PROFÍCUAS PARCERIAS

Gabaritados colunistas e colaboradores, de domingo a domingo, sempre com novos temas.

ENTREVISTAS EXCLUSIVAS

Um bate-papo com alguns dos maiores nomes da MPB e outros artistas em ascensão.

HANGOUT MUSICARIA BRASIL

Em novo canal no Youtube, Bruno Negromonte apresenta em informais conversas os mais distintos temas musicais.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

MUSICARIA BRASIL - MENSAGEM DE FINAL DE ANO

"Quem teve a idéia de cortar o tempo em fatias, a que se deu o nome de ano, foi um indivíduo genial.
Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar no limite da exaustão.
Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos.
Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez, com outro número e outra vontade de acreditar, que daqui para diante vai ser diferente." (Carlos Drummond de Andrade)

Por mais delicada que seja a fase atual do mercado fonográfico, a música sempre esteve na ordem do dia ao longo de 2008. CDs podem ter mofado nas prateleiras, mas seus conteúdos transitaram pela rede. A música foi ouvida e consumida em larga escala – de forma legal ou ilegal. Tanto que bandas que vendem poucos discos fazem shows lotados em que o público canta todas as músicas. Em outubro de 2007, a banda Radiohead questionou ao oferecer seu novo álbum para download pelo preço que o consumidor quisesse pagar: quanto vale a música? Ninguém sabe ao certo. Muito menos os executivos da indústria fonográfica. Que venha 2009 – de preferência com discos mais ousados do que os do ano que já se finda. Certo é que ninguém vai deixar de ouvir música. Seja no CD-player, no iPod, no computador etc etc... Até a volta do “recesso” em 2009!Muita saúde, paz, e tolerância entre os homens!!

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

DICAS DA MUSICARIA

Estou postando hoje como dica da Musicaria Brasil dois álbuns lançados este ano. São eles o coração do homem bomba volume 01 e o volume 02 do cantor e compositor maranhense Zeca Baleiro.
Fica aqui então meu presente de natal antecipado pra vocês!!

O Coração Do Homem-Bomba - Volume 01 (2008)
Faixas:
01 - Coração Do Homem Bomba
02 - Você Não Liga Pra Mim
03 - Alma Não Tem Cor
04 - Vai De Madureira
05 - Elas Por Elas
06 - Aquela Prainha
07 - Ela Falou Malandro
08 - Você É Má
09 - Bola Dividida
10 - Aí Beethoven
11 - Toca Raul
12 - Nega Neguinha
13 - Geraldo Vandré

O Coração Do Homem-Bomba - Volume 02 (2008)
Faixas:
01 - Era
02 - Tevê
03 - Você Se Foi
04 - Datena Da Raça
05 - Débora
06 - Na Quitanda
07 - Tacape
08 - Como Diria Odair
09 - Eu Detesto Coca Light
10 - Jesus No Cyber Café Do Inferno (vinheta)
11 - Trova Ao Cair Da Tarde
12 - Boi Do Dono
13 - Pastiche
14 - Samba De Um Janotá Só
15 - I´m Nobody

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

E O FUTURO DA MÚSICA? QUAL SERÁ?

Não é de hoje que as grandes gravadoras vêm perdendo receitas com as vendas de CDs. Algumas pessoas, inclusive, afirmam que a indústria fonográfica como conhecíamos morreu. A facilidade de se baixar músicas legalmente, a abundância de CDs piratas nas ruas e o fortalecimento das redes peer-to-peer são algumas das justificativas para essa vertiginosa queda de vendas.
Hoje me deparei com uma notícia que diz que a EMI, uma das maiores empresas do ramo, vai demitir mais de 1/3 de seus funcionários. Se isso não é uma crise, não sei mais o que pode ser. Que eles têm feito de (quase) tudo para continuarem definindo as regras do jogo é algo que não podemos negar. Um exemplo claro disso foi a atitude da Sony de instalar rootkits em CDs. Esses rootkits bloqueavam a cópia do CD, e se instalavam de forma eticamente duvidosa nos computadores dos seus próprios clientes. Outro exemplo gritante dessa luta foi adoção permanente de sistemas de Gestão de Direitos Digitais (DRM, na sigla em inglês), que limitam a quantidade de computadores em que um CD pode ser ouvido.
Com isso, fica claro que a indústria não está parada. Ela vem apresentando inovações tecnológicas a todo o momento. Muitos acreditam que essas empresas são como velhos dinossauros lutando contra as novas tecnologias (e todos tentariam resistir a novas tecnologias) simplesmente pelo fato de não as compreenderem. Eu tenho minhas dúvidas em relação a essa teoria. Não consigo ver os maiores conglomerados de mídia do mundo como empresas míopes, que não conseguem compreender as transformações culturais que estão ocorrendo em seu ambiente. Minha impressão é que eles entendem muito bem o que está ocorrendo e que o avanço das redes de compartilhamento é algo irreversível. Mas, enquanto puderem evitar que tais fenômenos avancem até as massas, o farão. Um exemplo disso é a série de processos que a RIAA (Associação das Gravadoras Americanas) moveu contra usuários dessas redes de compartilhamento.
A questão é que tratar seus próprios clientes como criminosos não se mostrou como uma estratégia muito feliz. As pessoas estão dispostas, sim, a respeitar a lei e pagar pelo que consomem. Um exemplo disso é o estrondoso sucesso que a iTunes,loja virtual de mídia da Apple, vem fazendo desde seu lançamento em 2003. Com isso as gravadoras caíram numa armadilha: ou vendiam suas músicas na loja da Apple, com uma margem de lucro baixíssima (a Apple fica com a maior parte dos lucros); ou indiretamente incentivavam seus clientes a fazerem downloads ilegais.
Conclusão: nos últimos meses, as principais gravadoras começaram a vender músicas sem proteção contra cópias, como seus consumidores querem, na maior ‘livraria’ do mundo (a Amazon.com). Primeiro foi a EMI, em seguida a Warner e agora a Sony. O que nos leva a perguntar: eles fizeram isso porque querem atender as necessidades do consumidor (e finalmente começaram a ouvi-los), ou porque a iTunes do visionários Steve Jobs estava ficando muito forte, e se tornando uma ameaça? Eu aposto na segunda alternativa.
A questão que ficou clara é que não basta inovar (tendo as melhores proteções contra cópia do mundo, por exemplo). É preciso aceitar a realidade que seu público está inserido. Modelos de negócio inovadores (como a iTunes Music Store) vão sempre abalar as estruturas estabelecidas, e quem ficar parado no tempo vai ver a concorrência pular na frente.
Será que as grandes gravadoras continuarão a perder seu poder, seus artistas, e seus lucros?
Será que estamos assistindo ao fim de uma era onde o sonho de todo artista é ser contratado pelos grandes estúdios? Eu tenho meus palpites, mas isso já é assunto para outro post…

domingo, 14 de dezembro de 2008

CURIOSIDADES DA MPB

O LP Dois na bossa, com Elis Regina e Jair Rodrigues, que foi lançado pela Philips em maio de 1965 bateu todos os recordes de vendagem, atingindo a cifra de 500 mil cópias. Nunca até então um LP tinha vendido tanto no Brasil.

sábado, 13 de dezembro de 2008

ODAIR JOSÉ, FILHO DE JOSÉ E MARIA

Em 1977, Odair José resolve lançar um LP com estilo totalmente diverso do que costumava lançar e que o consagrara junto ao público. Seu plano era produzir um disco em ritmo de rock, estilo garage rock, mesmo sem maiores sofisticações ou requintes técnicos. As influências assumidas de Odair são tão diversas quanto o pianista de Jazz Herbie Hancock, o cantor Peter Frampton e o filósofo Gibran Khalil. Na concepção original de Odair, esse disco seria um álbum duplo que contaria a história de um indivíduo de seu nascimento à morte.

Só que nem tudo saiu como Odair José queria. Mesmo com o aval da sua nova gravadora, os produtores não quiseram arriscar com uma “banda de garagem” e Odair gravou esse disco com a sua tradicional banda Azimute. A gravadora também não quis lançar o álbum duplo, preferindo lançar um único LP.

Em dez faixas, Odair relata em versos a conturbada história do casal-título e do fruto dessa relação fugaz. Em momento algum Odair afirma estar falando de Jesus, e sim de um indivíduo, do “Filho de José e Maria”. Mas a associação é inevitável. E ao colocar o personagem em dilemas existências quanto ao uso de drogas e da sexualidade ele causou celeuma, como também às críticas tecidas à instituição do casamento religioso e a própria igreja. Mesmo sem Odair adotar o termo, a imprensa logo o classificou como uma ópera-rock, certamente comparando-o a obras como Tommy, do The Who, ou The Wall, do Pink Floyd. A gravadora BMG/RCA, que acabara de contratá-lo, apostou em um novo sucesso popular, e ficou a ver navios quando o disco “O Filho de José e Maria” teve críticas desfavoráveis e baixa receptividade do público, e um padre chegou a excomungar Odair José. Muitos acusaram Odair José de tentar elitizar sua obra, se afastando do povão. Resumo da ópera-rock: o disco não vendeu porra nenhuma, o povo não entendeu, a crítica esculhambou, o padre excomungou, a gravadora ficou puta da vida e Odair José só teve aborrecimento. E o pobre ainda teve que ir ao Vaticano pedir perdão ao Papa.

Não obstante o fracasso comercial e a dor de cabeça obtida, vinte anos depois ele mesmo admite que esse disco é um dos melhores trabalhos de sua carreira. Hoje o disco pode ser considerado cult, e não apenas pela curiosidade de ser uma ópera-rock gravada por um ícone brega. O disco tem seus méritos, com arranjos legais, entre o psicodélico e o progressivo, talvez um pouco datados, mas nada que impeça de ser apreciado. Mas o Odair José está presente na simplicidade das letras e no jeito de cronista dos excluídos sociais. Uma pena que o disco não foi bem recebido naquela época, em que o público era bem menos tolerante com ousadias de seus ídolos. E como ele ainda é inédito em CD, só recorrendo a sebos em busca do vinil ou baixando as versões MP3 que circulam pela Internet. No tributo a Odair José, lançado ano passado, a banda Shakemakers regravou a primeira faixa do disco, “Nunca Mais”, e o Pato Fu participou com uma versão de Uma Lágrima, faixa do disco “Coisas Simples”, que seria o segundo disco do LP duplo que Odair originalmente concebera, e que foi lançado apenas em 1978.

Odair José - O filho de José e de Maria (1979)
Faixas:
01 - Nuca mais
02 - Não me venda grilos (por direito)
03 - Só pra mim, pra mais ninguém
04 - É assim
05 - Fora da realidade
06 - O casamento
07 - O filho de José e Maria
08 - O sonho terminou
09 - De volta às verdadeiras origens
10 - Que loucura

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

A MÚSICA MAIS VENDIDA NO MUNDO

Você sabe qual é a música brasileira mais vendida no mundo? Não se trata de nenhum sucesso de Roberto Carlos, Tom Jobim, Milton Nascimento ou Sérgio Mendes. A turma da Bossa Nova conhece, o presidente da república também (por sinal teve um que era fã da música e do autor), todo mundo conhece. A música em questão supera em vendagens, qualquer gravação de Michael Jackson, Júlio Iglesias, Beatles, Frank Sinatra ou qualquer outro artista do mundo.

