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Em novo canal no Youtube, Bruno Negromonte apresenta em informais conversas os mais distintos temas musicais.

quarta-feira, 30 de setembro de 2020

BAÚ DO MUSICARIA




A exatamente cinco anos, esta era uma das matérias que estava sendo publicada em mês como este em nosso espaço:



Link para relembrar a matéria:

BANDA DE PERNAMBUCO OFERECE EXPERIÊNCIA SENSORIAL AO PÚBLICO

Experimento musical criado pelo grupo Estesia resgata memórias e emoções da plateia por meio de sessões individuais, realizadas via aplicativos ou prosaicas ligações telefônicas



Banda Estesia propõe uma nova forma de levar arte ao público, subvertendo o formato das lives durante esta pandemia (foto: Deborah Barros/divulgação)

Um lugar confortável, luz desligada, fones a postos, celular carregado e conectado com a internet. Esses são os pré-requisitos para começar a experiência Estesia 1pra1, desenvolvida pelo grupo musical pernambucano Estesia. O projeto é realizado de forma individual – um integrante do grupo, durante 30 minutos, conduz o espectador a uma viagem por meio de memórias, emoções e sensações. O “meio de transporte” pode ser YouTube, WhatsApp, e-mail ou uma simples ligação telefônica.

“Cada vez mais, temos usado as redes sociais. Sinto que estamos construindo redes de afeto por meio delas e é interessante desvirtuar um pouco essas plataformas. É como se disséssemos: vamos fazer arte de qualquer forma”, afirma Tom BC, integrante do Estesia.


MESMICE

O projeto foi criado com a intenção de fugir dos formatos de apresentação musical disseminados durante a quarentena. “Tínhamos vontade de usar plataformas diferentes para não cair na mesmice das lives”, explica Tom.

O grupo busca a proximidade, apesar do distanciamento imposto pela pandemia. “Decidimos construir algo que usasse as redes sociais para compartilhar o nosso trabalho artístico e o afeto de estar presente”, afirma o artista. As sessões da experiência Estesia 1pra1 custam R$ 25. Até este sábado (8), elas podem ser agendadas no Instagram da banda.

Já na terceira temporada, o experimento atraiu pessoas de 29 cidades brasileiras, além de espectadores nos Estados Unidos, Uruguai e Alemanha. A experiência é conduzida por Tom BC, Carlos Filho, Cleison Ramos e Miguel Mendes.

“É estranho, um misto de emoções. Desgasta um pouco a gente, pois você está expondo suas memórias e compartilhando coisas íntimas com pessoas que não conhece. Ao mesmo tempo, é muito gratificante”, conta Tom.

O grupo Estesia foi criado em 2016, no Recife, com o propósito de fazer apresentações musicais diferenciadas. 1pra1 se inspirou no projeto Tudo que coube numa VHS: Experimento sensorial em confinamento, da companhia de teatro Magiluth, também de Pernambuco.

“Olhei (o projeto do Magiluth) e falei: poxa, tem uma coisa diferente aí. Tentamos contar as memórias através da música. Não só as memórias, mas também as sensações”, comenta Tom, garantindo que cada sessão é uma nova descoberta.

“O público também divide suas memórias pessoais com a gente. Algumas pessoas torturadas na ditadura, por exemplo, compartilharam as memórias daquela época. Fico feliz de uma coisa tão pessoal afetar as pessoas, de elas responderem de forma tão pessoal”, diz Tom.

No primeiro momento, o pernambucano ficou em dúvida sobre a eficácia da experimentação. “Pensei: Será que alguém vai se identificar? Vi que sim, as questões que compartilhamos são iguais para todos. Não imaginava o quanto aquilo que produzimos afetaria as pessoas de formas diferentes”, comemora Tom.

A resposta do público é um incentivo, revela o integrante do Estesia. “O feedback está sendo bem maior do que se fôssemos fazer uma live.”


FALHAS

Aplicativos e plataformas conectados à internet obrigaram o grupo a lidar com imprevistos durante as apresentações. “Falhas técnicas acontecem. A mais comum é a ligação do telemarketing. De vez em quando, acontece de a pessoa não conseguir receber ou não aceitar. Também ocorre da pessoa não ter o aplicativo baixado (YouTube e WhatsApp). É como no palco, vamos contornando os imprevistos”, revela Tom BC. 

O músico confessa sentir saudades dos espetáculos presenciais, inviabilizados pela pandemia da COVID-19. “Nunca me considerei alguém que sente a falta de pessoas. Mas nesses últimos tempos tenho sentido necessidade do calor humano, dos corpos, de ter pessoas ao redor. Sinto falta de simplesmente estar ao lado de uma multidão”, conclui.


ESTESIA 1PRA1
. Projeto do grupo Estesia
. R$ 25
. Agendamentos até este sábado (8) pelo Instagram (@estesiaestesia) ou WhatsApp: (81) 99473-5552


Fonte: Estado de Minas

terça-feira, 29 de setembro de 2020

LENDO A CANÇÃO

Por Leonardo Davino*


Retalhos de cetim

Sabe lá o que é preparar uma escola para entrar na avenida e a musa não aparecer? Pois foi exatamente isso que aconteceu ao sujeito de "Retalhos de cetim", de Benito di Paula. Ele ensaiou o ano inteiro para se mostrar (entregar-se) à ela: e ela não desfilou.
A cabrocha (agregando elementos de sensualidade, vitalidade, etnia e ginga) carrega a cadência do coração da escola. É ela (corpo e graça) quem estimula a criatividade de quem faz do carnaval a maior festa da raça brasileira. Ela é a alegria do morro que se oferece ao asfalto.
Na primeira parte da letra o sujeito descreve os passos ao caminho da apoteose: investimentos e expectativas: ensaios, sambas, instrumentos e fantasias. Ele revela o esforço físico de dormir sobre retalhos de cetim (as sobras do luxo) para que a escola tivesse as finanças da beleza. A descrição serve para estabelecer a empatia no ouvinte para o que virá.
O problema é que no meio do caminho tinha uma pedra: a adversativa "mas": e tudo muda a partir do uso do "mas". A musa mentiu: jurou e não foi. Agora, dentro do sujeito, todo o ano é tempo perdido. Tudo é em vão quando o objetivo não é atingido. Aqui, o fim não justificou os meios.
"Retalhos de cetim" já recebeu boas interpretações. A versão do grupo Casuarina, registrada no disco Samba Social Clube Vol. 2 (2009), investe no estado de fracasso íntimo da voz que canta. A mensagem da letra encontra amparo temático na melodia. Os instrumentos (destaque para a cuíca) parecem sofrer tanto quanto a voz.
Importa perceber que todos os verbos estão conjugados no passado, restando a certeza de que, se até o amor pela cabrocha passou, ao menos, a escola estava bonita e o carnaval aconteceu. Eis o derradeiro consolo possível para o sujeito sem a alegria que viria da contrapartida da presença da musa.
A tristeza individual contrasta com a alegria do carnaval ao redor. O sujeito concentra em si o núcleo duro da festa: o quanto cada um precisa ceder para que o show não páre. A escola estar bonita é tudo o que interessa, mesmo que por trás do brilho haja - e há - muito desamparo. Afinal, é quando tem os olhos furados que o assum preto canta melhor. Resta ao sujeito mentir a própria dor para que todo mundo suponha que ele é feliz.


***

Retalhos de cetim
(Benito Di Paula)

Ensaiei meu samba o ano inteiro,
Comprei surdo e tamborim
Gastei tudo em fantasia,
Era só o que eu queria
E ela jurou desfilar pra mim

Minha escola estava tão bonita
Era tudo o que eu queria ver,
Em retalhos de cetim
Eu dormi o ano inteiro,
E ela jurou desfilar pra mim

Mas chegou o carnaval,
E ela não desfilou,
Eu chorei na avenida, eu chorei
Não pensei que mentia
A cabrocha que eu tanto amei




* Pesquisador de canção, ensaísta, especialista e mestre em Literatura Brasileira pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e doutor em Literatura Comparada, Leonardo também é autor do livro "Canção: a musa híbrida de Caetano Veloso" e está presente nos livros "Caetano e a filosofia", assim como também na coletânea "Muitos: outras leituras de Caetano Veloso". Além desses atributos é titular dos blogs "Lendo a canção", "Mirar e Ver", "365 Canções".

