PROFÍCUAS PARCERIAS

Gabaritados colunistas e colaboradores, de domingo a domingo, sempre com novos temas.

ENTREVISTAS EXCLUSIVAS

Um bate-papo com alguns dos maiores nomes da MPB e outros artistas em ascensão.

HANGOUT MUSICARIA BRASIL

Em novo canal no Youtube, Bruno Negromonte apresenta em informais conversas os mais distintos temas musicais.

quinta-feira, 18 de março de 2010

DIA INTERNACIONAL DA MULHER - PARTE 05

Cupido nas paradas

Quando escreveu uma música para ajudar um amigo a conquistar uma garota da faculdade, Marcelo Camelo, vocalista da banda carioca Los Hermanos, não tinha ideia de que o nome da menina estaria, algum tempo depois, na boca do país inteiro. Como numa comédia romântica, Alex Werner (o amigo tímido e produtor da banda) e Anna Júlia Werneck (a garota insensível) se encontraram e se desencontraram por mais de um ano. Enquanto isso, a balada ingênua levou o CD de estreia do Los Hermanos a alcançar o disco de platina.

"É uma canção sobre o amor de quem contempla, o amor do observador", explica Camelo. O sucesso da música pegou a banda de surpresa -a princípio, ela não seria gravada. A homenagem também surpreendeu Anna Júlia. Aos 21 anos, a estudante de Jornalismo diz que é uma garota comum, como tantas: "Não sou uma unanimidade". Anna Júlia "Conheci o Alex na faculdade. Ele fazia Direito e eu, Jornalismo. Achei ele gatinho e fui conversar, mas a gente acabou não ficando porque ele era tímido. Eu tentava conversar e ele ficava nervoso. Foi passando o tempo e, de vez em quando, ele mandava recados pelos meus amigos. Eu nunca tinha falado com ele direito, então a gente se cruzava na faculdade e não parava para conversar. Era uma situação chata.

No final de 98, eu fui para a Europa de férias. No dia da viagem, ele apareceu na minha casa e me levou uma flor. Achei muito bonitinho. Mas ele chegou quatro horas antes de eu ir para o aeroporto e eu ainda não tinha feito as malas... Foi nessa época que um amigo me disse que os garotos da banda tinham feito uma música para mim. Pensei que ia ser algo me xingando, do tipo "Ô, garota, se toca! Deixa de ser besta e fala com meu amigo!".

Começaram as aulas e encontrei o Alex com o Barba [baterista do Los Hermanos] numa festinha. Barba me convidou para o show seguinte da banda. Eu disse que não dava, já sabendo que iria. No meio do show, escuto o Marcelo falando: "Anna Júlia, esta música é para você!". O lugar estava muito cheio e a acústica não era boa, entendi muito pouco da letra. Eu ouvia "Anna Júlia, Anna Júlia" e ria nervosa. Pelo menos fiquei sabendo que não estavam me esculachando.

Quando o show acabou, fui agradecer, mas não falei mais do que isso com o Alex. Nunca conseguimos conversar direito. Sempre acontecia alguma coisa para atrapalhar. Até o dia em que ele me ligou, dizendo que queria me ver. Foi em casa, supernervoso. Finalmente, acabamos ficando. Foi a única vez.

A gravadora escolheu "Anna Júlia" como música de trabalho do disco. Eles me perguntaram se eu via algum problema. Achei legal. Mas achava que podia dar azar, pois meu nome é estranho. Não conheço muitas Annas Júlias. Era o nome de uma amiga da minha mãe, que é Anna Lia.

Um dia, o Alex me trouxe o single na faculdade. Você não tem noção do tamanho do negócio até ver seu nome na capa do disco. Em casa, quando pus para tocar, a voz do Marcelo era tão doce que comecei a chorar. Acho que a letra tem bastante o lado do Alex, fala mais do que ele via em mim. Na primeira vez em que ouvi a música no rádio, a locutora disse: "Anna Júlia, o que você fez?". E eu pensando: "Nossa! Esta sou eu!".

Anna Júlia

Quem te vê passar assim por mim/
Não sabe o que é sofrer/ Ter que ver você assim/ Sempre tão linda/ Contemplar o sol do teu olhar/ Perder você no ar/ Na certeza do amor/
Me achar um nada/ Pois sem ter teu carinho/
Eu me sinto sozinho/ Eu me afogo em solidão/ Oh Anna Júlia!

Marcelo Camelo

quarta-feira, 17 de março de 2010

ENTREVISTA COM O COMPOSITOR E ESCRITOR MÁRCIO BORGES

Por Pepe CHAVES*

O escritor e compositor belorizontino Márcio Borges é dos mais inspirados letristas da MPB em toda sua história. A sua contribuição como autor, ao Clube da Esquina, extravasa seu próprio nome e passa a integrar canções criadas com co-parceiros do primeiro escalão da MPB. Seu nome figura como do principal parceiro de seu irmão, o músico e compositor Lô Borges.
Márcio Borges nasceu numa família onde todos são músicos, incluindo seu pai, o Sr. Salomão e alguns de seus 10 irmãos, sendo os mais ativos: Telo, Marilton, Yé e Solange. Escreveu em 1996 o antológico livro “Os sonhos não envelhecem”, uma narrativa que registra detalhes dos tempos de efervescência do Clube da Esquina (movimento musical tipicamente mineiro, do início dos anos 70) em Belo Horizonte. O Clube era na verdade apenas uma junta musical de vários parceiros e amigos, dentre alguns os músicos, Beto Guedes, Flávio Venturini, Milton Nascimento, Lô Borges, Vermelho, Wagner Tiso, Toninho Horta, Tavito, Marilton Borges e dos letristas, Fernando Brant, Márcio Borges, Murilo Antunes, Ronaldo Bastos, dentre outros que aderiram posteriormente ao movimento.