Qual é a música mais vendida no mundo? A resposta é: Coração de Luto, seu autor, o gaúcho Vitor Mateus Teixeira, se você ainda não o conhece, é porque sabe pouco de música ou talvez, porque conhece a música como “Churrasquinho de Mãe”, e seu intérprete apenas por Teixeirinha. A música narrando o sofrimento do filho que aos nove anos presencia a morte da mãe, queimada no incêndio que destruiu a casa onde viviam, já vendeu mais de 20 milhões de cópias, recorde absoluto, segundo matéria publicada no Jornal das Gravadoras, que homenageia o artista na edição de novembro. Ninguém, no mundo, vendeu mais cópias de uma única música do que Teixeirinha.

A música ganhou o horroroso apelido do polêmico apresentador Flávio Cavalcanti, que não dava mole para os cantores populares como Teixeirinha, Waldick Soriano e Orlando Dias. Coração de Luto ocupou o lado B do quarto disco gravado por Teixeirinha, sem nenhuma pretensão ao sucesso, após seis meses de seu lançamento, a reação do povo consagrou a música ao sucesso nacional, para logo em seguida conquistar o mundo. Em 1961, ano de sua gravação, Coração de Luto vendeu mais de um milhão de cópias, um acontecimento inédito na música popular do Brasil. O cantor recebeu todos os principais prêmios dados aos melhores do disco, incluindo o cobiçado troféu "Chico Viola", da TV Record de São Paulo, em 1962/63.


Cantor dividiu seu drama pessoal com o mundo

Por vários motivos a música ainda é sucesso, primeiro pela triste história, que brasileiro adora e curte de montão, segundo, a narrativa que o autor emprega, colocando-se como vítima da tragédia, sensibiliza qualquer coração de pedra, que dirá de luto. Depois, o drama do menino que é obrigado a se lançar na vida com apenas nove anos de idade, tendo que passar fome, sofrer abandono sem se corromper, seguindo as orientações da mãe que, era honesta e amorosa com o filho, é um prato perfeito para aplacar a fome de justiça do brasileiro. A religiosidade do órfão também é tocante ao nosso povo. Por último, porque milhões de filhos enlutados sentem saudades da mãe querida que se foi e, simplesmente pela genialidade de Teixeirinha.

Teixeirinha viajou o Brasil de ponta a ponta, excursionou pela América Latina, EUA e Canadá, gravou mais de 70 discos (78rpm, LP e Compactos), produziu com recursos próprios, 10 longas-metragens, fez tudo simultaneamente em 27 anos de carreira. Durante vinte e dois anos a cantora e acordeonista Mary Terezinha acompanhou Teixeirinha, dando brilho e destaque as apresentações do artista mais amado pelo povo gaúcho.

Dentre os grandes sucessos de Teixeirinha, são conhecidas do grande público, as músicas: "Gaúcho de Passo Fundo", "Volte Papai", "Tordilho Negro", "Velho Casarão", "Tropeiro Velho", "Quem é Você", "Querência Amada" (projeto de lei para se tornar oficialmente hino popular no Rio Grande do Sul) em votação.
Teixeirinha faleceu aos 58 anos de idade, no dia 04 de dezembro de 1985, deixando uma obra considerável registradas em 700 gravações, deixou no total 1200 composições. Seus LPs estão sendo reeditados para lançamentos em CDs. Quanto à memória e patrimônio artístico de Teixeirinha, a filha Elizabeth Teixeira cuida da Fundação Vitor Mateus Teixeira, resgatando a obra do artista e disponibilizando no site www.teixeirinha.com.br toda sua trajetória.

NADA DO QUE NÃO ERA ANTES QUANDO NÃO SOMOS MUTANTES... (40 ANOS)

Vou falar de uma lenda do Rock nacional: Os Mutantes. Recentemente, o grupo foi reformulado pelos irmãos Arnaldo (Teclado) e Sérgio Baptista (Guitarra) para três únicas apresentações, sendo a primeira no dia 22/05 e as outras duas na terra do Tio Sam, onde tocaram nos dias 21/07 em Nova York e 23/07 em Los Angeles. Da formação original não participam a cantora Rita Lee e o baixista Liminha. A cantora que está acompanhando os irmão Baptista é Zélian Ducan. Além de Dinho na bateria, a banda conta com os músicos Vinicius Junqueira (Baixo), Henrique Peters (outro teclado), o multiinstrumentista de 21 anos Vitor Alexandre, a percussionista Simone Soul e os backing vocals Fábio Reo e Esméria Bulgari.

A história dos precursores do Tropicalismo brasileiro começa no inicio da década de 60, com os irmãos Arnaldo Baptista e Sérgio Dias. Antes eles integravam o “Woodfaces”, que teve seu fim por divergências musicais, mas deu origem a formação que entraria para história do rock e da música brasileira. No ano de 1965, Rafael apresentou aos irmãos Baptista as cantoras Suely e Rita Lee Jones, que juntos formaram a banda “Six Sided Rocker”. Já no ano de 1966, Mogguy entra no lugar de Suely e rebatizados de “Os Seis”, lançam o compacto “Suicida / Apocalipse” pela Continental. No dia 15 de outubro do mesmo ano, participam do programa “Pequeno Mundo” de Ronnie Von, já sob o nome de “Os Mutantes”. Começava então o que se poderia chamar de psicodelia da música brasileira. Em 1967 participam do festival da Record com a música “Domingo no Parque”, ficando em segundo lugar. Com o sucesso a vista, eles gravam seu primeiro Lp em 1968 sob o título “Mutantes”. Com a boa repercussão que conseguiram, abrem-se às portas para o exterior, onde são convidados para tocar no ano de 1969 em Cannes, na França, no famoso Midem (Mercado Internacional de Discos e Editores Musicais). No mesmo ano foi lançado o segundo Lp, trazendo trabalhos magistrais como “Dom Quixote” e “Rita Lee”. Já em julho o grupo estreou o espetáculo “Planeta dos Mutantes” que misturava música, colagens lisérgicas e cenas bizarras. Para fechar o ano com chave de ouro, se apresentam na quarta edição do Festival Internacional da Canção, apresentando a música “Ando Meio Desligado“.


Na segunda quinzena de 1970, os Mutantes lançam o Lp “A Divina Comédia Ou Ando Meio Desligado”. A partir desse Lp o grupo contava com Ronaldo Leme (Dinho) na bateria. Com a nova formação foram ao famoso Olímpia, na França, e também aproveitaram para gravar algumas faixas em estúdios europeus. No inicio de 1971 são contratados pela Rede Globo para se apresentar no programa “Som Livre Exportação”. Ainda no mesmo ano soltam mais um Lp. “Jardim Elétrico” traz os maiores sucessos da banda, “Top Top”, “Virgínia” e “El Justiciero”. Desse álbum em diante, passam a contar com o novo baixista Arnalpho Lima (Liminha). Arnaldo Baptista se dedica aos teclados. O ano de 1971 acaba com muitas confusões para os Mutantes. Uma no programa do Flávio Cavalcanti e outra no programa de Hebe Camargo, onde Arnaldo se desentende com o também tecladista Caçulinha (hoje no programa do Faustão).

O ano de 1972 se inicia com o lançamento de “Mutantes e Seus Cometas no País dos Baurets”, que trouxe ainda problemas com a censura na faixa “Cabeludos Patriotas”. Eles são obrigados a trocar o nome da música e a letra (no mesmo álbum encontra-se a clássica “Balada do Louco”). No segundo semestre do mesmo ano lançam “Hoje é o Primeiro Dia do Resto da Sua Vida”. Ainda no mesmo ano (72) participam do último Festival Internacional da Canção, que estava em sua sétima edição, com a música “Mande um Abraço Pra Velha”.

Após o festival, Rita Lee deixa os Mutantes, que continuam suas atividades. O ano de 1973 começa em alta voltagem, estreando em São Paulo o show “Mutantes” com 2000 Watts (potência na época comparável a do Pink Floyd). Com o sucesso do show, entram em estúdio para gravação do seu sexto álbum. A gravação é interrompida pela gravadora que opta por não lançar o Lp, alegando que o mesmo não é comercial, com letras que ultrapassavam sete minutos. Começavam então as primeiras crises internas com Arnaldo deixando a banda, dando a entrada de Manito (ex-Incríveis) que não permanece por muito tempo, assim como outros músicos que passaram pelos Mutantes. No ano de 1974, o grupo decide se mudar para Petrópolis, no Rio de Janeiro e assinam contrato com a Som Livre. Com material pronto pra ser lançado, o baixista Liminha deixa os Mutantes após discussão com Sérgio Dias. Com o novo baixista, Antonio Pedro de Medeiros, lançam o Lp “Tudo Foi Feito Pelo Sol”. Dois anos depois (1976), novas turbulências afetam a banda, dando as saídas de Túlio e Antonio Pedro. Em seus lugares entram Luciano Alves e Paul de Castro (ex-Veludo Elétrico). Com a nova formação estabilizada, dão inicio aos shows que resultam em um novo álbum ao vivo, sem muita repercussão.


O fim da década de 70 se aproxima e no ano de 1977 embarcam para Milão, na Itália, para algumas apresentações. Às vésperas do show, o tecladista Luciano Alves discute com Sérgio, deixando a banda em baixo astral. Ao retornar para o Brasil, Paul de Castro deixa a banda. No inicio de 1978, sem muitas expectativas, o grupo volta a ser um quinteto com a entrada de Fernando Gama e de sua esposa Betinha. Com a nova formação, Sérgio tenta (sem sucesso) resgatar a velha essência da banda, que havia ficado pra trás. E o inesperado acontece. No dia 06 de julho de 1978, o grupo faz seu último show, na cidade de Ribeirão Preto, encerrando as atividades dos Mutantes.

Quatorze anos depois (1992) os rumores de que os Mutantes poderiam voltar circulavam por todo o Brasil. Mas, o que aconteceu foi uma “jam” em um show de Rita Lee com os irmãos Baptista. Chegando ao fim do século XX, no ano de 1999, a gravadora Universal lança o prometido CD “Tecnicolor”, álbum gravado em 1970, no auge da carreira do grupo. Recentemente foram lançados sete CD`s dos Mutantes, remasterizados, todos com as capas originais e novos textos. O pacote ainda tem raridades como o trabalho, “A Banda Tropicalista do Duprat” de 1968, um disco do maestro Rogério Duprat, com a participação dos Mutantes e outras novidades (Rogério Duprat faleceu no fim do segundo semestre de 2006).

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

GRAVADORAS VERSUS INTERNET

Por Daniel Brazil

Um dos grandes ganhos para os pesquisadores e amantes da música brasileira foi a proliferação de sites e blogs de trocas de músicas. Preciosidades voltaram a circular, antigos LPs ganharam versão digital, e centenas de milhares de pessoas puderam ter acesso a um acervo inestimável, que certamente motivou muita gente a comprar, pedir e cobrar de lojistas, que por sua vez pressionaram gravadoras, que algumas vezes relançaram parte do acervo que mantinham fora de circulação por ser “pouco comercial”.

Mas evidentemente as trocas pela Internet não se limitam às gravações esgotadas. A facilidade de circulação de informações e downloads faz com que os fãs de música troquem gravações caseiras, registros ao vivo e, claro, músicas em catálogo e lançamentos recentes.