BIOGRAFIA REVELA A ARTE SINGULAR DO MÚSICO CARIOCA LUIZ MELODIA

Escrito por Toninho Vaz, biógrafo de Paulo Leminski e Zé Rodrix, livro aborda o precioso legado que o autor de 'Pérola negra' e 'Juventude transviada' deixou para a MPB

Por Augusto Pio 



Arredio à ideia de celebridade. Assim era Luiz Melodia (1951-2017), nas palavras do jornalista e escritor paranaense Toninho Vaz, que acaba de lançar a biografia do cantor e compositor carioca. O livro traz a trajetória do menino criado no Morro de São Carlos, no Rio de Janeiro, que conquistou o Brasil com sua voz, musicalidade e poesia. Vaz mostra também um homem sensível e complexo, às voltas com problemas com as drogas e o álcool, que enfrentou o racismo.

Luiz Melodia era uma das vozes mais talentosas da geração de músicos surgida no fim dos anos 1960, afirma o jornalista. “Ele desceu o morro, amadrinhado pela cantora Gal Costa e sob as bênçãos dos amigos Hélio Oiticica, Waly Salomão e Torquato Neto. Conseguiu ocupar lugar de destaque na MPB como compositor inventivo e poético, nos brindando com joias como Pérola negra, Estácio, holly Estácio e Juventude transviada, entre outras canções.”

Em Meu nome é ébano – A vida e a obra de Luiz Melodia, o jornalista aborda a complexa personalidade do artista, autor de cancioneiro sofisticado e singular, que se desentendeu com as então poderosas gravadoras para defender a essência de sua obra. Recusou-se a fazer disco de samba, como uma delas planejava. Rebelde, ganhou a pecha de “maldito”, clichê que o acompanhou por anos.

Críticos apontam que sua música era “inclassificável”, mesclando samba, rock, soul, blues e jazz. Há quem diga que o compositor do Morro de São Carlos inventou o “samba-blues carioca”.

Vaz destaca a postura independente de Melodia, que teve problemas com álcool e drogas. Negro, enfrentou o racismo – nas ruas e em shows. Elegante e sedutor, impressionava as mulheres. Com a capixaba Beatriz Saldanha teve o filho Hiran, advogado. Com a baiana Jane, com quem se relacionou de 1977 até morrer, teve Mahal Reis, rapper.


(foto: Acervo pessoal)


Vizinho

Vaz diz que não conheceu “o Melodia”, mas “o Luiz”, seu vizinho. “Na verdade, não foi um amigo meu. Pude estar com ele apenas duas vezes, sendo que a primeira superficialmente, quando cheguei ao Rio de Janeiro. Ele estava morando em Santa Teresa, perto de onde eu fui morar.”

Vaz viu Melodia pela primeira vez da janela de sua casa. Os dois foram apresentados por um conhecido. “Ele disse: 'Amigo, esse aqui é o jornalista Toninho Vaz, agora nosso vizinho’. Luiz apenas acenou e deu um sorriso. Alguns anos depois, em 2003, eu o entrevistei no palco do Canecão. Foi um encontro maior, que durou por volta de meia hora. A entrevista era para a biografia do Torquato Neto que eu estava escrevendo”, relembra, referindo-se ao poeta e compositor piauiense, pioneiro do Tropicalismo, que se matou aos 28 anos, em 1972. “Melodia era tido como uma descoberta do próprio Torquato e também do Waly Salomão”, informa.

Vaz também chegou ao autor de Juventude transviada por meio do violonista Renato Piau – os dois tocaram juntos por cerca de 40 anos. “Piau frequentava a minha casa em Santa Teresa, era meu amigo desde o final do século passado. Certo dia, ele nos apresentou”, conta.


Missa

Melodia morreu aos 66 anos, em 4 de agosto de 2017, de câncer. “Em 4 de agosto de 2018, Renato virou-se para mim e disse: 'Vamos amanhã à missa de um ano de falecimento do Luiz, lá na igreja de São Conrado’. Fomos. Depois da missa, ele me apresentou à viúva e fomos até a casa dela. Lá, Piau disse: ‘Jane, se um dia você for fazer a biografia do Luiz, aqui está a pessoa certa’.”

A biografia levou dois anos para ficar pronta. “Cheguei a fazer 64 entrevistas durante um ano, e depois fiquei 10 meses escrevendo o texto.” Toninho Vaz informa que a família lhe deu total liberdade para escrever. “Jane nunca me censurou. Aliás, nunca quis saber de nada, nem mesmo leu os originais, uma confiança total. Para mim, é inestimável esse tipo de liberdade”, afirma o jornalista.

Situação bem diferente daquela vivida por ele com o livro Paulo Leminski, o bandido que sabia latim. Em 2001, a biografia foi lançada pela Editora Record, com elogios da crítica. As herdeiras do poeta vetaram a quarta edição, em 2013, já pela editora Nossa Cultura. “A família resolveu que não iria deixar eu ter lucro sozinho. Como se tivesse lucro com esse tipo de livro”, comenta Vaz. “Leminski era muito próximo de mim, eu vivia bebendo naquela fonte de sabedoria.”

A viúva de Leminski, a poeta Alice Ruiz, e as filhas dele, Estrela e Aurea, alegaram que a nova edição incluíra um novo parágrafo, não autorizado por elas, abordando o suicídio do irmão de Leminski, explorando indevidamente um fato trágico e violando o direito à intimidade garantido pela Constituição. Vaz contestou as herdeiras, mas o livro não ganhou novas edições.


Contracultura

Fruto da geração da contracultura, o jornalista paranaense também escreveu biografias de Torquato Neto e do cantor e compositor Zé Rodrix.

“Eu era próximo do poeta Torquato Neto, enquanto Zé Rodrix foi o (biografado) que menos conheci pessoalmente. Também escrevi a história da Pensão Solar da Fossa”, comenta Toninho Vaz, referindo-se à pensão em Botafogo, onde, nos anos 1960/1970, moraram os jovens Caetano Veloso, Gal Costa, Tim Maia, Paulo Coelho e Paulo Leminski. Frequentavam o casarão Lenny Dale, Milton Nascimento, Hélio Oiticica e Paulinho da Viola. Dali a poucos anos, moradores e visitantes se transformaram em expoentes da cultura brasileira.

“Gosto muito desse livro. Na época do Solar, explodiram Gil, Caetano, Tropicalismo, Sá, Rodrix e Guarabyra, aquela coisa do final dos anos 1960. Tudo aconteceu num cenário do Rio que já não existe mais”, diz Toninho.

Além de Paulo Leminski, o bandido que sabia latim, o jornalista paranaense lançou Pra mim chega, a biografia de Torquato Neto (Casa Amarela, 2004), Darcy Ribeiro – Nomes que honram o Senado (Editora Senado, 2005), Santa Edwiges, a santa libertária (Objetiva, 2005), 90 anos de cinema – A história do Grupo Severiano Ribeiro (Record, 2007), O rei do cinema – A extraordinária história de Luiz Severiano Ribeiro (Record, 2007), Solar da Fossa (Casa da Palavra, 2011) e O fabuloso Zé Rodrix (Olhares, 2017).


MEU NOME É ÉBANO
A VIDA E A OBRA
DE LUIZ MELODIA
De Toninho Vaz
Editora Tordesilhas
336 páginas
A partir de R$ 38,50

segunda-feira, 28 de setembro de 2020

PAUTA MUSICAL: “DAS ROSAS” – JAIRO SEVERIANO

Por Laura Macedo




Neste post destacaremos matéria publicada por Jairo Severiano em sua Página no Facebook, enfocando a temática “Das Rosas”.

“Nada como ser Rosa na vida, Rosa mesmo ou mesmo Rosa mulher… canta mestre Caymmi em ‘Das Rosas’, que é samba na primeira parte e valsa na segunda, sucesso em 1965. Na verdade, como flor ou como mulher, no singular ou no plural, as Rosas estão nos títulos de mais de 600 canções brasileiras, de autoria de 346 compositores, gravadas em 3019 fonogramas por 131 intérpretes, conforme registra o Instituto Memória Musical Brasileira”.

“Das Rosas” (Dorival Caymmi) # Dorival Caymmi / Radamés Gnattali [arranjos] / Depoimentos de Tom Jobim, Carybé, Jorge Amado e Caetano Veloso. Disco Duplo. Lançamento: Fundação Emilio Odebrecht, 1985.


