PROFÍCUAS PARCERIAS

Gabaritados colunistas e colaboradores, de domingo a domingo, sempre com novos temas.

ENTREVISTAS EXCLUSIVAS

Um bate-papo com alguns dos maiores nomes da MPB e outros artistas em ascensão.

HANGOUT MUSICARIA BRASIL

Em novo canal no Youtube, Bruno Negromonte apresenta em informais conversas os mais distintos temas musicais.

quarta-feira, 31 de agosto de 2016

VÔTE... ESCUTA SÓ: ALTO MERETRÍCIO – (BOÊMIOS, BARES E BORDÉIS) – PARTE 09



Existem muito relatos de paixões entre boêmios e prostitutas, algumas interessantes e com final feliz. Naquela época se dizia – Fulano “tirou” uma mulher da zona. Isto significava manter uma casa, de um tudo, para abrigar a rapariga, fazendo visitas periódicas, sem, no entanto, abandonar a família. Em outros casos o apaixonado assumia de papel passado aquela que antes vivia no bordel e que a partir daquela data adquiria status de senhora.

Em uma dessas histórias, uma mulher dama casou com todas as honras, o marido, um comerciante bem sucedido desprezou todos os conceito e preconceitos da sociedade, constituiu família e viveu feliz por muitos anos com a mulher que lhe foi fiel e excelente dona de casa. Tiveram muitos filhos, todos com ótima educação, estudaram nos melhores colégios, e frequentaram a chamada alta sociedade.

Um deles, formado em direito, fez concurso público para um cargo importante na magistratura. Ao se apresentar diante de seu superior hierárquico, um velho juiz em final de carreira, homem conservador e retrógrado, preconceituoso, que tinha estreitas ligações com a ditadura do Estado Novo, declinou seu nome.

No passado antes de broxar o velho era frequentador assíduo da zona, onde gozava de regalias por conta da sua condição social e influência política. Sem caráter e nenhum escrúpulo, conhecendo de antemão o passado do rapaz, ao ouvir o seu nome, perguntou – Ah! Você é o filho de Maria das Mercês não é? Diante da afirmativa do jovem, completou com um sorriso cínico nos lábios: Comi muito a senhora sua mãe!

Na rua onde eu morava, residia também uma famosa cafetina, que criou seus filhos longe do seu negócio, e deu a todos uma ótima educação, sem esconder de onde vinha o dinheiro para tal. Sofreu vários tipos de discriminação, dos vizinhos, que não queriam que seus filhos fizessem amizade com “os filhos da puta” dos colégios que quando tomavam conhecimento da profissão da mãe expulsavam as crianças alegando muitas vezes o fato da instituição ser religiosa. Por ironia foi Jesus que perdoou Madalena, mas nestes momentos os cristãos esquecem o fato.

Ninguém seguiu a profissão da mãe, uma das moças, amiga de minha irmã, estudaram juntas desde os tempos do ginásio, casada, com filhos, mestra em Serviço Social, participou comigo de um congresso de Saúde Pública. Antes de iniciar uma palestra disse em alto e bom som: Eu sou a filha da puta, e muito me orgulho disso, minha mãe é uma heroína, e falou sobre a dignidade da mãe, e do sacrifício que fez para educar os filhos.

Surpreso, perguntei por que havia dito aquilo e ela me respondeu: Digo antes que alguém o faça, (como na história do juiz cafajeste) na tentativa de me derrubar. A mãe dela, atualmente morando em outro Estado, é sindicalista, representa a categoria, e agora, já idosa, defende suas companheiras dos maus tratos da polícia e da lei, sempre prontas para punir as prostitutas, mas, ineficiente para colocar na cadeia os juízes corruptos.

Sucesso absoluto entre os boêmios, Núbia Lafayette interpreta "Lama" de Aylce Chaves e Paulo Marques.


