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quarta-feira, 30 de novembro de 2016

VÔTE... ESCUTA SÓ: OS PAIS DA BOSSA NOVA



Por Paulo Carvalho



A Bossa Nova movimento musical dos anos cinquenta, nasceu nos apartamentos da zona sul carioca como resultado de uma casualidade. Os vizinhos de Nara Leão reclamavam do barulho daqueles grupos de jovens tocando violão e cantando num clima criado pelo cinema Francês, pela poesia de Vinicius, na pintura de Tarcila do Amaral, tudo ainda no rescaldo da semana de arte moderna.

Fala-se muito em quem foi o pai da bossa, se Tom Jobim, João Gilberto, Carlos Lira, Normando Santos, e Valzinho, este, violonista da rádio Nacional nos anos quarenta, que tinha na sua plateia muitos dos que mais tarde divulgariam para o mundo todo aquela batida diferente. Na verdade todo mundo quer ou queria ser o pai da Bossa Nova. Pra mim, os verdadeiros pais da Bossa Nova, são aqueles, considerados os vizinhos chatos, que gritavam pelas janelas dos apartamentos, pedindo silêncio. Sem eles o surgimento da Bossa Nova estaria seriamente comprometido.

Claro que existem outros fatores que influenciariam no desenrolar do processo, como o surgimento no cenário da música de cantores como Mário Reis, Dick Farney, Lucio Alves, Tito Madi, Johnny Alf e João Gilberto no Brasil, Chet Baker e Joe Mooney no plano internacional, que portadores de voz afinada, mas sem o dó de peito de um Vicente Celestino ou um Caruso necessitavam de espaço e mercado para mostrar sua arte. Eles passariam a ser seguidos e se tornaram ídolos dos jovens de Copacabana e Leblon. Inicialmente, letras simples e até oligofrênicas eram respaldadas por melodias interessantes, acordes inovadores e dissonantes que não tinham nada com o que se tocava até então, ao mesmo tempo em que se aproximava do jazz cultuado pela intelectualidade da época. As letras melhoraram muito com a contribuição de Vinicius de Morais, de Tom Jobim, além deles, apenas tímidas participações de Newton Mendonça, Aloísio de Oliveira e Fernando Lobo.

Favorecidos ainda, pelo outro lado da história, o que é que tinha do outro lado? A Jovem Guarda, com uma imitação barata do rock americano pós-guerra, tendo como carro chefe Elvis Presley e o seu rebolado, na realidade, uma grande voz a serviço do nada, posteriormente nos brindou com alguns clássicos da música pop, são inesquecíveis as suas interpretações de LOVE ME TENDER e KISS ME QUICK.

O resultado de tudo isso foi muito bom, a Bossa Nova levantou a alto estima dos brasileiros, que admitiam ter encontrado uma música própria, original, reconhecida internacionalmente, principalmente depois da famosa apresentação do Carnegie Hall, na verdade um tremendo fiasco que deu certo. Os bossanovistas deixaram bons frutos e boas lembranças, momentos inesquecíveis, e acima de tudo, permitiram o surgimento de músicos, compositores, e cantores de alto nível no Brasil. Mudaram totalmente os rumos e a cara da nossa música. Sinceramente não dá para saber o que seria de nos sem a Bossa Nova, sem João, sem Tom, sem Vinícius.

Pouca coisa, quase nada sobrou de Valzinho no violão, esta música de sua autoria, era compositor de mão cheia, está num vinil de Zezé Gonzaga como faixa bônus, dá pra ver como este violonista já tratava os acordes nos início dos anos quarenta, quando ninguém falava em Bossa Nova.

Valzinho com seu violão

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Viver Sem Ninguém – Valzinho e Marcelo Machado.
Valzinho: Voz e Violão. Part. Zezé Gonzaga

GEOGRAFIA DAS EXPRESSÕES

Um ensaio fotográfico sobre o homem e seus territórios, focando as expressões diversas dos indivíduos no cotidiano e em suas respectivas paisagens. 

Por Fábio Nunes







DOISEMUM | "AGORA" - PART: ZÉ MANOEL (SINGLE DVD)

terça-feira, 29 de novembro de 2016

LENDO A CANÇÃO

Por Leonardo Davino*





"A canção popular é produzida na intersecção da música com a língua natural. Valendo-se de leis musicais para sua estabilização sonora, a canção não pode, de outra parte, prescindir do modo de produção da linguagem oral. Daí a sensação de que um pouco de cada nova obra já existia no imaginário do povo, senão como mensagem final ao menos como maneira de dizer", anota Luiz Tatit em Musicando a semiótica (p. 87).

Tendo isso em mente, podemos dizer que, se é um erro falar em um "jeito certo" de cantar essa ou aquela canção, não podemos esquecer que cada mensagem "pede" por um jeito mais “apropriado” de emissão vocal. Ou seja, se para que ocorra a eficácia da intenção na emissão de uma mensagem o que é dito precisa estar em sintonia com o modo de dizer, e é assim, por exemplo, que identificamos um ator canastrão, na canção acontece de igual modo. "A própria credibilidade enunciativa implicada nas execuções vocais depende do êxito da apreensão simultânea do modo de produção da linguagem oral em seu interior" (Tatit, idem, p. 88).

É no reconhecimento, pelo ouvinte, de que aquilo só poderia ser dito/cantado daquela forma que reside o vigor da canção: na integração entre letra e melodia na voz; na "equivalência entre sintaxe e ritmo", anota Tatit (idem, p. 87). Dito de outro modo, se não há um único "jeito certo" de dizer/cantar determinada mensagem, há um acordo íntimo e invisível entre emissor e ouvinte para que este reconheça na fala/canto daquele a credibilidade e o efeito de real necessários à fruição e, quiçá, ao entendimento. "Nossa vasta experiência com a linguagem oral [provoca] um efeito inevitável de 'realidade' enunciativa: alguém diz alguma coisa aqui e agora" (Tatit, idem).

Vem daí, e da memória cancional do ouvinte, toda a problemática e os perigos que residem na mudança de ritmo, de frequência melódica de uma canção cuja estabilidade do conteúdo na forma, e vice-versa, já havia sido engendra por um cancionista. Volto ao exemplo da versão de "Chuva, suor e cerveja" (Caetano Veloso) na voz de Simone (Quatro paredes, 1974; Em boa companhia, 2010).

Tendo sido gravada por Caetano Veloso (Muitos carnavais, 1989) em formato de frevo, isto é, tematizando a ação de quem se movimenta durante uma folia carnavalesca, a canção recebe da cantora Simone uma versão passionalizada, repleta de alongamentos vocálicos incompatíveis com aquilo que está sendo dito/cantado. Senão vejamos: como ouvir os versos "Não saia do meu lado / Segure o meu pierrot molhado / E vamos embolar ladeira abaixo / Acho que a chuva a gente a se ver / Venha veja deixa beija seja / O que Deus quiser" sem visualizar o ato plasmado na letra?

É certo que Simone descarta a última estrofe que diz "A gente se embala se embola se embola / Só para na porta da igreja / A gente se olha se beija se molha / De chuva suor e cerveja", ápice da ação tematizada, desprezando assim o título e o invólucro do todo cancional. Mas isso não anula a desestabilidade entre a substância sonora e o conteúdo que ela carrega, já que, como sugerimos, o ato de conjunção entre corpo e folia atravessa toda a canção.

A ênfase depositada pela letra nos aspectos da aproximação entre os foliões (sujeito da canção e o outro a quem ele se dirige) não se sustenta na cama sonora dos alongamentos vocálicos da versão de Simone, estando as personagens no meio da folia, aproveitando ("segure o meu pierrot molhado"), juntos ("não saia do meu lado"), a festa.

"Quem canta sabe que se não recuperar os conteúdos virtualizados na composição, durante o período da execução, deixando transparecer uma inegável cumplicidade com o que está dizendo (o texto) e com a maneira de dizer (a melodia), simplesmente inutiliza o seu trabalho e se desconecta do ouvinte" (Tatit, idem, p. 89). Não queremos negar que há quem, pela paixão, conecte-se à versão de Simone, mas nosso trabalho aqui é analisar a integração da letra, da melodia e da voz: o ritmo evocado pela sintaxe.

É por isso que chamo à discussão a versão de Arnaldo Antunes (Paradeiro, 2001) para "Exagerado" (Cazuza, Ezequiel Neves e Leoni). Enquanto a versão de Cazuza investe na mensagem da letra usando-a como uma cantada de conquista e sedução, efetuando o balanço dos sentidos do ouvinte pelo uso do rock, a versão passional e grave de Arnaldo cria um sujeito cancional que parece consciente de já ter conquistado o outro e canta para a manutenção do desejo entre os dois.