Projeto idealizado e coordenado pelos pesquisadores JAIRO SEVERIANO, Marília T. Barboza e Vera de Alencar. Produtor Fonográfico: Sargaço Produções Artísticas. Direção de Produção: JAIRO SEVERIANO. Produção Artística: Dorival Caymmi e Aluísio Didier. Projeto Gráfico: Salvador Monteiro. Desenho: Dorival Caymmi. Fotos: Claus Meyer e Josemar Ferrari. Estúdio: Transamérica. Técnico de Gravação e Mixagem: Aníbal Félix. Técnico de Montagem: Wilson Medeiros. Supervisor Musical: Radamés Gnattali. A música “Caymmiana” foi composta por Radamés Gnattali em cima de temas de Dorival Caymmi.

No disco 1, Dorival Caymmi canta suas canções acompanhando-se ao violão. No disco 2, Dorival Caymmi é acompanhado pela orquestra (com exceção da faixa “Sargaço mar”, em que se acompanha ao violão).

Este LP integra o projeto “Caymmi Som Imagem Magia” que, patrocinado pela Fundação Emílio Odebrecht, lançou também um livro biografia em homenagem à Dorival Caymmi.


Além de Caymmi, autor também do samba “Rosa morena“, as rosas inspiraram compositores como Pixinguinha (a valsa “Rosa”), Custódio Mesquita e Evaldo Ruy (“Rosa de maio”), Cartola (“As Rosas não falam”), Lupicínio (“Maria Rosa”), Paulinho da Viola e Hermínio Bello de Carvalho (“Rosa de ouro”), Caetano (“Rosa vermelha”), Lamartine Babo (“Rosinha”), as três rosas de Braguinha – “Rosa tirana”, com Alberto Ribeiro, “Rosa vermelha”, com Alcir Pires Vermelho e “Rosas para colombina”, dele sozinho -, a nada romântica “Rosa dos ventos”, de Chico Buarque, e outras mais, além de belos versos como “hoje, eu quero a ROSA mais linda que houver e a primeira estrela que vier para enfeitar a noite do meu bem…” de Dolores Duran. (Texto: Jairo Severiano).

“Rosa” (Alfredo Viana [Pixinguinha]/Otávio de Souza[letra]) # Orlando Silva. Disco Victor (34.181-B) / Matriz (80424). Gravação (28/05/1937) / Lançamento (julho/1937).

“Rosa morena” (Dorival Caymmi) # Anjos do Inferno. Disco Columbia (55.380-B) / Matriz (556). Gravação (04/09/1942) / Lançamento (outubro/1942).

“Rosa de maio” (Custódio Mesquita/Evaldo Ruy) # Carlos Galhardo. Disco RCA Victor (80.075-A) / Matriz (S-052932). Lançamento (abril/1944).

“As rosas não falam” (Cartola) # Cartola. Álbum: ‘Tributo a Marcus Pereira’, 1982.

“Maria Rosa” (Lupicínio Rodrigues/Alcides Gonçalves) # Francisco Alves e Orquestra. Disco Odeon (13.001-B) / Matriz (8605). Gravação (12/12/1949) / Lançamento (maio/1950).

“Rosa de Ouro” (Elton Medeiros/Hermínio Bello de Carvalho/Paulinho da Viola) # Paulinho da Viola e Os Quatro Crioulos. ‘A Música Brasileira deste século por seus autores e intérpretes’. Selo SESC/São Paulo, 2001.

“Rosa vermelha” (Caetano Veloso) # Ronnie Von com participação de Caetano Veloso.

“Rosa tirana” (Alberto Ribeiro/João de Barro) # Déo. Disco Continental (15.975-B) / Matriz (1993). Gravação (26/10/1948) / Lançamento (janeiro/1949).

“Rosas dos Ventos” (Chico Buarque) # Chico Buarque. Disco ‘Chico Buarque de Holanda’, nº 04/1970 [Gravado durante exílio em Roma]. Segundo matéria do Jornal da Tarde [SP] os arranjadores são: Erlon Chaves, César Camargo Mariano e Magro (MPB-4).

Amigo Jairo como não encontrei todas as suas “Rosas” citadas, agrego mais algumas:

“Rosa” (Ary Barroso) # Jorge Veiga e Conjunto. Disco Copacabana (5.642-A) / Matriz (M-1642). Lançamento (1956).

“Dias das Rosas” (Maria Helena Toledo/Luiz Bonfá) # Maysa. Álbum ‘Canecão apresenta Maysa’, 1969.

“O amor e a rosa” (João Pernambuco/Antônio Maria) # Elizeth Cardoso e Moacyr Silva. Álbum ‘Sax Voz’, 1960.

“O vento e a Rosa” (Assis Valente) # Clara Nunes. Coleção ‘Folha Raízes’, 1969.

Encerro com a sua magistral sugestão dos belos versos de Dolores Duran:

“Hoje, eu quero a ROSA mais linda que houver e a primeira estrela que vier para enfeitar a noite do meu bem…”

“A noite do meu bem” (Dolores Duran) # Dolores Duran. Disco Copacabana (6.069-A) / Matriz (M-2551). Lançamento (dezembro/1959).


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Fontes:
– Áudios Sound Cloud: Laura Macedo
– Fotomontagem: Laura Macedo.
– Site YouTube/Canais: “Daniel Lunardelli” / “Petterson Publisher” / “505damush” / “Antonio Bocaiúva” / “luciano hortencio” / “amigovelho1000” / “alfeuRIO” / “Bregão do Galvão” / “Nilton Victorino Filho” / “Hevelise”.
– Site #radinha: Áudios.
– Textos Jairo Severiano.

ROSA PASSOS LEVA TODA A SUA BOSSA PARA O INSTAGRAM

Na sala de casa, violonista e compositora baiana reinventa clássicos da música brasileira

Por Augusto Pio


Do sofá de sua casa, em Brasília, onde posou para esta foto em 2011, Rosa Passos enfrenta a pandemia com talento e boa música (foto: Daniel Ferreira/CB/D.A Press)


Um cantinho, um violão – e que violão! Assim são as performances com que a cantora, compositora e violonista Rosa Passos brinda os ouvintes no Instagram. Artista de renome internacional, a baiana radicada em Brasília já tinha o hábito de “cantar on-line” muito antes de o coronavírus trancar público e artistas em casa. “Não gosto de fazer live. Normalmente, faço um vídeo cantando uma música que dedico aos meus fãs”, ela explica.

A cantora, aliás, já faz isso há 10 anos. “É engraçado, porque tem muita gente descobrindo a Rosa Passos agora. Fico feliz, há pessoas colocando meus vídeos antigos e compartilhando em suas páginas. Artistas como Djavan e Hamilton de Holanda sempre deixam likes nos meus vídeos. Sinal de que estão gostando, né?”, comenta.

O repertório de Rosa traz clássicos de Dorival Caymmi, Djavan, Edu Lobo, João Bosco, Gil e Caetano, entre outros compositores. “Às vezes, vou lá ao passado e busco coisas antigas, como canções imortalizadas nas vozes de Sylvio Caldas e Maysa. Pego coisas antigas que ninguém nunca mais cantou e coloco a minha assinatura. Isso é bom para os fãs poderem passar a quarentena felizes, ouvindo música boa”, diz.

Porém, nada é “mais do mesmo” em se tratando de Rosa Passos. Com seu violão, ela dá nova vida a canções que todo mundo já se cansou de ouvir. “Gosto de pegar músicas que gravei e fazer a minha leitura, uma coisa mais com a minha cara”, explica.

Além das performances domésticas no Instagram, ela tem participado das lives de outras cantoras – entre elas, Teresa Cristina, Vanessa Moreno e Mônica Salmaso. Feliz da vida, conta que amou cantar Juras, composta por ela e Fernando Oliveira, em dueto com Mônica, na quinta-feira passada. Deram um show – vozes e violão, um luxo só. Hamilton de Holanda, Zé Maurício Machline e Roberta Campos, entre outros, enviaram aplausos virtuais para a dupla.

A baiana também costuma fazer intercâmbio com músicos amigos que moram fora do país. “É bom poder gravar com pessoas distantes, principalmente tocando música brasileira. Esta pandemia está fazendo com que a gente, de alguma forma, se movimente”, acredita a cantora.


