

Conserve seu medo/Mas sempre ficando/Sem medo de nada/Porque dessa vida/De qualquer maneira/Não se leva nada/E ande pra frente/Olhando pro lado/Se entregue a quem ama/Na rua ou na cama/Mas tenha cuidado.


Carpinteiro do Universo
[Composição: Raul Seixas e Marcelo Nova. Disco: A Panela do Diabo. Ano: 1989. Gravadora: WEA]
O meu egoísmo é tão egoísta/Que o auge do meu egoísmo é querer ajudar/Mas não sei porque nasci/Pra querer ajudar a querer consertar/O que não pode ser//Carpinteiro do universo inteiro eu sou, assim/No final/Carpinteiro de mim


Eu sou Egoísta
[Composição: Raul Seixas e Marcelo Motta. Disco: Novo Aeon. Ano: 1975 Gravadora: Philips]

Eu sou estrela no abismo do espaço/O que eu quero é o que eu penso e o que eu faço/Onde eu tô não há bicho papão não, não/Eu vou sempre avante no nada infinito/Flamejando meu rock, o meu grito/Minha espada é a guitarra na mão.


Sociedade Alternativa
[Composição: Raul Seixas e Paulo Coelho. Disco: Gita. Ano: 1974. Gravadora Philips]

Viva /Viva, viva, viva a sociedade alternativa/Faz o que tu queres/Há de ser tudo da lei/Viva, viva, viva a sociedade alternativa/Viva/A lei de Thelema/Viva, viva, viva a sociedade alternativa/A lei do forte, essa é a nossa lei e a alegria do mundo/Viva, viva, viva a sociedade alternativa.


Por Quem os Sinos Dobram
[Composição: Raul Seixas. Disco: Por Quem os Sinos Dobram. Ano: 1979. Gravadora: Warner Bros]

Nunca se vence uma guerra lutando sozinho// Coragem, coragem, se o que você quer é aquilo que pensa e faz/Coragem, coragem, que eu sei que você pode mais.


Mosca na Sopa
[Composição: Raul Seixas. Disco: Krig-Há, Bandolo! Ano: 1973. Gravadora: Philips.]

Eu sou a mosca que pousou em sua sopa/Eu sou a mosca que pintou pra lhe abusar.


Metamorfose Ambulante
[Composição: Raul Seixas. Disco: Krig-Há, Bandolo! Ano: 1973. Gravadora: Philips.]

Prefiro ser esta metamorfose ambulante/Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante/Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo/ Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo. 


À GUISA DE CONCLUSÃO

Neste breve artigo apresentamos algumas possibilidades da presença do pensamento filosófico de Friedrich Nietzsche na obra musical de Raul Seixas.

Um artigo desta extensão não pretende esgotar tão fértil tema. Indicamos, sem falsa modéstia, veredas, neste grande sertão do conhecimento, que, posteriormente, poderão ser aprofundadas, , por outros pesquisadores.

Lembrando, como aprendemos, que o que conduz a pesquisa é a incerteza mesmo que a filosofia tenha nascido como pretensão de verdade. 

Assim como para RUSSEL[2001:374] Nietzsche foi um grande artista literário, e suas obras mais parecem prosa poética do que filosofia, para ALVES[1993:50-1], Raul tentou encorajar aqueles que se sentem acuados diante do medo da sociedade, em todo seu trabalho ele tenta mostrar que o homem é capaz de fazer o que quer se sua vontade for forte o bastante. Todas a músicas de Raul Seixas expressam a sua preocupação com a busca do EU. Elas estão voltadas para o despertar da lei do forte, da lei da vontade. Tal assim como falou Zaratustra, quando nos diz que:

Desgarrar muitos do rebanho – foi para isso que eu vim. Devem vociferar contra mim povo e rebanho: rapinante quer chamar-se Zaratustra para os pastores. Pastores digo eu, mas eles se denominam os bons e justos. Pastores digo eu: mas eles se denominam os crentes da verdadeira crença. Vede os bons e justos! Quem eles odeiam mais? Aquele que quebra suas tábuas de valores, o quebrador, o infrator : mas este é o criador. (NIETZSCHE, 1996: 212-13).

Nietzsche e Raul Seixas tiveram a coragem de rebatizar, cada um em seu tempo e a seu modo, o seu lado mau como o seu lado melhor, e buscaram, assim, deixar portas abertas para verdades individuais.
Assim sendo, a distância entre dois pontos, ou o sentimento de distância entre estes dois pontos, diminui, ou reduz-se, quando a dimensão de linha que antes, supostamente, os separava, serve agora, de fato, para uni-los - mesmo que as luzes sejam curvas quando dispersas em universos paralelos.


BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

ALVES, Luciane. Raul Seixas – O sonho da sociedade alternativa. São Paulo: Martin Claret, 1993.
BOEIRA, Nelson. Nietzsche. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2002.
CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 1994.
FRENETTE, Marco. O Mito Caboclo. Revista Caros Amigos Especial: Número 4 – Agosto de 1999.  Páginas 24-5.
HALÉVY, Daniel. Vida de Frederico Nietzsche. São Paulo: Editora Assunção, s/d. Tradução: Jerônimo Monteiro.
MARTON, Scarlett. Extravagâncias – ensaios sobre a filosofia de Nietzsche. São Paulo: Discurso Editorial/Editora UNIJUÍ, 2000.
NIETZSCHE, Friedrich. Humano, demasiado humano. São Paulo: Companhia das Letras, 2005a. Tradução: Paulo César de Souza
_____. Os Pensadores. São Paulo: Nova Cultural, 1996. Tradução: Rubens Rodrigues Torres Filho.
_____. Além do bem e do mal. São Paulo: Companhia das Letras, 2005b. Tradução: Paulo César de Souza.
MUGNAINI JR. Ayrton. Eu quero cantar por cantar – Raul Seixas. São Paulo: Nova Sampa Editora, 1993.
PASSOS, Sylvio[Org.]. Raul Seixas por ele mesmo. São Paulo: Martin Claret, 2003.
RUSSELL, Bertrand. História do Pensamento Ocidental – A aventura das idéias dos pré-Socráticos a Wittgenstein. 3a ed. Rio de Janeiro: Ediouro, 2001. Tradução: Laura Alves e Aurélio Rebello.
SEIXAS, Kika e SOUZA, Tárik de. [Org.] O baú do Raul. 25aedição. Rio de Janeiro: Editora Globo, 2001.







Discografia Oficial

Rauzito E Os Panteras (1968)

Faixas:
01 - Brincadeira
02 - Por que pra que
03 - Um minuto mais
04 - Vera verinha
05 - Você ainda pode sonhar
06 - Menina de amaralina
07 - Triste Mundo
08 - Dê-me tua mao
09 - Alice Maria
10 - Me deixe em paz
11 - Trem 103
12 - O dorminhoco


 Sociedade da grã-ordem kavernista apresenta sessão das Dez (1971)

Faixas:
01 - Êta vida
02 - Sessão das dez
03 - Eu vou botar pra ferver
04 - Eu acho graça
05 - Chorinho inconsequente
06 - Quero ir
07 - Soul tabarôa
08 - Todo mundo esta feliz
09 - Aos trancos e barrancos
10 - Eu nao quero dizer nada
11 - Dr.Pacheco
12 - Finale


Krig-ha Bandolo (1973)

Faixas:
01 - Intro Good rockin’ tonight
02 - Mosca na sopa
03 - Metamorfose ambulante
04 - Dentadura postiça
05 - As minas do rei salomao
06 - A hora do trem passar
07 - Al capone
08 - How could o know


O Rebu (Trilha Sonora Da Novela Composta Por Raul Seixas E Paulo Coelho) (1973)

Faixas:
01 - Como Vovó Já Dizia (Raul Seixas)
02 - Porque – 2:02 (Interpretação: Sônia Santos)
03 - Planos de Papel (Raul Seixas)
04 - Catherine (Paulo Coelho)
05 - Murungando (Raul Seixas)
06 - O Rebu (Interpretação: Orquestra Som Livre)
07 - Salve a Mocidade (Luiz Reis)
08 - Um Som Para Laio (Raul Seixas)
09 - Se o Rádio Não Toca (Fábio)
10 - Água Viva (Raul Seixas)
11 - Tema Dançante (Roberto Menescal)
12 - Vida a Prestação (Trama)
13 - Senha (Paulo Coelho)
14 - Trambique (Adilson Manhães, João Roberto Kelly)


Os 24 Maiores Sucessos Da Era Do Rock (1973)

Faixas:
01 - Abertura
02 - Rock around the clock-blue sued shoes-tut
03 - Rua algusta, o bom
04 - poor little fool-bernadine
05 - Estupido cupido-banho de lua lacinho
06 - The great pretender
07 - Diana-Little Darling-ho carol-runaway
08 - Marcianita é proibido fumar-pega ladrao
09 - Jambalaya=Shake rattle ra
10 - Only you
11 - Vem quente que eu estou fervendo


Gita (1974)
Faixas:
01 - Super Heróis
02 - Medo da chuva
03 - As aventuras de Raul Seixas na Cidade de Thor
04 - Água viva
05 - Moleque maravilhoso
06 - Sessão das dez
07 - Sociedade alternativa
08 - O trem das 7
09 - S.O.S
10 - Prelúdio
11 - Loteria da babilonia
12 - Gita


Novo Aeon (1975)