A inserção de sutis "ruídos vespertinos do Candeal (BA)" amplia a certeza deste sujeito que recusa a rua – ao contrário do sujeito urbano da versão de Cazuza – e quer ficar infinitamente unido ao outro, dentro da bolha afetiva criada na canção de amor: o canto passional não permite que os sons de fora estourem a bolha e atinjam os sons de dentro.

Ao trocar os dispositivos melódicos do rock, com sua tendência à valorização de personagens e dos rituais dançantes ancorados nos ataques consonantais, na segmentação da melodia e na marcação dos acentos, pela passionalização, empenhada no estado psíquico, tais como a solidão e a contemplação, através da ampliação da frequência e duração das vogais, Arnaldo Antunes investe em versos como: "Nossos destinos foram traçados / Na maternidade (...) Jogado aos teus pés / Eu sou mesmo exagerado / Adoro um amor inventado". E reinventa a canção.

A voz de Arnaldo e o violão de Cézar Mendes possibilitam uma nova possibilidade de ouvir uma "mesma" mensagem, uma mensagem, diga-se de passagem, impregnada das energias da versão dançante de Cazuza fortemente disseminada na cultura cancional. Note-se, como exemplo disso, que amparado por sua versão, Cazuza recebeu o epíteto de "poeta exagerado".

Para o bem da verdade, a versão de Cazuza já indicia aquilo que Arnaldo realiza. Trabalhando entre acelerações e desacelerações, naquilo que comumente denominamos pop-rock, balada romântica, o sujeito de Cazuza sugere paixão, através da atenção despertada pelo primeiro verso: "Amor da minha vida". Arnaldo capta tais índices e investe neles.

Para Luiz Tatit (idem, p. 92-93), "ao controlar a velocidade da voz que fala, atribuindo-lhe uma duração no interior da voz que canta, o cancionista revela o que R. Barthes denominou 'grão da voz', ou seja, a exata intersecção entre língua e música: a condição ideal para o efeito de verdade da obra". Deste modo, Arnaldo transfere o exagero da emissão vocal acelerada do rock para a letra de mensagem exagerada de um sujeito que diz feliz e suplicante: "Eu nunca mais vou respirar / Se você não me notar / Eu posso até morrer de fome / Se você não me amar".

Ao final, se na versão de Cazuza (1985), e mesmo na versão de Ney Matogrosso (Vivo, 1999), o ouvinte “presta mais atenção” à gestualidade vocal visceral, na versão de Arnaldo Antunes é a letra, ou melhor, o modo visceral como o sujeito se entrega na letra, que se ilumina e concentra a atenção. A produção oral de Arnaldo presentifica um sujeito em ritmo narrativo exageradamente jogado aos pés do outro. E assim entra em sincretismo com o outro, agora ele: sujeito cancional e da canção – exagerado: gerado no excesso.


***

Exagerado
(Cazuza / Ezequiel Neves / Leoni)

Amor da minha vida
Daqui até a eternidade
Nossos destinos foram traçados
Na maternidade

Paixão cruel desenfreada
Te trago mil rosas roubadas
Pra desculpar minhas mentiras
Minhas mancadas

Por você eu largo tudo
Vou mendigar, roubar, matar
Até nas coisas mais banais
Pra mim é tudo ou nunca mais

Eu nunca mais vou respirar
Se você não me notar
Eu posso até morrer de fome
Se você não me amar

Por você eu largo tudo
Vou mendigar, roubar, matar
Até nas coisas mais banais
Pra mim é tudo ou nunca mais

Exagerado
Jogado aos teus pés
Eu sou mesmo exagerado
Adoro um amor inventado





* Pesquisador de canção, ensaísta, especialista e mestre em Literatura Brasileira pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e doutor em Literatura Comparada, Leonardo também é autor do livro "Canção: a musa híbrida de Caetano Veloso" e está presente nos livros "Caetano e a filosofia", assim como também na coletânea "Muitos: outras leituras de Caetano Veloso". Além desses atributos é titular dos blogs "Lendo a canção", "Mirar e Ver", "365 Canções".

WILSON MOREIRA, 80 ANOS

ANÁLISE: 80 ANOS DE MOACYR FRANCO, DO RISO AO CHORO

Por Raphael Vidigal



Ainda ontem chorei de saudade…
Relendo a carta e sentindo o perfume…
O que fazer com essa dor que me invade?
Mato esse amor ou me mata o ciúme…” (Moacyr Franco)


“Saio da montanha, mas a montanha não sai de mim” é um ditado inventado que poderia facilmente ser atribuído a Moacyr Franco. Embora tenha deixado Ituiutaba, no interior das Minas Gerais, há uns bons tempos, o artista jamais se furtou de carregar certo semblante típico dessas paragens. E isto para quem se especializou em desenvolver mais de uma atividade artística, como se todas formassem os “cinco dedos da mesma mão”, parodiando Jô Soares. Franco surgiu como ator, explodiu como cantor, assentou a carreira de compositor, arriscou-se na apresentação e traçou até passos sérios, como político filiado a diversos partidos. Para as duas condições que mais exercitou, entre a música e a dramaturgia, alcançou sucesso através de características díspares, sendo motivo de riso numa e oferecendo sensações para o choro noutra. Pura arte. Moacyr é contemporâneo da época de ouro do rádio no Brasil, e certamente influenciado por essa vertente levou os ensinamentos aprendidos tanto para a televisão quanto a música. Discípulo do bordão, da marca, da canção narrada.


Interpretou o personagem mendigo na histórica “A Praça da Alegria”, transformada hoje em “A Praça É Nossa”, onde ainda atua na pele do “Jeca Gay”, outra invenção de enorme adesão popular. Foi com esta inaugural figura que Moacyr obteve seu primeiro êxito musical de largo alcance, aparecendo em mais de uma chanchada para entoar os versos de “Me dá um dinheiro aí”, marchinha icônica de 1960, composta pelo trio Homero, Ivan e Glauco Ferreira. Mas Moacyr também escreveu sucessos de próprio punho, ou quase, ao elaborar a versão da “Balada para um Louco”, de Piazzolla, então pouco reconhecido no Brasil. Ao cantar quase sempre trazia a influência grave do bolero, e derramava-se em voz suave, porém carregada. E foi – também nesta seara – regional, sertanejo, autor, por exemplo, de “Ainda ontem chorei de saudade”. Tradicionalista, estreou no cinema em 2011, no filme “O Palhaço”, dirigido por Selton Mello, e saiu premiado como melhor ator coadjuvante por uma cena de três minutos. Provas de que entre o riso e o choro, o começo e o fim, o quintal e o mundo, existem poucas diferenças pra quem é de arte.



Fotos: Divulgação; e Cláudio Augusto, respectivamente.

segunda-feira, 28 de novembro de 2016

PAUTA MUSICAL: "MARINA" E A QUEBRA DE REGRAS DAS GRAVADORAS

Por Laura Macedo


Dorival Caymmi, Francisco Alves, Dick Farney e Nelson Gonçalves


Entre o fim e o início das décadas de 1940/1950, respectivamente, o “samba-canção” marcou presença no cenário musical brasileiro como um gênero romântico, substituindo a valsa e o foxtrote.

O compositor/cantor Dorival Caymmi lapidou sua obra com base em três vertentes: as canções praieiras e os sambas de roda, com ênfase na Bahia, e os sambas urbanos de inspiração carioca.



Neste post vamos destacar a composição - “Marina” - gravada pelo próprio autor e, também, por Francisco Alves, Dick Farney e Nelson Gonçalves, em 1947.

Nessa época as gravadoras não concordavam com lançamento de uma composição por vários intérpretes. O fato das quatro gravações de “Marina”, no ano de 1947, foi considerado uma quebra de tabu.

Segundo os escritores Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello uma curiosidade dessa composição é que ela não foi inspirada por nenhuma musa de Dorival Caymmi e sim pelo seu filho Dori (na época com três anos de idade) que após receber uma bronca do pai ficou resmungando: “Tô de mal com você, tô de mal com você...”. Essa expressão infantil ficou na mente de Dorival e foi aproveitada na hora de compor “Marina”.



“Marina” (Dorival Caymmi) # Francisco Alves. Disco Odeon (12.773-B). Gravação (11/03/1947) / Lançamento (maio/1947).




Marina” (Dorival Caymmi) # Dick Farney. Disco Continental (15.783-A) / Matriz (1651). Gravação (19/04/1947) / Lançamento (junho/1947).