Na literatura, Márcio é dono de uma linha poética única e autêntica, onde procura casar a beleza das palavras coloquiais com o sentido das frases de impacto, formando idéias e pensamentos sedutores aos amantes das bem tramadas letras de canções. Dentre tantas as parcerias estabelecidas que levaram a mensagem deste poeta mineiro, é inevitável não citar algumas, como, "Clube da Esquina nº 2", "Equatorial", "Planeta Sonho", "Vento de Maio", "Voa Bicho", "Nave de Prata", "Pura Paisagem", "Tudo o que você podia ser", "No Meio da Cidade", "Dança do Tempo" e uma que ele acabou de compor em parceria com Lô Borges, "O Silencio e o Som".Ele nos concedeu a presente entrevista após assistirmos a um show do 14 Bis numa praça da Pampulha, no encerramento do VI Encontro de Corais de Belo Horizonte. Este evento contou com apoio da Prefeitura de Belo Horizonte que homenageou o Clube da Esquina, com belas canções interpretadas por alguns corais belorizontinos. Márcio nos falou de seu trabalho na divulgação do Clube, de seu livro, “Os sonhos não envelhecem” e do museu temático do Clube da Esquina, que entra no ar via Internet, em dezembro, mostrando diversos aspectos dos “tesouros ocultos” da boa música mineira.

Pepe Chaves: O que o senhor nos diz desse “renascimento”, a olhos vistos, do Clube da Esquina em todo o Brasil? Quando cantores das novas gerações, gravam músicas feitas por vocês, há mais de vinte anos e elas voltam para a mídia?
Márcio Borges: Eu vejo isso com ótimos olhos! Acho que é um momento muito bom que estamos vivendo. Ainda hoje conversei com o Milton (Nascimento) e ele está muito alegre com este renascimento, este vigor. Acho que as novas gerações estão interessadas em nossa história recente e estão empenhadas em desenterrar os tesouros ocultos da nossa cultura. E durante muitos anos estes tesouros do Clube da Esquina estavam enterrados fora da mídia, fora dos jornais e das gravadoras. Mas isso não eliminou a beleza das nossas músicas a durabilidade delas. A prova disso é este movimento aqui hoje, a cidade prestigiando este grande festival de Corais que homenageia o Clube da Esquina. Eu também estou como o Milton me falou hoje: “em estado de graça”, com tudo isso.

Pepe: A que o senhor atribui este reconhecimento?
Márcio: Eu acho que é uma coisa que a gente merecia mesmo. Sem falsa modéstia, nossas músicas são muito boas mesmo. São duráveis, não foram feitas com intenção de sucesso. Elas foram feitas com intenção de se caprichar o máximo. Elas dão um show de harmonia e são admiradas pelos maiores jazz men do mundo. O Clube da Esquina tem fã-clube no Japão, na Dinamarca, na Finlândia... E nós estamos aqui hoje contrariando o ditado que diz, que “Santo de casa não faz milagre”. E estamos simplesmente seguindo o que o resto do mundo tem feito: que é respeitar nosso trabalho, valorizá-lo e nos sentirmos influenciados por ele. Porque nós fizemos um trabalho de uma grande qualidade e credito isso, principalmente, ao fato de termos feito sem estarmos buscando sucesso. Nós estávamos buscando verdade, amor, solidariedade e aquilo o que valia a pena de transmitir de uma pessoa para outra. O Brasil pode ter esquecido isso por um tempo, mas a gente sabe que nossa mensagem é suficientemente forte, para não ser apagada com o tempo. Está aí a prova, independente de prestigio ou não da mídia, dos veículos convencionais de comunicação, as nossas musicas estão aí, nas novelas nas rádios... Não tem uma novela na Rede Globo que é lançada e não tenha pelo menos uma música nossa. Então há sempre um arsenal de músicas bonitas e inesgotáveis e é isso que o povo brasileiro como um todo, está reconhecendo.

Pepe: Como é essa história de Museu Virtual do Clube da Esquina?
Márcio: A história do museu veio para ser uma pedra a mais nessa construção, no sentido de colocarmos à disponibilidade da população brasileira, das novas gerações e das pessoas que se interessam pela nossa história, alguns subsídios para pensarem naquilo, alguns dados imateriais, como a nossa história de vida, a nossa música, a nossa ideologia, aquilo que nos levou a compor. Estamos todos vivos, então estamos a fim de dar um depoimento vivo dessa história. E daí surgiu a idéia de se fazer o museu, que é assim, numa acepção menos retrógrada possível da palavra, pois é um museu voltado para o futuro, para a atualidade. Não será um museu voltado para o passado, para juntar quinquilharias, mas para transmitir e perpetuar este amor, esta amizade e esta vontade de “fazer coisas boas”. A partir do dia 02 de dezembro de 2005 entrou no ar o site www.museuclubedaesquina.org.br. Nós estamos fazendo este museu com o patrocínio da Copasa e principalmente, com o patrocínio da Petrobrás, que consideraram este movimento como um movimento de utilidade pública que visa preservar a nossa cultura e nossa história.

Pepe: Nos fale um pouco de seu livro “Os sonhos não envelhecem”.
Márcio: Eu diria que o livro foi um embrião para esse movimento do museu. A partir do livro, comecei a fazer muitas palestras e conferências em escolas. Viajei o Brasil inteiro visitando escolas e universidades, falei para milhares de alunos e jovens, contando essa nossa história. Narrei um pouco do livro, contando como era o clima naquela época e isso teve uma grande aceitação por parte dos jovens que me ouviram ao longo desses anos todos, porque lancei o livro em 1996 e não tenho feito outra coisa senão viajar o Brasil e o exterior divulgando o livro e nossas intenções. Um trabalho, aliás, que vem se somar a um trabalho magnânimo, feito pelo Milton Nascimento, que nunca se esqueceu de suas origens no Clube da Esquina e se tornou o principal divulgador dessa grande geração que transitou aqui, pelas ruas de Belo Horizonte. E aqui, nós conseguimos construir esta obra, que se mostrou duradoura, vencendo estes anos todos que vieram por aí.

Pepe: O senhor é parceiro de expressivos músicos mineiros. Tem alguma nova parceria pra vir à tona que possa nos adiantar?
Márcio: Ontem mesmo acabei de fazer uma canção nova com o Lô (Borges), que se chama “O Silencio e o Som”, que é mais ou menos no naipe de “Quem sabe isso, quer dizer amor”. Continuamos na ativa, continuamos compondo. Há aquela teia de amizade tecida entre os parceiros: é o Bituca com Telo; é o Telo comigo; sou eu com o Lô; o Lô com o Beto (Guedes); o Beto com Murilo Antunes... Ou seja, nós temos uma teia de amizade e composição que nunca parou, continua ativa. O que aconteceu foi que a mídia passou a funcionar sob determinadas diretrizes, que a gente combatia a vida inteira. Que é aquela instituição um pouco vergonhosa do “jabá”, do cara pagar para ser executado em rádio e tevê. Nós nunca pagamos para sermos executados. Hoje vimos aqui, milhares de pessoas cantando nossas músicas e nem um tostão foi gasto para que elas fossem divulgadas. Elas se impuseram por si mesmas. Hoje é muito difícil de acontecer isso no mercado fonográfico: uma música se impor por sua qualidade! Hoje ela se impõe por sua massificação, pela quantidade de dinheiro que foi aplicada na divulgação dela. E acho que isso reduz um pouco, a grandeza do mercado fonográfico. Porque hoje a grandeza da música brasileira, a qualidade, está fora do mercado fonográfico, são as produções independentes, que provam isso que estou dizendo.