Faixas:
01 - Tente outra vez
02 - Rock do diabo
03 - A maçã
04 - Eu sou egoista
05 - Caminhos
06 - Tú es o MDC da minha vida
07 - A verdade sobre a nostalgia
08 - Para nóia
09 - Peixuxa (O amiguinho dos peixes)
10 - É o fim do mês
11 - Sunseed
12 - Caminho II
13 - Novo aeon


Há 10 Mil Anos Atrás (1976)

Faixas:
01 - Canto para minha morte
02 - Meu amigo pedro
03 - Ave maria da rua
04 - Quando você crescer
05 - O dia da saudade
06 - Eu tambem vou reclamar
07 - As minas do rei salomao
08 - O homen
09 - Os numeros
10 - Cantiga de ninar
11 - Eu nasci há dez mil anos atras


Raul Rock Seixas (1977)

Faixas:
01 - My way-trouble
02 - The diary
03 - My baby left me-thirty days-rip it up
04 - All I have to do si dream-put your head is
05 - Do you know What it means to kiss new orle
06 - lucilli corrine corrina
07 - Read Teddy-hard headid
08 - Just because
09 - Bye bye love be bop a lula
10 - Blue moon of kentucky-asa branca


O Dia Em Que A Terra Parou (1978)

Faixas:
01 - Tapanacara
02 - Maluco Beleza
03 - O dia em que a terra parou
04 - No fundo do quintal da escola
05 - Eu quero mesmo
06 - Sapato 36
07 - Você
08 - Sim
09 - Que Luz é essa
10 - De cabeça para baixo


Mata Virgem (1979)

Faixas:
01 - Judas
02 - As profecias
03 - Tá na hora
04 - Planos de papel
05 - Conserve seu medo
06 - Negocio é
07 - Mata Virgem
08 - Pagando Brabo
09 - Magia de amor
10 - Todo mundo explica


Por Quem Os Sinos Dobram (1979)

Faixas:
01 - Ide a min Dadá
02 - Diamante de mendigo
03 - A ilha da fantasia
04 - Na rodoviaria
05 - Por quem os sinos dobram
06 - O segredo do universo
07 - Dá-lhe que dá
08 - Movido a Alcool
09 - Réquiem para uma flor


Abre-te Sésamo (1980)

Faixas:
01 - Abra-te Sezamo
02 - Aluga-se
03 - Anos 80
04 - Angela
05 - Conversa pra boi durmir
06 - Minha viola
07 - Rock das Aranhas
08 - O conto so sabio chinês
09 - Só pra variar
10 - Baby
11 - É meu Pai
12 - A beira do pantanal


Raul Seixas (1983)

Faixas:
01 - D.D.I. - (Discagem Direta Interestelar) (Raul Seixas / Kika Seixas)
02 - Coisas do Coração - (Raul Seixas / Kika Seixas / Cláudio Roberto)
03 - Coração Noturno - (Raul Seixas / Kika Seixas / Raul Varella Seixas)
04 - Não Fosse O Cabral - (Penniman / Bocage / Collins / Smith) versão para Slippin' and Slidin' de: Raul Seixas.
05 - Quero Mais - (Raul Seixas / Kika Seixas / Cláudio Roberto)
06 - Lua Cheia - (Raul Seixas)
07 Carimbador Maluco - (Raul Seixas)
08 - Segredo da Luz - (Raul Seixas / Kika Seixas)
09 - Aquela Coisa - (Raul Seixas / Kika Seixas / Cláudio Roberto)
10 - Eu Sou Eu, Nicurí É O Diabo - (Raul Seixas)
11 - Capim Guiné - (Raul Seixas / Wilson Aragão)
12 - Babilina - (Vicent / Davis) versão de: Raul Seixas)
13 - So Glad You're Mine - (Arthur Big Boy Crudup)


Ao Vivo Único E Exclusivo (1983)

Faixas:
01 - My Baby Left Me
02 - Ain’t She Sweet
03 - So Glad You’re Mine
04 - Do You Know What It Means To Miss New Orleans
05 - Barefoot Ballad
06 - Blue Moon of Kentucky
07 - Asa Branca
08 - Roll Over Beethoven
09 - Blue Suede Shoes
10 - Be Bop A Lula


1983 - Raul Vivo

Faixas:
01 - Rock do diabo (Paulo Coelho - Raul Seixas)
02 - So glad you’re mine (Arthur Crudup)
03 - My baby left me (Arthur Crudup)
04 - Ain’t she sweet(Yellen - Ager)
05 - Do you know what it means to miss New Orleans (Loius Alter)
06 - Barefoot ballad (Lee Morris - Dolores Fuller)
07 - Blue moon of Kentucky (Monroe)
08 - Asa branca (Luiz Gonzaga-Humberto Teixeira)
09 - Roll over Beethoven (Chucky Berry)
10 - Blue suede shoes (Carl Perkins)
11 - Be-bop-a-lula (Vincent - Davis)
12 - Rock das aranhas (Cláudio Roberto - Raul Seixas)
13 - Maluco beleza (Cláudio Roberto - Raul Seixas)
14 - Sociedade alternativa (Paulo Coelho - Raul Seixas)



etrô Linha 743 (1984)