FÉRIAS

O isolamento social não representa um drama para ela. “Sempre gostei de ficar em casa, porque viajei muito. Para mim, minha casa significava férias. Não tenho nenhum problema em ficar aqui. Nesta pandemia, estudo mais ainda. Além disso, poder fazer música para as pessoas curtirem é muito bom”, diz Rosa, por telefone, de Brasília.

Atualmente, a vida está mais sossegada. Quando o isolamento social foi decretado, ela não se viu obrigada a adiar shows, pois acabara de operar o joelho. “Tive de dar um tempo para a recuperação. Agora vou operar o outro, devo ficar parada por mais uns tempos. Portanto, ainda não há data prevista para voltar ao palco. Enquanto isso, vou compondo, gravando e postando vídeos”, diz ela.

A rotina é radicalmente diferente da correria de outros tempos. “Viajei durante nove anos sem parar. Tinha escritórios na Espanha e nos Estados Unidos, minha agenda era fechada oito meses antes. Para conseguir fazer carreira lá fora, é preciso trabalhar como formiguinha, ter algum diferencial, uma assinatura. Caso contrário, não se chega a lugar nenhum. Não é só pegar o violão e sair cantando em bares, é muito mais que isso”, comenta.

Rosa lançou 20 discos, entre eles trabalhos em parceria com o americano Ron Carter, o cubano Paquito D'Rivera, o francês Henri Salvador, o japonês Sadao Watanabe e o violoncelista sino-americano Yo-Yo Ma. Ao lado desse último, ela ganhou o prêmio Grammy, em 2004, por sua coparticipação no disco Obrigado Brazil. No país, ela trabalhou com Chico Buarque, Ivan Lins e Cyro Baptista, entre outros.

Yo-Yo Ma é parceiro importante para a carreira de Rosa. “Com o Obrigado Brazil, fomos para a Europa, Estados Unidos e Ásia. Ele é uma das pessoas mais competentes que conheci. Sempre digo para ele: ‘Como você é lindo, pois é um dos maiores violoncelistas do mundo e tem essa humildade’. E ele responde: 'Mas você também é assim. Fazemos parte da mesma tribo e poucos podem fazer parte dela’.”


JOÃO

A cantora e violonista conta que suas maiores influências vieram de João Gilberto e do cantor norte-americano Johnny Mathis. “Mas também de divas como Ella Fitzgerald, Billie Holiday, Sarah Vaughan, Nina Simone e Julie London.”

Criança, Rosa estudava piano. Mas um disco mudou sua vida. “Ao completar 11 anos, ouvi Orfeu do carnaval, que trazia músicas de Tom Jobim e Vinicius de Moraes interpretadas por João Gilberto. Foi como um toque de mágica. Ouvindo João tocando A felicidade, pensei comigo: 'O que é isto?'. Fiquei tão apaixonada que ouvi o disco por vários dias seguidos.”

A partir daquele momento, ela passou a “estudar” João Gilberto. Nasceu assim a cantora e violonista que fez fama por ter seu próprio estilo. “João foi uma grande fonte da minha vida. Comecei a tirar sozinha as músicas dele. Aprendi a questão da divisão, da dinâmica e da respiração, coisas importantes. Principalmente, a educação respiratória, fundamental quando se canta”, explica. Outras lições vieram do jazz. “Escuto jazz desde os 5 anos”, diz. “A música é de Deus, eu sou um instrumento canalizador da luz divina.”

Consciente de seu dom, a baiana se diz fruto da conjugação de esforço e talento. “É preciso aliar as duas coisas. Procuro ouvir jazz e estudar o instrumento. Quando faço um vídeo, busco estudar a música e fazer a minha leitura. Para que a coisa flua, é preciso associar talento e estudo. Em minhas gravações, gosto de deixar a minha assinatura, que vem lá de dentro, mas também é uma coisa de Deus.”


HONRA

Chamada de “João Gilberto de saias”, a baiana diz que o apelido “é uma honra”, mas pondera: ele traz muita responsabilidade. “João é João, nunca aparecerá outro igual. Eu sou Rosa Passos e também faço música brasileira de qualidade, tanto é que sou considerada uma artista jazzística no país do jazz (Estados Unidos), e não uma cantora latina”, orgulha-se.

Rosa faz questão de ressaltar que participa de festivais na Europa, EUA e América Latina porque seu trabalho tem conotação jazzística. “Mas isso sem perder a brasilidade e o suingue”, avisa.


ROSA PASSOS

Os vídeos da cantora e violonista podem ser conferidos no Instagram (@rosamariapassos)

domingo, 27 de setembro de 2020

BONDE ALEGRIA - CÉLIA VAZ

BEBEL CONTOU EM MÚSICA COMO FOI SUA RELAÇÃO COM O PAI

Cantora compôs 'O que não foi dito', na qual teve 'coragem' para falar do significado de João Gilberto em sua vida. Música está no álbum 'Agora', que sai neste mês

Por Mariana Peixoto 


Depois de décadas radicada em Nova York, a cantora voltou a viver no Rio de Janeiro pouco antes da morte de sua mãe, Miúcha, em 2018 (foto: Luigi e Iango/Divulgação)


“Por que não fala na cara/Por que não diz o que pensa/Se nunca pensa o que fala/Pra que viver de mentira”, canta Bebel Gilberto, acompanhada de Mart’nália, em Na cara, composta pelas duas durante conversas mantidas via WhatsApp. É de cara limpa, sem meias palavras, que a cantora e compositora chega a Agora, seu primeiro álbum de estúdio em seis anos.

O clipe de Na cara, lançado nesta semana (foi gravado por celular pelas cantoras, cada uma de sua casa, dirigidas remotamente por Erich Baptista), é um aperitivo para o disco, que será lançado nos formatos vinil, CD e em plataformas digitais, no próximo dia 21, pela gravadora belga Pias Recordings.

Bebel, de 54 anos, estreou há 40 ao lado do pai, João Gilberto (1931-2019), cantando Chega de saudade para um especial de TV. Há 20, lançou Tanto tempo, o álbum que a projetou mundo afora. Agora é um disco com momentos felizes, o que fica claro na faixa-título, e outros um tanto melancólicos, como O que não foi dito, que ela compôs para o pai.

O álbum foi preparado por Bebel e Thomas Bartlett, em Nova York, ao longo de três anos. Foi também nesse período que ela sofreu a perda da mãe, Miúcha (1937-2018), e do pai, que morreu apenas seis meses depois da cantora. 


FORTE

“Acho que não dá para poder pensar muito, ainda estou processando. Já perdi muita gente, namorados, muitos amigos. Na verdade, as coisas que sofri me fizeram muito mais forte. Hoje em dia me sinto mais preparada. Claro que não dá para controlar as emoções, venho tentando ser o mais forte possível. No momento, não estou me aprofundando no assunto (a morte de João Gilberto), só falo durante entrevistas”, ela comenta.



Depois de três décadas vivendo em Nova York, Bebel voltou a morar no Rio de Janeiro. “Moradora do Rio e mãe de uma cachorra linda (Ella, da raça shih-tzu) e muito peluda. Vim para cá logo antes de a mamãe falecer (em 27 de dezembro de 2018). O Rio é o lugar que chamo de minha casa, entreguei meu apartamento em Nova York, mas a minha vida continua lá, onde estão empresário, agente.”

E o mundo ainda é o seu palco. A cantora estava em Nova York quando ficou sabendo da morte do pai. Uma temporada solo na Itália contribuiu muito para a feitura do disco. No início deste ano, ela passou um tempo entre o Japão e Los Angeles (onde gravou o clipe de Deixa, o primeiro single do novo álbum). Voltou ao Brasil em março, diretamente para a quarentena.

“Estou meio frustrada, com disco novo, turnê marcada. Tinha agenda na Europa, Estados Unidos, Canadá. Está difícil”, ela diz. A turnê original havia sido pensada somente com tecladista e baterista. No momento, tem feito pequenas apresentações on-line. “Estou querendo fazer só com o Chiquinho Brown (filho de Carlinhos Brown e Helena Buarque e neto de Chico Buarque, tio de Bebel), pois ele toca teclado muito bem.”

A porção compositora de Bebel apareceu de forma tímida em Tanto tempo e nos trabalhos posteriores foi se desenvolvendo. Todas as 11 canções de Agora são assinadas por ela e Thomas Bartlett – com o acréscimo de Mart’nália na já citada Sua cara e Jennifer Charles em Bolero e Yet another love song.