ZÉ RAMALHO AFIRMA QUE NÃO VOLTA A PARTICIPAR DE O GRANDE ENCONTRO PORQUE 'ESTARIA SE REPETINDO'

Cantor e compositor paraibano desejou sucesso aos companheiros Elba Ramalho, Alceu Valença e Geraldo Azevedo no projeto


O novo álbum pode ser considerado uma segunda versão de Zé Ramalho - 20 anos Antologia acústica, também produzido por Robertinho de Recife. Foto: Divulgação


O cantor e compositor paraibano Zé Ramalho, que lançou, esta semana, a caixa Zé Ramalho voz & violão – 40 anos de música, explicou em uma frase curta a sua ausência no show comemorativo dos 20 anos do início da turnê O Grande Encontro, do qual participou em duas oportunidades junto com os amigos e colegas Elba Ramalho, Alceu Valença e Geraldo Azevedo. "Já fiz isso, estaria me repetindo", disse o músico à coluna Gente boa, de O Globo, comandada por Cleo Guimarães. 

O autor de sucessos como Avôhai, Chão de giz e Admirável gado novo, entre outros, disse, no entanto, que deseja sucesso aos companheiros. "Mas o trio tem todo direito de fazer, desejo sucesso", afirmou. A coluna, porém, cita extraoficialmente que pessoas que conhecem "quatro estrelas nordestinas de cabeça dura" afirmaram que as brigas são frequentes. Outra razão para a ausência de Zé Ramalho seria que ele não gostaria de dividir as atenções durante as comemorações dos seus 40 anos de carreira com outro projeto.

Elba, Alceu e Geraldo se reunirão novamente para O Grande Encontro 20 anos depois do lançamento do disco que vendeu mais de 2 milhões de cópias e foi gravado durante um show acústico no estádio do Canecão, no Rio de Janeiro. O trio voltará à cidade, mas desta vez sem Zé Ramalho. O evento será no dia 17 de setembro no Metropolitan, a partir das 22:30, com os ingressos custando a partir de R$ 60. Localizada na Barra de Tijuca, a casa de shows tem capacidade de aproximadamente 3.120 lugares.


Novo box

O box Zé Ramalho voz & violão – 40 anos de música, lançado pelo selo Discobertas, marca o início da celebração das quatro décadas de estrada de Zé Ramalho. Vale lembrar que 20 anos atrás, em 1996, a carreira do artista estava no ostracismo, quando a música Admirável gado novo, lançada em 1979, entrou na trilha sonora da novela O rei do gado, da Rede Globo. Na época, o produtor e guitarrista recifense Robertinho do Recife produziu a gravação de um disco de voz e violão com sucessos da obra autoral de Ramalho.

O novo álbum pode ser considerado uma segunda versão de Zé Ramalho – 20 anos Antologia acústica, também produzido por Robertinho de Recife e lançado em 1997 com grande sucesso de público e crítica. A nova caixa embala dois CDs gravados em 2015 no mesmo estilo acústico de voz e violão, com repertório autoral, e um DVD com takes das gravações. Confira o vídeo publicado no Facebook, onde Zé Ramalho fala sobre o novo trabalho: 


Fonte: Diário de Pernambuco

DERICO, 50 ANOS

Este ano, o músico que tornou-se conhecido em o todo o país a partir de sua participação no talk show do Jô Soares completa 50 anos


Profissional desde os 11 anos, DERICO SCIOTTI começou seus estudos de flauta aos 5 anos de idade. Desde então, teve a oportunidade de estudar com mestres renomados como João Dias Carrasqueira, Antônio Carlos Carrasqueira, Jean-Noel Saghaard, Lídia Alimonda, Héctor Costita e Amilson Godoy.
De formação erudita, DERICO SCIOTTI obteve grande repercussão nacional a partir de 1974, quando ganhou vários concursos nacionais e internacionais para jovens instrumentistas, o que possibilitou sua participação em diversos recitais e concertos pelo Brasil. Nesta época, com 14 anos, foi “spala” (primeiro flautista) da Orquestra Jovem Municipal de São Paulo e participou do Festival de Inverno de Campos do Jordão em 1980, onde se apresentou regido pelo maestro Eleazar de Carvalho. 

Em 1979, paralelamente a sua carreira erudita, DERICO SCIOTTI começa a tomar conhecimento de novos estilos musicais como jazz, blues, música instrumental (fusion) e música experimental (dodecafonismo e minimalismo). É neste momento que abrem-se suas perspectivas musicais, aprendendo linguagens novas em instrumentos como saxofone, piano, guitarra, contrabaixo, violão e bateria. 