Pepe: Há um disco antológico chamado “Os Borges”, lançado pela família Borges há mais de 20 anos, que reúne das melhores canções compostas em família. Por que o disco “Os Borges” não foi relançado, haja vista sua denodada qualidade criativa e seu valor artístico?
Márcio: O disco "Os Borges" foi gravado depois que o Lô gravou o disco do tênis [N.E.: primeiro disco solo de Lô Borges, traz a foto de um tênis Adidas de cano alto na capa, daí o nome “disco do tênis”]. A Música “Voa Bicho”, de "Os Borges", foi regravada recentemente por Milton Nascimento e Maria Rita, vindo a ser tema de novela. E foi o que eu disse no inicio, aos poucos, estes tesouros ocultos do Clube da Esquina estão voltando à tona, e quando são redescobertos, nos surpreendem pela atualidade. E quando nos surpreende, eles agradam. Isso prova que, quando fizemos estas músicas, há 20 ou 30 anos, estávamos fazendo músicas duradouras, destinadas a vencerem o tempo.

Pepe: Márcio, obrigado pela entrevista. Peço-lhe para nos deixar as suas considerações finais:
Márcio: Eu mando um grande abraço para a galera de Itaúna, e informo que estou às ordens, se quiserem me convidar para ir aí fazer uma palestra, bater um papo com os estudantes.

Pepe: Então esteja convidado desde já, uai!
Márcio: Estou aqui pra isso, me dedico a isso e adoro estabelecer esta ponte entre as velhas e as novas gerações, para a gente provar na prática, que "os sonhos não envelhecem"...


* Pepe Chaves é editor do jornal Via Fanzine.
Foto: Paulo H. Ferreira / BH.
Visite o Museu Virtual do Clube da Esquina: www.museuclubedaesquina.org.br

terça-feira, 16 de março de 2010

DIA INTERNACIONAL DA MULHER - PARTE 04

A declaração de amor

O compositor cubano Pablo Milanés precisou se ausentar de Havana logo depois do nascimento da primeira filha, Linn. Comovido com a paternidade e apaixonado pela mulher, Yolanda Benet, ele voltou para casa com a letra e a melodia de uma explícita declaração de amor na bagagem. Era "Yolanda", um dos maiores sucessos de sua carreira.

Eles tiveram três filhas, em um casamento que durou cinco anos. A canção teve vida longa. Desde 1970, a música ganhou interpretações em vários países. No Brasil, a versão é de Chico Buarque e foi gravada primeiro por Simone no disco "Desejos", de 1984. "Já regravei 'Iolanda' seis vezes e não posso deixar de cantar nos meus shows. Acho que todo mundo gostaria de ser ela ou ouvir de alguém o que diz a música", afirma Simone.

É com orgulho que Yolanda, hoje uma alegre e falante avó de quatro netos, se lembra daquele tempo. Separada pela segunda vez, mora em Havana e escreve um romance baseado nos conflitos entre um cubano que ficou na ilha e outro que emigrou para os Estados Unidos.


Yolanda Benet
"Conheci Pablo na casa de um amigo comum, em Havana. Eu tinha 23 anos e era continuísta de cinema. Casualmente, três dias depois começamos a trabalhar juntos em um filme e nos apaixonamos. Pablo compôs 'Yolanda' quando nossa primeira filha tinha dez dias. Ficou chateado por ter de viajar. Quando regressou, trouxe a canção. Eu estava com Linn nos braços, dando-lhe o peito, e ele me disse: 'Olha o que fiz para você'. Pegou o violão e cantou 'Yolanda'. É uma sensação inesquecível. Não posso traduzir a emoção que até hoje sinto quando me recordo dessas coisas. Nunca houve momento mais importante em minha vida. Ali estava resumido tudo o que ele sentia, todo o amor que sentíamos um pelo outro. Foi muito emocionante.

Pensei que aquela canção era algo íntimo, que só eu poderia compreender o que Pablo estava dizendo. Mas parece que ele fez com tanto amor que todos são capazes de entender. É uma música que se canta no mundo inteiro. Ele já quis tirá-la do repertório e nunca conseguiu. É impressionante como as coisas do coração transcendem. Ao mesmo tempo, sinto que cada pedacinho da letra é um pedacinho do que vivemos. A letra é algo muito pessoal para mim, falar sobre ela é como falar de minha intimidade, até me incomoda.

Nunca deixei de ser amiga de Pablo. Entre nós nunca existiram rancores. Duas de nossas filhas são cantoras. Há pouco tempo cantaram a canção em um show com o pai, em duas vozes. Me acabei em lágrimas. Sempre me emociono com a música, sobretudo quando a cantam bem. Gosto da versão brasileira, de como Simone e Chico Buarque cantam. Vi Chico uma vez na casa de Pablo, mas não tive o prazer de conversar com ele. Fomos apresentados também em um hotel, em Varadero, mas ele não deve se lembrar. Estávamos em um grupo e pedi que não dissessem que eu era a Yolanda da música. Não gosto de usar isso como um título. Não sei explicar o sucesso de "Yolanda", não me considero uma mulher especial. Sou uma pessoa comum."

Iolanda

Esta canção é mais que mais uma canção/
Quem dera fosse uma declaração de amor/ Romântica, sem perder a justa forma/
Do que me vem de forma assim tão caudalosa (...)/ Iolanda, Iolanda, eternamente Iolanda...