Marina” (Dorival Caymmi) # Nelson Gonçalves. Disco Victor (80.0520-B) / Matriz (S-078756). Gravação (30/05/1947) / Lançamento (agosto/1947).




Marina” (Dorival Caymmi) # Dorival Caymmi. Disco Victor (80-0536-A) / Matriz (S- 078762). Gravação (11/07/1947) / Lançamento (agosto /1947).



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Agradecimentos especiais ao escritor/jornalista/pesquisador Miguel NIREZ de Azevedo pela liberação do fonograma, “Marina”, gravado por Dorival Caymmi.

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Fontes:

- A Canção no Tempo - 85 Anos de Músicas Brasileiras, Vol 1: 1901-1957 / Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello. - São Paulo: Ed. 34, 1997.

- Banco de Dados do Arquivo Nirez.

- Fotomontagem: Laura Macedo.

- Montagem Áudio SouldCloud: Laura Macedo.

- Revista BRAVO! Especial 100 Canções essenciais da MPB. Ed. Abril, 2008.

- Site YouTube - Canais: “SenhorDaVoz” / “George Kplan”.

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NOITES TROPICAIS - SOLOS, IMPROVISOS E MEMÓRIAS MUSICAIS (NELSON MOTTA)*




No festival MPB-81 da TV Globo, a Gang 90, depois de uma apresentação arrebatadora na eliminatória, com uma grande performance de Júlio, vai à final, não se apresenta tão bem e não leva nada. A favorita absoluta do público é uma balada de Guilherme Arantes, “Planeta água”, que fica em segundo lugar, mas se torna um dos maiores sucessos do ano. “Perdidos na selva” consegue boa execução nas rádios, e a Gang 90 está em todos os programas populares de televisão, está nas revistas e jornais, se apresenta com sucesso no Rose Bom-Bom e no Napalm de São Paulo e no Noites Cariocas e começa a fazer shows esporádicos e caóticos pelo Brasil. Júlio começa a beber mais e, como quase todo mundo no circuito artístico, cai de nariz no pó. Noites brancas nos trópicos: a década de 80 começa com a cocaína se espalhando e se popularizando nas noites não só cariocas, mas brasileiras e internacionais. Com uma diferença: enquanto um papelote de cocaína custava US$ 150 em Nova York, no Brasil custava US$ 10. Talvez seja uma explicação para a hiperatividade e o ritmo acelerado de boa parte dos sucessos do nascente rock brasileiro. E explique muitos de seus fracassos. Sem conseguir gravar um Lp com a Gang 90, Júlio volta para Nova York.

Na TV Globo, faz sucesso a série “Grandes nomes”, dirigida por Daniel Filho: shows musicais gravados ao vivo no Teatro Fênix, com produção musical de Guto Graça Mello e roteiro de Luiz Carlos Maciel e Maria Carmen Barbosa. O sucesso foi imediato: o som era ótimo — uma raridade na época —, os cenários discretos, a platéia quentíssima, cheia de VIPs nas primeiras filas, estrelas das novelas da Globo. Grandes nomes cantando o melhor de seus repertórios e recebendo convidados. Começou com “Simone Bittencourt de Oliveira” e “Caetano Emanuel Vianna Telles Veloso”, mas o programa mais aguardado era “João Gilberto Prado Pereira de Oliveira”. Há muitos anos João não cantava no Brasil e havia grande expectativa: ele se apresentaria com uma grande orquestra de cordas, com arranjos escritos por Dory Caymmi e Guto Graça Mello. E teria um convidado especial, secretíssimo. 

A maioria achava que seria Caetano Veloso ou Gal Costa, baianos e cool como ele, bossa-novistas antes de tropicalistas, seus fãs e discípulos ardorosos. Ou até mesmo os devotos Novos Baianos, ou Gil, Nara Leão? Daniel e Guto mantinham silêncio absoluto e aumentavam o suspense na plateia abarrotada. Na entrada, os VIPs disputaram lugares como macacas de auditório. Durante uma hora, João hipnotizou a plateia, cantando primeiro só com o violão e depois com a orquestra, homenageou Caetano com uma sublime versão de seu “Menino do Rio”, mas quando chamou o convidado especial a plateia explodiu em espanto e aplausos ensurdecedores: era a rainha do rock, Rita Lee. Rita era a estrela do momento, com sucessos estrondosos como “Mania de você”, “Chega mais” e “Lança perfume”, todos em parceria com seu marido Roberto de Carvalho. Linda e vaporosa, com os longos cabelos vermelhos balançando, ela cantou com João o antigo sucesso de Mário Reis, “Juju e balangandãs”, com infinita graça e alta precisão. Sua voz pequena e cool, sua inteligência musical, seu bom gosto e sofisticação a aproximavam muito mais de uma cantora de bossa nova do que o volume, peso e potência vocal esperados de uma rainha do rock. João sorria feliz e Rita aliviada, quando no final o público explodiu em aplausos delirantes exigindo bis.

Menino do Rio, o filme de Antônio Calmon produzido por Bruno Barreto, não tinha nada a ver com a música “Menino do Rio”, de Caetano Veloso, lançada para o sucesso nacional um ano antes com a gravação de Baby Consuelo para a abertura da novela “Água viva”. A canção homenageava o surfista Petit, um habitue do Dancing Days e do Noites Cariocas, disputado por gente de todos os sexos e várias gerações. O filme era uma comédia de praia com André de Biasi, Cláudia Magno e Evandro Mesquita, misturando romance, música e aventura, dirigida ao público jovem. Fiz a direção musical do filme e as letras de quase todas as músicas de sua trilha sonora, de Lulu Santos e Guilherme Arantes. A simpatia dos personagens e da turma, o bom humor, a gostosura das garotas, os ambientes de surfe e asa-delta na exuberância do Rio de Janeiro fizeram do filme um sucesso espetacular, que surpreendeu até mesmo seus otimistas produtores. Rapidamente fez mais de dois milhões de espectadores e uma das músicas, o bolero havaiano “De repente Califórnia”, que escrevi com Lulu, estourou em todo o Brasil, na gravação original de meu enteado Ricardo Graça Mello, filho do primeiro casamento de Marília Pêra e um dos principais atores do filme.

“Garota eu vou pra Califórnia, viver a vida sobre as ondas, vou ser artista de cinema, o meu destino é ser star...” Lulu tocou guitarra na gravação e Liminha foi o baixista. Outra música da trilha, “Garota dourada”, uma letra que fiz para um rock de Lee Marcucci e Wander Taffo, que haviam formado o grupo Radio Táxi em São Paulo, impulsionada pelo filme, também se tornou um dos sucessos do verão. Mas o maior hit do ano foi de Ritchie, “Menina veneno”, um rock com letra de Bernardo Vilhena, que vendeu um milhão de discos e o transformou num pop star: o primeiro Lp de Ritchie, Vôo de coração, vendeu mais do que o de Roberto Carlos. Com Lulu, fiz “Areias escaldantes” (“A caravana do delírio”), um rock aventura falando de “a luz do fogo ilumina os corpos de belas nuas dançarinas, são vulcões de mel/ perfume de aventura inundando o ar de emoção e calor/ luxo e luxúria nas noites do Oásis do Amor”. Na mesma linha Oriente Médio fizemos “Palestina”, aventuras sexo sadomaso- políticas de uma guerrilheira/terrorista que provocou protestos nos shows. Tanto de judeus como de árabes. Com estaladas de chicote marcando o ritmo, Lulu cantava no disco: “Essa garota é mesmo um perigo, não vale a pena ser seu inimigo, cuidado com ela, bela menina, cuidado, pois ela é palestina.” As músicas tocaram bastante no rádio, nas poucas FMs da cidade, popularizaram o nome de Lulu, mas não fizeram seu primeiro Lp para a Warner — Tempos modernos — passar de 20 mil vendidos, mesmo com o sucesso de sua gravação de “De repente Califórnia”. Para promover o disco e ganhar uns trocados, ele fazia nos fins de semana shows de play-back nos subúrbios e na Baixada Fluminense, às vezes quatro ou cinco numa mesma noite. Como aparecia freqüentemente em programas populares como o Chacrinha e os shows paulistas de Raul Gil, Bolinha e Barros de Alencar, Lulu era muito solicitado no circuito suburbano. Chegava ao clube no meio do baile, o DJ tocava a fita com a base musical e Lulu cantava ao vivo cinco ou seis músicas e partia com o motorista e o segurança para o próximo show. Foi só com “De leve”, versão que Gilberto Gil e Rita Lee fizeram para “Get Back”, dos Beatles, incluída na trilha sonora da novela “Brilhante”, que Lulu Santos chegou pela primeira vez às paradas de sucesso. E passou a fazer shows de playback também em outros estados.