DERICO SCIOTTI torna-se multi-instrumentista e parte para uma carreira mais popular, onde conhece músicos e artistas com quem passa a trabalhar, tais como Dominguinhos, Diana Pequeno, Marlui Miranda, Jean & Paulo Garfunkel, Amelinha, Trovadores Urbanos, Ana de Hollanda, Celso Viáfora, Márcia Salomon, Chico César, Eliete Negreiros, além de participar com o Grupo Ânima de shows com artistas como Hermeto Paschoal, Egberto Gismonti, Itamar Assumpção, Arrigo Barnabé e Grupo Rumo.

Em 1983 funda juntamente com sua família a Escola de Música Artlivre, que hoje conta com duas unidades em São Paulo abrigando, entre crianças, jovens e adultos, uma comunidade de 300 alunos e 15 professores.

Em 1986, como contrabaixista, passa a integrar um grupo de músicos “representantes” de equipamentos da multinacional Roland, uma empresa japonesa de instrumentos e equipamentos musicais de última geração.

Em 1990, DERICO SCIOTTI é convidado a participar das gravações do programa Jô Soares Onze e Meia do SBT Canal 4 São Paulo como saxofonista e flautista do Quinteto Onze e Meia. Este trabalho possibilitou a DERICO SCIOTTI tocar com músicos como Chick Corea, George Benson, Billy Cobham, Stacey Kent, Ian Anderson, Ray Coniff, Randy Crawford, Cláudio Roditi, Roberto Carlos, Gilberto Gil, Raul de Souza, Pepeu Gomes, Ed Motta, Pedrinho Máttar, Paralamas do Sucesso, Kid Abelha, Lenine. Porém hoje, além de músico, atua também como “Assessor para Assuntos Aleatórios”, participando e ajudando Jô Soares nas mais diversas e inusitadas situações criadas dentro do programa.  




Com isso, surgiram possibilidades para que DERICO SCIOTTI pudesse alavancar sua carreira solo com a gravação de 12 CDs, o primeiro chamado “Quinteto Onze e Meia”, gravado em 1992 e lançado pela CID discos, o segundo chamado “Tribute”, gravado em 1994 e lançado pela Warner Music, o terceiro chamado “Derico e os Antropófagos Anônimos live in Palicari”, gravado ao vivo em 1997 e lançado pela Virgin Records, o quarto chamado “Derico Onze Meses”, direcionado ao público infantil e lançado pela Angels Records em 1999, o quinto “Jô Soares e o Sexteto”, gravado ao vivo e lançado pela Sony Music em 2000, o sexto “Derico & Sérgio – DUO SCIOTTI”, gravado ao vivo e lançado pela Zabumba Records em 2002, o sétimo “Duo Sciotti – Dois por Dois”, gravado em 2004 e lançado pela Zabumba Records, o oitavo “Derico & Clube do Jazz”, gravado ao vivo em Bauru e lançado em 2005, o nono um cd duplo comemorativo "Derico & Sérgio - Duo Sciotti - 25 anos" lançado em 2007, o décimo "Duo Sciotti - Kizuna" somente com músicas japonesas, lançado em 2009, o décimo "Duo Sciotti - Só Nós", lançado em 2011, o décimo primeiro "Derico & Clube do Jazz Vol 2" lançado em 2014 e o décimo segundo "Duo Sciotti 0 Kizuna 2" lançado em 2015. DERICO SCIOTTI já lançou três livros, o primeiro em 1995 “A Busca Dos Óculos de Graal – A História do Deriquismo e outros Assuntos Aleatórios” pela Editora Best Seller, o segundo em 2001 “Bobagens.com” pela Editora Madras e o terceiro em 2010 "Volta ao Mundo Numa Bicicleta Ergométrica" 'pela Editora Planeta. DERICO SCIOTTI participou de três Bienais do livro, em 1996, em 2002 e 2010.

DERICO SCIOTTI tem um programa de rádio chamado "Jazz em Ponto", já veiculado em rádios do Brasil como Eldorado FM em São Paulo, Litoral FM em Santos, Lúmen FM em Curitiba, Modelo FM em Indaiatuba e Prime FM em São Paulo. 