Pablo Milanés, versão de Chico Buarque

segunda-feira, 15 de março de 2010

LEI DO DIREITO AUTORAL VAI A CONSULTA PÚBLICA

Governo deve apresentar proposta em abril que prevê criação de órgão para fiscalizar e dar transparência à atuação das entidades arrecadadoras e aborda tecnologia digital e internet Dramaturgos, compositores, músicos, atores, diretores, pintores, escultores: todos os que têm direito de receber por eventuais reproduções de suas obras estão em compasso de espera. Sairá no início de abril da Casa Civil o novo texto que altera a Lei do Direito Autoral no Brasil. Em meados de abril, segundo expectativa do Ministério da Cultura, a legislação será disposta para consulta pública na internet e depois vai ao Congresso. A maior mudança é a criação do Instituto Brasileiro do Direito Autoral (IBDA), órgão público destinado a fiscalizar e dar transparência à atuação das entidades arrecadadoras. “A maior queixa dos artistas junto ao ministério é o fato de a arrecadação dos direitos autorais ser feita sem nenhum controle. Quase todos se sentem lesados nesse processo. Pode até não ser, mas a falta de transparência cria um clima de desconfiança e falta de transparência no processo”, disse o ministro da Cultura, Juca Ferreira. O documento aborda também questões criadas pela tecnologia e pelos novos processos de reprodução de obras. Pela legislação atual (Lei 9.610, de 19 de fevereiro de 1998), por exemplo, copiar um livro inteiro não é permitido (apenas trechos). A nova lei vem com mecanismos flexibilizatórios – se a pessoa faz a cópia para uso privado (cópia “de qualquer obra legitimamente adquirida”), pode copiar um livro inteiro que não estará cometendo crime. Também será permitida a cópia de livro ou disco com edições esgotadas (há muito fora de catálogo e que não se encontrem no mercado por no mínimo 2 anos). A fotocópia terá um capítulo específico na lei. O download de discos, filmes e livros, se feito de uma fonte não legalizada, continua passível de criminalização. A legislação deve incluir a possibilidade do sample musical – a permissão do uso de trechos de uma obra para a construção de novas obras. "É inexorável. O sample veio para ficar, já se utiliza largamente isso em várias linguagens", disse Marcos Alves, diretor de Direitos Intelectuais do Ministério da Cultura (MinC), que coordena a mudança. As empresas de comunicação também entram na lei. Entre as novas regras, consta a seguinte: um jornal só terá direitos sobre um artigo publicado de um jornalista durante 20 dias (a menos que o autor tenha assinado contrato específico). Novos marcos legais são defendidos no mundo todo. No Japão, a cada quatro anos a legislação é revisada. “Há um descompasso entre o que as pessoas fazem e o que a lei prevê”, diz o advogado americano Lawrence Lessig, criador do Creative Commons – entidade que defende menos rigidez e uma “território livre” no direito autoral. “O apoio ao Creative Commons era uma posição de Gil enquanto artista, não ministro”, explica Juca Ferreira. “A internet não é território livre, demanda autorização dos titulares, assim como o print”, diz Marcos Alves. O advogado Roberto Corrêa de Mello, presidente da Associação Brasileira de Música e Artes (Abramus, entidade com 23 mil associados, entre eles Ivete Sangalo, Caetano e Tom Zé) e diretor da ABDA (Associação Brasileira de Direito Autoral), fala em “dirigismo”, “intervencionismo” e “ideologia governamental”. Corrêa acusa a política de direitos intelectuais defendida pelo governo de estar “claramente atrelada aos interesses das empresas de conteúdo”.

domingo, 14 de março de 2010

DIA INTERNACIONAL DA MULHER - PARTE 03

A amizade colorida

Caetano Veloso descobriu que Vera Zimmerman era uma gata em 1980, durante a turnê do disco "Cinema Transcendental". Ela era uma estudante paulista de 16 anos. Os dois tiveram um romance-relâmpago que originou a canção, gravada no LP "Outras Palavras", de 1981. Caetano nunca escondeu a identidade da "Vera Gata" e chegou a fazer o texto de apresentação do ensaio fotográfico que ela fez para a "Playboy", em maio de 1991. "Há alguns anos, conheci Verinha deixando de ser menina.Pouco depois,fiz uma canção de sexo sobre ela", escreveu Caetano. "Me orgulho muito mais de ter conhecido Vera e de manter até hoje uma amizade do que da canção."

A notoriedade trazida pela música levou Vera à carreira de atriz. Hoje, aos 36 anos, solteira, ela pode ser vista na peça "Replay" e no seriado "Sãos e Salvos", da TV Cultura. Duas décadas depois, ela se arrepende da frieza com que recebeu a homenagem.


Vera Zimmerman "Costumava passar as férias em Salvador. Ia com uma turminha,acabava conhecendo gente de lá, inclusive os músicos da banda do Caetano. Fui apresentada a ele no camarim, depois do show "Cinema Transcendental",em São Paulo. Ele olhou para mim e falou: "Beleza pura...". A gente ficou de paquerinha e ele me convidou para assistir a outro show em Americana (SP). Fui com ele no ônibus da turnê. No final, enquanto a produção desmanchava as coisas, fomos para o hotel... e aconteceu o que ele diz na música.

Foi tudo meio rápido, o pessoal da produção veio nos apressar porque o ônibus estava saindo. Viajei ao lado dele, "namorandinho". Chegamos a São Paulo na madrugada, como diz a letra. Mas não foi nada sério, hoje diria que a gente "ficou". Uns seis meses depois, eu estava de férias em Salvador, encontrei o Bob Wolfenson [fotógrafo] e ele me disse que o Caetano estava fazendo uma música para mim. Achei que era uma musiquinha que ele nem iria gravar.

Mas, quando Caetano chegou à Bahia, foi até a casa onde eu estava e colocou uma fita cassete com a música para eu ouvir. Minha reação foi tão comum... Ele até perguntou: "Você não gostou?". Falei: "Gostei, adorei". Mas ele sempre fazia uma música para alguém, eu não me sentia especial. Para mim era a primeira homenagem, mas para ele era a vigésima vez que homenageava alguém... Se fosse hoje, tenho certeza de que ficaria mais comovida. Claro que fiquei encantada e até espantada com tantos elogios: era muito nova e nem me ligava muito no meu corpo.

Eu não tinha noção do que era ter uma música do Caetano. Vi que era sério quando a letra saiu na revista do "Jornal do Brasil". Não esperava ficar tão conhecida por causa de uma música. Ingenuidade minha. Saí na primeira página da "Folha de S. Paulo" e isso me espantou. Não fiquei famosa, mas a música me deu projeção. Em uma entrevista comentei que gostava de fazer teatro, alguém leu e falou: "Olha, ela é atriz!", e me chamaram para fazer um teste para uma peça do Antunes Filho. Depois descobri que era mesmo o que eu queria fazer.

