sábado, 17 de junho de 2017

MOSTEIRO, SÍTIO E CASAS DE FAMÍLIA: VISITE LUGARES ONDE BELCHIOR MOROU EM SANTA CRUZ DO SUL - PARTE 03

Por Juliana Bublitz


O fã que tentava romper a reclusão

Também anfitrião de Belchior, o radialista Dogival Duarte era amigo do cantor desde o fim dos anos 1980Foto: Carlos Macedo / Agencia RBS


Quando soube pelo MST que o ídolo estava na cidade, depois de virar o mundo ao avesso atrás dele, o radialista Dogival Duarte ficou eufórico. Desde os 18 anos, o maranhense radicado no Rio Grande do Sul percorria o país para acompanhar shows do cantor. Foram tantas as visitas a camarins, que os dois acabaram se tornando amigos no fim dos anos 1980.

Por isso, assim que Belchior e Edna deixaram a Ecovila, ele fez questão de recebê-los em casa, na área urbana de Santa Cruz, onde vive com a mulher, Bruna, e com o filho, Dionel. Aos 23 anos, o jovem também é apaixonado por Bel, apelido que o compositor ganhou da família. Bel o chamava de "meu bruxo".

Dogival acredita que o amigo largou tudo porque estava cansado dos palcos, mas acabou estendendo demais a pausa por influência de Edna.

— Ele queria recarregar as baterias e foi longe demais. Edna meteu na sua cabeça que os dois tinham de fugir da ex-mulher dele — afirma Dogival.

Nos quase 12 meses em que ficou na residência do diretor da Rádio Santa Cruz, Bel passava os dias tomando chá verde, lendo poetas franceses, falando sobre o então presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, a quem admirava, comendo peixe e pão de queijo. Dogival providenciava para que nada lhe faltasse.

O cantor também fazia imitações de Chico Anysio e de Didi Mocó, personagem de Renato Aragão. Assistia a filmes, escutava música e via regravações de suas músicas no YouTube — adorava a versão de A Palo Seco pela banda Los Hermanos. Trabalhava em traduções e dizia estar compondo, embora nenhuma das fontes consultadas por ZH tenha visto as letras ou ouvido as novas canções — Edna cuidava para que os escritos ficassem sempre dentro de uma pasta, longe de todos. Nem mesmo Dogival, que estava sempre por perto, tinha certeza do que de fato estava acontecendo.

— Eu dizia: "Bel, vamos fazer um show para te tirar dessa situação? Podemos comprar uma casa para você não depender mais da ajuda de ninguém". Ele se empolgava, mas a Edna jogava água fria. E ele obedecia como se fosse um cachorrinho — diz o jornalista.

Belchior o espiava pela janela e ia ao encontro do amigo quando Dogival chegava do trabalho. O eterno fã, que prepara uma biografia sobre o ídolo, o abraçava e beijava. Descontente com a reclusão do cantor, fazia de tudo para tirá-lo de casa:

— Eu forçava a saída. Colocava o Bel no carro à noite e saía para passear, mostrar a cidade.

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