Muitas empresas nacionais e multinacionais já associaram-se a imagem de DERICO SCIOTTI para shows em feiras, convenções e propagandas em mídia impressa e eletrônica, tais como Volkswagen, Gessy-Levers, Colgate, Kibon, Pial-Legrand, FedEx, IBM, Carrefour, Jornal da Tarde, Rede de Supermercados Sé, Nissin-Miojo, Chevrolet, Círculo do Livro, Francal, Coca-Cola, Brahma, Philips, Bacardi, Telebrás, Chevrolet, Petrobrás, Bradesco, Fiat, Avon, Heineken, Tec-Toy, Kaiser, Motorola, Banco Itaú, Câmara Britânica, Cervejaria Cintra, Bridgestone-Firestone, Renault, Olympikus, Novartis, Hering, Yamaha, Caixa Econômica Federal e Antárctica.
DERICO SCIOTTI atua como solista de orquestra, já tendo atuado com a Orquestra de Câmara OPUS de Belo Horizonte, regida pelo Maestro Leonardo Cunha e com a Orquestra Filarmônica Bachiana Jovem de São Paulo, regida pelo Maestro João Carlos Martins.
Hoje DERICO SCIOTTI é contratado da Rede Globo de Televisão onde atua junto com O Quarteto no Programa do Jô, é músico exclusivo Yamaha e ministra palestras e “workshops” sobre instrumentos musicais (flauta e saxofone) e a profissionalização e mercado de trabalho para o músico brasileiro. Possui uma produtora, a Derico Produções, que atua no ramo de eventos corporativos e licenciamento de marca. 


terça-feira, 30 de agosto de 2016

LENDO A CANÇÃO

Por Leonardo Davino*





Cantar uma canção implica em performatizÁ-la - torna-la concreta pela gestualidade vocal – e mima-la, em um ato metacancional, injetar vida (calor) na canção. Cantar uma canção é tencionar e misturar matéria e espírito, sendo este um produto do cérebro (da consciência) e do coração (dos riscos).

Em sua investigação sobre "'canção ruim', voltada para a satisfação de exigências, que por definição são banais, epidérmicas, imediatas, transitórias e vulgares" (p. 295-296), Umberto Eco, em "Canção de consumo" (ver Apocalípticos e integrados), sugere que é preciso ter cuidado na análise das questões relacionadas à crise do sujeito versus as novas tecnologias, para que não caiamos nem no elogio vazio da técnica, nem no preconceito ou na nostalgia vã.

É preciso pensar a complexidade do problema que distingue cultura de entretenimento e cultura como alimento do espírito, pois é na formação cumulativa das experiências - entre o entreter e o pensar – que o indivíduo integral se rascunha, vive e atua.

Se a cultura como alimento do espírito nos sugere a emancipação do indivíduo, não podemos esquecer que a técnica (as modernas possibilidades de gravação e reprodução de uma canção, por exemplo) é um produto (fruto) da marcha do humano. Para o bem e para o mal.

Se hoje, com a dificuldade que desenvolvemos sobre a duração na capacidade de atenção, já que há inúmeros apelos e intensidades exigindo nosso olhar e nosso ouvido – podemos mudar de faixa musical em um toque –, o cérebro pulsa em inúmeras frequências, parece que estamos diante do fato de que as nossas competências cognitivas apontam para a afirmação nietzschiana de Paul Valéry: "O mais profundo é a pele".

E é também Valéry quem anota: "– Adeus, fantasmas (Leonardo, Leibniz, Kant, Hegel, Marx)! O mundo já não precisa de vocês. Nem de mim. O mundo, que batiza com o nome de progresso sua tendência a uma precisão fatal, procura unir aos benefícios da vida as vantagens da morte".

Por sua vez, Umberto Eco escreve: "O drama de uma cultura de massa é que o modelo do momento de descanso se torna norma, faz-se o sucedâneo de todas as outras experiencias intelectuais, e portanto o entorpecimento da individualidade, a negação do problema, a redução ao conformismo dos comportamentos, o êxtase passivo requerido por uma pedagogia paternalista que tende a criar sujeitos adaptados". (idem, p. 303).

Mas, como afirmar com Umberto Eco que "a música de consumo é um produto industrial que não mira a intenção de arte, e sim à satisfação das demandas do mercado" (idem, p. 296) perante a audição de Alice Caymmi cantando "Sangue, água e sal", de Alice Caymmi e Paulo César Pinheiro (Alice Caymmi, 2012)?

Ao que tudo indica, haveria uma hierarquia dentro da cultura do entretenimento, em que uma canção seria mais ou menos arte, numa escala hipotética e infrutífera diante da competência humana e individual de ressemantizar os objetos vindos da estrutura comercial da sociedade de massas.