Tenho boas recordações quando ouço a música. Às vezes me pedem para cantar e cantarolo. Virei a Vera Gata, é assim até hoje. De vez em quando cruzo com Caetano, mas não é nada de muita amizade, de "vamos nos ver". Mas eu adoro ele."

Vera Gata
Era uma gata exata/ Uma vera gata/ Das que não têm dúvida, dúvida/ Éramos fogo puro/ O amor total (...)/ E teve que ser rápida a transação/ Pois já nos chamava o ônibus, ônibus/ Tivemos tudo/ Não faltou nada/ E ainda a madrugada nos saudou na estrada/ Que ficou toda dourada e azul...
Caetano Veloso

sábado, 13 de março de 2010

CURIOSIDADES DA MPB

Atrás da porta, música composta por Chico Buarque e Francis Hime é sem dúvida alguma uma das maiores performances da Elis Regina em disco. A história da canção é a seguinte: Quando Elis conheceu a música, levada por Menescal, a melodia de Francis Hime tinha só a primeira parte da letra de Chico Buarque. Elis e César ficaram apaixonados pela música e a gravação foi marcada para dentro de três dias. Nesse meio tempo, Menescal e Francis tentariam dar uma pressão em Chico para terminar a letra. À noite, separada de Ronaldo, sozinha na casa branca da Niemeyer, Elis resolveu fazer uma sessão de cinema, convidando alguns amigos, entre eles César, para ver Morangos silvestres, de Bergman, um clássico-cabeça da época. Mal o filme começou, César recebeu um bilhete de Elis, foi ao banheiro ler e se espantou: era um “torpedo” amoroso. Atônito, César leu e releu, acreditou e sumiu: completamente fascinado por Elis, era tudo o que secretamente desejava. E temia. Então sumiu. Não foi encontrado nos dois dias seguintes em lugar nenhum, os amigos se preocuparam. Mas no dia e hora da gravação, duas da tarde, César estava no estúdio, Menescal se sentiu aliviado e Elis sorriu sedutora. César dispensou os músicos, pediu para todo mundo sair, para colocarem o piano no meio do estúdio, baixarem as luzes e deixarem só ele e Elis, para a gravação do piano e da voz-guia de “Atrás da porta”. Extravasando seus sentimentos, misturando as dores da separação com as esperanças de um novo amor, Elis cantou, mesmo sem a segunda parte da letra, com extraordinária emoção, com a voz tremendo e intensa musicalidade. Na técnica, quando ela terminou, estavam todos mudos. Elis chorava abraçada por César. Juntos, César e Menescal foram levar a fita para Chico, que ouviu, chorou, e terminou a letra ali mesmo, no ato.

sexta-feira, 12 de março de 2010

PARABÉNS OLINDA E RECIFE!!

Elba Ramalho, no Recife, e Alceu Valença, em Olinda, são as principais atrações nas celebrações de aniversário das cidades irmãs, que ainda contam com vários artistas


“O que eu desejo para Recife é crescimento espiritual. Desejo um tempo sem
preconceitos, sem distinções de credo, cor e classe”. Foram os votos da cantora Elba Ramalho para o aniversário da cidade do Recife, que completa, com grande festa esta noite no Marco Zero, os seus 473 anos. A cidade, no entanto, divide o posto de estrela da noite com a cantora, que aproveita a data para gravar o seu DVD dos 30 anos de carreira, comemorado no ano passado.
E para uma festa com duas aniversariantes tão importantes, nada como convidados ilustres do porte de Zé Ramalho (com quem Elba não canta há sete anos), Geraldo Azevedo, Lenine, além de Chico César, Flávio José, Cristina Amaral, Carlinhos de Jesus, Spok e André Rio. Outra presença marcante no aniversário é a cantora Alcione, que participa pela primeira vez de um disco da paraibana Elba Ramalho.

Além dos parceiros, Elba traz para o Recife uma grande produção, com mais de 30 bailarinos, som e iluminação. Segundo Elba, a apresentação será costurada pelo poema Evocação do Recife, de Manuel Bandeira, que será recitado pela própria cantora. Outra revelação é que a paraibana escolheu músicas de Alceu Valença para abrir e fechar o espetáculo, que começa às 21h no Marco Zero.

Cabelo, voz, carisma e determinação. Quatro ingredientes imprescindíveis a uma carreira artística de sucesso. A receita, no entanto, não funciona para qualquer um. Os quatro itens, na verdade, marcam uma trajetória, especificamente. E quem logo de cara discorda, por favor, ao menos reconsidere, que a junção dos quatro ingredientes diz respeito, indubitavelmente, à figura da cantora, atriz e acima de tudo nordestina Elba Ramalho. A artista camaleônica comemora hoje os seus 30 anos de carreira com show no Marco Zero e apaga as velinhas junto com a cidad
e do Recife, que completa 473 anos, numa grande festa.

O show da cantora na cidade resultará no seu mais novo DVD – Elba 30 anos, contando com a participação dos maiores parceiros da artista, que marcaram, de alguma forma, a sua trajetória profissional e pessoal. “Esse disco resgata músicas do meu primeiro CD (Ave de prata, 1979) até o último (Balaio de amor, 2009)”, diz a cantora. Contando com este último trabalho, Elba já gravou 30 discos, entre solos e parcerias, como os três volumes de O grande encontro, que fez com Zé Ramalho e Geraldo Azevedo.

O trio, inclusive, é um dos grandes êxitos da sua carreira. “Nós três somos uma família. Quando gravei o meu primeiro disco, eu morava com Geraldo. Foi ele quem fez a primeira faixa do CD, Canta coração, música que está no DVD. Com Zé Ramalho a amizade é a mesma. Nesse trabalho eu quis gravar duas músicas com ele. Zé foi lá em casa e escolheu Chão de giz e eu escolhi outra paixão nossa que é Vida de gado”. Além dessas músicas, outras parcerias importantes completam o DVD, como a que fez com Lenine na música Queixa. “Lenine é outro amigo que marcou muito a minha vida. Eu gravava Lenine quando ele ainda era só compositor. Desta vez, decidimos tocar algo diferente e escolhemos essa música linda de Caetano”, disse.