Um fã de música brasileira que more numa das centenas de pequenas cidades do interior do Brasil não tem acesso a lojas de disco, ou conta com uma oferta restrita apenas aos sucessos radiofônicos. Estas trocas aumentam a curiosidade, estimulam as vendas, promovem a divulgação.

Evidentemente, as gravadoras pensam o contrário. Preocupadas com a revolução digital inexorável que vem mudando as regras do comércio musical, tentam vetar, impedir, proibir a circulação de músicas pela Internet. Ou pelo menos buscam uma forma de taxar, lucrar com essa onda.

Há muitos e bons blogs de música brasileira na Internet. Não tenho vergonha de dizer que várias gravações que aqui comentei foram ouvidas pela primeira vez de forma gratuita, baixadas na rede. Não tenho dúvida de que muita gente leu, ficou interessado, foi até uma loja e comprou o CD. Não ganhei nada com isso, mas a gravadora certamente teve lucro. Ou seja: divulgar o produto de graça é bom, não parece?

Pois não é assim que pensam. Agora mesmo um dos melhores blogs de música brasileira, o Um Que Tenha (www.umquetenha.blogspot.com) está ameaçado de sair do ar. Veja o que escreveu no dia 24 de outubro de 2008 o responsável pelo riquíssimo acervo ali disponível:

“Assim como ocorreu com o Som Barato, o Um Que Tenha acaba de receber uma notificação de que publicou material que viola os direitos autorais, material este que foi retirado do ar, em junho passado, a pedido de Guilherme Viotti, da gravadora Biscoito Fino. Tal como ocorreu com o Som Barato, é o prenúncio de que, de uma hora para outra, o blog será retirado do ar.”

Se a ameaça se concretizar, será uma grande perda. Encontrei no Um Que Tenha discos raríssimos, obras que só haviam sido lançadas no exterior, músicas instrumentais brasileiras gravadas por jazzistas do mundo inteiro, raridades fora de catálogo e, claro, alguns lançamentos que fiz questão de divulgar aqui na Revista Música Brasileira.

Os tempos estão mudando, já dizia Bob Dylan, lá pelos anos 60. As gravadoras ainda não entenderam que a indústria cultural está em transformação, e os modos de produção, difusão e fruição de música estão circulando por novos caminhos. Não se conformam de não mais vender milhões de discos como no tempo dos Beatles, e caem no círculo vicioso de aumentarem o preço para compensar as perdas, vendendo ainda menos por causa disso.

Se eu fosse dono de gravadora, e trabalhasse com um produto tão valioso como é a boa música brasileira – como, aliás, faz a Biscoito Fino, tantas vezes aplaudida aqui na RMB – enviaria cada novo lançamento para alguns blogs fundamentais, apostando no efeito multiplicador desses voluntários e incansáveis divulgadores, acessados por um público muito especial.

Fechar um espaço que presta um serviço tão valioso de informação é burrice. Não vão vender mais discos por causa disso. Mais e mais blogs se abrirão no lugar daquele que fechou. Acreditar no contrário é como tentar segurar a maré com as mãos. Faz lembrar os versos de Paulo César Pinheiro em Pesadelo (parceria com Mauricio Tapajós):

“Você vem me agarra, alguém vem me solta
Você vai na marra, ela um dia volta
E se a força é tua ela um dia é nossa”

Direitos autorais são muito discutíveis, principalmente num sistema onde sabidamente o autor fica com menos de 10% do resultado das vendas. No mundo inteiro este conceito vem passando por mudanças, muito por causa das novas mídias. Não é fechando canais de divulgação que o autor passará a ganhar mais. Felizmente, muito artista já percebeu isso, e coloca seu trabalho na rede, disponibiliza downloads, expõe sua cara nos You Tubes e My Spaces, correndo atrás do público. É por aí que vamos, pois como diz outro blogueiro, o Branco Leone, no futuro todo mundo vai ser famoso não por quinze segundos, mas para quinze pessoas. Se chegarmos a esse ponto, a existência de gravadoras – como conhecemos – não terá mais nenhum sentido.

ZECA BALEIRO - VOCÊ É MÁ

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

MÚSICA NO BRASIL...

Gigante dos shows nos EUA fecha acordo para atuar no Brasil.

A Live Nation, gigante do entretenimento nos Estados Unidos e que vem fazendo ousadas contratações para produzir turnês, lançar discos e gerir carreiras de artistas como Madonna, Jay-Z e Shakira, fechou um acordo com a empresa T4F (Time for Fun) para atuar na área de shows no Brasil, segundo a revista "Billboard".

A empresa norte-americana também vai atuar no México por meio da CIE, outra companhia com bastante peso no mercado latino-americano. A T4F, que já produziu turnês de Red Hot Chili Peppers, Aerosmith e Roberto Carlos em território brasileiro, também tem presença na Argentina e no Chile (e já foi ligada a CIE). Procurada pelo G1, a assessoria de imprensa da T4F disse que ainda iria se pronunciar oficialmente sobre o assunto.

"Nós queríamos formalizar esse relacionamento, torná-lo exclusivo e adicionar a América do Sul para realmente completar o nosso cenário na América Latina", disse Jason Garner, principal executivo da Live Nation, à "Billboard".

"Quando você entra em um relacionamento assim, o que você quer saber é se você possui operadores sólidos ao levar uma banda que confia na Live Nation à América Latina."

Teoricamente, o acordo pode viabilizar a vinda de grandes artistas que têm relacionamento com a Live Nation.

A T4F era a antiga CIE Brasil, que teve o controle de suas operações comprada pela Gávea Investimentos, banco de investimentos do ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga por US$ 150 milhões. A Time For Fun é proprietária de casas como Credicard Hall, Citibank Hall e Teatro Abril em São Paulo e, no Rio de Janeiro, Citibank Hall, além da Ticketmaster, empresa de serviço de venda de ingressos.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

DICAS DA MUSICARIA

ALCIDES GERARDI - DESPEDIDA (1964)

Faixas:
01 - Despedida
02 - Por toda a vida
03 - Quem me vê
04 - Volte
05 - Diga
06 - Tinha que ser
07 - A Maria chorou
08 - Deus me ajudou
09 - Sem motivo
10 - Em volta da luz
11 - Perversa
12 - A corda e a caçamba

JOYCE - 40 ANOS DE CARREIRA

Joyce Silveira Palhano de Jesus nasceu no Rio de Janeiro, em 31 de Janeiro de 1948, filha de Zemir Silveira Palhano de Jesus e Helge Arvid Johnston (dinamarquês radicado no Brasil). Os pais se separaram antes de seu nascimento e Joyce foi registrada pela mãe como filha de seu primeiro marido, Luiz Antonio Palhano de Jesus, com a concordância deste. Zemir, funcionária pública, criou a filha sozinha, assim como seus dois filhos do primeiro casamento.
Nascida e criada na Zona Sul do Rio (no Posto Seis, em Copacabana), Joyce estudou do primário ao então curso Clássico no Colégio São Paulo, escola católica situada em Ipanema. Começou a tocar violão aos 14 anos de idade, observando seu irmão, o guitarrista, bancário e advogado recém-formado Newton, 13 anos mais velho, e amigo de músicos da bossa nova como Roberto Menescal e Eumir Deodato. Por sua casa, nesse período, passaram outros grandes músicos da época, todos da turma do irmão: além de Menescal e Eumir, Luiz Carlos Vinhas, Leny Andrade, os irmãos Castro Neves e muitos outros. Também alguns desses músicos fizeram parte do Bingo Sete, conjunto de baile liderado por Newton, como o baterista João Palma, o baixista Sérgio Barroso Neto e o próprio Eumir, que nos primeiros tempos do conjunto tocava acordeon. Assim, a adolescente ia se familiarizando com as últimas novidades da bossa-nova e abrindo os ouvidos para as harmonias novas que surgiam.