LETRA

“É uma pressão escrever letra, a parte que sofro mais, não posso negar. Melodia é fácil”, afirma. Bartlett, pianista, cantor e produtor norte-americano, que Bebel conheceu como músico, anos atrás, e com ele fez uma turnê pelo Brasil, tornou-se um nome disputado no meio musical mais recentemente.

Ele produziu trabalhos de Norah Jones, Yoko Ono, Sufjan Stevens, Florence + The Machine e The National. Ao reencontrá-lo em seu estúdio, Bebel se reconectou rapidamente. “A gente não se via há muito tempo. Quando o vi no estúdio, com esse barato mais como produtor, vi como sabe dirigir os artistas. No meu caso, saímos compondo as músicas sem pressão. Às vezes saíram músicas inteiras, com letra e tudo. Outras, eu tinha a melodia na cabeça, e ele buscava a harmonia. Foi muito espontâneo, sem planejamento.”

Foi assim, entre idas e vindas, sem colocar uma data de lançamento, que Agora saiu. O álbum é aberto suavemente, com Tão bom, uma canção-convite: “Deixa a música entrar dentro de você”. Já a faixa-título é um dos momentos solares do trabalho. “Fazer essa música era como se eu estivesse em um filme, fosse uma personagem. É quase uma viagem de atriz/cantora. Não é a Bebel fofinha, mas é a Bebel brincalhona, que brinca mais com a voz. Foge bem das coisas que fiz até agora.”

Bolero, como o próprio título diz, é uma canção no ritmo latino em que Bebel se aventura a cantar em espanhol. “Sempre falei um portunhol, cantar em espanhol era quase um sonho. Quando conseguimos fazer Bolero, chamei a Jennifer Charles, que me ajudou com o espanhol, pois como eu não sabia, tinha composto com algumas palavras inventadas.”

Cliché é uma das canções que se aproximam da bossa sofisticada que apresentou Bebel ao mundo com Tanto tempo. Mas sua interpretação se sofisticou. Em mais de uma vez, sua voz parece emular o que diz a letra, o mar, a lua, a brisa, temas comuns na bossa nova, que seu pai consagrou. É suave, sensual, quase preguiçosa.


PARA JOÃO

E, pela primeira vez, Bebel fala do pai por meio de uma canção que ela mesma compôs. O que não foi dito foi composta enquanto João Gilberto ainda estava vivo, “mas ele não a escutou”, ela diz. “Na outra metade da vida/Você soube, fez tudo/Mas nessa metade/Vou ter que tentar te ensinar”. 

“Tive coragem de assumir o que ele foi para mim, foi um ato corajoso. Não é que eu pensei em fazer uma música para ele, mas as palavras acabaram vindo. E O que não foi dito é algo muito maior, uma grande metáfora.”

Ainda falando sobre João Gilberto, Bebel afirma considerar uma “ótima escolha” o nome da advogada Silvia Gandelman, em decisão do Ministério Público, como inventariante dos bens do cantor e compositor. O assunto é espinhoso, já que os três filhos – Bebel e os meio-irmãos João Marcelo (filho de Astrud Gilberto) e Luisa Carolina (filha de Claudia Faissol) – vivem em litígio.

“Espero que ela consiga fazer um trabalho maravilhoso. Comecei a fazer um trabalho legal (em 2017, ela conseguiu a interdição judicial do pai, que acumulou dívidas enormes), mas nunca fui executiva, só queria poder ajudar. Uma especialista como ela (Gandelman se especializou na administração de direitos autorais) não poderia ser mais do que perfeita. Tem que saber cuidar, pois há muitas possibilidades e ideias”, diz.



AGORA
. Bebel Gilberto
. Pias Recordings (11 faixas)
. Lançamento em formato físico e digital em 21 de agosto. Vinil (US$ 26,99) e CD (US$ 13,99) em pré-venda no site www.piasrecordings.com

sábado, 26 de setembro de 2020

ALMANAQUE DO SAMBA (ANDRÉ DINIZ)*

Resultado de imagem para ALMANAQUE DO SAMBA



Chico Buarque

“Vem que passa
teu sofrer
se todo mundo sambasse
seria tão fácil viver...”
CHICO BUARQUE, “Tem mais samba”


Filho do historiador Sérgio Buarque de Hollanda – um papa do pensamento moderno no Brasil –, o carioca Francisco Buarque de Hollanda é um dos mais importantes compositores da música popular brasileira de todos os tempos.
Criado em ambiente musical, com mãe pianista e duas irmãs (Miúcha e Cristina) que viriam a ser cantoras, o menino Chico Buarque conhecia, sem sair de casa, os mais relevantes músicos da época, e também nomes como o do poeta Vinicius de Moraes, amigo de seu pai.
A música de Chico Buarque sofre influência de duas linhas musicais. Segundo o próprio compositor, dois personagens fizeram as bossas novas de seus tempos: Ismael Silva e João Gilberto. Ele mesmo afirmou a importância do samba e de João Gilberto em sua formação: “É certo que se deve romper com as estruturas. Mas a música brasileira, ao contrário de outras artes, já traz dentro de si os elementos de renovação. Não se trata de defender tradição, família ou propriedade de ninguém. Mas foi com o samba que João Gilberto rompeu as estruturas de nossa canção.”
Mirando-se nessas sólidas referências da música brasileira, Chico releu, atualizou e dinamizou grande parte dos estilos do nosso cancioneiro, como a modinha (“Até pensei”), o choro (“Um chorinho”), a seresta (“Olé, Olá”), a marcha-rancho (“Noite dos mascarados”), a canção (“Carolina” e “Januária”) e o samba. Na realidade, se separarmos a produção de samba do resto da monumental obra de Chico, veremos que ele é um dos maiores sambistas da história: “Juca”, “Ela desatinou”, “Tem mais samba”, “Com açúcar, com afeto”, “A Rita”, “Vai passar”, entre tantos outros.


O pensamento brasileiro

O historiador Sérgio Buarque de Hollanda foi, ao lado do sociólogo Gilberto Freyre e do economista Caio Prado Júnior, o fundador do moderno pensamento social brasileiro. Essa nova intelligentsia estava preocupada em entender profundamente o Brasil e criou conceitos que são utilizados até hoje em estudos sobre nossa realidade.
O pernambucano Gilberto Frey re encontrou na mestiçagem de nossa sociedade o caminho para entender as nossas peculiaridades; já o paulista Sérgio Buarque de Hollanda utilizou o termo “homem cordial” para caracterizar uma sociedade que privilegia as relações pessoais, afetando com isso diretamente a noção de coisa pública; o historiador Caio Prado Júnior construiu uma interpretação marxista do processo de desenvolvimento socioeconômico brasileiro, ressaltando os conflitos de classe e a desigualdade social como resultados do modo de produção capitalista. 
Esses pensadores, aqui destacados de outros modernos da época, aproximaram-se muito do universo popular da música brasileira. Conviviam lado a lado com os criadores do nosso cancioneiro. Assim nos relata Gilberto Freyre em seu diário, quando veio ao Rio de Janeiro pela primeira vez: “Sérgio [Buarque de Hollanda] e Prudente [de Morais Neto] conhecem de fato literatura inglesa moderna, além da francesa. Ótimos. Com eles saí de noite boemiamente. Também com Villa-Lobos e Gallet. Fomos juntos a uma noitada de violão, com alguma cachaça e com os brasileiríssimos Pixinguinha, Patrício [Teixeira], Donga.”
Sua música pode ser dividida em duas fases: a primeira mais nostálgica, e a segunda em que o poeta, mais maduro na construção literária e na linha melódica, trabalha com uma visão mais complexa da realidade brasileira.
As primeiras gravações de Chico foram em 1965, num compacto simples com as composições “Olé, olá” e “Madalena foi pro mar”. Mas ele estourou mesmo com “A banda”, terna criação que mobilizou o país inteiro após ser apresentada no II Festival de Música Popular Brasileira, em 1966, e empatar na primeira colocação com “Disparada”, de Geraldo Vandré e Theo de Barros. “A banda” fez tanto sucesso no exterior que acabou por fazer parte do repertório da Band of Irish Guards, nas cerimônias de troca de guarda da Rainha da Inglaterra. No mesmo ano, o compositor lançou seu primeiro LP, Chico Buarque de Hollanda, e consolidou-se nacionalmente, tornando-se, segundo o cartunista Millôr Fernandes, “a única unanimidade nacional”. Lá estavam as composições “Tem mais samba”, “A Rita”, “Pedro Pedreiro”, “Amanhã, ninguém sabe”, “Você não ouviu”, “Olé, olá” e “Sonho de um carnaval”, além de “A banda”.
Com o lançamento da peça Roda Viva, em que denunciava as engrenagens que envolviam um artista de televisão, o compositor consolidou um ciclo de questionamentos sociais e políticos em sua carreira, o que acabaria levando-o ao exílio no fim da década de 1960, quando a ditadura militar entrava em seu auge. Seu retorno em 1970 intensifica em sua obra os questionamentos acerca do contexto político e a busca pela liberdade de expressão. “Apesar de você”, “Geni e o zepelim” e “Cálice” são criações dessa época. Nesse momento, Chico precisou criar um pseudônimo, “Julinho da Adelaide”, para fugir das constantes proibições de suas letras pelos censores da ditadura.
A poesia musical de Chico tornou-se complexa, abordando tanto os temas políticos e sociais como os amorosos e os do cotidiano. “Construção”, “Almanaque”, “Brejo da Cruz”, “Vai passar” e “Piano em Mangueira” são exemplos de uma das mais perenes obras da música brasileira, que, por sua elaboração, representa a tradição de nossa melhor poesia.
Em 1998, Chico foi tema do enredo da sua Verde-e-rosa. O presente a ele conferido não poderia ser melhor, pois a Mangueira sagrou-se campeã coroando o poeta que canta o samba e o morro de Cartola e Carlos Cachaça como poucos. 
A criação artística de Chico Buarque foi além da música. Já tendo no currículo peças teatrais – destacamos Gota d’água e Ópera do malandro –, nosso multiartista virou uma referência também na literatura contemporânea, com os livros Estorvo e Budapeste, por exemplo.
Por falar em literatura, Chico, como compositor, colocou em prática a máxima do escritor argentino Jorge Luis Borges: “O bom autor é aquele que cria seus precursores.”