Uma novidade do novo disco é a inserção de alguns trabalhos de Elba como atriz, nas faixas em que recita os poemas Evocação do Recife, de Manuel Bandeira, e Morte e vida Severina, de João Cabral. Antes mesmo de se tornar cantora, Elba fez grande sucesso como atriz na peça Ópera do malandro, de Chico Buarque. “Uma produtora me convidou para fazer a peça em que eu iria contracenar com Marieta Severo. Eu tinha feito quatro anos de aulas de teatro com o diretor Luiz Mendonça e fiquei muito surpresa porque, afinal, quem não quer atuar numa peça do Chico? Ganhei muitos prêmios por esse espetáculo, mas saí de lá consciente de que queria ser cantora.

Mesmo decidindo pela carreira musical, Elba ainda se considera uma atriz. “Eu sou uma atriz. Quem sempre entra no palco é a atriz. É a atriz que se meche, que dança que fala, que improvisa”, pontuou.

Cantora, atriz, intérprete, parceira. Tantas funções não seriam acumuladas se apenas um dos ingredientes faltassem à receita. “Graças à Deus sou muito determinada. Como cantora, mulher e nordestina enfrentei bastante dificuldades até me consolidar como artista. Quando comecei a cantar sofri muito preconceito porque no Sul ninguém sabia o que era o baião, o que era o maracatu”, contou.

Foi logo no início da carreira que Elba enfrentou os piores momentos da sua trajetória. “Cheguei do Sertão para o Rio de Janeiro com 21 anos, sem conhecer ninguém. Quem me levou ao Rio foi o Quinteto Violado, mas eles foram e voltaram para Pernambuco e eu fiquei sozinha. Essa solidão foi o pior momento da minha vida. Nessa época não tinha dinheiro. Passei fome, dormia no banco da praia muitas vezes”, revelou. “Mas nunca pensei em desistir. Um dia, vi que tinha superado tudo isso quando acabei um show na Modern Sound (casa de música no RJ) e a mulher do Francis Hime olhou para mim e disse: Tem gente que é cantora. Você é a cantora e artista, você é completa. Por isso, quando olho para trás e vejo tudo o que passei tenho vontade é de comemorar, tanto as alegrias quanto as lágrimas que já derramei”, completou.

Para Elba, este atual momento, é o melhor de todos os 30 anos. “Agora eu sou uma cantora pronta. Se houve algum momento que eu senti que a musica era misteriosa, isso passou. Hoje eu vivo a plenitude, tanto profissionalmente, como no amor e no espírito”.

E tem festa também em Olinda, claro. O fato de o município carnavalesco
aniversariar no mesmo dia da capital portuária presenteia as cidades irmãs com ciclo de comemorações que dura horas. Em Olinda a celebração começa bem cedo, já às 6h, com um dia inteiro de cortejos, solenidades, bolos, firulas de todo tipo (ver detalhes no caderno de Cidades) e, enfim, shows de artistas cujos espíritos já vieram à terra vestidos de passista. Aqui, a grande atração convidada é o festeiro de todas as horas, Alceu Valença. Mas ele não está sozinho.

Alceu, obviedade boa e indispensável, é um dos que se apresenta em uma fileira que começa o empurra-empurra às 19h, em frente ao Palácio dos Governadores (Prefeitura de Olinda). Antes dele, outros nomes icônicos fazem festa popular: Spok Frevo Orquestra e todas as canções de marcha que tocam em loop durante os Carnavais abrem a festa, seguidos por Alceu. Na sequência, sobem ao palco os músicos do D’Breck, com samba estourado, antes do Patusco mostrar q
ue tem pandeiro nesse frevo. Ao mesmo tempo, a tradição sobe e desce ladeiras, levada por diversas agremiações. Entre elas estão o bloco Flor da Lira, o Maracatu Leão Formoso, o Encontro de Ursos e a Escola de Samba Preto Velho.

quinta-feira, 11 de março de 2010

DIA INTERNACIONAL DA MULHER - PARTE 02

O quase romance

Os olhos verdes da carioca Lygia Marina de Moraes são morenos na letra de "Lígia". Um disfarce da identidade da musa e da atração de Tom Jobim por ela. Tom e Lygia, professora de pré-primário de uma das filhas do compositor, se conheceram em 1968, no bar Veloso, em Ipanema. Nunca houve nada entre os dois, mas aquele encontro daria origem ao samba-canção gravado por Chico Buarque no LP "Sinal Fechado", em 1974. "O Tom vivia de olho nela", diz o jornalista Ruy Castro, que registrou o episódio no livro "Ela é Carioca" (Cia. das Letras).

Por muitos anos Tom negou que Lygia fosse sua musa, em respeito ao amigo Fernando Sabino, marido dela na época. Só em 1994, quando o casal se separou, ele admitiu a inspiração aos amigos. Hoje, aos 54 anos, Lygia mora sozinha e dirige o departamento cultural da Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro. Ela recorda com orgulho os detalhes de seu caso jamais consumado com Tom Jobim.

Lygia Marina de Moraes "Conheci o Tom em uma tarde chuvosa. O bar Veloso estava vazio, era junho e fazia frio. Eu e uma amiga, Cecília, nos sentamos na varanda e vimos o Tom conversando com Paulo Góes [fotógrafo]. Os dois acabaram se sentando na nossa mesa. Quando contei ao Tom que era professora da sua filha Beth, ele teve um ataque de riso e disse: "É a primeira vez que paquera vira reunião de pais e mestres!". E eu babando: imagine, em 68, Tom era um dos homens mais lindos do Brasil.

Ele tinha que dar uma entrevista a Clarice Lispector para a "Manchete", e convidou a mim e a Cecília para ir com ele. Fomos no fusquinha azul-claro do Tom. Eu usava uma saia de lã e um suéter de cashmere. Ao abrir a porta, Clarice fez cara de mau humor. Tom, abraçado comigo e com Cecília, disse: "Trouxe minhas amigas". Ela ficou mais furiosa quando pediu a Tom que fizesse um poema para ela, como Vinícius [de Moraes] teria feito em entrevista anterior, e ele disse: "Não sou poeta, se tivesse um violão...".

Mas aí pegou um bloco de papel-jornal e escreveu um poema para mim, que guardo até hoje: 'Teus olhos verdes são maiores que o mar/ Se um dia eu fosse tão forte quanto você/ Eu te desprezaria e viveria no espaço/ Ou talvez então eu te amasse/ Ai que saudades me dá/ Da vida que eu nunca tive', e assinou: A.C.J.