Enquanto Lulu e Ritchie chegavam ao alto das paradas e caíam na estrada, outro ex-Vímana, Lobão, tocava bateria nas bandas de Marina, Luiz Melodia e Gang 90, era parceiro de Júlio Barroso e produzia um Lp independente associado ao poeta Bernardo Vilhena, com quem tinha feito algumas músicas. Nos precários oito canais do estúdio Tok, gravou as dez faixas de Cena de cinema, com participações de Marina, Lulu, Ritchie, Ricardo Barreto e Marcelo Sussekind, pensando em vender a fita para uma gravadora. Além disso, namorava a ex de Júlio, Alice “Pink Pank”, fumava, bebia, cheirava e conspirava nas praias e bares cariocas com o ex-Asdrúbal Evandro Mesquita para a formação de uma banda de rock malandra e teatral, agressiva e sensual. Uma resposta carioca e praieira à atitude paulista-nova-iorquina
da Gang 90: a Blitz. Nada de pessoal: Lobão e Júlio tinham gostos parecidos e se adoravam. Júlio escrevia de Nova York: “Não existe nada de novo, existe tudo sendo feito de maneira nova, velhos riffs renascidos através da paixão criativa dos que vivem o tempo de agora, apaixonadamente. Nós sabemos que não existe nenhuma nova onda, new wave. Mas uma onda permanente.”

No fim do ano, num dos melhores programas da série “Grandes nomes”, outro encontro inesperado: “Maria da Graça Costa Penna Burgos”, Gal Costa, convidou Elis Regina para dois duetos. Pela primeira vez as grandes rivais se encontraram em “Estrada do sol”, de Tom Jobim e Dolores Duran, e “Amor até o fim”, de Gilberto Gil. Entre beijos e abraços cantaram e dançaram juntas, Elis mais rítmica e agressiva, Gal mais doce e harmônica, em gravação histórica. Elis também se aproximou muito de Marília, para quem telefonava freqüentemente para falar de marido e filhos e comentar as novidades. Quando a onda discoteca se esgotou, a Warner decidiu fazer um disco das Frenéticas cantando os sambas e marchas de Lamartine Babo, com produção de Sérgio Cabral, que batizei de Babando Lamartine. Não sabíamos quem chamar para fazer os arranjos e, conversando com Marília, Elis “ofereceu” César Mariano, que foi imediatamente chamado. Mas mesmo com seus arranjos e com algumas ótimas faixas, o disco naufragou e as Frenéticas começaram a acabar. Na manhã de 19 de janeiro de 1982, pelo telefone, Marília me disse, com voz pausada e contida, que tinha uma notícia ruim sobre Elis. Comecei a chorar. Parada cardíaca, álcool e cocaína. Sozinha trancada no quarto. Três filhos. Trinta e seis anos!!!

Fui imediatamente para São Paulo, para o Teatro Bandeirantes, onde o corpo de Elis estava sendo velado e uma multidão chorava a perda de sua estrela. Abracei César e Ronaldo, que choravam muito. Atrás do vidro do caixão, com os cabelos curtinhos e o rosto sereno, Elis vestia a camiseta de seu programa da série “Grandes nomes” que tinha sido proibida pela Censura: uma estilização da bandeira brasileira com o “Ordem e progresso” substituído por “Elis Regina Carvalho Costa”. Todas as rádios tocavam suas músicas, “Upa neguinho”, “O bêbado e a equilibrista”, “Arrastão”, “Madalena”, “Maria Maria” e sua última gravação, uma lindíssima versão de “Me deixas louca”, velho bolero de Armando Manzanero, com letra de Paulo Coelho. A cidade onde ela floresceu para o sucesso, onde viveu seus grandes triunfos e a maior parte de sua vida artística parou para chorar a sua estrela. No alto do carro do Corpo de Bombeiros, coberta de flores, Elis percorreu as ruas da cidade pela última vez, ovacionada pelas multidões que encheram as janelas e calçadas de todo o trajeto até o Cemitério do Morumbi. Nunca um artista brasileiro recebeu igual consagração popular. Acompanhei o cortejo no carro da amiga jornalista Regina Echeverria, devastado de tristeza e perplexo. Trinta e seis anos!!! Entre Krishna e Lacan, entre Cristo e Buda, entre cabeça e coração, procuro um sentido e um consolo para aquela perda, imagino o avesso de um milagre, do mesmo milagre que fez de uma garota baixinha e pobre da periferia de Porto Alegre uma das maiores cantoras do mundo. Vivi sua morte como um antimilagre. Para mim era novidade até que Elis estivesse cheirando pesado nos últimos meses, não fazia o seu estilo. Elis nunca foi drogada nem dependente de nada. Bebia um pouco de vez em quando, fumava um baseado aqui e ali, mas nunca fez nada compulsivamente. Estava entrando na cocaína numa hora em que muita gente já estava começando a sair. Pior: sempre preocupada com a voz, a garganta, seus maiores bens, estava evitando inalar cocaína, preferindo misturá-la com uísque: dessa forma a droga vai para o estômago e demora mais a entrar na corrente sangüínea, tornando muito difícil controlar as quantidades. Foi o que matou Elis.

Convidado por Roberto de Oliveira e Cláudio Petraglia, que tinham uma produtora independente, passei a apresentar junto com Scarlet Moon o talk-show diário “Noites cariocas”, que ia ao ar às 11 da noite, só no Rio de Janeiro, pela TV Record. Gravávamos três entrevistas todos os dias, de manhã, primeiro numa sala do Hotel Marina, na Praia do Leblon, e depois na Pizzaria Gattopardo, de Ricardo Amaral. Lá, além de todos os nossos amigos, entrevistamos também políticos, artistas, atletas e empresários, de Darcy Ribeiro a Marcello Mastroianni, e — pela primeira vez na televisão depois de 64 — o histórico líder comunista Giocondo Dias, com o partido ainda na ilegalidade. Além de nossas entrevistas, o programa tinha “colunas” audiovisuais, com o cronista Carlos Eduardo Novaes, o escritor João Ubaldo Ribeiro e o futuro repórter policial Marcelo Rezende comentando futebol. 

Como o programa era só local, nos permitíamos algumas liberalidades, como eventuais piadas mais grossas e palavrões mais leves, ou a descrição que Darcy Ribeiro fez de sua participação num concurso de punheta entre garotos para ver quem gozava primeiro e mais longe. Outras vezes, quando o convidado era chato (o que muitas vezes acontecia), Scarlet e eu o ignorávamos e conversávamos animadamente entre nós. O público se divertia, recebíamos centenas de cartas e éramos vistos por mais de 500 mil pessoas todas as noites. No verão de 82, uma novidade na praia do Arpoador: um circo. Uma idéia maluca de Perfeito Fortuna, ex-Asdrúbal, com Márcio Galvão e o cenógrafo Maurício Sette. Um circo de verdade, em frente ao mar, armado na areia da praia dos roqueiros e surfistas, um circo com bichos muito loucos e sem trapezistas, um circo de teatro e música — e naturalmente muitos malabarismos e acrobacias. 

Como os que fez Perfeito para convencer dona Zoé Chagas Freitas, primeira-dama do Estado, a interceder junto ao prefeito Júlio Coutinho para ceder, de graça, um pedaço de praia, e, também de graça, fornecer força e luz. Afinal, seria só durante o verão e seria uma grande alegria para a cidade, prometia Perfeito ao prefeito. Não só cumpriu como foi além: o Circo Voador foi a grande atração do verão carioca, com cursos de teatro e aulas de dança e acrobacia de dia e peças de teatro e shows de música à noite. Empolgado, me inscrevi no curso de teatro de Regina Casé, Patrícia Travassos e Hamilton Vaz Pereira, e durante um mês — com 38 anos — desreprimi minha porção ator e tomei um banho de juventude me divertindo em exercícios de expressão teatral com uma garotada em torno de 20 anos.