* A presente obra é disponibilizada por nossa equipe, com o objetivo de oferecer conteúdo para uso parcial em pesquisas e estudos acadêmicos, bem como o simples teste da qualidade da obra, com o fim exclusivo de compra futura. É expressamente proibida e totalmente repudiável a venda, aluguel, ou quaisquer uso comercial do presente conteúdo.

ALUNOS DA REDE MUNICIPAL DO RIO ESTUDAM TOM JOBIM EM AULAS REMOTAS

Instituto Antonio Carlos Jobim fez parceria com projeto Orquestra nas Escolas para divulgar obra do compositor durante a quarentena

Por Fernanda Gomes


Instituto Antonio Carlos Jobim fez parceria para divulgar obra do compositor em escolas da rede municipal do Rio de Janeiro durante a quarentena, com aulas remotas (foto: Arquivo/O Cruzeiro)


Para fazer com que as composições de Tom Jobim (1927-1994) continuem sendo conhecidas por novas gerações, o Instituto Antonio Carlos Jobim lançou no Rio de Janeiro a iniciativa Tom nas Escolas, em parceria com o projeto Orquestra nas Escolas. “Muitos alunos, embora ouvissem as músicas do Tom Jobim, não sabiam quem ele era. Era não, ainda é. Nossa motivação é não deixar essa música morrer e continuar reacendendo a chama da nossa cultura. Se perdemos isso, perdemos nossa identidade”, afirma Moana Martins, coordenadora geral do Orquestra nas Escolas.

O projeto teve início em março passado e envolve mais de 600 mil alunos, de 1.600 escolas municipais do Rio. A partir deste mês, a cada semana são postados vídeos no canal (@orquestranasescolas) no YouTube, em que as crianças e adolescentes do Tom nas Escolas interpretam músicas do compositor e maestro.

Além de aulas de música, a iniciativa inclui estudos sobre história e a criação de redações inspiradas na obra de Tom Jobim. Em decorrência da quarentena, as aulas de música e percussão estão sendo ministradas remotamente. Os vídeos postados nas redes do Orquestra nas Escolas são resultado de atividades desenvolvidas no ambiente virtual.


ENCONTRO

“Não podemos ficar felizes se a humanidade não está feliz. Mas, se existe algo de bom nisso (isolamento social), é esse espaço virtual, que tem sido um lugar de encontro. Agora temos a oportunidade de reunir todos os alunos, profissionais do instituto e artistas nesse projeto”, diz Moana.

Embora seja possível realizar as atividades via internet, a coordenadora diz que esse não é um formato ideal. “Primeiro, esse espaço cibernético não é tão democrático. Nossos meninos têm dificuldades de acesso e estamos tentando fortalecer para que eles possam participar.” No entanto, ela prevê que as reuniões on-line serão mantidas mesmo após a pandemia. “A orquestra virtual nasce nesse espaço, e acho que ele veio para ficar. Não vamos mais nos afastar desse lugar de troca.”

Composições como Garota de Ipanema, Samba de uma nota só, Corcovado, Chega de saudade e O morro não tem vez fazem parte do repertório do projeto. “É muita música e riqueza, o Tom é eterno. Então vamos tentando condensar todo o repertório dele, porque senão daria para ir por anos”, brinca Moana sobre as escolhas das músicas para as produções dos vídeos.

Para fechar a programação do Tom nas Escolas, nos próximos dias 29 e 30 de setembro, está prevista a realização de um show no formato drive-in, no Rio de Janeiro, com entrada franca e transmissão simultânea via redes sociais. A ideia é que Se todos fossem iguais a você tenha as crianças e adolescentes que participam do projeto apresentando-se, com a participação de artistas nacionais que já gravaram músicas de Tom.

Outra ação prevista é o lançamento, em outubro, de um aplicativo que disponibilizará as aulas gravadas pelos professores do projeto, partituras e atividades. “Essas ações são para a comunidade, famílias, para todos. Teremos uma playlist com mais de 300 aulas gravadas”, afirma Moana. Os vídeos também serão postados no YouTube.

Aluísio Didier, presidente do Instituto Antonio Carlos Jobim, diz que este é “um sonho bonito: levar a obra do Tom a todas essas pessoas. E também garante a permanência da obra dele”. Ele conta que o instituto começou a se empenhar mais na divulgação do acervo do compositor durante a quarentena, por meio das redes sociais (@jobimoficial). “É muita foto, história e partitura. O site (jobim.org) já era aberto para qualquer pessoa, mas estamos fazendo reformas nele também”, afirma Didier, que define Tom como “um homem com uma personalidade ensolarada”.


sexta-feira, 25 de setembro de 2020

CESTA DE CRÔNICAS E OUTRAS ESSÊNCIAS

Por Xico Bizerra






TEMPO FUGAZ



Sob o céu do Poeta descansam nuvens branquinhas, preguiçosas, donas da mansidão, mas que ao primeiro assobio de vento se alvoroçam pra virar chuva. É aí que as asas se abrem, batem e alçam vôos nunca dantes voados rumo à quimera de uma vida feliz, possível para os bons, os do bem. E o verbo dever, junto com a obrigação substantiva, desaparece, pois tudo que era devido deixou de sê-lo. Nada por obrigação, tudo por prazer. Nada a lamentar. Restará apenas a saudade do ontem passado e descumprido, da tarefa recomendada e deixada de lado, do canto calado e do poema por escrever. Mas o tempo é presente, embora fugaz, e o futuro é impaciente. E ele já está ali na esquina esperando a gente, silente e indecifrável, doido pra virar passado. E ele é rápido como o vento, ligeiro como a vida.

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DISCO TRAZ 11 CANÇÕES INÉDITAS DE ADONIRAN BARBOSA

Álbum é fruto do empenho de Lucas Mayer, que garimpou partituras esquecidas numa editora de SP. Elza Soares, Zeca Baleiro e Francisco, El Hombre participam do projeto

Por Mariana Peixoto


Álbum resgata canções desconhecidas de Adoniran Barbosa, ícone do samba paulista (foto: Latina Estudio/Divulgação)

A história do álbum Onze é tão boa quanto o resultado. Onze canções inéditas de Adoniran Barbosa (1910-1982) vêm à tona no Spotify em gravações realizadas durante a quarentena no dia em que o ator, cantor, radialista e compositor completaria 110 anos. 