Saindo de lá, Tom me levou em casa. Nos despedimos no carro, com um beijinho no rosto. Fiquei nervosíssima, mas parou ali. Tom era casado... Aquela carona foi nosso único encontro a sós. A música fala de tudo o que não aconteceu: o cinema, o passeio na praia... Depois nos encontramos muitas vezes, mas sempre em grupo. Logo me casei com o cineasta Fernando Amaral e entrei para a turma. Vivi o auge de Ipanema.

Após quatro anos de casada e um filho, me separei. Depois me casei com o escritor Fernando Sabino. Em 1973, acho que Tom não sabia que eu estava casada com ele, e ligou para o Fernando pedindo meu telefone. Meu marido fez uma sacanagem: deu um número errado. Em seguida, ligou para o telefone que tinha dado e avisou: "O Tom Jobim vai ligar aí procurando uma Lígia, mas o telefone é tal", e deu outro número errado. Os amigos ficaram sabendo dessa história, inclusive o Tom. Talvez daí tenha surgido a frase na música que fala do telefonema que foi engano.

Estava sozinha em casa quando ouvi no rádio o Chico cantando "Lígia", pela primeira vez. Fui correndo comprar o disco. Na hora, me vi na letra. Ser homenageada já é maravilhoso, ainda mais pelo Tom, com uma música linda e sofisticada... É uma glória. Claro que a música rendeu comentários e Fernando ficou uma fera. Durante os 19 anos em que fui casada, Tom evitou o tema. Estivemos juntos em vários lugares, tipo reveillon na casa de Jorge Amado, eu com Fernando e Tom com Ana, sua segunda mulher. Mas ninguém falava nisso.

Um dia, Tom me encontrou por acaso na Cobal [sacolão e ponto de encontro] e falou: 'Está chegando minha musa!'. Foi a primeira vez que admitiu para mim. Até hoje, em cada boteco que entro tocam "Lígia". Faz parte do meu show. Fiquei imortal. Tenho quase todas as gravações de 'Lígia'. Existe até uma versão do João Gilberto em que, ao contrário da oficial, o romance acontece e Tom até se casa comigo. As pessoas me cobram o fato de nunca ter acontecido nada entre a gente. Mas será que não foi melhor ter ficado essa fantasia? Talvez tivesse de ser essa a história: eu virar musa, entrar em um restaurante e me lembrar do Tom, cheio de charme."

Lígia

Eu nunca sonhei com você/ Nunca fui ao cinema/
Não gosto de samba/ Não vou a Ipanema/
Não gosto de chuva/ Não gosto de sol/
E quando eu lhe telefonei/ Desliguei/
Foi engano/ O seu nome eu não sei/
Esqueci no piano/ As bobagens de amor/
Que eu iria dizer/ Não, Lígia, Lígia...

Tom Jobim

quarta-feira, 10 de março de 2010

EXCLUSIVIDADE DA MUSICARIA

Simplesmente Maria (2010)

Faixas:
01 - Maria, Minha Fé (Milton Nascimento)
02 - Maria Bethânia (Caetano Veloso e Nelson Gonçalves)
03 - Maria Eleonor (Renata Rosa)
04 - Maria Do Futuro (Fagner)
05 - Maria Dos Santos (Alceu Valença)
06 - Maria Baiana Maria (Benito De Paula)
07 - Maria Madalena Da Portela (Candeia)
08 - Renata Maria (Leila Pinheiro - Chico Buarque - Ivan Lins)
09 - Maria Particularmente (Luis Melodia)
10 - Maria Da Santa Fé (Maciel Melo)
11 - Maria Madeira (Solange Maria)
12 - Maria Thereza (Roberto Silva)
13 - Dona Maria Segura (Leci Brandão)
14 - Canta Maria (Fernanda Takai)
16 - E Eu Sem Maria (Nana Caymmi)
16 - Maria Ninguém (Wilson Simonal)
17 - Maria, Maria (Milton Nascimento)
18 - Mariazinha Nazaré (Noite Ilustrada)
19 - Maria Luiza (Nelson Gonçalves)
20 - Recado Que Maria Mandou (Luis Melodia)

terça-feira, 9 de março de 2010

MPB - MÚSICA EM PRETO E BRANCO

Gal Costa

MILAGRE? NÃO SEI... MAS UM PADRE LIDEROU O MERCADO FONOGRÁFICO EM 2009

Não, não foi à toa que a Som Livre pôs tanta fé em padre Fábio de Melo a ponto de tê-lo convencido a sair da LGK Music para entrar no elenco da gravadora global. Líder do mercado fonográfico brasileiro em 2008, por conta das 542 mil cópias vendidas de seu 11º CD, Vida, padre Fábio se manteve na liderança em 2009, de acordo com dados da Associação Brasileira de Produtores de Discos (ABPD) referentes ao pífio desempenho do mercado fonográfico nacional em 2009. Nada menos do que três dos dez CDs mais vendidos são do padre cantor, incluindo o campeão Iluminar, editado em novembro. Indício do crescimento dos religiosos num mercado dominado também pelos sertanejos. Beyoncé é a única presença estrangeira na lista, por conta das 239 mil cópias vendidas no Brasil de seu terceiro álbum, I Am...Sasha Fierce (2008). E - pelo fato de ter em seu elenco duplas sertanejas como Bruno & Marrone, Victor & Leo (esta também com três CDs na lista dos dez campeões de 2009) e Zezé Di Camargo & Luciano - a Sony Music assumiu a liderança do mercado fonográfico brasileiro em 2009, ficando à frente de sua histórica rival Universal Music, esta prejudicada pela moderada repercussão comercial do último projeto fonográfico de Ivete Sangalo, Pode Entrar, editado dentro da nova série Multishow Registro. Eis os CDs e os DVDs mais vendidos, no Brasil, em 2009:

