Edição 2015 do maior evento de música instrumental do país chegou a ser adiado, mas não resistiu à ausência de recursos
Por Isabelle Barros
Um dos festivais de música mais importantes do ano em Pernambuco não vai mais acontecer por insuficiência de verba. A etapa local de 2015 do Mimo Festival, maior evento do Brasil dedicado à vertente instrumental, foi cancelada, após já ter sofrido um adiamento. Seria a 12ª edição da mostra que, pela primeira vez, não ocorrerá em Olinda, a cidade natal. As apresentações seriam de 4 a 7 de setembro e tinham sido adiadas para os dias 20, 21 e 22 de novembro.
O evento, marcado para outras três cidades neste ano, teve o calendário mantido: Parati (RJ), de 2 a 4 de outubro, o circuito Minas - Ouro Preto e Tiradentes -, de 16 a 18 de outubro, e Rio de Janeiro, de 13 a 15 de novembro. Em Olinda, três atrações já haviam sido confirmadas e anunciadas, duas africanas e uma europeia: Bombino, guitarrista do Níger e um dos maiores nomes da world music, o cantor, compositor e guitarrista do Mali Boubacar Traoré e o contrabaixista francês Stéphane Kerecki. A ideia do festival é unir música instrumental e de várias partes do mundo ao patrimônio arquitetônico de cidades históricas, com exibições de filmes, oficinas e debates como ações transversais.
Em nota, a assessoria de imprensa do Mimo justifica o cancelamento sob o prisma da crise econômica enfrentada pelo Brasil, que teria impedido a captação de recursos suficientes para a realização desta edição. "Mesmo contando novamente neste ano de 2015 com o apoio de nossos patrocinadores, infelizmente a não obtenção de novos recursos junto à iniciativa privada, a irrefreável disparada do dólar e do euro e, por fim, a impossibilidade do Governo de Pernambuco em nos apoiar, devido à crise com que também se depara, inviabilizaram o que nos restava de esperança para mantermos o festival em Olinda. Isso significou um corte da ordem de 50% em nossa captação esse ano, em comparação com o anterior".
O diretor de negócios do Mimo Festival, Luiz Calainho, reforça a dificuldade em captar patrocinadores neste ano como fator decisivo para o cancelamento, já que o evento é gratuito ao público. "Tivemos muito prejuízo. Já tínhamos ações de mídia anunciadas, cachês pagos, passagens compradas. Fomos ao limite da responsabilidade e de uma data para tomar uma decisão".
Ainda assim, o empresário afirma que o Mimo retorna em 2016 e já tem até data: 7 a 10 de setembro. E, embora Calainho não tenha revelado valores, a reportagem apurou com o Ministério da Cultura que o MIMO Olinda foi autorizado a captar R$ 3.602.364,00 pela Lei de Incentivo à Cultura, mas só teria conseguido R$ 750 mil.
Calainho afirma que o Bradesco e o BNDES são responsáveis por aproximadamente 50% do valor captado para todas as cidades do festival e que a a etapa pernambucana ficaria com uma porcentagem entre 25% e 30% deste montante caso tivesse continuado com as atividades.
Ele reforçou ainda que procurou os empresários locais e o governo do estado, mas também não obteve sucesso. "Viajamos ao Recife várias vezes, tivemos muitas reuniões com empresários locais, fomos muito bem recebidos, mas não conseguimos mudar a situação. O governador do Estado, Paulo Câmara (PSB) também foi muito gentil conosco e fez uma proposição, mas não era o suficiente para manter o festival de pé". (Colaborou Larissa Lins)
- Quem já passou pelo Mimo
- O que eles disseram:
Governo do estado
O governo emitiu nota sobre o cancelamento. "O governo de Pernambuco, por meio da Empetur, é um dos apoiadores do Mimo e tem todo interesse em manter sua ajuda ao evento. Mas está consciente de que apenas o seu apoio é insuficiente para um evento do porte do referido festival. Valores ainda não foram avaliados, pois não há definição de cotas dos demais parceiros".
Rede hoteleira
Segundo Luís Gonçalves, conselheiro da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH), "o impacto será muito negativo. Além da hospedagem e da movimentação da cultura em Pernambuco, perderemos também os turistas de outros estados e regiões do país. Foi surpresa o cancelamento. Já tínhamos, inclusive, reservas para a temporada da Mimo." A Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) informou que não se pronunciará quanto aos impactos sobre bares e restaurantes da região por não estar entre os organizadores.