Em 1964, aos 16 anos, participou pela primeira vez de uma gravação em estúdio, no disco do grupo vocal "Sambacana", com músicas de Pacífico Mascarenhas, convidada por Roberto Menescal. A partir daí, sempre a convite do amigo, gravou alguns jingles produzidos por ele. Na mesma época, começa a compor. Tudo era ainda visto como brincadeira, e a música como profissão, um sonho distante.
Ainda que autodidata, ia fazendo seus progressos no violão, chegando a dar aula(para alguns alunos desavisados, pois a professora jamais tivera uma aula sequer). Mais tarde, aos 18 anos, logo depois de ser aprovada no vestibular para Jornalismo, finalmente iniciou seus estudos formais de música: primeiro com Jodacil Damaceno (violão clássico e técnica), em seguida com Wilma Graça (teoria e solfejo).
Cursando Jornalismo na PUC do Rio de Janeiro, em 67 Joyce ingressaria como estagiária no que era a meca dos aspirantes a jornalista da época: o Caderno B do Jornal do Brasil. Ali, Joyce viria a conhecer (e trabalhar com) alguns dos grandes da profissão, que seria sua alternativa, caso o sonho de fazer música não desse certo. A experiência no JB foi enriquecedora e interessante, mas seria interrompida por uma série de eventos que culminariam na sua primeira contratação por uma grande gravadora.
Em 1967, classificou sua canção "Me disseram" no II Festival Internacional da Canção (RJ), que iniciava com a frase "Já me disseram/ que meu homem não me ama". A canção provocou grande polêmica na época, por ter a letra escrita na primeira pessoa do feminino, o que ainda não tinha sido feito por nenhuma das pouquíssimas compositoras brasileiras até então. A compositora estreante de 19 anos foi criticada como "vulgar e imoral" por alguns jornalistas, como Sérgio Porto, enquanto outros, como Nelson Motta e Fernando Lobo, a defendiam pela "postura feminista" - coisa que, na época, ela não tinha a menor idéia do que fosse: queria apenas se expressar no seu gênero, como vira antes em artistas como Billie Holiday e Edith Piaf.
No ano seguinte (1968), finalmente o esperado início de carreira: lançou pela Philips seu primeiro LP, "Joyce", produzido por Armando Pittigliani, com arranjos de Gaya e Dori Caymmi e texto de apresentação assinado por Vinicius de Moraes na contracapa. No repertório, cinco músicas suas e mais seis inéditas de autores amigos seus, tão ou quase tão iniciantes quanto ela: Paulinho da Viola, Marcos Valle, Francis Hime, Caetano Veloso, Jards Macalé, Toninho Horta e Ronaldo Bastos.
Em 1969, gravou seu segundo disco, o LP "Encontro marcado", primeira incursão de Nelson Motta como produtor. Os arranjos foram de Luiz Eça. Fez sua primeira viagem internacional como profissional da música, apresentando-se ao lado de Edu Lobo no Teatro Villaret, em Lisboa.
Graduou-se em Jornalismo pela PUC-Rio em 1970. No mesmo ano fez parte do grupo Sagrada Familia, liderado por Luiz Eça, que ficou em temporada de dois meses no México, no Hotel Camino Real. Ao retornar da turnê, casou-se com o compositor mineiro Nelson Angelo, também integrante do grupo.
Entre 1970 e 1971, fez parte, juntamente com Nelson Angelo, Novelli, Toninho Horta e Naná Vasconcelos, do grupo vocal e instrumental A Tribo, chegando a gravar algumas faixas no disco "Posições", lançado pela Odeon, e um compacto duplo seu, pela mesma gravadora.
Em 1973 gravou, com Nelson Angelo, o LP "Nelson Angelo e Joyce", único registro profissional da cantora no período compreendido entre 1971 e 1975, quando se dedicou exclusivamente às filhas Clara e Ana, nascidas em 1971 e 1972, respectivamente.
Em 1975, recém-separada, retomou a carreira, substituindo o violonista Toquinho, ao lado de Vinicius de Moraes em turnê pela América Latina. Com o sucesso das apresentações, foi convidada para participar dos shows do poeta pela Europa, já com Toquinho de volta ao grupo. A temporada gerou, na Itália, a gravação do LP "Passarinho urbano", produzido por Sérgio Bardotti para a etiqueta Fonit-Cetra, em 1976. Nesse disco, a cantora interpretou músicas de compositores brasileiros que naquele momento estavam tendo sua obra censurada pela ditadura militar, como Chico Buarque, Milton Nascimento, Caetano Veloso, Edu Lobo, Maurício Tapajós e o próprio Vinicius de Moraes, entre outros. O disco teve lançamento discreto no mercado brasileiro no ano seguinte.
Em 1977, apresentou-se em temporada de seis meses em Nova York, gravando mais um LP internacional, "Natureza", em parceria com Maurício Maestro. O disco, com produção e arranjos do maestro alemão Claus Ogerman e participação de músicos de jazz, como Michael Brecker, Buster Williams e Joe Farrell, não chegou a ser comercializado. Dele constavam algumas canções de Joyce que mais tarde se tornariam emblemáticas em sua carreira, como "Feminina" e "Mistérios". Apenas duas faixas deste disco viriam à luz, muitos anos depois: "Feminina", incluída na coletânea "A Trip to Brazil II", de 1999, e "Descompassadamente", incluída por Claus Ogerman em sua caixa de 4 CDs "Claus Ogerman - The Man Behind the Music", lançada em 2002.
A temporada novaiorquina, em 1977, teria ainda conseqüências importantes na vida pessoal: o encontro com o baterista baiano Tutty Moreno, radicado em NY na época, com quem se casaria e teria mais uma filha (Mariana, nascida no Rio em 1979).
A partir de 1979, Joyce começa a ter suas músicas gravadas por outros intérpretes como Milton Nascimento, Elis Regina, Maria Bethânia, Boca Livre, Nana Caymmi, Quarteto em Cy, Joanna, Fafá de Belém e Ney Matogrosso, entre outros. O sucesso de suas composições em outras vozes mais conhecidas fez com que a gravadora EMI-Odeon se interessasse em contratá-la para um projeto próprio.
Em 1980, participou do Festival de Música Popular Brasileira da TV Globo, classificando "Clareana", canção de ninar escrita em Roma, em 1976, para suas filhas (e que já sugeria a caçula Mariana, que só
nasceria três anos depois, no verso"... Clara, Ana e quem mais chegar..."). Nesse mesmo ano, lançou o disco "Feminina", com destaque para a canção título e para "Clareana", sucesso de vendagem e responsável pela primeira grande exposição de Joyce na mídia.
Ainda na década de 1980, lançou os discos "Água e luz" (1981, que continha o hit "Monsieur Binot") "Tardes Cariocas" (1983, uma produção independente que receberia no ano seguinte o prêmio Chiquinha Gonzaga, para os melhores lançamentos fora do circuito das gravadoras), "Saudade do futuro" (1985) com participação de Milton Nascimento, "Wilson Batista: o Samba Foi Sua Glória" (1986, com o sambista Roberto Silva), "Tom Jobim: anos 60" (1987 - uma homenagem, com Gilson Peranzzetta, aos 60 anos de vida do compositor, que escreveu o texto de contracapa), "Negro demais no coração" (1988, um tributo a Vinicius de Moraes com participações especiais de Caetano Veloso, Maria Bethânia e Moraes Moreira, indicado ao Premio Sharp de Musica nas categorias Melhor Cantora e Melhor Disco de MPB), e "Joyce ao vivo" (1989).
No ano de 1985 iniciou parceria com o diretor de show musicais Túlio Feliciano. O primeiro show de Joyce dirigido por Túlio, "Quadrantes", marca uma nova postura da artista em seu trabalho de palco: um espetáculo de voz e violão, com cenários criados pelo grafiteiro paulista Alex Vallauri e grafitados pela própria Joyce durante o espetáculo. No ano seguinte a parceria prossegue com o show "Saudade do Futuro", no teatro Ipanema, e seguiria em frente pelo resto da década.
Entre os anos de 1985 e 1987, foi indicada e fez parte do CNDA - Conselho Nacional de Direito Autoral - ao lado de colegas compositores como Gonzaguinha, Fernando Brant e Mauricio Tapajós, todos militantes dos direitos de autor desde os tempos da Sombrás, representando a classe musical em Brasília.
Paralelamente, o trabalho internacional de Joyce recomeça a se desenvolver. Inicialmente em 85, com convites para apresentações em Moscou (no Festival da Juventude) e no Japão (Yamaha Festival), e logo depois com apresentações na Europa, começando pela França e pela Bélgica, com shows no Theatre de La Ville, em Paris, e diversos festivais de jazz. Iniciava-se aí uma produtiva carreira de show e turnês na Europa e no Japão que perdura até hoje.
Contratada pela tradicional gravadora americana de jazz Verve, lançou em 1990 o disco "Music Inside" e, no ano seguinte, "Language and Love" (com participação especial do legendário Jon Hendricks), cuja versão em português, feita especialmente para o mercado brasileiro, se chamou "Línguas e Amores". Ambos os discos foram gravados em Nova York.
Em 1993, realizou na The Fridge (Londres, Inglaterra), para um público de 2.000 pessoas, o primeiro show de um artista brasileiro no circuito acid-jazz. Este show abre novas perspectivas na carreira de Joyce, com a redescoberta de seu trabalho pelos DJs ingleses, cuja repercussão se estendeu mundialmente, levando o natural suingue acústico de sua música para as mais antenadas pistas de dança do mundo. Entre as músicas "redescobertas" por esse novo e jovem público, "Feminina", "Baracumbara" e principalmente, "Aldeia de Ogum", que se tornaria um grande hit na cena de música eletrônica.
No ano seguinte, a EMI-Odeon lançou o CD "Revendo amigos", songbook de seus sucessos na voz de outros intérpretes. Entre os convidados, Gilberto Gil, Gal Costa, Ney Matogrosso, Emílio Santiago, Wanda Sá, Sandra de Sá, Beth Carvalho, Boca Livre, Clara Moreno, Gilson Peranzzetta, Fátima Guedes e Chico Buarque. Na produção, o velho amigo Roberto Menescal.
Ainda na década de 90, gravou os discos "Delírios de Orfeu" (1994, com participação de Mario Adnet), "Live at the Mojo Club" (1995, gravado ao vivo no Mojo Club de Hamburgo, Alemanha, para uma platéia de 1.000 pessoas), "Sem você" (1995, uma parceria com Toninho Horta em segunda homenagem a Tom Jobim, logo depois de sua morte), "Ilha Brasil" (1996, um disco autoral, o primeiro de inéditas em muitos anos).


Em 1995, participou do primeiro tributo a Tom Jobim, realizado em Nova York, no Carnegie Hall. Em 1996, também em NY, fez parte do elenco que se apresentou na premiação do Songwriter's Hall of Fame - elenco que incluía, entre outros, Liza Minelli, Tony Bennet e James Brown.
Em 1997, publicou o livro "Fotografei Você na Minha Rolleyflex", uma coletânea de crônicas e histórias da música popular brasileira a partir do ponto de vista da compositora. A excelente recepção da imprensa para este lançamento faz com que, entre 1998 e 2000, Joyce atue como cronista semanal do jornal "O Dia", numa retomada da antiga paixão pelo jornalismo.
Em 1998 gravou em Nova York o disco "Astronauta", um tributo a Elis Regina. Este disco teve participação de músicos brasileiros, como Tutty Moreno, Rodolfo Stroeter, Guello, Dori Caymmi e Romero Lubambo, e jazzistas americanos, como Joe Lovano e Mulgrew Miller, além da pianista canadense Renee Rosnes. A combinação sonora valeu uma indicação para o Grammy Latino de 2000, como melhor CD de música brasileira.
Em 1999 grava mais um disco autoral: "Hard Bossa", sua primeira parceria com a gravadora inglesa Far Out, que prosseguiria com êxito nos anos seguintes.
Diversificando as atividades, criou e apresentou, durante os anos de 1999/ 2000, o programa "Cantos do Rio" (produção da MultiRio, empresa de multimeios da prefeitura do Rio, e exibido nesta primeira fase pela TVE), dedicado a mostrar o Rio de Janeiro e seus músicos. Este programa, de grande repercussão de público e imprensa, teria ainda uma segunda fase em 2002, com exibição pela TV Bandeirantes RJ. Entre os convidados das duas fases, que deram seus depoimentos e trocaram figurinhas musicais com a apresentadora, artistas como Hermeto Pascoal, Época de Ouro, Paulo Jobim e Lisa Ono, Elton Medeiros, D. Ivone Lara, Milton Nascimento e Naná Vasconcelos, Edu Lobo, Carlos Lyra, João Donato, Roberto Menescal, Billy Blanco, Zélia Duncan, Marcos Valle e Ed Motta, Paulinho Moska e Mauricio Carrilho, Leila Pinheiro e Zezé Gonzaga, Herminio Bello de Carvalho, Doris Monteiro e Tito Madi e muitos outros, além de programas gravados no Jongo da Serrinha, no forró em São Cristóvão, no teatro Rival, na Mangueira, na Lapa, e onde mais a música brasileira brotasse em solo carioca. O fim do programa mereceu página na internet criada pelos espectadores e matérias na imprensa reivindicando sua volta.
Algumas músicas suas foram utilizadas em trilhas sonoras de filmes de Hollywood: "Tema Para Jobim" (parceria de Joyce com o saxofonista Gerry Mulligan) seria usada, na gravação original de Joyce e Milton Nascimento, na trilha do filme "O Jogador", de Robert Altman. Tempos depois, a base da gravação de Joyce para seu tema "Aldeia de Ogum", sampleada pelo grupo de hip-hop Blackeyed Peas (e remixada com um refrão de Sting), ganhou o novo título de "Magic" e também foi usada na trilha do filme "Legalmente Loira".
Divulgando a música brasileira em seguidas turnês internacionais, ministrou workshops, em 2000, no Rytmisk Konservatorium de Copenhagen (Dinamarca) e em Soweto (África do Sul, onde também participou do Festival Arts Alive em Johannesburgo). Também em 2000, gravou o disco "Tudo bonito", que contou com a participação de João Donato - a partir daí, um parceiro constante.
Nascida Joyce Silveira Palhano de Jesus, teve seu nome alterado para Joyce Silveira Moreno, no dia 5 de maio de 2001, em função do registro civil de seu casamento com Tutty Moreno, depois de 24 anos de união informal. Nesse mesmo ano, lançou o CD "Gafieira Moderna", outra produção autoral, mais uma vez pela Far Out, que sairia no Brasil no ano seguinte pela Biscoito Fino. O CD teve a participação especial de Elza Soares e inovou, trazendo uma faixa-bônus com um curto videoclipe, para ser visto através de computador.
Em 2003, a convite da premiada compositora de trilhas Yoko Kanno, Joyce participou da trilha sonora do anime "Wolf's Rain", exibido na TV japonesa.
Ainda em 2003, lançou pela Far Out o CD "Just a Litte Bit Crazy", que na edição brasileira teria o título de "Banda Maluca" (Biscoito Fino, 2004). Este CD teve a participação especial do pianista norueguês Bugge Wesseltoft, expoente do chamado nu-jazz europeu, e teve seu lançamento oficial na Inglaterra no tradicional palco do Barbican Center, de Londres. Assim como foram "Hard Bossa" e "Gafieira Moderna", "Banda Maluca" foi um CD totalmente autoral, contrastando com "Bossa Duets", feito por encomenda para a Sony japonesa, e gravado quase que ao mesmo tempo, com apenas uma semana de intervalo. Neste, clássicos da bossa-nova são interpretados por Joyce em duetos com Johnny Alf, João Donato, Wanda Sá, Toninho Horta e Ana Martins - alguns dos convidados que com ela dividiram o palco em suas apresentações anuais na rede de clubes de jazz Blue Note do Japão.
Nos anos de 2002 e 2004, apresentou-se como artista convidada em tournées com a WDR Big Band de Colônia, na Alemanha, com arranjos e regência do maestro convidado Gilson Peranzzetta, além dos músicos convidados Tutty Moreno e Marcio Bahia, nas séries de concertos "A Trip to Brazil" e "Brazil Today".
Em 2004, mais uma indicação para o Grammy Latino, desta vez pelo samba "A Banda Maluca", indicado como melhor canção em língua portuguesa. Também em 2004, mais uma premiação: o Lifetime Achievement International Press Award, prêmio dado nos Estados Unidos aos brasileiros que projetam uma imagem positiva do país no exterior.
Lançou, em 2005, seu primeiro DVD, "Joyce & Banda Maluca - Ao Vivo", uma co-produção da TV Cultura de SP e da gravadora Biscoito Fino. Gravado ao vivo no Teatro Franco Zampari, em SP, o DVD privilegia o trabalho de Joyce com sua banda, destacando a atuação dos músicos que com ela vinham na estrada há muitos anos, em turnês internacionais, gravações e festivais de jazz: Tutty Moreno, Rodolfo Stroeter, Teco Cardoso e Nailor Proveta na banda fixa, além da participação especial de Robertinho Silva. Este show foi apresentado pela TV Cultura de SP como o primeiro especial do ano, no dia 1ª de janeiro. Nos extras, cenas das turnês do Japão e da Europa realizadas em 2004. O CD Banda Maluca foi também indicado ao Grammy Latino 2005 como melhor álbum de Música Popular Brasileira.
Ainda em 2005, grava ao lado de Dori Caymmi o CD "Rio-Bahia", para a JVC japonesa em co-produção com a Far Out. O CD, com composições inéditas dos dois artistas e algumas regravações, tem ainda a participação de um dos grandes músicos de jazz da atualidade, o pianista nova-iorquino Kenny Werner (antigo parceiro de Joyce nas gravações americanas para a Verve, no início dos anos 90). Dori, primeiro arranjador de Joyce em 1968, volta aqui a escrever para ela arranjos de base e cordas, além da participação vocal em quase todo o disco. No repertório, também, a estréia de novas parcerias: Dori/ Chico Buarque e Joyce/ Carlos Lyra.
Em 2008 para comemorar 40 anos d carreira está lançnado um álbum ao vivo com diversas participações especiais.
Iz Sato