Perfeito Fortuna tinha seu próprio grupo, o Pára-quedas do Coração — Cia. do Ar, e teve entre seus alunos Cazuza, que participou ativamente das aulas e de uma montagem punk de A noviça rebelde, como o Barão Von Trapp e um travesti no papel imortalizado por Julie Andrews. Outro curso, de Evandro Mesquita e Patrícia Travassos, com o grupo Banduendes Por Acaso Estrelados, preparava a montagem de A incrível história de Nehemias Demutcha. À noite, shows de estrelas como Chico Buarque e Caetano Veloso, que era amigo e fã ardoroso de Regina Casé, para quem fez “Rapte-me camaleoa”, e novas bandas de rock, como o Brilho da Cidade (de Cláudio Zoli e Arnaldo Brandão), o Barão Vermelho (de Roberto Frejat, Cazuza, Dé e Guto Goffi) e a Blitz (de Evandro Mesquita, Ricardo Barreto e Lobão). Foi de Patrícia Travassos, namorada de Evandro, a ideia de acrescentar duas vocalistas à banda: Márcia Bulcão, namorada de Barreto, que chamou a amiga e bailarina Fernanda Abreu.

A Prefeitura também cumpriu sua parte: assim que terminou o verão o circo foi despejado do Arpoador, para alívio dos residentes na área. Quando o circo foi desarmado, o compacto da Blitz com “Você não soube me amar” já estava explodindo em todo o Brasil. A fala ritmada, carioca e malandra de Evandro, os vocais de resposta de Fernanda e Marcinha, a guitarra do “homem-baile” Barreto, a bateria suingada de Lobão eram a fórmula do sucesso:
“Sabe essas noites em que você sai caminhando sozinho, de madrugada, com a mão no bolso...” “Na rua!”, respondem as garotas. “E você fica pensando naquela menina, você fica torcendo e querendo que ela estivesse...” “Na sua!”, elas completam. “Aí finalmente você encontra o broto, que felicidade...” “Que felicidade! Que felicidade!”, confirmam elas. “Você convida ela pra sentar.” “Muito obrigada.” “Garçom, uma cerveja!” “Só tem chope.” “Desce dois! Desce mais!” “Amor, pede uma porção de batata frita?”, elas pedem dengosas. Ele concede: “Ok, você venceu: batata frita.” Em três meses a Blitz vendeu mais de 100 mil discos e se tornou uma mania nacional, foi capa de várias revistas e estrelou todos os musicais da televisão. Chacrinha adorava a Blitz, Evandro o imitava na gravação de “Você não soube me amar”, Fernanda e Marcinha dançavam com as Chacretes na TV. Eles eram o sucesso do momento quando entraram no estúdio, produzidos por Mariozinho Rocha, para gravar o primeiro Lp. Quando Júlio voltou de Nova York, a Blitz era um grande sucesso. Ele reagrupou a Gang 90, manteve May, Denise e Alice e acrescentou uma vocalista/tecladista/paulista, sua nova mulher Taciana Barros, e o baixista e vocalista cearense Herman Torres, com quem passou a compor. Uma das músicas, “Nosso louco amor”, é o tema de abertura da novela “Louco amor” e vira um grande sucesso nacional da noite para o dia.

“Nosso louco amor está em seu olhar quando o adeus vem nos acompanhar. Já foi assim, mares do sul, entre jatos de luz, beleza sem dor, a vida sexual dos selvagens...” A Gang arrebenta nos programas de televisão e grava seu primeiro Lp, Essa tal de Gang 90 e as Absurdettes. O disco não acontece, mesmo com grandes músicas como “Corações psicodélicos” (parceria com Lobão), “Telefonema”, “Eu sei mas eu não sei” (“Eu quero e eu consigo/ eu perco, mas eu não ligo/ I’m your dog, but not your pet/ quero e sou absurdette”) e o rap “Românticos a Go-Gô”, só com a fala suingada de Júlio sobre a base pulsante, entre o rock tropical e o new samba: “Donga, Cartola, Guevara, Sinhô/ Jimi, Caymmi, Roberto, Melo/ Rita, Lolita, Del Fuego, Bardot/ Gato, Coltrane, Picasso, Cocteau/ Nietzsche, Nijinsky, Kandinsky, Allan Poe/ Marley, Duchamp, Oiticica, Xangô.” “O poeta é o traficante da liberdade”, proclamava Júlio nos shows. As Absurdettes desfilavam pelo palco com suas minissaias e ele confidenciava ao público: “Elas podiam ser misses, mas nunca leram O pequeno príncipe...”

Os barmen dos hotéis adoravam Júlio. Mas os contadores da gravadora, que pagava as contas, iam à loucura. Em um hotel paulista, Júlio convidou o poeta Tavinho Paes para uma delivery de comida japonesa e em seguida para duas garotas de programa. Orientais, naturalmente. Claro, Júlio não tinha um tostão, mas tinha um amigo no bar, que lhe mandou as contas “frias” de diversas lagostas à Thermidor e várias garrafas de vinho, que assinou alegremente. E recebeu o dinheiro em espécie, menos a gorjeta. Lobão, depois de gravar o disco da Blitz, dar entrevistas no lançamento e posar para a capa de várias revistas, antes mesmo de começar a turnê nacional, sai do grupo e inicia carreira solo. A espetacular opção de Lobão, de abandonar o grupo de maior sucesso do momento e vender para a RCA a fita do seu Cena de cinema, chocou e dividiu a cena roqueira carioca. Para uns, era um doidão que estava rasgando um bilhete premiado; para outros um herói, que recusava o estrelato para fazer sua arte independente. Cena de cinema saiu três meses depois do disco da Blitz e foi lançado com um show no Circo Voador — agora em seu novo endereço, nos Arcos da Lapa. Quando saiu da Blitz, Lobão deixou uma maldição no ar: que a banda acabaria tocando na festa da chegada de Papai Noel no Maracanã, o mais terrível pesadelo de um roqueiro rebelde.

As aventuras da Blitz, extremamente bem produzido, recheado de boas músicas de Evandro e Barreto, cheias de gírias e malandragens cariocas e com um humor e uma alegria irresistíveis, tornase um retumbante sucesso nacional. As apresentações ao vivo da Blitz em shows e na televisão, dirigidas por Patrícia Travassos, vão muito além da música e dança, são cheias de efeitos teatrais, piadas, figurinos especiais, performances tão sensacionais como não se via desde Os Mutantes, o Secos e Molhados e as Frenéticas. A Blitz foi a estrela máxima da festa de chegada de Papai Noel no Maracanãzinho no Natal de 82.


* A presente obra é disponibilizada por nossa equipe , com o objetivo de oferecer conteúdo para uso parcial em pesquisas e estudos acadêmicos, bem como o simples teste da qualidade da obra, com o fim exclusivo de compra futura. É expressamente proibida e totalmente repudiável a venda, aluguel, ou quaisquer uso comercial do presente conteúdo.

PROGRAMA SESC INSTRUMENTAL

domingo, 27 de novembro de 2016

MORRE AOS 76 ANOS ROBERTO CORRÊA DA BANDA GOLDEN BOYS

Roberto lutava contra um câncer


Roberto Correia da banda Golden Boys morreu na tarde deste sábado (26) no Rio de Janeiro. A informação foi confirmada pela página oficial da banda. Roberto lutava contra um câncer.

"É com imensa tristeza que informamos o falecimento, hoje, do nosso querido Roberto Corrêa. Ainda não temos informações sobre o velório e sepultamento, mas em breve estaremos publicando aqui. Força para toda a família Corrêa...", diz o comunicado em uma rede social.

O filho do cantor, Beto Filho, também usou uma rede social para falar sobre o pai, que morreu no início da noite em casa.

"Venho comunicar através deste post o falecimento do meu pai Roberto Corrêa hoje às 18hs. De forma branda como um suspiro feito um passarinho, nosso querido se foi levando todo amor da família e dos inúmeros amigos que colecionou durante sua vida".

Nas últimas postagens de Roberto no Facebook há um mês, ele aparece um pouco abatido ao lado do neto. Uma semana depois ele relembrou fotos antigas de seu casamento e se declarou para a mulher: "Te amo para sempre".

O grupo Golden Boys surgiu na Jovem Guarda no Brasil e fez muito sucesso chegando a excursionar por países da América do Sul nos anos 60. O quarteto era formado por três irmãos: Roberto, Ronaldo, Renato Corrêa José Maria, e um primo, Valdir Anunciação, que morreu em 2004.

O corpo de Roberto foi velado e enterrado hoje (27), no Cemitério Jardim da Saudade, em Sulacap, no Rio. O velório teve início às 13h30 e o sepultamento ocoreu às 15h30.