Mesmo mediatizada e a mercê do sistema econômico, a canção popular não se furta das marcas e cicatrizes da tradição, do tempo, da história e da garganta de quem lhe deu vida. Guardada em um arquivo eletrônico, ela aponta que as tecnologias transformam o homem (ingênuo e complexo), porque vindas deste.

Em "Sangue, água e sal", a voz de Alice Caymmi e o acompanhamento melódico derivado da mítica sirênica se unem para figurativizar a imagem que estampa a capa do disco: uma neo-sereia surrada pelo tempo, multiplicada em outras pela breve história do sujeito e ressacada por temer Yemanjá.

A rainha do mar aparece aqui como fantasmagoria da fusão amor-morte, da vida que só existe no risco de morrer, se afogar, desaparecer: "Mergulhar no mar, não saber voltar / se deixar levar pela maré". O sujeito cancional que surge na interpretação de Alice rompe a dor com efeitos eletrônicos, ciranda a ilha com técnica e quer morrer para viver com Yemanjá - a grande sereia, mãe da sereia Alice.

"Sangue, água e sal" trai e não trai a "lógica das fórmulas" identificadas por Eco nas canções de consumo. Sim, há um tempo que se adéqua ao tempo breve das canções de consumo. Mas o modo e o cuidado identificado pelo ouvinte na execução eternizadora (porque fixa, gravada) da canção desperta um "expandir para dentro", um viver em si, uma quietude desestabilizadora que promove o pensamento, a concentração. A artesania (a singularidade) está na voz de quem canta, é isso que alguns teóricos do elogio à escrita não percebem.

Ou seja, não só de escrita e leitura vivem as experiências do indivíduo. Ele não sai sem marcas. E este processo é individual e singular, mexe com fissuras e crivos únicos. Por isso o erro das generalizações quando o assunto é arte, conhecimento e construção do eu. 


***

Sangue, água e sal
(Alice Caymmi / Paulo César Pinheiro)

À luz do luar
flores de Yemanjá
cobrem o altar do meu amor

Sangue, água e sal
o amor não tem dó
de quem não tem medo de amar

Pode se afogar, desaparecer
quem nunca temeu Yemanjá
Mergulhar no mar, não saber voltar
se deixar levar pela maré





* Pesquisador de canção, ensaísta, especialista e mestre em Literatura Brasileira pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e doutor em Literatura Comparada, Leonardo também é autor do livro "Canção: a musa híbrida de Caetano Veloso" e está presente nos livros "Caetano e a filosofia", assim como também na coletânea "Muitos: outras leituras de Caetano Veloso". Além desses atributos é titular dos blogs "Lendo a canção", "Mirar e Ver", "365 Canções".

ALDIR BLANC, 70 ANOS

Aldir Blanc, um cara gente fina, e compositor de escola

Biografia conta também a história da MPB nos anos 70

Por José Teles



O português Antonio Aguiar, avô do compositor Aldir Blanc gostava de contar uma briga que travou com um delegado famoso na Zona Norte carioca, conhecido por Estrela: “...Não poderá reagir porque policiais o seguraram. Anos, depois, viu o agressor em um restaurante onde fica hoje o edifício Avenida Central, na Avenida Rio Branco. Foi ao dono do estabelecimento e avisou: - Manda as pessoas embora, a despesa é minha, os prejuízos também porque eu e o delegado Estrela vamos brigar.

Arrebentaram o restaurante e um ao outro. Findo o combate. Antonio foi ao caixa pagar o combinado, o que gerou protestos de Estrela: - De forma alguma, a metade da despesa é minha”. Esta hoje impensável refrega de cavalheiros é está no livro Aldir Blanc, resposta ao tempo – vida letra, de Luiz Fernando Vianna (Casa da Palavra, 307 páginas, R$ 55). Aldir Blanc conseguiu traduzir para suas letras um outro lado do Rio de Janeiro, que nem é o da mitificada Zona Sul, nem do romantizado morro, cantados pela maioria dos compositores cariocas.