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

CURIOSIDADES DA MPB

Um dos maiores sucessos do início da carreira fonográfica do "rei" Roberto Carlos foi quero que vá tudo pro inferno e a estória dessa composição é interessante.
Essa música nasceu numa noite fria, em junho de 1965, na cidade de Osasco, interior de São Paulo.
Roberto Carlos estava nos bastidores do cinema Rex, onde ia participar de um show com outros artistas de música jovem. Enquanto o cantor aguardava o momento de entrar no palco, ao seu lado a secretária Edy Silva rodava o dial de um rádio à procura da execução de alguma música dele. Naquela época era comum os dois ficarem atentos aos programas de música jovem para saber a posição de Roberto Carlos nas paradas de sucesso. No instante em que Edy rodou o dial de uma emissora para outra, Roberto Carlos ouviu um fragmento de som que imediatamente lhe sugeriu uma melodia. Isto é um fato relativamente comum com os compositores: eles ouvem determinados sons que lhes sugerem o início de uma nova melodia. E ali, nos bastidores daquele cinema, Roberto Carlos começou a cantarolar a melodia inicial de uma nova canção, fazendo o ritmo com a mão na parede. "Sabe, Edy, estou fazendo uma música agora, mas tenho que falar que tudo mais vá pro inferno." "É muito bacana, bem diferente, faça logo
que quero ouvi-la", incentivou Edy, batendo palmas. "E eu comecei a cantar aquilo e imediatamente fiz o refrão "quero que você me aqueça neste inverno / e que tudo mais vá pro inferno", lembra Roberto Carlos.
Roberto carlos em detalhes.Paulo César de Araujo - São Paulo:editora planeta.2006

MÚSICA BRASILEIRA TEM 72% DO MERCADO

Ao vagar pela internet me deparei com um texto interessante escrito a cerca de 12 anos atrás para o jornal a folha de São Paulo e resolvi compartilhar com os frequentadores aqui do musicaria brasil. O texto onde o ministro da cultura (na época o senhor Francisco Weffort) tem sua opinião discordada em reação a indústria fonográfica em nosso país.
O que me chamou a a tenção no texto foi a analogia em números de venda de diversos artistas nacionais aos internacionais; e vê que, em pouco mais de uma década, certos números citados hoje são verdadeiras utopias para o mercado fonográfico. Números como um milhão de cópias eram facilmente alcançados em vendas e hoje não chegam muitas vezes a 1/4 desse número.
Leiam o texto na íntegra:

Por DANIELA ROCHA

O mercado fonográfico brasileiro nunca esteve tão bem, ao contrário do que pensa o ministro da Cultura Francisco Weffort.
O ministro afirmou ontem, em Brasília, que estaria buscando formas de proteger a indústria fonográfica nacional da atuação ''desigual'' da indústria internacional, sobretudo a americana.
Números de venda e listas das músicas mais tocadas em rádios provam que o quadro não é bem esse.
Segundo a Associação Brasileira dos Produtores de Discos (ABPD), 72% das vendas no país são de discos de música brasileira.
"É chato não concordar com o ministro. A realidade é que o mercado para música brasileira vai melhor que nunca. As emissoras de rádio dedicam 85% do seu tempo à música brasileira. Artistas brasileiros vendem mais do que qualquer intérprete americano", afirmou o presidente da ABPD, Manuel Camero, 61.
Dados levantados pelo Rádio Link (o "Ibope" das emissoras de rádio, ligado à ABPD) apontam que dez entre as dez músicas mais tocadas nas 15 principais estações de rádio de São Paulo são de intérpretes brasileiros (veja ao lado).
No Rio, com exceção do sucesso do porto-riquenho Ricky Martin ("Maria", tema da novela "Salsa e Merengue"), todas as outras músicas da lista das mais tocadas são brasileiras.
Segundo dados levantados junto às principais gravadoras, as vendagens de discos de artistas brasileiros também é superior a dos discos de intérpretes estrangeiros.
As gravadoras multinacionais no Brasil investem cada vez mais nas bandas e cantores brasileiros.
O exemplo de fenômeno de vendagens recente é a banda Skank, que já atingiu a marca do 1,15 milhão de cópias vendidas. Da mesma gravadora, Sony, o megastar norte-americano Michael Jackson, top nas vendagens, teve 180 mil cópias vendidas de seu último álbum "HIStory", que é duplo.
Mas o Skank nem é o primeiro da lista dos mais comercializados da Sony. Outros dois brasileiros dividem o trono: Roberto Carlos e a dupla Zezé Di Camargo e Luciano. Roberto Carlos atinge tradicionalmente a marca do 1,5 milhão.
Da EMI, os últimos lançamentos de Negritude Júnior, que já alcançou a marca das 400 mil cópias vendidas, do Paralamas do Sucesso, 350 mil, e de Marisa Monte, 265 mil, também vencem de goleada o registro de 60 mil cópias vendidas no Brasil do último disco do duo britânico Pet Shop Boys.
Os exemplos não param aí. As 800 mil cópias vendidas pela dupla Chitãozinho e Xororó batem de longe os 350 mil discos vendidos aqui do norte-americano Bon Jovi, principal best seller da PolyGram.
Na mesma gravadora existem outros disparates. Gera Samba vendeu 600 mil cópias de seu último disco contra 250 mil do Metalica. Simone vendeu 1 milhão de cópias; Elton John, dez vezes menos.
Segundo o gerente de marketing da gravadora Virgin, João Franklin, 33, 80% do mercado é de repertório nacional. "Música brasileira vende mais, toca mais nas rádios e aparece mais na mídia do que a estrangeira. Faltou informação ao ministro", disse.

PRESIDENTE CITA LEON TROTSKY EM DISCURSO

O presidente Fernando Henrique Cardoso citou Leon Trotsky (1879-1940), um dos líderes da Revolução Russa, de 1917, em seu discurso durante a solenidade do Dia da Cultura, realizada ontem em Brasília.
''Trotsky dizia que o grande orador, quando fala por sua garganta, passa a voz de Deus. Num dado momento, a criação é obra divina, transforma a liberdade em algo que marca'', disse FHC para uma platéia de artistas, políticos e intelectuais.
O presidente afirmou que o líder comunista nunca foi de seu agrado pessoal, mas sempre respeitou sua inteligência e lhe prestou ''muitas homenagens''.
Para FHC, o país vive num clima de liberdade e, por isso, passa por transformações. ''Se a liberdade não for aproveitada pela criatividade dos artistas, ela não resulta em cultura.''
Na solenidade, foram condecorados com a Ordem de Mérito da Cultura, entre outros, os artistas plásticos Carybé e Athos Bulcão, a atriz Bibi Ferreira, o banqueiro Olavo Setúbal e até o ministro das Comunicações Sergio Motta.
No fim da cerimônia, FHC assistiu a um concerto da Orquestra Sinfônica Brasileira, que tocou composições de Carlos Gomes.
Na cerimônia, o ministro Weffort afirmou ainda não haver definido quais serão os critérios de distribuição dos recursos oriundos da lei sancionada pelo presidente Fernando Henrique Cardoso que destina 1% da renda de loterias federais para o Plano Nacional de Apoio à Cultura.
O ministro anunciou a criação de um programa de incentivos fiscais para o teatro semelhante ao que já funciona para o cinema, conhecido como Lei do Audiovisual.
O programa funcionará com reduções das alíquotas do Imposto de Renda para as empresas que investirem em teatro.

REPERCUSSÃO
José Ramos Tinhorão, 68, crítico de música - A música popular é um produto destinado ao mercado do mundo capitalista, portanto obedece suas regras. Este modo determina que quem pode mais, chora menos: o Brasil pode menos, portanto chora mais. Quanto a equilibrar o desnível da balança entre as matrizes das multinacionais do disco, produtoras de música de massa e a produção nacional, já foi tentado por meio de legislação desde o tempo do presidente Jânio Quadros. Só tem uma coisa: lei escrita não corrige lei de mercado. Se há um país dominado pelo capital estrangeiro, você não pode ter nenhum produto em que o brasileiro se reconheça. O sr. Weffort que se contente com a filosofia do neoliberalismo e não venha com enganação. Se quiser um Brasil brasileiro, que volte aos seus princípios ideológicos e pense em revolução.

