MÚSICAS INSTRUMENTAIS QUE RECEBERAM LETRA EM OUTRO TEMPO
Dia 13 de dezembro: choro de 1953, letra de 1986
No sábado, me deliciava, aqui em casa, com o DVD Spock e Orquestra Forrobodó, mais um trabalho de qualidade do Spok, agora navegando pelo repertório do forró.
O trabalho reuniu alguns dos melhores clássicos do gênero. Quando chegou a faixa 08, “Treze de Dezembro”, com o grupo do maestro Spok e a participação do grande sanfoneiro Gennaro, eu me deti.
Curioso é que, em seu depoimento para o DVD, Gennaro, diz, quase espantando que, quando ouviu pela primeira vez a melodia afirmou: “fiquei sabendo que a música era de Gonzaga, aí eu disse para todo mundo ouvir, quem disse que Luiz Gonzaga não é um exímio instrumentista?”.
Dentro do tema que venho trazendo nesta coluna sobre as músicas instrumentais, que não são compostas simultaneamente com a letra e aquelas que só recebem os versos anos e até décadas depois, lembrei-me que “Treze de Dezembro” é um caso especial e, ao contrário do que sugeria quando comparava algumas obras de Pixinguinha, esta ganhou em conteúdo, não feriu e melodia e trouxe a obra, nem tão conhecida, embora bela, para o grande público.
O choro “Treze de Dezembro” foi composto por Luiz Gonzaga, no início dos anos 1950. No primeiro disco, no registro oficial, a composição vem como uma parceria com Zé Dantas, equívoco atribuído ao fato de que os dois estavam numa fase intensa de composição conjunta de músicas e letras.
Vamos ouvir inicialmente a melodia com a sanfona pura de Gonzagão, só instrumental:
“Treze de dezembro”, Luiz Gonzaga (e Zé Dantas) – 1953
Pois bem, Luiz Gonzaga, o “rei do Baião”, nasceu no dia 13 de dezembro de 1912, em Exu, estado de Pernambuco.
A data foi tornada “Dia Nacional do Forró” e, em 1986 ganhou a letra de Gilberto Gil homenageando Gonzaga. A canção, portanto, foi completada cerca de 30 anos depois. E ficou assim:
“Treze de Dezembro”, de Luiz Gonzaga, letra de Gilberto Gil – 1994
Treze de dezembro
Bem que esta noite eu vi gente chegando
Eu vi sapo saltitando
E ao longe ouvi o ronco alegre do trovão
Alguma coisa forte pra valer
Estava para acontecer na região
Quando o galo cantou
Que o dia raiou eu imaginei
É que hoje é treze de dezembro e a treze de dezembro
Nasceu nosso rei
O nosso rei do baião
A maior voz do sertão
Filho do sonho de D. Sebastião
Como fruto do matrimônio
Do cometa Januário
Com a estrela Santana
Ao nascer da era do Aquário
No cenário rico das terras de Exu
O mensageiro nu dos orixás
É desse treze de dezembro
Que eu me lembrarei e sei que não me esquecerei jamais
Ao contrário do que considerei em músicas como “Rosa” e principalmente “1 a 0”, que, a meu ver, dispensariam letra pela beleza da composição original na forma instrumental, considero que “Treze de Dezembro” ficou uma obra mais completa e adequada com a letra-elegia de Gilberto Gil…