CD's:
01 - Iluminar (Som Livre, 2009) - Padre Fábio de Melo - 264 mil
02 - Zezé Di Camargo & Luciano (Sony Music 2008) - Zezé Di Camargo & Luciano - 261 mil
03 - I Am... Sasha Fierce (Sony Music, 2008) - Beyoncé - 239 mil
04 - Elas Cantam Roberto Carlos (Sony Music, 2009) - Vários artistas - 206 mil
05 - Promessas (Som Livre, 2009) - Vários artistas - 205 mil
06 - Eu e o Tempo ao Vivo (LGK Music / Som Livre, 2009) - Padre Fábio de Melo - 196 mil
07 - Borboletas (Sony Music, 2008) - Victor & Leo - 181 mil cópias
08 - Vida (LGK Music / Som Livre, 2008) - Padre Fábio de Melo - 180 mil (em 2009)
09 - Ao Vivo em Uberlândia (Sony Music, 2007) - Victor & Leo - 152 mil (em 2009)
10 - Ao Vivo e em Cores (Sony Music, 2009) - Victor & Leo - 130 mil


DVD's
01 - XSBP 8 (Som Livre, 2008) - Xuxa - 371 mil cópias
02 - Eu e o Tempo ao Vivo (LGK Music / Som Livre, 2009) - Padre Fábio de Melo - 294 mil
03 - Elas Cantam Roberto Carlos (Sony Music, 2009) - Vários artistas - 154 mil
04 - Paz Sim, Violência Não - Volume 2 (Sony Music, 2008) - Padre Marcelo Rossi - 145 mil (em 2009)
05 - Creio em Deus do Impossível (Som Livre, 2009) - Padre Reginaldo Manzotti - 129 mil
06 - Ao Vivo e em Cores (Sony Music, 2009) - Victor & Leo - 82 mil
07 - Pode Entrar - Multishow Registro (Universal Music, 2009) - Ivete Sangalo - 81 mil
08 - Ao Vivo em Uberlândia (Sony Music, 2007) - Victor & Leo - 81 mil (em 2009)
09 - Paz Sim, Violência Não - Volume 1 (Sony Music, 2008) - Padre Marcelo Rossi - 81 mil (em 2009)
10 - De Volta aos Bares (Sony Music, 2009) - Bruno & Marrone - 74 mil

segunda-feira, 8 de março de 2010

DIA INTERNACIONAL DA MULHER

Essas próximas postagens desta semana serão em homenagem a passagem do dia internacional das mulheres comemorado hoje. Nessas próximas postagens do Musicaria Brasil será contada a importância da mulher enquanto musa inspiradora de diversos artistas de nossa música popular.

A primeira música é Drão, composição do Gilberto Gil e que teve como musa inspiradora Sandra Drão, sua ex-esposa.

A melodia da separação

O apelido foi dado por Maria Bethânia. Drão vem do aumentativo de Sandra, a terceira mulher de Gilberto Gil. Ao virar título de um dos maiores sucessos do compositor, o apelido incomum sempre foi confundido com a palavra "grão". Sandra Gadelha desfaz o mal-entendido e se assume como inspiração dos versos densos, compostos em 1981, em plena separação do casal. Gil diz que foi bem difícil escrever a letra, uma poesia profunda e sutil do amor e do desamor. "Como é que eu vou passar tanta coisa numa canção só?", questiona-se Gil no livro "Gilberto Gil-Todas as Letras" (Cia. das Letras).

Os dois foram casados por 17 anos e tiveram três filhos: Pedro, Maria e Preta. Hoje, aos 53 anos, Sandra mora sozinha no Rio, sonha em montar uma pousada e se lembra com carinho da canção que marcou o fim de seu casamento. Por uma feliz coincidência, Sandra costuma ouvir sempre a "sua" música no rádio do carro. Uma emissora carioca parece estar programada para tocá-la todos os dias, às 11h. A ouvinte especial está sempre sintonizada. Sandra Gadelha "Desde meus 14 anos, todo mundo em Salvador me chamava de Drão. Fui criada com Gal [Costa], morávamos na mesma rua. Sou irmã de Dedé, primeira mulher de Caetano. Nossa rua era o ponto de encontro da turma da Tropicália. Fui ao primeiro casamento de Gil. Depois conheci Nana Caymmi, sua segunda mulher. Nosso amor nasceu dessa amizade. Quando ele se separou de Nana, nos encontramos em um aniversário de Caetano, em São Paulo, e ele me pediu textualmente: 'Quer me namorar?'. Já tinha pedido outras vezes, mas eu levava na brincadeira. Dessa vez aceitei.

Engraçado que Gil mesmo não me chamava de Drão. Antes havia feito a música 'Sandra'. Já 'Drão' marcou mais. Estávamos separados havia poucos dias quando ele fez a canção. Ele tinha saído de casa, eu fiquei com as crianças. Um dia passou lá e me mostrou a letra. Achei belíssima. Mas era uma fase tumultuada, não prestei muita atenção. No dia seguinte ele voltou com o violão e cantou. Foi um momento de muita emoção para os dois.

Nos separamos de comum acordo. O amor tinha de ser transformado em outra coisa. E a música fala exatamente dessa mudança, de um tipo de amor que vive, morre e renasce de outra maneira. Nosso amor nunca morreu, até hoje somos muito amigos. Com o passar do tempo a música foi me emocionando mais, fui refletindo sobre a letra. A poesia é um deslumbre, está ali nossa história, a cama de tatame, que adorávamos. No começo do casamento moramos um tempo com Dedé e Caetano, em Salvador, e dormíamos em tatame. Durante o exílio, em Londres, tivemos de dormir em cama normal. Mas, no Brasil, só tirei o tatame quando engravidei da Preta e o médico me proibiu, pela dificuldade em me levantar.

A primeira vez em que ouvi 'Drão' depois que Pedro, nosso filho, morreu [num acidente de carro em 1990, aos 19 anos] foi quando me emocionei mais. Com a morte dele a música passou a me tocar profundamente, acho que por causa da parte: 'Os meninos são todos sãos'. Mas é uma música que ficou sendo de todos, mexe com todo mundo. Soube que a Preta, nossa filha, chora muito quando ouve 'Drão'. Eu não sabia disso, e percebi que a separação deve ter sido marcante para meus filhos também. As pessoas me dizem que é a melhor música do Gil. Djavan gravou, Caetano também. Fui ao show de Caetano e ele não conseguia cantar essa música porque se emocionava: de repente, todo mundo começou a chorar e a olhar para mim, me emocionei também. E, engraçado, Caetano é o único dos nossos amigos que me chama de Drinha."

Drão

Drão/ O amor da gente é como um grão/
Uma semente de ilusão/
Tem que morrer pra germinar (...)/
Quem poderá fazer/
Aquele amor morrer!/ Nossa caminha dura/
Cama de tatame/ Pela vida afora...

Gilberto Gil

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