Gilberto Gil, 54, cantor e compositor - Em geral, a noção de protecionismo sempre foi vista com simpatia. Ela foi justificada em determinadas épocas porque a quase hegemonia da música estrangeira era evidente. Recentemente, tive informações de que a presença da música brasileira melhorou muito. Acho que a MPB é a menina dos olhos e da alma nacional e isso garante sua sobrevivência. É preciso saber em que o ministro se baseia para ter uma atitude como essa. Se ficar comprovada uma vantagem da música estrangeira, isso passa a ser uma preocupação legítima. Agora um aumento do espaço não significa que vá haver mais democratização. Com a restrição, saem o rock e o pop estrangeiro, mas quem entra? Sertanejo? Pop nacional? Samba? Para mim, é quem estiver mais articulado no setor executivo e mais no coração da massa.

Darcy Ribeiro, 73, senador (PDT-RJ) - Acho a discussão razoável, precisamos defender a música brasileira. Para mim, isso não é a exclusão do país do convívio mundial. Outros países têm mecanismos com esse mesmo objetivo. Como senador, sou favorável a uma legislação e uma regulamentação que, por exemplo, estimulem as rádios e televisões que dêem preferência à produção nacional.

Esse texto foi publicado na Folha de S.Paulo, quarta-feira, 6 de novembro de 1996.

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

É TEMPO DE AMAR COM ZÉ RENATO

Por Hugo Sukman

Criado em berço de ouro musical, Zé Renato nem ouviria, pelo menos em tese, as canções românticas da Jovem Guarda. Quiçá tivesse vontade de cantá-las. Mente, coração, ouvido abertos, contudo, é isso que ele faz em “É tempo de amar”, seu novo CD pelo selo MP,B, com distribuição da Universal Music, no qual recria velhos sucessos da JG à sua maneira, ou seja, com harmonizações mais sofisticadas, tratamento instrumental mais moderno, inserindo aquelas baladas e rocks na melhor tradição evolutiva da música brasileira.

Mas afilhado de Silvio Caldas, filho da bossa nova, lançado por Edu Lobo, tendo com ídolo maior Milton Nascimento, membro fundador de um dos mais sofisticados grupos vocais do país (o Boca Livre), voz pura como água (apud Hermínio Bello de Carvalho), violonista limpo e de harmonias inusitadas, compositor de melodias lindas e complexas, artista moderno, o que Zé Renato teria com as canções simples e nostálgicas da Jovem Guarda?

“Meu primeiro violão, presente de meu pai aos 14 anos, era assinado por Sílvio Caldas, muito amigo dele. Mas a primeira música que eu aprendi foi ´Namoradinha de um amigo meu´. E olha que não era fácil, era em tom menor, tinha uma harmonia interessante...”, explica Zé Renato o início da sua relação com a Jovem Guarda. “O fato é que eu sempre, desde garoto, ouvia aquelas canções e, embora não fossem da minha praia, me interessava pelas letras diretas, simples, e pela beleza de muitas das melodias. Volta e meia eu imaginava aquelas canções tocadas à minha maneira”.

Ao receber uma encomenda para a trilha sonora da novela “A Favorita”, e sabendo tratar-se de uma trama e de uma trilha bem populares, logo veio a idéia de gravar algo da JG, quem sabe um velho sucesso de Roberto Carlos. E a escolha recaiu sobre a balada “O tempo vai apagar”, de Paulo Cezar Barros e Getúlio “Negro Gato” Côrtes, gravada pelo Rei em 1968. Calcada já no violão e nas harmonias de Zé Renato, a gravação emplacou na novela, agradou tanto ao cantor que o projeto enfim se consolidou: por que não fazer agora aquele alentado disco de Jovem Guarda pelo filtro emepebístico de sua voz e de seu violão?

“Seria um disco baseado no meu violão, na forma com que eu vejo e toco aquelas canções, mas eu precisava de alguém para me ajudar a dar uma sonoridade moderna ao disco, ao mesmo tempo pop e violonística”, diz Zé Renato, que para isso logo pensou em Dé Palmeira, ele próprio autor de um punhado de canções ao mesmo tempo pop e harmonicamente sofisticadas como “Mulher sem razão”, “Mais feliz”, “Preciso dizer que te amo”, entre outras, e que vem de uma rica parceria com Adriana Calcanhotto, da qual foi produtor em três CDs (entre os quais o sucesso “Adriana Partimpim”).

O produtor trouxe a “É tempo de amar”, além da sonoridade ao mesmo tempo pop, sofisticada e contemporânea, um grupo de músicos que seria a base de todo o CD: o jovem pianista Roberto Pollo (que pilota teclados “vintage” como o Hammond, o Würlitzer ), o guitarrista Ricardo Palmeira, além do próprio contrabaixo. Zé Renato sugeriu o baterista Marcelo Costa para todas as percussões e o experimentado Jota Moraes para os vibrafones. Tudo isso como uma base tranqüila, de sons requintados e contemporâneos para que o violão, a voz e os vocais de Zé Renato brilhassem, conduzindo as novas harmonias que inventou para as velhas canções da Jovem Guarda.

Ouçam, por exemplo, outro sucesso de Roberto Carlos, “Quero ter você perto de mim” (composição de Nenéo), cujo clima jazzy e minimalista, realçam a nova harmonização de Zé Renato, com direitos a acordes sofisticados (como o si bemol menor com sexta e baixo em fá que abre a canção) que transformam a velha balada quase numa peça de Tom Jobim (cuja melodia do “Sem você” é sutilmente citada logo no início).

O trabalho de, digamos, sofisticar as canções não se trata de desrespeito ou menosprezo à estética da Jovem Guarda. Zé Renato gosta daquelas canções como elas foram feitas, apenas propõe uma ponte cultural para o seu universo, o de um filhote da bossa nova e do Clube da Esquina. Assim, é emocionante ouvir uma canção que remete à infância de todo brasileiro como “É tempo de amar” (Pedro Camargo/José Ari), pinçada do filme-ícone do cinema pop brasileiro, “Roberto Carlos em ritmo de aventura”, cantada por Zé Renato de forma ao mesmo tempo tão reverente, emocionada e tão inovadora.

O repertório foi todo guiado pela memória emotiva de Zé Renato, que praticamente prescindiu de pesquisa. A balada “Coração de papel”, maior sucesso jovenguardista do sertanejo Sérgio Reis, atraiu pela beleza da melodia. O rock “Lobo mau”, versão lançada por Roberto Carlos em 1965, vem em interessante levada mais lenta e suingada para valorizar a letra direta, simples. Mais próximas do universo emepebístico, “Nossa canção” (Luiz Ayrão) e “A última canção”, ganham versões lapidares na voz de água limpa e corrente de Zé Renato.

Há, contudo, para além da recriação das velhas canções da Jovem Guarda, momentos no disco de alta tensão criativa e de pontes culturais inusitadas. A participação de Marcos Valle ao piano é um desses exemplos. Parceiro do produtor Dé Palmeira, Valle toca piano acústico em “Ninguém vai tirar você de mim” (Edson Ribeiro/Helio Justo), outro Roberto Carlos safra 1968. Curioso que em seu habitat de origem, a bossa nova, a despeito da sua alta qualidade musical, Valle é o autor das canções mais solares, mais comprometidas com a extroversão, a música de se ouvir no rádio, de se namorar ao som dela. Ou seja, o espírito mesmo da Jovem Guarda. E é curioso, também, como Valle acaba injetando com seu piano uma sofisticação inaudita para a velha balada pop, que ganha harmonia de gente grande.

Marcos Valle também participa, com seu endiabrado piano elétrico Rhodes, do rock “Não há dinheiro que pague”, outro sucesso do Rei composto por Renato “Blue caps” Barros. A música virou uma canção pop chique e contemporânea, com direito a luxuoso solo de Valle.

Também de Renato Barros é talvez a mais significativa das canções da Jovem Guarda, “Eu não sabia que você existia”, dueto criado por Leno e Lilian. Zé Renato apresenta aqui uma versão a altura da importância conceitual da canção, valorizando-a musicalmente com o violoncelo de Jaques Morelenbaum, e em dueto com a voz límpida e irônica de Nina Becker, da Orquestra Imperial. O resultado é contemporâneo e sacana, confiram.

Por sugestão deste que vos escreve, Zé Renato fez outra ponte cultural importante ao redescobrir o único iê-iê-iê composto por Vinicius de Moraes, “Por você”, originalmente da trilha sonora do filme “Garota de Ipanema”, de Leon Hirszman, e gravada por Ronnie Von. Zé Renato não estava trazendo a Jovem Guarda para o universo da bossa nova? Então não poderia faltar a única canção Jovem Guarda, ainda que nitidamente paródica, feita pelo poeta maior da bossa nova. A produção de Dé Palmeira, baseada no violão bossanovístico de Zé Renato e nos instrumentos eletrônicos conduzidos por Marcos Cunha, dão a essa ponte cultural um ar de bossa nova européia contemporânea, um clima meio Nouvelle Vague, o grupo francês de música eletrônica que atualizou em bossa, por exemplo, velhos clássicos do punk rock.

Esse passeio maduro de Zé Renato por seu fascínio musical infantil gerou um disco inusitado, único. O cantor, que já passeou pelos universos musicais de Silvio Caldas (“Arranha-céu”, de 1994, e “Silvio Caldas 90 anos”, de 1998), Zé Kéti (“Natural do Rio de Janeiro”, de 1996), de Noel Rosa e Chico Buarque (“Filosofia”, de 2000), agora viaja para mais longe de seu universo musical. O fato é que a Jovem Guarda nunca mereceu um tratamento musical tão generoso e enriquecedor.

ZÉ RENATO - É TEMPO DE SER FELIZ (2008)
Faixas:
01 - É TEMPO DE AMAR (Pedro Camargo / José Ari)
02 - CORAÇÃO DE PAPEL (Sérgio Reis)
03 - EU NÃO SABIA QUE VOCÊ EXISTIA (Renato Barros / Toni)
04 - POR VOCË (Vinicius de Moraes / Francisco Enoé)
05 - LOBO MAU (Ernest Mareska / versão Hamilton di Giorgio)
06 - COM MUITO AMOR E CARINHO (Chil Deberto / Eduardo Araújo)
07 - NÃO HÁ DINHEIRO QUE PAGUE (Renato Barros)
08 - NOSSA CANÇÃO (Luiz Ayrão)
09 - QUERO TER VOCÊ PERTO DE MIM (Neneo)
10 - NINGUÉM VAI TIRAR VOCÊ DE MIM (Hélio Justo / Edson Ribeiro)
11 - CUSTE O QUE CUSTAR (Hélio Justo / Edson Ribeiro)
12 - O TEMPO VAI APAGAR (Paulo César Barros / Getúlio Cortes)
13 - A ÚLTIMA CANÇÃO (Carlos Roberto)

MPB 1968: RESISTÊNCIA POLÍTICA E CONSUMO CULTURAL (40 ANOS DA INSTITUIÇÃO DO AI-5)

Durante o governo de Arthur da Costa e Silva - 15 de março de 1967 à 31 de agosto de 1969 - o país conheceu o mais cruel de seus Atos Institucionais. O Ato Institucional Nº 5, ou simplesmente AI 5, que entrou em vigor em 13 de dezembro de 1968, era o mais abrangente e autoritário de todos os outros atos institucionais, e na prática revogou os dispositivos constitucionais de 67, além de reforçar os poderes discricionários do regime militar. O Ato vigorou até 31 de dezembro de 1978.