Fonte: UOL

HISTÓRIAS E ESTÓRIAS

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Após algumas semanas sem trazer o nome de Taiguara ao centro de nossa coluna, retomo novamente a abordagem a este que é sem dúvida alguma um dos maiores nomes de sua geração (apesar de tão injustiçado pelos grandes meios de comunicação que insistem em não apresentar ao grande público todo o legado deixado por ele ao longo de pouco mais de três décadas de carreira). Sobre essa realidade, o pai do saudoso músico, Ubirajara Silva, um dos maiores bandoneonistas que se tem notícias existente no Brasil, acredita na seguinte teoria: "Depois que Taiguara voltou a cantar, a mídia passou a ignorá-lo, como até hoje o ignora. Houve aí uma rejeição, em relação ao comunismo, socialismo, enfim, suas posições políticas. Taiguara criticava personalidades ainda vivas. Ele não poupava nem a Rede Globo, que tanto o promoveu no início de sua carreira. Pode ser que um dia venha um reconhecimento por tudo o que ele fez. Não sei se o Brasil vai mudar, parece que está mudando para pior, mas um dia pode ser que mude para melhor". O próprio Taiguara reconhecia a falta de memória existente no Brasil quando em certa entrevista desabafou: "Ainda estamos sem memória. Somos um país desmemoriado. Nossos artistas estão cantando para os militares, para as multinacionais. E isso pra mim é falta de memória. Duvido que esses artistas lembrem hoje porque entraram nessa". Assim como Wilson Simonal, Taiguara também foi jogado em uma espécie de limbo. Enquanto um foi )e ainda é por muitos) acusado de colaborar com o Regime Militar naquele momento; o outro foi renegado por conta de sua opção política radical, na corrente prestista de esquerda. E mesmo após a sua morte, diferente de Simonal, o artista Taiguara não foi reavaliado.

Como já foi registrado anteriormente aqui mesmo nesta coluna, a história de Taiguara Chalar da Silva começa a 09 de outubro de 1945 em Montevidéu e termina em São Paulo, Capital, a 14 de fevereiro de 1996, quando tinha 50 anos e 4 meses. Seu último disco, "Brasil Afri", foi lançado em 1994 e conta com catorze faixas, dentre elas, "O cavaleiro da esperança", canção composta em homenagem a Luís Carlos Prestes. Vindo a falecer em 1996, Taiguara foi autor de grandes sucessos nacionais como "Hoje", 'Universo No Teu Corpo", "Viagem", "Berço De Marcela", "Teu Sonho Não Acabou", "Que As Crianças Cantem Livres", entre outros, e para além do sucesso deixou como legado uma controversa obra para alguns; mas de essencial importância para a história da música popular brasileira. Para Taiguara a arte era um instrumento na luta pela liberdade como certa vez disse o líder africano Amílcar Cabral. Hoje, seguindo os seus passos há o seu talentoso filho, Lenine Guarani (vale registrar que uma das características da personalidade de Taiguara era sua preocupação com as raízes do povo brasileiro, talvez por isso seus filhos tenham herdado nomes de origem indígena), que busca seguir o caminho do pai ao se deixar envolver pela música. Ainda bem que os tempos hoje são outros e é possível ouvir seus lançamentos sem problemas que o seu pai chegou a enfrentar décadas atrás. Ainda bem que hoje se faz possível ouvir projetos como o álbum "Menino da Silva", lançado em 2012, sem restrições. Uma última informação, é a trágica coincidência entre a sua morte e a do seu único irmão. Araguari Chalar da Silva faleceu tão jovem quanto Taiguara, aos 47 anos, vítima de câncer no intestino (a causa da morte de Taiguara foi falência múltipla de órgãos em decorrência de um câncer na bexiga).

SR. BRASIL - ROLANDO BOLDRIN

MPB - MÚSICA EM PRETO E BRANCO

Djavan

sábado, 26 de novembro de 2016

PETISCOS DA MUSICARIA: MOMENTOS MÁGICOS – PERUÍBE – CASAMENTO ECUMÊNICO NA BEIRA DA PRAIA – II


Por Joaquim Macedo Junior


Buffet do casamento: caranguejada (Homenagem a Keitlin Sepúlveda)


Há alguns lugares que, pela intensidade com que frequentamos, de garoto a adulto tornam-se a nossa terra de “Oz”, a escola de Hogwarts, do Harry Potter, que nos habita, e o Shangri-lá, no Himalaia, que nos sublima e se vive o paraíso. Em geral, não nos afastamos no pensamento destes lugares. Carregamo-los como amuleto. Quando não podemos ir a eles, eles estão em nós.

Peruíbe é uma cidade que acaba, a chega um ponto em que se encerra, como se tivesse uma parede (mas isso é uma ilusão, pois parte da Jureia é de Peruíbe). Se seguir além, poderá encontrar mais surpresas de Oz e mais ensinamentos de Hogwarts, mas é necessário vontade superior.

Não basta querer, há que se esforçar. Na direção do Guaraú, a fenomenal praia, já encravada na reserva da Juréia, ia-se com veículos dotados de tração reforçada e espírito selvagem. Depois, sem alternativas, a viagem era a pés, por trilhas, pedras, escorregões, lodo, todas as armadilhas. O ideal era encadearem-se todos, dando-se às mãos para não interromper o passeio por um acidente qualquer.

Para quem gosta do assunto, lembro o caminho de Gaibu para Calhetas e os do Morro de São Paulo, subindo para os morros e descendo para as primeira, segunda, terceira, quarta e quinta praias.

Antes de chegar à praia aberta, passávamos por um ponto, que era parada obrigatória – mais subida, mais íngreme e mais apertado – para se chegar a uma casinhola encravada na rocha, onde morava o ‘Chão de Pedra’, um guru a quem pedíamos a benção, despejávamos um pouco da loção de manacá que nos dava e obtínhamos o ‘alvará’ de entrada para uma viagem em paz, sem acidentes.

A comunidade toda o conhecia ‘Chão de Pedra”. Visita que ainda não o conhecesse, tinha parada obrigatória, era um rito.

Mas, ao chegar no ‘fim’ de Peruíbe, e antes de chegar no ‘Chão de Pedra’ para atravessar o rio em direção ao Grajaú, era imperativo parar na barraca da Sarah.

Além dos pontos ‘sagrados’ de gastronomia, paisagem, aventura, brincadeiras e bem-estar, tínhamos os pontos de encontro de final de dia, atualizando as fofocas, novidades, reclamações em geral, regadas a cerveja, cachaça, tira-gosto e muito, muito reggae. Era época do reggae na praia. Já lhes falei do show de Jimmy Cliff, mas o onipresente era mesmo o grande rastafári Bob Marley.

Esses encontros tinham endereço na barraca do Jorge, número 34, da praia, com permissão, alvará e todos os papéis exigidos pelas autoridades locais.

Ali, variando-se por data da semana, encontrávamos com a tropa: Marcinho, Marcio Levy, Dani McGiver, Federal (o outro), Xuxu, Lulo, Jorge, Marta, Elen, Brother e Jorjão (que subiu pro céu), irmão da linda sereia Soninha.

Ah, esquecer de Menique seria imperdoável. O homem tocara no RC7, com o rei Roberto Carlos, numa de suas primeiras formações. Havia quem não acreditasse. Mas eu sempre dei fé a Menique.


Barraca da Sarah: a melhor ostra da região


Havia duas funções a parada na barraca: comer a deliciosa ostra (a melhor e mais autêntica da região) e aguardar a maré baixar um pouco para atravessar o rio a pé e assim atingir o santuário da Jureia, começando pelo Grajaú. Era algum dos maravilhosos lugares que frequentávamos quando as férias eram Peruíbe.


Vendedor de Caranguejo – Ary Lobo




A caranguejada, que homenageio com a magnífica “Vendedor de Caranguejo”, de Gordurinha, em versão com Ary Lobo não foi uma ideia solta de saborear nosso mais tradicional crustáceo, digerido com a dificuldade composta pelo ritual de trucida-lo. Há quem use o martelinho.

O casamento de Eva e Macedo e de Elen e Jorge, na praia de Peruíbe: conduzido pelo irmão “Brother” (in memorian) que leu o documento de união, proferindo palavras de amor, carinho, solidariedade e parceria para os futuros marido e mulher (25 de janeiro de 1995).


Pois bem, ela se deu como comemoração dos casamentos de Eva e Macedo, além de Elen e Jorge, estes decidindo pela consagração em cima da hora.

A verdade é que o movimento em prol de nosso casório simbólico, porém formal, foi se consolidando ao longo do mês de janeiro e resultou numa cerimônia inusitada, pouco convencional, mas rodeada de carinho, de amor e dos maiores fluidos de uma praia enluarada de lua cheia, com mais de 100 convivas, convidados e penetras do bem.