Autor da trilha sonora do curta Dá licença de contar (2015) – filme baseado nas letras do compositor de Trem das onze, Saudosa maloca e Tiro ao álvaro, com Paulo Miklos interpretando o próprio Adoniran –, o produtor e músico Lucas Mayer, da DaHouse Áudio, sabia, desde aquela época, da existência de músicas nunca gravadas e esquecidas do sambista paulista.


CORISCO


O material estava guardado na Corisco, antiga editora paulistana. Com o projeto engavetado, no início da pandemia, Mayer, em parceria com o selo Coala.Lab, conseguiu que ele fosse patrocinado pela marca de cerveja Eisenbahn. Teve poucos meses para analisar partituras e letras e reunir um time – Zeca Baleiro, Elza Soares, Francisco, El Hombre, Luê e Zé Ibarra estão entre os intérpretes – para gravar, remotamente, cada música.

“Foi um trabalho de garimpo, pois ao ler as partituras, tinha que ver como a letra encaixava com as notas. Foram enviadas 13 músicas, mas duas têm partituras ilegíveis. Então ficamos com 11”, conta ele. As canções foram compostas de 1961 a 1980. Uma vez decifrado o material, Mayer criou uma guia e com um grupo de pessoas definiu quem ia cantar o quê.

Onze começou a ser gravado em 14 de junho. Mayer convidou alguns instrumentistas para criar as bases – o baixista Meno Del Picchia, o violonista Gabriel Selvage, o percussionista Kabé Pinheiro e o cavaquinista Ricardo Perito. Cada um fez o registro em sua própria casa.

“Quase todos já tinham estúdio. Mas no caso do Kabé, por exemplo, tivemos de montar um na casa dele. Foram vários telefonemas para desenvolver a melhor acústica para o local”, conta o produtor.

A distância, via Skype ou Zoom, Mayer dirigiu as gravações. Bases prontas, chegou a vez de trabalhar a melhor maneira de os intérpretes registrarem suas vozes. “Tivemos dificuldade em definir o timbre da voz e montar os microfones para registrar da melhor forma. O Rubel (que gravou Bolso de fora) está em Búzios. Ele usou um microfone RE20, que o Stevie Wonder usou muito nos anos 1970. Já que estava na beira da praia, ficamos com medo de pegar o chiado de mar. Escolhi um microfone que tem poucos agudos, não capta muito as notas altas.”

Os kits de gravação foram enviados para cada artista. Illy, que registrou Como era bom, está em Salvador. Foi difícil conseguir alugar o microfone adequado. Já Elza Soares, que colocou seu vozeirão à prova em Vaso quebrado, gravou no seu quarto, no Rio de Janeiro. Juliana Strassacapa, vocalista do Francisco, El Hombre, teve de ir para dentro do armário de casa para conseguir a acústica necessária para Bebemorando.

Além dos músicos responsáveis pelas bases, as faixas contaram com outros instrumentistas, de acordo com o desejo de cada intérprete. Tuco Marcondes, músico da banda de Zeca Baleiro, gravou mandolin (uma espécie de bandolim americano) e gaita em Bares da vida. Cantor e compositor recifense, Barro incluiu viola caipira (a cargo de Hugo Lins) em Debaixo da ponte, para dar uma onda mais nordestina ao registro.


Fronteiras

Ainda que Adoniran Barbosa seja um dos maiores símbolos do samba paulistano, sua obra, há muito, extrapolou as fronteiras de seu estado natal.

Onze, que apresenta o compositor para um novo público, é prova disso. A banda Francisco, El Hombre, por exemplo, colocou Adoniran em ritmo de cumbia. “Como é um ritmo de (compasso) 2 por 4, como o samba, foi fácil um conversar com o outro”, finaliza Mayer.


ONZE
Álbum de inéditas de Adoniran Barbosa
Vários artistas
11 faixas
Lançamento nesta quinta-feira (6), no Spotify

quinta-feira, 24 de setembro de 2020

GRAMOPHONE DO HORTÊNCIO

Por Luciano Hortêncio*





Canção: Revoltado

Composição: Amélia Brandão Nery

Intérprete - Tia Amélia

Ano - Setembro de 1959

Disco - 
Disco Odeon 14.520 - 572


* Luciano Hortêncio é titular de um canal homônimo ao seu nome no Youtube onde estão mais de 10.000 pessoas inscritas. O mesmo é alimentado constantemente por vídeos musicais de excelente qualidade sem fins lucrativos).

quarta-feira, 23 de setembro de 2020

GARGALHADAS SONORAS

Por Fábio Cabral (Ou Fabio Passadisco, se preferir)

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"Nossa, uma loja retrô.
Nossa, tem LP... Mas voltou à moda, não foi amor?"

E Ivoneide Mendes assistindo a tudo... Doida pra rir!

TRISTEZA ESTÁ BOMBANDO NAS PLATAFORMAS DE STREAMING

Hit melancólico de Renato Russo e sucesso oitentista da banda The Police ganham destaque no Spotify

Por Pedro Galvão



Muita coisa mudou desde março, com o avanço da pandemia da COVID-19. A necessidade de isolamento social trouxe novos modelos de comportamento, impactando fortemente a indústria cultural. No cinema, lançamentos foram adiados e o público teve que se voltar para outras alternativas nas plataformas digitais.

Mas e na música? O período de poucas novidades e muitas lives trouxe alguma transformação significativa para o mercado fonográfico? Rankings dos principais aplicativos de streaming e paradas de sucesso ajudam a responder a essa questão.

No fim de junho, levantamento do Datafolha que analisou as 200 músicas mais acessadas no Spotify durante a quarentena em 34 países mostrou que o público brasileiro foi o que mais ouviu canções tristes nesse período. O critério usado foi a média da valência das composições, que identifica nas melodias características entendidas como tristeza.

A pesquisa apontou que ritmos mais acelerados e festivos, como o funk, perderam um pouco de força no Brasil, embora ainda sejam muito ouvidos. Exemplo disso foi o hit do verão Tudo OK, de Thiaguinho MT, Mila e JS O Mão de Ouro, que desapareceu do top 200 do Spotify à medida que “brotar no bailão”, como diz a letra, deixou de ser uma opção socialmente responsável enquanto o coronavírus desestimulava festas e aglomerações.



LEGIÃO

Por outro lado, hits do passado recuperaram espaço. Tempo perdido, lançada em 1986 pela banda Legião Urbana, por exemplo, apareceu na parada de sucessos ao longo da quarentena, com sua letra melancólica. O sucesso Every breath you take, do The Police, que já embalou muitos corações machucados nos anos 1980, também estava entre as mais ouvidas no país, ocupando a posição nº 200 no ranking nacional em 27 de julho.

Mais recente, Shallow, de Lady Gaga, tema do filme Nasce uma estrela, de 2018, é outro destaque da lista nacional na última semana, que segue dominada pelo sertanejo.

Nesta era de isolamento com inclinação para o repertório mais melódico, os ritmos mais populares seguem em destaque. Na última semana antes do início do confinamento, a música mais ouvida no Brasil era Liberdade provisória, da dupla sertaneja Henrique e Juliano. Quatro meses depois, ela ocupa o nono lugar.

Em março, entre as 10 primeiras posições estavam canções do mesmo estilo: A gente fez amor, de Gusttavo Lima, Litrão, de Matheus e Kauan, S de saudade, de Luíza e Maurílio, e Graveto, de Marília Mendonça. Essa última permaneceu no top 10 na última semana de julho. As outras perderam posições, mas seguem entre as 20 mais.

A canção mais ouvida no Brasil desde o fim de junho é Desce pro play (PA PA PA), parceria de Anitta com MC Zaac e o rapper norte-americano Tyga, lançada na quarentena, com estreia já na liderança. Ou seja, nem mesmo a pandemia tirou a cantora carioca do alto patamar de audiência mantido por ela nos últimos anos.


POESIA

Porém, a terceira canção mais ouvida no país neste momento, via Spotify, é um exemplo da tendência identificada pelo Datafolha relativa à preferência do público por gravações com perfil mais intimista. Melhor forma, lançada em 10 de julho na nona edição do projeto Poesia Acústica, que reúne destaques da cena contemporânea do rap nacional, traz Djonga, Chris, Filipe Ret, Xamã, Lennon, Lourena e César MC. Ela vem se mantendo nas primeiras posições desde então, com melodia mais cadenciada e os rappers se revezando nas rimas.