Como ocorreu na política e na economia, o AI-5 mudou o cursor da MPB. A violência institucional quebrou a espinha da chamada linha evolutiva que partia da bossa nova em direção à polifonia estética da era dos festivais e da canção de protesto, reativa ao golpe de 1964. Vale rastrear a trilha para recompor o naco de poder que cabia à MPB da época. Quantos políticos profissionais sofreram o mesmo expurgo?

Edu Lobo emigra para estudar orquestração em Los Angeles, Chico Buarque, na Itália, é convencido a adiar o retorno. Ao mesmo tempo em que se dispersa o núcleo das transformações estéticas, a Censura assume parceria na poética mais engajada da MPB.

A Censura, obviamente, não começou com o AI-5. Antes do macartismo caboclo instalar-se de vez, o pioneiro Chico Buarque teve seu samba Tamandaré tirado de circulação em 1966 por ironizar o almirante da desvalorizada nota de um cruzeiro. Mas foi o AI-5 que promoveu a MPB a inimiga cultural número um do regime militar. Até compositores de linhagem mais romântica como Taiguara foram implacavelmente caçados.

Acusado de alienado na época em que estrelava o programa Som Livre Exportação, da TV Globo, por sua composição O amor é meu país (em parceria com Ronaldo Monteiro de Souza), de 1970, Ivan Lins foi outro convertido à frente ampla de oposição à ditadura. Já com o parceiro Vitor Martins, ele mandaria entre outros torpedos, como Cartomante, Somos todos iguais nessa noite, Despertar jamais e a brechtiana Aos nossos filhos.

O compositor mineiro Sirlan (Antônio de Jesus), lançado no FIC, de 1972, com Viva Zapátria teve uma história igualmente surrealista. Bem colocado entre as finalistas foi convidado a gravar um disco na Som Livre e todas as suas músicas foram censuradas. No ano seguinte outras 14 foram vetadas e ele acabou desistindo da carreira para sobreviver compondo jingles.
O clima de guerrilha estética da época foi muito bem sintetizado por Maurício Tapajós e Paulo César Pinheiro na sobrevivente Pesadelo, gravada pelo MPB-4, ("você corta um verso/ eu escrevo outro/ você me prende vivo/ eu escapo morto"). Mas, entre tantos casos - só em 1976 de 30.518 letras examinadas, 292 foram proibidas, segundo recenseamentos feitos na abertura dos porões - o mais emblemático é o de Chico Buarque..

De bom moço defensor das tradições da MPB na fase inicial de sua carreira, ele passou a ter problemas a partir da montagem iconoclasta de Zé Celso Martinez Corrêa de sua peça Roda Viva, em 1968, inspirada na música homônima, lançada no festival da Record do ano anterior. O teatro foi invadido por um comando paramilitar do CCC (Comando de Caça aos Comunistas) com espancamento e intimidação dos atores.

Em 1970, seu compacto Apesar de Você já tinha vendido 90 mil cópias quando a Censura despertou para a sátira ao governo Médici embutida na pretensa querela amorosa da letra. Resultado: demissões no órgão, discos recolhidos e uma perseguição feroz ao compositor. Nem o nome de sua peça Calabar (1973) escapou, a ponto da trilha sonora (com vários cortes) receber o título de Chico canta. O disco seguinte, Sinal Fechado, produto de uma profusão de vetos, supostamente só trazia músicas alheias, mas a faixa Acorda amor (a que lançaria a expressão "chame o ladrão"), vinha assinada por nomes inventados, Julinho de Adelaide e Leonel Paiva.

Mais demissões na Censura e uma nova norma obrigando os autores a apresentar o xerox da identidade. No auge, a perseguição ao compositor resultaria em várias detenções sem registro e intimidação constante até o Vai Passar da abertura, precedido pelo escandaloso episódio das bombas no show de 1º de maio no Riocentro. Recentemente, o espectro da ditadura finalmente afastou-se de Chico Buarque quando o Supremo Tribunal Federal deu ganho de causa no processo por danos morais que o empresário Paulo Cesar Ferreira movia contra ele. Chico acusava o então assistente de direção da TV Globo de tê-lo delatado aos militares junto com outros compositores - Tom Jobim, Sérgio Ricardo, Edu Lobo, Paulinho da Viola, Marcos e Paulo Vale - que se recusaram a concorrer ao FIC de 1971, num protesto contra a censura prévia das músicas, e foram todos detidos e levados ao DOPS. Num caso talvez raro no mundo, os legionários do AI-5 não se contentavam em proibir uma música popular tão eficiente e atuante no campo social de seu país. Queriam obrigar os compositores a trabalhar sob suas ordens.

Como ocorreu na política e na economia, o AI-5 mudou o cursor da MPB. A violência institucional quebrou a espinha da chamada linha evolutiva que partia da bossa nova em direção à polifonia estética da era dos festivais e da canção de protesto, reativa ao golpe de 1964. Vale rastrear a trilha para recompor o naco de poder que cabia à MPB da época. Quantos políticos profissionais sofreram o mesmo expurgo?

Edu Lobo emigra para estudar orquestração em Los Angeles, Chico Buarque, na Itália, é convencido a adiar o retorno. Ao mesmo tempo em que se dispersa o núcleo das transformações estéticas, a Censura assume parceria na poética mais engajada da MPB.

A Censura, obviamente, não começou com o AI-5. Antes do macartismo caboclo instalar-se de vez, o pioneiro Chico Buarque teve seu samba Tamandaré tirado de circulação em 1966 por ironizar o almirante da desvalorizada nota de um cruzeiro. Mas foi o AI-5 que promoveu a MPB a inimiga cultural número um do regime militar. Até compositores de linhagem mais romântica como Taiguara foram implacavelmente caçados.

Acusado de alienado na época em que estrelava o programa Som Livre Exportação, da TV Globo, por sua composição O amor é meu país (em parceria com Ronaldo Monteiro de Souza), de 1970, Ivan Lins foi outro convertido à frente ampla de oposição à ditadura. Já com o parceiro Vitor Martins, ele mandaria entre outros torpedos, como Cartomante, Somos todos iguais nessa noite, Despertar jamais e a brechtiana Aos nossos filhos.

O compositor mineiro Sirlan (Antônio de Jesus), lançado no FIC, de 1972, com Viva Zapátria teve uma história igualmente surrealista. Bem colocado entre as finalistas foi convidado a gravar um disco na Som Livre e todas as suas músicas foram censuradas. No ano seguinte outras 14 foram vetadas e ele acabou desistindo da carreira para sobreviver compondo jingles.
O clima de guerrilha estética da época foi muito bem sintetizado por Maurício Tapajós e Paulo César Pinheiro na sobrevivente Pesadelo, gravada pelo MPB-4, ("você corta um verso/ eu escrevo outro/ você me prende vivo/ eu escapo morto"). Mas, entre tantos casos - só em 1976 de 30.518 letras examinadas, 292 foram proibidas, segundo recenseamentos feitos na abertura dos porões - o mais emblemático é o de Chico Buarque..

De bom moço defensor das tradições da MPB na fase inicial de sua carreira, ele passou a ter problemas a partir da montagem iconoclasta de Zé Celso Martinez Corrêa de sua peça Roda Viva, em 1968, inspirada na música homônima, lançada no festival da Record do ano anterior. O teatro foi invadido por um comando paramilitar do CCC (Comando de Caça aos Comunistas) com espancamento e intimidação dos atores.

Em 1970, seu compacto Apesar de Você já tinha vendido 90 mil cópias quando a Censura despertou para a sátira ao governo Médici embutida na pretensa querela amorosa da letra. Resultado: demissões no órgão, discos recolhidos e uma perseguição feroz ao compositor. Nem o nome de sua peça Calabar (1973) escapou, a ponto da trilha sonora (com vários cortes) receber o título de Chico canta. O disco seguinte, Sinal Fechado, produto de uma profusão de vetos, supostamente só trazia músicas alheias, mas a faixa Acorda amor (a que lançaria a expressão "chame o ladrão"), vinha assinada por nomes inventados, Julinho de Adelaide e Leonel Paiva.

Mais demissões na Censura e uma nova norma obrigando os autores a apresentar o xerox da identidade. No auge, a perseguição ao compositor resultaria em várias detenções sem registro e intimidação constante até o Vai Passar da abertura, precedido pelo escandaloso episódio das bombas no show de 1º de maio no Riocentro. Recentemente, o espectro da ditadura finalmente afastou-se de Chico Buarque quando o Supremo Tribunal Federal deu ganho de causa no processo por danos morais que o empresário Paulo Cesar Ferreira movia contra ele. Chico acusava o então assistente de direção da TV Globo de tê-lo delatado aos militares junto com outros compositores - Tom Jobim, Sérgio Ricardo, Edu Lobo, Paulinho da Viola, Marcos e Paulo Vale - que se recusaram a concorrer ao FIC de 1971, num protesto contra a censura prévia das músicas, e foram todos detidos e levados ao DOPS. Num caso talvez raro no mundo, os legionários do AI-5 não se contentavam em proibir uma música popular tão eficiente e atuante no campo social de seu país. Queriam obrigar os compositores a trabalhar sob suas ordens.

Como ocorreu na política e na economia, o AI-5 mudou o cursor da MPB. A violência institucional quebrou a espinha da chamada linha evolutiva que partia da bossa nova em direção à polifonia estética da era dos festivais e da canção de protesto, reativa ao golpe de 1964. Vale rastrear a trilha para recompor o naco de poder que cabia à MPB da época. Quantos políticos profissionais sofreram o mesmo expurgo?

Edu Lobo emigra para estudar orquestração em Los Angeles, Chico Buarque, na Itália, é convencido a adiar o retorno. Ao mesmo tempo em que se dispersa o núcleo das transformações estéticas, a Censura assume parceria na poética mais engajada da MPB.

A Censura, obviamente, não começou com o AI-5. Antes do macartismo caboclo instalar-se de vez, o pioneiro Chico Buarque teve seu samba Tamandaré tirado de circulação em 1966 por ironizar o almirante da desvalorizada nota de um cruzeiro. Mas foi o AI-5 que promoveu a MPB a inimiga cultural número um do regime militar. Até compositores de linhagem mais romântica como Taiguara foram implacavelmente caçados.

Acusado de alienado na época em que estrelava o programa Som Livre Exportação, da TV Globo, por sua composição O amor é meu país (em parceria com Ronaldo Monteiro de Souza), de 1970, Ivan Lins foi outro convertido à frente ampla de oposição à ditadura. Já com o parceiro Vitor Martins, ele mandaria entre outros torpedos, como Cartomante, Somos todos iguais nessa noite, Despertar jamais e a brechtiana Aos nossos filhos.