A cerimônia, filmada, fotografada, com padrinhos e testemunhas tornou-se um marco em Peruíbe por muito tempo. Coube ao irmão Brother, de muita força interior, vivências e karmas fortes e sensibilidade à flor da pele a incumbência de conduzir a cerimônia, sagrada pela vontade de cada um, e profana pela mistura de religiões, ritos, crenças, instituições. Uma epifania entre os envolvidos na solenidade.


No woman no cry – Bob Marley

Havia um cenário, que se fundia entre as pancadas das ondas do mar, com o som do samba e do reggae assoprados da barraca 34, salão de festas do casamento.

Da cenografia, esmerada pelo talento, criatividade e energia do Levy e uma tropa de camaradas, um surpreendente caminho de cerca de 50 metros, ladeado por palhas de coqueiros encurvadas e tochas fazendo fogo e luz em direção ao mar e ao casamento. Entre acessórios, bugigangas, colares e anéis, um pouco de tudo: havaianos, aliança de prata (mar) e coroa de louros. Os trajes dos nubentes: bermudas e blusas leves, sandálias brancas ou descalços, além dos apetrechos.

Por um instante, sentimos um frio na barriga e que, por um passe de mágica, toda a cidade toda estava no templo ao ar livre. Foi muito belo sim.

Soubemos, de ouvir falar, que muitos casais repetiram o ritual para saudar, com esta nova moda, seus casamentos.

Semana que vem um presente no nível do surpreendente casamento. Uma sensação intangível e um amigo que veio do céu!!!!

GILLIARD, 60 ANOS

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O cantor Gilliard conquistou seu espaço, com sua voz límpida, seu estilo discreto e elegante de interpretar um repertório de alto nível. A voz de Gilliard flui como um rio em lindas canções de amor e de sentimentos que desafiam o tempo, divertindo, alegrando e emocionando os que as ouvirem.


Embora não se saiba bem porque, a música brasileira moderna, principalmente, nordestina é pródiga em grandes intérpretes femininas e em grandes compositores que cantam, mas desprovida de grandes intérpretes masculinos.

Nesse sentido, de acordo com a história da música brasileira, ainda são poucos e raros os nossos grandes cantores que não interpretam suas próprias canções, como Francisco Alves, Vicente Celestino e Cauby Peixoto.

Outros cantores primorosos, como Roberto Carlos, Milton Nascimento, além de grandes intérpretes, são excelentes compositores, ou vice versa.

É nesse cenário da música brasileira que Gilliard conquistou seu espaço, com sua voz límpida, seu estilo discreto e elegante de interpretar um repertório de alto nível. Portanto, revivendo uma tradição latina romântica de intérpretes e compositores, Gilliard flui como um rio em lindas canções de amor e de sentimentos que desafiam o tempo, divertindo, alegrando e emocionando os que as ouvirem.

Para falar de Gilliard, antes é preciso saber dos elementos que caracterizam seu estilo romântico, onde segue uma característica do romantismo elevado pelo “movimento tropicalista”, no qual valorizava a estética da fusão do tango dramático, coração materno, de Vicente Celestino, com a cultura brasileira, utilizando valores diferentes dos aceitos pela cultura dominante: incluindo referências consideradas do Manifesto Antropofágico de Oswald de Andrade na criação de um novo elemento de fusão entre culturas.



Nesse momento histórico da música brasileira, podemos dizer que o “ movimento tropicalista” tenta contribuir para a grandeza da nação através de um movimento artístico que fosse o espelho do Brasil e de sua paisagem física e humana, sufocados pelo elitismo e pelos preconceitos de cunho nacionalista que dominavam o ambiente da chamada MPB. Há um sentimento de missão: revelar todo o Brasil, criando uma música autônoma que nos expressasse.

Assume-se a imagem exótica dos trópicos, o próprio símbolo da nacionalidade. O tropicalismo inovou também em possibilitar um sincretismo entre vários estilos musicais como, por exemplo, rock, bossa nova, baião, samba, bolero, entre outros. Dessa maneira, o tropicalismo neo-romântico foi muito importante no sentido em que serviu para arejar a cena musical do país, incorporando e desenvolvendo novos padrões estéticos.

Para que possamos falar do cantor Gilliard, precisamos compreender esse cenário histórico. Precisamos entender o seu estilo romântico. Gilliard sofreu influências dessa agitação cultural das músicas que embalaram os jovens dos anos 60 e que dão um tratamento rítmico e harmônico moderno e sofisticado às popularíssimas canções. Ao ouvir suas canções, ficam evidentes suas influências recebidas de nomes como Luiz Gonzaga, Vicente Celestino, Luiz Vieira, Dolores Duran e Lupicínio Rodrigues, além de astros da Jovem Guarda, que, na época, reinavam na preferência popular.

Além disso, Gilliard é marcado pela influência da tradição romântica brasileira. A principal característica do Romantismo é o sentimentalismo; a supervalorização das emoções pessoais: nesse estilo é o interior humano que conta, o subjetivismo. À medida que se busca a saudade da infância, as constantes idealizações da sociedade, do amor, da mulher,da natureza,Gilliard constrói um repertório musical preciso e inventivo no tempo e espaço dos corações apaixonados.


Também ao falar do cantor Gilliard não podemos esquecer que o mesmo é natural de Natal. Natal que sofreu influência cultural das primeiras músicas românticas do hemisfério norte no final dos anos 40. A base aérea dos aliados na 2ª Guerra Mundial foi à porta de entrada dos filmes e músicas americanas no Brasil. Às canções de Bing Crosby,Sinatra,Nat King Cole,Liza Minelli e Tony Bennett entre outras marcam a cena das noites de Natal.

Por isso, Natal tem forte tradição das serestas românticas que influenciaram as rodas culturais das famílias do Rio Grande do Norte. Portanto, esse potiguar, cresceu em família essencialmente musical, que esteve sempre disposta a apoiá-lo em suas investidas para conquistar o seu maior sonho: cantar.

Mas para chegar ao sucesso não foi fácil. Tendo que trabalhar muito cedo, Gilliard começou em uma relojoaria, trabalhando pela manhã, estudando à tarde e cantando à noite. Nesse tempo, já cantava em festivais e tudo começou quando, aos 8 anos de idade, ganhou seu primeiro concurso como "a mais bela voz do Nordeste".Com isso, o tempo foi passando e continuou cantando, trabalhando e estudando. Suas primeiras aparições em público foram atuando em programas de rádio em sua cidade, onde aproveitava os intervalos comerciais para mostrar aos locutores e programadores algumas de suas composições .Gravou seu primeiro disco(LP) no Rio de Janeiro, mas não conseguiu alcançar o sucesso desejado.

Gilliard como bom nordestino não desistiu. Perseguindo seu objetivo, preparou um repertório e partiu rumo ao sucesso. Assim, batendo de porta em porta, "cantando nos bares da vida", ele conseguiu mostrar seu trabalho para a gravadora RGE, que acreditou em seu talento e lançou seu primeiro LP em todo território nacional. No final de 1979, com o grande sucesso Aquela Nuvem. O primeiro LP vendeu mais de 300 mil cópias, além de ser gravado em outros países; sua carreira então continuou crescendo e daí para frente estava em todas as paradas de sucessos, mantendo todos os anos uma vendagem espetacular.

Compositor respeitado e cantor amadurecido, Gilliard é um cantor reconhecido em todo Brasil, bem como nos países da África e Europa. Ingressou para a vida artística há 30 anos, sempre abordando temas românticos e que falem de sentimento.


No total, o artista obteve a marca de 10 milhões de discos vendidos aproximadamente. Aumentando sua galeria de conquistas, ganhou troféus da Globo de cantor-revelação do ano e de cantor romântico do ano, recebeu também o troféu cantor e ídolo dos anos 80 da rádio e TV Manchete. Do programa do Chacrinha, Gilliard recebeu o troféu de ídolo da juventude romântica do Brasil.

São esses alguns de diversos prêmios de rádios e TVs do Brasil, sem contar participações em todos os programas de destaque, como Globo de Ouro, Fantástico, Flávio Cavalcante, Discoteca do Chacrinha e Programa Silvio Santos, tendo sido um dos campeões do quadro Qual é a música. Ao longo de sua carreira, Gilliard imortalizou grandes sucessos. Com seu jeito único de cantar, melodias elaboradas, marcadas pelo romantismo clássico e popular, embalando novelas, filmes, bailes e principalmente seus shows, sempre vividos com intensa emoção.

Hoje, Gilliard completa 35 anos de carreira e está com projeto de lançar seu primeiro DVD, contando sua própria história.


