Surge uma nova voz na cena musical brasileira. A paulistana Vivi Rocha é cantora experiente, com mais de dez anos de experiência no meio lírico. Mas é também pianista e arranjadora de amplos recursos. E, ainda, compositora, autora de músicas e de letras sintonizadas com a contemporaneidade.
Entreatos, primeiro trabalho solo autoral de Vivi Rocha, acaba de chegar ao mercado – nas plataformas digitais de streaming e com o CD disponível nos principais pontos de venda.
Entreatos foi produzido com recursos de um bem-sucedido financiamento coletivo pela plataforma Catarse. Reúne onze canções de Vivi Rocha, compostas e arranjadas por ela nos últimos dois anos.
Diversas formas de amor – O título Entreatos remete à vivência lírica de Vivi Rocha e diz respeito também "àqueles momentos decisivos em que nos preparamos para o próximo 'ato', ao momento em que nada parece acontecer, mas tudo está em preparação".
Este é o principal mote do disco, que vem repleto de sensações e sentimentos relacionados a essa aparente paralisação. Em "Aquilo que me falta" ela escreve, e canta:"por vezes me sinto parada no tempo, esperando". Na faixa título"Entreatos", pergunta: "Se você tivesse dito tudo que queria... se pudesse, o que você transformaria?".
A cidade de São Paulo e a dureza da cidade grande são temas recorrentes das canções de Vivi Rocha. Em "Monólogos coletivos", depois de sérias reflexões ("em meio a tanta cidade, existe diálogo?") ela termina por afirmar: "Não existe amor em SP". Em "Humanidade", questiona: "que tem de humano quem ignora o diferente?".
A busca por essa humanidade e pelo amor em suas diversas formas em meio ao caótico cenário da cidade ganha espaço também em "Mais amor (São Paulo é muito)" – "São Paulo é muito... muita gente, muita lente, muita enchente, muito amor, muito ódio, muito tudo!" –, e em "Amor em baldeação" – "E eu só queria pedir pra andar devagar, pra eu poder te ver e saber se você é assim como eu percebi. Mas, não deu. Então, segui, baldeei e um busão eu peguei. E, ali, um novo amor encontrei".
Em Entreatos Vivi Rocha trata da nossa natureza humana, por vezes tão contraditória, passando por momentos de tristeza, descrença, dúvida, amor e esperança na humanidade de cada um. A incompreensão nas redes sociais também ganha espaço na canção "Monólogos coletivos" ("eu falo e ninguém escuta, você chora e ninguém percebe").
O amor está presente em vários momentos. Sua busca incerta é tema de"Transpondo barreiras": "Quantas barreiras entre mim e você? Quantos graus de separação?". O frio na barriga do início de um relacionamento é assunto de "Num mesmo espaço": "Na sua presença, não sei se me calo, se me abalo, se eu falo muito mais do que você", e a dor do fim de um romance aparece em "Tempestade": "Olhando pela janela, eu não consigo nem mais enxergar... Eu e você, onde estava combinado? Eu não consigo não, compreender onde eu assinei esse contrato".
Mas, por fim, Entreatos traz também uma porção de esperança. "Poema para o futuro" é uma canção feita para as meninas das próximas gerações. Nela, Vivi Rocha coloca um desejo profundo de mudança e de melhoria para as futuras gerações: "Desejo que você cresça num mundo, botão em flor, onde a lei é ser feliz. Onde o amor supere a dor, onde não se sinta mais medo. Onde a vida é como um brinquedo, desses que a gente faz ensinar. Onde se aprende sem se machucar".
Universo musical eclético – Todas essas letras – poemas plenos de sensibilidade, reflexões sobre o viver neste século 21, mensagens especialmente dirigidas para a juventude de hoje – ganham força através de suas sólidas composições musicais. Vivi Rocha compõe com as cores de seus vários universos e paixões, que vão da música francesa de concerto ao tango argentino, da música brasileira ao pop. São músicas que refletem seu amor por diversos estilos musicais e formas de arte e são resultado de suas muitas influências.
Vivi conta que cresceu numa casa em que "o rádio permanecia ligado o dia todo", viveu "imersa no eclético universo musical de meus pais". Durante toda a vida conviveu com Bach e Chico Buarque, Boca Livre e Beatles. Decidida a estudar música, ampliou seus horizontes ainda mais, buscando sempre novas sonoridades.
Estudou canto lírico na Escola Municipal de Música de São Paulo e no Instituto de Artes da UNESP. Em paralelo, teve também formação em piano popular e arranjo. Há dez anos atua no meio lírico, é integrante do Coro Lírico do Theatro Municipal de São Paulo.
Síntese de toda essa vivência, Entreatos traz não apenas uma cantora de técnica vocal apurada, mas revela também suas facetas de compositora, pianista e arranjadora.
Além de Vivi Rocha, voz e piano, o disco reúne um ótimo time de instrumentistas, boa parte deles jovens nomes da efervescente cena musical paulistana: Rodolfo Coutinho, bandolim; Vicente Falek, acordeom; Luiz Sena e Milena Salvatti, violoncelo;Luciana Silva, clarinete; Matthew Taylor, fagote; e Priscila Brigante e Ale Damasceno, bateria. A produção é do experiente Gilberto Assis, que participa tocando baixo e violão.