O compositor mineiro Sirlan (Antônio de Jesus), lançado no FIC, de 1972, com Viva Zapátria teve uma história igualmente surrealista. Bem colocado entre as finalistas foi convidado a gravar um disco na Som Livre e todas as suas músicas foram censuradas. No ano seguinte outras 14 foram vetadas e ele acabou desistindo da carreira para sobreviver compondo jingles.
O clima de guerrilha estética da época foi muito bem sintetizado por Maurício Tapajós e Paulo César Pinheiro na sobrevivente Pesadelo, gravada pelo MPB-4, ("você corta um verso/ eu escrevo outro/ você me prende vivo/ eu escapo morto"). Mas, entre tantos casos - só em 1976 de 30.518 letras examinadas, 292 foram proibidas, segundo recenseamentos feitos na abertura dos porões - o mais emblemático é o de Chico Buarque.

De bom moço defensor das tradições da MPB na fase inicial de sua carreira, ele passou a ter problemas a partir da montagem iconoclasta de Zé Celso Martinez Corrêa de sua peça Roda Viva, em 1968, inspirada na música homônima, lançada no festival da Record do ano anterior. O teatro foi invadido por um comando paramilitar do CCC (Comando de Caça aos Comunistas) com espancamento e intimidação dos atores.

Em 1970, seu compacto Apesar de Você já tinha vendido 90 mil cópias quando a Censura despertou para a sátira ao governo Médici embutida na pretensa querela amorosa da letra. Resultado: demissões no órgão, discos recolhidos e uma perseguição feroz ao compositor. Nem o nome de sua peça Calabar (1973) escapou, a ponto da trilha sonora (com vários cortes) receber o título de Chico canta. O disco seguinte, Sinal Fechado, produto de uma profusão de vetos, supostamente só trazia músicas alheias, mas a faixa Acorda amor (a que lançaria a expressão "chame o ladrão"), vinha assinada por nomes inventados, Julinho de Adelaide e Leonel Paiva.

Mais demissões na Censura e uma nova norma obrigando os autores a apresentar o xerox da identidade. No auge, a perseguição ao compositor resultaria em várias detenções sem registro e intimidação constante até o Vai Passar da abertura, precedido pelo escandaloso episódio das bombas no show de 1º de maio no Riocentro. Recentemente, o espectro da ditadura finalmente afastou-se de Chico Buarque quando o Supremo Tribunal Federal deu ganho de causa no processo por danos morais que o empresário Paulo Cesar Ferreira movia contra ele. Chico acusava o então assistente de direção da TV Globo de tê-lo delatado aos militares junto com outros compositores - Tom Jobim, Sérgio Ricardo, Edu Lobo, Paulinho da Viola, Marcos e Paulo Vale - que se recusaram a concorrer ao FIC de 1971, num protesto contra a censura prévia das músicas, e foram todos detidos e levados ao DOPS. Num caso talvez raro no mundo, os legionários do AI-5 não se contentavam em proibir uma música popular tão eficiente e atuante no campo social de seu país. Queriam obrigar os compositores a trabalhar sob suas ordens.

CONHEÇA NA ÍNTEGRA o AI-5:

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL , ouvido o Conselho de Segurança Nacional, e

CONSIDERANDO que a Revolução brasileira de 31 de março de 1964 teve, conforme decorre dos Atos com os quais se institucionalizou, fundamentos e propósitos que visavam a dar ao País um regime que, atendendo às exigências de um sistema jurídico e político, assegurasse autêntica ordem democrática, baseada na liberdade, no respeito à dignidade da pessoa humana, no combate à subversão e às ideologias contrárias às tradições de nosso povo, na luta contra a corrupção, buscando, deste modo, "os. meios indispensáveis à obra de reconstrução econômica, financeira, política e moral do Brasil, de maneira a poder enfrentar, de modo direito e imediato, os graves e urgentes problemas de que depende a restauração da ordem interna e do prestígio internacional da nossa pátria" (Preâmbulo do Ato Institucional nº 1, de 9 de abril de 1964);

CONSIDERANDO que o Governo da República, responsável pela execução daqueles objetivos e pela ordem e segurança internas, não só não pode permitir que pessoas ou grupos anti-revolucionários contra ela trabalhem, tramem ou ajam, sob pena de estar faltando a compromissos que assumiu com o povo brasileiro, bem como porque o Poder Revolucionário, ao editar o Ato Institucional nº 2, afirmou, categoricamente, que "não se disse que a Resolução foi, mas que é e continuará" e, portanto, o processo revolucionário em desenvolvimento não pode ser detido;

CONSIDERANDO que esse mesmo Poder Revolucionário, exercido pelo Presidente da República, ao convocar o Congresso Nacional para discutir, votar e promulgar a nova Constituição, estabeleceu que esta, além de representar "a institucionalização dos ideais e princípios da Revolução", deveria "assegurar a continuidade da obra revolucionária" (Ato Institucional nº 4, de 7 de dezembro de 1966);

CONSIDERANDO, no entanto, que atos nitidamente subversivos, oriundos dos mais distintos setores políticos e culturais, comprovam que os instrumentos jurídicos, que a Revolução vitoriosa outorgou à Nação para sua defesa, desenvolvimento e bem-estar de seu povo, estão servindo de meios para combatê-la e destruí-la;

CONSIDERANDO que, assim, se torna imperiosa a adoção de medidas que impeçam sejam frustrados os ideais superiores da Revolução, preservando a ordem, a segurança, a tranqüilidade, o desenvolvimento econômico e cultural e a harmonia política e social do País comprometidos por processos subversivos e de guerra revolucionária;

CONSIDERANDO que todos esses fatos perturbadores, da ordem são contrários aos ideais e à consolidação do Movimento de março de 1964, obrigando os que por ele se responsabilizaram e juraram defendê-lo, a adotarem as providências necessárias, que evitem sua destruição,

Resolve editar o seguinte

ATO INSTITUCIONAL

Art 1º - São mantidas a Constituição de 24 de janeiro de 1967 e as Constituições estaduais, com as modificações constantes deste Ato Institucional.

Art 2º - O Presidente da República poderá decretar o recesso do Congresso Nacional, das Assembléias Legislativas e das Câmaras de Vereadores, por Ato Complementar, em estado de sitio ou fora dele, só voltando os mesmos a funcionar quando convocados pelo Presidente da República.

§ 1º - Decretado o recesso parlamentar, o Poder Executivo correspondente fica autorizado a legislar em todas as matérias e exercer as atribuições previstas nas Constituições ou na Lei Orgânica dos Municípios.

§ 2º - Durante o período de recesso, os Senadores, os Deputados federais, estaduais e os Vereadores só perceberão a parte fixa de seus subsídios.

§ 3º - Em caso de recesso da Câmara Municipal, a fiscalização financeira e orçamentária dos Municípios que não possuam Tribunal de Contas, será exercida pelo do respectivo Estado, estendendo sua ação às funções de auditoria, julgamento das contas dos administradores e demais responsáveis por bens e valores públicos.

Art 3º - O Presidente da República, no interesse nacional, poderá decretar a intervenção nos Estados e Municípios, sem as limitações previstas na Constituição.

Parágrafo único - Os interventores nos Estados e Municípios serão nomeados pelo Presidente da República e exercerão todas as funções e atribuições que caibam, respectivamente, aos Governadores ou Prefeitos, e gozarão das prerrogativas, vencimentos e vantagens fixados em lei.

Art 4º - No interesse de preservar a Revolução, o Presidente da República, ouvido o Conselho de Segurança Nacional, e sem as limitações previstas na Constituição, poderá suspender os direitos políticos de quaisquer cidadãos pelo prazo de 10 anos e cassar mandatos eletivos federais, estaduais e municipais.

Parágrafo único - Aos membros dos Legislativos federal, estaduais e municipais, que tiverem seus mandatos cassados, não serão dados substitutos, determinando-se o quorum parlamentar em função dos lugares efetivamente preenchidos.

Art 5º - A suspensão dos direitos políticos, com base neste Ato, importa, simultaneamente, em:

I - cessação de privilégio de foro por prerrogativa de função;

II - suspensão do direito de votar e de ser votado nas eleições sindicais;

III - proibição de atividades ou manifestação sobre assunto de natureza política;

IV - aplicação, quando necessária, das seguintes medidas de segurança:

a) liberdade vigiada;

b) proibição de freqüentar determinados lugares;

c) domicílio determinado,

§ 1º - o ato que decretar a suspensão dos direitos políticos poderá fixar restrições ou proibições relativamente ao exercício de quaisquer outros direitos públicos ou privados.

§ 2º - As medidas de segurança de que trata o item IV deste artigo serão aplicadas pelo Ministro de Estado da Justiça, defesa a apreciação de seu ato pelo Poder Judiciário.

Art 6º - Ficam suspensas as garantias constitucionais ou legais de: vitaliciedade, mamovibilidade e estabilidade, bem como a de exercício em funções por prazo certo.

§ 1º - O Presidente da República poderá mediante decreto, demitir, remover, aposentar ou pôr em disponibilidade quaisquer titulares das garantias referidas neste artigo, assim como empregado de autarquias, empresas públicas ou sociedades de economia mista, e demitir, transferir para a reserva ou reformar militares ou membros das polícias militares, assegurados, quando for o caso, os vencimentos e vantagens proporcionais ao tempo de serviço.

§ 2º - O disposto neste artigo e seu § 1º aplica-se, também, nos Estados, Municípios, Distrito Federal e Territórios.

Art 7º - O Presidente da República, em qualquer dos casos previstos na Constituição, poderá decretar o estado de sítio e prorrogá-lo, fixando o respectivo prazo.

Art 8º - O Presidente da República poderá, após investigação, decretar o confisco de bens de todos quantos tenham enriquecido, ilicitamente, no exercício de cargo ou função pública, inclusive de autarquias, empresas públicas e sociedades de economia mista, sem prejuízo das sanções penais cabíveis.

Parágrafo único - Provada a legitimidade da aquisição dos bens, far-se-á sua restituição.

Art 9º - O Presidente da República poderá baixar Atos Complementares para a execução deste Ato Institucional, bem como adotar, se necessário à defesa da Revolução, as medidas previstas nas alíneas d e e do § 2º do art. 152 da Constituição.

Art 10 - Fica suspensa a garantia de habeas corpus , nos casos de crimes políticos, contra a segurança nacional, a ordem econômica e social e a economia popular.

Art 11 - Excluem-se de qualquer apreciação judicial todos os atos praticados de acordo com este Ato institucional e seus Atos Complementares, bem como os respectivos efeitos.

Art 12 - O presente Ato Institucional entra em vigor nesta data, revogadas as disposições em contrário.

Brasília, 13 de dezembro de 1968; 147º da Independência e 80º da República.

A. COSTA E SILVA
Luís Antônio da Gama e Silva
Augusto Hamann Rademaker Grünewald
Aurélio de Lyra Tavares
José de Magalhães Pinto
Antônio Delfim Netto
Mário David Andreazza
Ivo Arzua Pereira
Tarso Dutra
Jarbas G. Passarinho
Márcio de Souza e Mello
Leonel Miranda
José Costa Cavalcanti
Edmundo de Macedo Soares
Hélio Beltrão
Afonso A. Lima
Carlos F. de Simas


Fonte: Acervoditadura.rs.gov.br

LinkWithin