Faixas:
01 - Metrô Linha 743 (Raul Seixas)
02 - Um Messias Indeciso (Raul Seixas / Kika Seixas)
03 - Meu Piano (Raul Seixas / Kika Seixas / Cláudio Roberto)
04 - Quero Ser O Homem Que Sou (Dizendo a verdade)
05 - Canção do Vento (Raul Seixas / Kika Seixas)
06 - Mamãe Eu Não Queria (Raul Seixas)
07 - Mas I Love You (Prá Ser Feliz) (Rick Ferreira / Raul Seixas)
08 - Eu Sou Egoísta (Raul Seixas / Marcelo Motta)
09 - O Trem das Sete (Raul Seixas)
10 - A Geração da Luz (Raul Seixas / Kika Seixas)



 Let Me Sing My Rock N Roll (1985)


Faixas:
01 - Let Me Sing, Let Me Sing (Nadine Wisner/Raul Seixas)
02 - Teddy Boy, Rock e Brilhantina (Raul Seixas)
03 - Eterno Carnaval (Raul Seixas)
04 - Caroço de Manga ( Raul Seixas/ Paulo Coelho)
05 - Loteria da Babilônia (Raul Seixas/ Paulo Coelho)
06 - Não Pare Na Pista (Raul Seixas/ Paulo Coelho)
07 - Como Vovo Já Dizia (Raul Seixas/ Paulo Coelho)
08 - Um Som Para Laio (Raul Seixas)
09 - Rua Augusta (Hervé Cordovil)
10 - O Bom (Carlos Imperial)
11 - Canto Para A Minha Morte (Raul Seixas/ Paulo Coelho)
12 - Love Is Magick (Raul Seixas / Spacey Glow)
13 - Blue Moon Of Kentucky (Bill Monroe)
14 - Asa Branca (Luiz Gonzaga/ Humberto Teixeira)


Raul Rock Seixas 2 (1986)

Faixas:
01 - As Aventuras de Raul Seixas na Cidade de Thor
02 - Não Pare na Pista
03 - Tu És o MDC da Minha Vida
04 - A Verdade Sobre a Nostalgia
05 - Teddy Boy, Rock e Brilhantina
06 - Loteria da Babilônia
07 - Como Vovó Já Dizia
08 - Al Capone
09 - Ave Maria da Rua
10 - Um Som para Laio
11 - Rockixe
12 - S.O.S.


 Uah-Bap-Lu-Bap-Lah-Be n-Bum (1987)

Faixas:
01 - Abertura quando acabar…
02 - Cow Boy fora da lei
03 - Paranoia II (Baby Baby Baby)
04 - I’am Gita
05 - Cambalache
06 - Loba
07 - Canceriano sem lar
08 - Gente
09 - Cantar


A Pedra Do Gênesis (1988)

Faixas:
01 - Abre-te Sésamo
02 - Carimbador Maluco
03 - D.D.I. (Discagem Direta Interestelar)
04 - Mamãe, Eu Não Queria
05 - Quando Acabar O Maluco Sou Eu
06 - Cowboy Fora Da Lei
07 - Não Quero Mais Andar Na Contra Mão (No No Song)
08 - A Lei
09 - A Pedra Do Genesis
10 - Fazendo O Que O Diabo Gosta
11 - Você Ainda Pode Sonhar (Lucy In The Sky With D.)
12 - Menina De Amaralina - Raulzito E Os Panteras
13 - Rock ´N´ Roll - Raul Seixas & Marcelo Nova


A Panela Do Diabo (1989)

Faixas:
01 - Be Pop A Lula
02 - Rock’N Roll
03 - Carpinteiro Do Universo
04 - Quando Eu Morri
05 - Banquete De Lixo
06 - Pastor João e a Igreja Invisível
07 - Século XXI
08 - Nuit
09 - Best Seller
10 - Você Roubou Meu Videocassete

11 - Cãimbra No Pé





* Artigo publicado em Nietzscheanismos (Coleção Diálogos Intempestivos). Edições UFC, 2008. Organizadores: José Gerardo Vasconcelos, Cellina Rodrigues Muniz e Roberto Kennedy Gomes Franco. Luciano Gutembergue Bonfim Chaves é professor do Curso de Pedagogia da UVA (Universidade Estadual Vale do Acaraú, Mestre em Educação Brasileira - FACED/UFC e autor dos livros de contos Mobiles (2007) e Dançando com Sapatos que Incomodam (2002); e dos livros de poemas Beber Água é Tomar Banho por Dentro (2006) e Janeiros Sentimentos Poéticos(1992).

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