Discografia Oficial

Queria Estar Perto de Você (1978)

Faixas:
01 - Porque é que sou tão triste
02 - Nem todo amor do mundo
03 - Lembranças
04 - O encontro
05 - Vou tentar te esquecer
06 - Palavras
07 - Nada me importa agora
08 - Porque você partiu
09 - Queria que tudo mudasse
10 - Pranto
11 - A partida
12 - Queria estar perto de você



Gilliard (1979)

Faixas:
01 - Aquela Nuvem
02 - Um velho Amigo ( O Mendigo )
03 - Pra não sentir saudade
04 - Um canto de paz
05 - Nosso caso de amor
06 - Quem sou eu?
07 - Meditação
08 - Minha volta
09 - Um novo dia
10 - Me procuro no tempo
11 - Onde está você
12 - Análise


Pensamento (1980)

Faixas:
01 - Pensamento
02 - Sem medo de amar
03 - Coração Materno
04 - O Órfão
05 - Beijo animal
06 - Se eu pudesse voltar
07 - Hoje...nada mais
08 - Transformação
09 - Fracasso
10 - Pra onde vais?
11 - Menino do alecrim
12 - Tema pra você


Gilliard (1981)
Faixas:
01 - Dpaixão
02 - Ao meu velho pai
03 - Não diga nada
04 - Verdades
05 - Não está sozinho quem tem Deus do lado
06 - Uma noite de amor
07 - Jogo Aberto
08 - A música não trai
09 - Romance
10 - Aos jovens
11 - Papéis de chocolate
12 - Jangada do Potengi


Pouco A Pouco (1982)

Faixas:
01 - Pouco a pouco
02 - Nossa vida
03 - Conversa
04 - A primavera está de volta
05 - Esperança
06 - Meu amigo de papel
07 - Natureza
08 - Só pra te fazer feliz
09 - Amar nunca foi pra todo mundo
10 - Temporada
11 - Sinal de amor
12 - Ranchinho de paia


Gilliard (1983)

Faixas:

01 - Coisa de nós dois
02 - Hoje
03 - Quem me dera
04 - Festa dos Insetos
05 - Quatro paredes
06 - Ravina
07 - Esse homem chamado Jesus
08 - Sonho
09 - Seja como for
10 - Anseios
11 - O sonho acabou
12 - Flores


Gilliard (1984)
Faixas:
01 - Timidez
02 - Acalanto
03 - Do jeito que você deixou
04 - Sem você pra me acordar
05 - Minha mania
06 - Existe
07 - Quem viver verá
08 - Pequena estrela
09 - Instinto vadio
10 - Lembranças
11 - Banho de cachoeira
12 - É tão difícil te amar


Gilliard (1985)

Faixas:
01 - Como posso te chamar de amiga se chamei de amor
02 - Linha cruzada
03 - Bruna
04 - Suave é a noite
05 - Notícias de você
06 - Mergulho profundo
07 - O homem da obra
08 - Aquele senhor (Meu Pai)
09 - O recado
10 - Janela do mundo (O que a gente vê)
11 - De cabeça quente
12 - A luz do seu olhar (Onde está)


Gilliard (1986)

Faixas:
01 - Segredos
02 - É primavera
03 - Os anjos dizem amém
04 - Pra ser feliz
05 - São Mateus
06 - Mulher...Mulher
07 - Promessa de vida
08 - Ciúme
09 - Chuva de saudade
10 - Somos dois
11 - Homem de campo


Gilliard (1987)

Faixas:
01 - Faz um pouco mais
02 - Num lindo pôr de Sol
03 - Quem sou eu?
04 - Vítimas do sonho
05 - Fênix
06 - Não diga adeus
07 - Esqueça tudo
08 - Entre amigos
09 - Jogos de amor
10 - Ternura
11 - É preciso crer


Gilliard (1988)

Faixas:
01 - Pessoa
02 - Primeira Hora
03 - Coração
04 - Alma nua
05 - Queria estar perto de você
06 - Meu herói
07 - Me deixe ser seu amigo
08 - Sentimentos
09 - Carona
10 - Flor da paixão
11 - Tudo era mentira antes de você
12 - Te amo

Gilliard (1990)

Faixas:
01 - Louco de ciúme
02 -Encontro
03 - Daqui pra fora
04 - Pretexto
05 - Me ensina a te esquecer
06 - Eu te quero demais
07 - Quem é ela
08 - Impossível acreditar que perdi você
09 - É difícil te entender
10 - Minha mania


Gilliard (1991)
Faixas:
01 - Você só pensa em você
02 - Nossa história
03 - Coração criança
04 - Te quero até sem querer
05 - Com você na cabeça
06 - Pra sempre vou te amar
07 - Resolvi gostar de mim
08 - Armadilha do amor (Dama da sedução)
09 - Tudo por amor
10 - A festa dos seus quinze anos
11 - Se eu fosse você eu voltava pra casa
12 - Flor mamãe (Amor Perfeito)


Deixa-me sonhar (1993)
Faixas:
01 - Ai Ai Ai Coração
02 - A canção que me faz chorar
03 - Amiga
04 - Quando eu era garoto
05 - Um novo sol
06 - Inigualável paixão
07 - Ponta de faca
08 - Deixa-me sonhar
09 - Adeus amiga
10 - Amor por telefone
11 - As coisas do nosso amor
12 - Quando o sonho acaba


Cidade Grande (1994)
Faixas:
01 - Nosso Juramento
02 - Pensamento louco
03 - 30 Segundos
04 - Quantas vezes
05 - Embalo no jardim
06 - O show não pode parar
07 - Cidade grande
08 - Sonho de menino
09 - Tira a solidão de mim
10 - Pedra de brilhante
11 - Me faz tua estrela
12 - Nosso amor
13 - Dia Branco


Sentimentos (1993)

Faixas:
01 - Tudo foi ilusão
02 - Caminho verde
03 - Você
04 - Beijo Gelado
05 - Eu digo sim, ela diz não
06 - Ciúme demais
07 - demais
08 - Sabes que te quero
09 - Quem será?
10 - Toda minha vida
11 - Copo de vinho
12 - Meu velho

Gilliard (1996)

Faixas:
01 - Quem ama é quem faz
02 - Eu nunca te esqueci
03 - Labirinto de amor
04 - Quem vai trazer de volta o amor
05 - Foi a saudade que me trouxe aqui
06 - Nunca é tarde pra ser feliz
07 - O mundo não é grande assim
08 - Eu jurei
09 - Perdoa
10 - Me deixe te esquecer
11 - Olhando a chuva
12 - Estou voltando pra casa
13 - Tudo bem


Gilliard (1998)
Faixas:
01 - Quem é que não gosta
02 - Pura distração
03 - Direito á felicidade
04 - O tempo vai apagar
05 - Na próxima estação
06 - Volta a te querer ( Volveme a querer )
07 - Vou ser dono de mim
08 - O mais importante é o verdadeiro amor
09 - Apaixonado por você
10 - Flor mulher
11 - Conversando com a solidão
12 - Um grande amor
13 - No azul da manhã


Como eu Gosto (2001)

Faixas:
01 - Tenho um amor melhor que o seu
02 - Você não sabe o que é paixão
03 - Aquela Nuvem
04 - Luz do Sol
05 - Minhas coisas
06 - Me dê motivo
07 - Não sou de ferro
08 - Nosso Juramento
09 - Amor sem medida
10 - Não diga nada
11 - Pouco a pouco
12 - Desta dos Insetos
13 - Quem me dera
14 - Quem viver verá


Ao Vivo (2003)
Faixas:
01 - Do jeito que você deixou
02 - Segredos
03 - Pensamento / Conversa
04 - diga nada / Timidez
05 - Alguém me disse
06 - Louco fui eu
07 - História de um amor
08 - Retrovisor
09 - Esse alguém sou eu
10 - Um canto de paz
11 - Quem me dera
12 - Sabe Deus
13 - Nosso Juramento
14 - Pouco a pouco / Aquela Nuvem
15 - Meditação
16 - Eu amo amar você


Um Convite à Minha Voz (2012)

Faixas:

01 - Você se Lembra
02 - Hino ao Amor
03 - Porque Você Não Vem Morar Comigo
04 - Chuvas de Verão
05 - Perfidia/ Frenesi/ La Ultima Noche
06 - (That Last Night) Bob Collazo - Peer International-Copp. (Bali)
07 - A Minha Prece de Amor
08 - Maria Helena
09 - As Rosas Não Falam
10 - Bom Dia Tristeza
11 - Modinha
12 - A Noite do Meu Bem
13 - Foi Deus



Fonte: Site Oficial do artista

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