É o Rio da classe média suburbana da Zona Norte, do Estácio, Vila Isabel e adjacências. Um Rio que só permanece nas impagáveis letras que Aldir Blanc escreveu para várias parcerias, a mais notável encetada como mineiro João Bosco no início dos anos 70. Nasceu com quatro quilos, aos dez meses de gravidez da “Formosa Helena”, como ele a trata mãe em suas crônicas. Depois de ter Aldir Blanc Mendes, em 2 de setembro de 1946, Helena passou a sofrer de “uma espécie de neuropsicose puerperal, da qual jamais se livrou até morrer, em 2002, aos 80 anos”, conta o psiquiatra Aldir Blanc.

O pai, funcionário público, ainda está vivo, aos 90 anos. Não se sabe como. Asmático e fumante inveterado, vivia sendo levado às pressas para o hospital mais próximo. Aldir Blanc cresceu com os avós maternos em Vila Isabel, apropriadamente, na Rua dos Artistas, 257. O avô o viciou em livros, é viciado até hoje. Da poesia para a letra de música , que começou a fazer em meados dos anos 60. Em 1968, com o amigo de infância Sílvio Silva compôs Amigo é pra estas coisas, que não conseguiram classificar para a fase nacional do Festival Internacional da Canção, em 1970.

A música entrou num festival universitário, e virou um clássico, depois de gravada pelo MPB-4. Saíram do festival universitário um leva de compositores, que ficou conhecia como a geração do sufoco. César Costa Filho, Ivan Lins, Gonzaguinha, Maurício Tapajós, Sílvio Silva e Aldir Blanc faziam parte desta turma. Fazia parte também um estudante de filosofia, Pedro Lourenço Gomes, que teria um papel fundamental na MPB, sem nunca ter feito uma única música.

UM PRA LÁ, DOIS PRA CÁ

Pedro Lourenço conheceu o mineiro João Bosco em Ouro Preto, um estudante de Engenharia. Ao ouvir as músicas de João, entusiasmou-se, e lhe disse que conhecia o letrista perfeito para elas. No Rio, disse a Aldir Blanc que encontrara o melodista perfeito para as letras dele: “Há controvérsias na reconstituição dos fatos. Aldir acredita que as primeiras conversas, já regadas à músicas inéditas, tenham ocorrido no Rio, no apartamento de Pedro, em Laranjeiras, ou no de Scliar, no Leblon. Mas o encontro mais importante, que selou oficialmente o início da parceria e amizade aconteceu em Ponte Nova, cidade natal de João”.

João Bosco tinha tantas músicas prontas e boas que Aldir abdicou dos outros parceiros e passou a fazer letra com exclusividade para o mineiro. A primeira música gravada da dupla, Agnus seu, foi lado B de compacto que iniciou, em 1972, a série Disco de Bolso, do semanário O Pasquim. No lado A está a primeira versão de Águas de março com Tom Jobim. No ano seguinte eles seriam descobertos por Elis Regina, que gravaria vinte músicas de Bosco/Blanc. A última que lançou foi O bêbado e o equilibrista.

Curiosamente, a parceria começaria a acabar a partir daí. Sem brigas, sem discussão. Luiz Fernando Vianna, na época, do Jornal do Brasil, tentou saber o movimento da separação. Os dois desconversaram. Anos depois, Aldir Blanc explica mineiramente: “A minha versão é que o João usava cada vez mais onomatopéias, as letras eram menos cantadas. Eu não sentia receptividade em relação ao que estava mostrando como letra”. Mesmo assim a parceria continuou até a metade dos anos 80, com o nome Aldir cada vez menos presente nos álbuns de João Bosco.

O biografado, aos 70 anos continua muito vivo, embora bebendo muito menos do que nos anos 70 e 80, e criando como sempre. O livro repassa sua obra pós-João Bosco, de cerca de 100 parcerias apenas com Guinga (um entre seus vários parceiros). livros, musicais, documentários feitos sobre ele. Mas a verdade é que até mesmo o interesse por esta biografia, embora ela vá além do biografado, deve-se às canções que Aldir Blanc compôs com João Bosco, numa parceria das mais importantes e consistentes da história da MPB.