No exterior, alguns dos grandes lançamentos do momento dominaram a preferência do público. Metade das 10 canções mais ouvidas na segunda-feira (27), via Spotify, pertence ao álbum Folklore, lançado por Taylor Swift na última sexta-feira (24). A liderança é da faixa Cardigan, balada romântica que reflete bem o tom do disco, com a estrela acompanhada por um piano, arranjos mais suaves e letras emocionais e intimistas.

“Em isolamento, minha imaginação correu solta e esse álbum é o resultado. Contei essas histórias da melhor maneira possível com todo o amor, admiração e capricho que elas merecem”, afirmou Taylor Swift nas redes sociais. A fórmula deu certo. Além de vender 1,3 milhões de cópias em 24 horas, somou mais mais 80 milhões de execuções no Spotify.

Taylor bateu um recorde na plataforma, superando outro superlançamento da quarentena: Legend never die. O álbum póstumo do rapper norte-americano Juice WRLD, morto em dezembro de 2019, chegou a público em 10 de julho, rendendo 73 milhões de plays só no primeiro dia.

Além do atual primeiro lugar no ranking de artistas mais ouvidos da Billboard, o álbum do cantor, que faleceu aos 21 anos em decorrência de uma overdose acidental, emplacou quatro faixas entre as 10 músicas mais ouvidas no Spotify na última semana.

O bombástico “disco de quarentena” de Swift também veio desbancar outro hit: Rockstar, do rapper DaBaby. Era líder da Billboard Hot 100 há sete semanas e líder semanal de audições no Spotify desde maio, quando superou Blinding lights, do rapper canadense The Weeknd. Lançado em 2019, o single liderava a parada do serviço de streaming quando a pandemia surgiu.

terça-feira, 22 de setembro de 2020

LENDO A CANÇÃO

Por Leonardo Davino*



Tristeza

O samba "Tristeza", de Niltinho e Haroldo Lobo, é um ótimo exemplo de como este sentimento é matéria sensível e orgânica para a canção. "Tristeza" tem mais de 500 regravações, de Jair Rodrigues a Julio Iglesias, de Maysa a Wilson Simonal. Além das versões para outros países, como Croácia e Eslovênia.
A canção é tão forte no imaginário cultural da nossa música que o compositor Niltinho (autor também do samba-enredo "Liberdade, liberdade, abre as asas sobre nós, e que a voz da igualdade seja sempre a nossa voz") passou a ser conhecido como Niltinho Tristeza.
A canção canta o desejo implícito de todo cantor: "cantando eu mando a tristeza embora", como diz o sujeito de "Desde que o samba é samba", de Caetano Veloso. Quiçá, "Tristeza" é hino que congrega e consagra um desejo humano de felicidade.
O gesto de cantar é tomado aqui como sinônimo de alegria. Cantar é viver, o contrário do silêncio. Porém, se "não haveria som se não houvesse o silêncio", tudo indica que não haveria alegria se não houvesse a tristeza. Tudo leva a crer que uma coisa é referendada e valorizada pela outra: pólos que se tocam em um abstracionismo infotografável.
A versão de Elis Regina - no compacto duplo Elis Regina em Paris (1968), disco que traz ainda a enigmática "Noite dos Mascarados" - reforça o poder de disseminação de uma mensagem universal, que contagiou vários cantores, e de diferentes frentes sonoras, da canção popular.


***

Tristeza
(Niltinho / Haroldo Lobo)

Tristeza, por favor vá embora
Minha alma que chora
está vendo o meu fim

Fez do meu coração a sua moradia
Já é demais o meu penar
Quero voltar àquela vida de alegria
Quero de novo cantar
Lái, á, lái, á




* Pesquisador de canção, ensaísta, especialista e mestre em Literatura Brasileira pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e doutor em Literatura Comparada, Leonardo também é autor do livro "Canção: a musa híbrida de Caetano Veloso" e está presente nos livros "Caetano e a filosofia", assim como também na coletânea "Muitos: outras leituras de Caetano Veloso". Além desses atributos é titular dos blogs "Lendo a canção", "Mirar e Ver", "365 Canções".

CHICO BUARQUE E GILBERTO GIL LANÇAM NOVA VERSÃO DO CLÁSSICO 'COPO VAZIO'

Foi lançado também um clipe da canção, com imagens inéditas do dueto de Chico e Gil, filmadas pela Conspiração Filmes no estúdio de Gil, no Rio



A música Copo Vazio, composta por Gilberto Gil e gravada por Chico Buarque originalmente em seu disco Sinal Fechado, de 1974, ganha nova versão que chega nesta sexta-feira, 24, às plataformas digitais. Foi lançado também um clipe da canção, com imagens inéditas do dueto de Chico e Gil, filmadas pela Conspiração Filmes no estúdio de Gil, no Rio.

A regravação foi realizada em 2014, a pedido de Andrucha Waddington, que, na época, rodava Rio, Eu Te Amo e estava em busca de uma trilha sonora para a personagem vivida por Fernanda Montenegro, Dona Fulana.

O álbum Sinal Fechado foi gravado por Chico Buarque só com composições de outros autores, como o já citado Gil, Caetano Veloso, Toquinho e Vinicius de Moraes, Noel Rosa, Walter Franco e Paulinho da Viola (cuja composição deu título ao disco). Na época, sob ditadura, a obra do cantor e compositor sofria forte censura. Chico estava "privado de sua liberdade artística plena!", afirmou Gil.

Na ocasião, Chico pediu música para Gil. "Um copo de vinho. Um copo vazio na mesa. Vazio como, se está cheio de ar? E veio a inspiração da canção que versa sobre a privação da liberdade em tempos de ditadura", escreveu Gil em suas redes sociais.

A letra da música:
É sempre bom lembrar
Que um copo vazio
Está cheio de ar
É sempre bom lembrar
Que o ar sombrio de um rosto
Está cheio de um ar vazio
Vazio daquilo que no ar do copo
Ocupa um lugar
É sempre bom lembrar
Guardar de cor
Que o ar vazio de um rosto sombrio
Está cheio de dor
É sempre bom lembrar
Que um copo vazio
Está cheio de ar
Que o ar no copo ocupa o lugar do vinho
Que o vinho busca ocupar o lugar da dor
Que a dor ocupa a metade da verdade
A verdadeira natureza interior
Uma metade cheia, uma metade vazia
Uma metade tristeza, uma metade alegria
A magia da verdade inteira, todo poderoso amor
A magia da verdade inteira, todo poderoso amor
É sempre bom lembrar
Que um copo vazio
Está cheio de ar


Veja o clipe:


Fonte: Estadão Conteúdo

segunda-feira, 21 de setembro de 2020

MPB COM TUDO DENTRO

Por Rodrigo Faour



A HISTÓRIA MUSICAL DO RÁDIO NO BRASIL

As 25 músicas mais tocadas nos rádios do Brasil no ano de 1965, há exatos 55 anos, foram:

01 - Trem das Onze - Dem onios da Garoa
02 - O Calhambeque - Roberto Carlos
03 - Sentimental Demais - Altemar Dutra
04 - O Trovador - Altemar Dutra
05 - O Neguinho e a Senhorita - Noite Ilustrada
06 - Arrastão - Elis Regina
07 - Sabor A Mi - Eydie Gormé & Trio Los Panchos
08 - Festa do Bolinha - Trio Esperança
09 - Nunca Mais Brigarei Contigo - Roberto Muller
10 - Não Quero Ver Você Triste - Roberto Carlos
11 - Querida - Jerry Adriani
12 - Mamãe Eu Te Darei Algo - Manuela
13 - Carcará - Maria Bethânia
14 - Professor Apaixonado - Nilton Cesar
15 - Se Mi Vuoi Lasciare - Michele
16 - Preste Atenção - Wanderley Cardoso
17 - Perfidia - Trini Lopez
18 - Pau de Arara - Ary Toledo
19 - Menina Linda - Renato & Seus Blue Caps
20 - Na Onda do Berimbau - Ed Lincoln
21 - Feche os Olhos - Renato & Seus Blue Caps
22 - Falhaste Coração - Angela Maria
23 - A Casa do Sol Nascente - Agnaldo Timóteo
24 - A Garota do Baile - Roberto Carlos
25 - Joga a Chave - Jorge Goulart

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