PROGRAMA ENSAIO

segunda-feira, 29 de agosto de 2016

PAUTA MUSICAL: O ROMANTISMO DAS VALSAS DE MÁRIO ROSSI E GASTÃO LAMOUNIER

Por Laura Macedo




Mário Rossi teve mais de 160 composições gravadas por artistas como Carlos Galhardo, Nelson Gonçalves, Ângela Maria, Dalva de Oliveira, Vicente Celestino, Jorge Goulart, Orlando Silva, Marlene, Emilinha Borba, Aracy de Almeida entre outros, sendo que seu maior intérprete foi o cantor Gilberto Alves. O ano de 1936 foi marcante em sua vida com a publicação do livro “Poemas para ler e esquecer” e da sua primeira letra para a valsa “E o destino desfolhou”, de Gastão Lamounier, considerado na época, o Rei da Valsa. (Mário Rossi: 1911-1981).

O compositor Gastão Lamounier compôs inúmeras valsas sendo aclamado o Rei da Valsa. Paulista de nascimento não esquentou lugar em Sampa em decorrência da mudança da família para a Cidade Maravilhosa. Fez uma bela carreira como compositor e locutor em várias emissoras de rádio da época. Grandes intérpretes da MPB gravaram suas músicas, a exemplo de Jesy Barbosa, Silvio Caldas, Albenzio Perrone, Augusto Calheiros, Jacob do Bandolim, entre outros. (Gastão Lamounier: (1893-1984).

Agora preparem o lencinho (rsrs) e curtam as belíssimas valsas da dupla Mário Rossi e Gastão Lamounier.

E o destino desfolhou” (Gastão Lamounier/Mário Rossi) # Carlos Galhardo. Disco Odeon (11468-B), 1937.



Apoteose de estrelas” (Gastão Lamounier/Mário Rossi) # Albenzio Perrone. Disco Victor (34311-A) / Matriz (80709). Gravação (22/3/1938). Lançamento (maio/1938).


Por amor ao meu amor” (Gastão Lamounier/Mário Rossi) # Albenzio Perrone. Disco Victor (34347-B) / Matriz (80712). Gravação (22/3/1938) / Lançamento (agosto/1938).

Como és linda sorrindo” (Gastão Lamounier/Mário Rossi) # Augusto Calheiros. Disco Odeon (11599-B), 1938.


Assim acaba um grande amor” (Gastão Lamounier/Mário Rossi) # Carlos Galhardo. Disco Odeon (11468-A), 1937.


Suave poema de amor” (Gastão Lamounier/Mário Rossi) # Albenzio Perrone. Disco Odeon (11510-A). Gravação (2/7/1937) / Lançamento (setembro/1937).


Se esses olhos falassem” (Gastão Lamounier/Mário Rossi) # Albenzio Perrone. Disco Victor (34347-A) / Matriz (80711). Gravação (22/3/1938) / Lançamento (agosto/1938).


Resto de ventura” (Gastão Lamounier/Mário Rossi) # Carlos Galhardo. Disco Odeon (11599-A). Gravação (27/3/1938) / Lançamento (maio/1938).



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Fontes:

- Dicionário Cravo Albin da MPB (Verbetes: Mário Rossi e Gastão Lamounier).

- Fotomontagem: Laura Macedo.

- Site YouTube: Canais: “SenhorDaVoz”, “Pedro Salomao” , “Igor Tavile”, “1000amigovelho”.

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NOITES TROPICAIS - SOLOS, IMPROVISOS E MEMÓRIAS MUSICAIS (NELSON MOTTA)*



Mas pelo menos vivemos uma fugaz sensação de liberdade, por algumas horas nos sentimos mais perto dos jovens do mundo. Mas na segunda-feira tudo voltou ao normal na Aquarius Produções Artísticas, firma que abri em sociedade com André Midani e os irmãos Marcos e Paulo Sérgio Valle, para produzir jingles, shows e eventos musicais. Contas a pagar, trabalhos a fazer, clientes a visitar. Embora produzíssemos muito, ganhávamos pouco: as agências só pagavam pelos jingles aprovados, e como tínhamos que pagar todas as
despesas de músicos e estúdio, o prejuízo com um jingle recusado comia o lucro de dois aprovados: era um péssimo negócio. No fim do ano, uma boa notícia: Boni e Magaldi nos encomendaram uma música de Natal, a ser cantada por todo o elenco da TV Globo, como mensagem de boas festas da emissora. Marcos criou uma melodia que achamos linda, parecia Burt Bacharach, e Paulo Sérgio e eu fizemos a letra de acordo com o briefing que eles nos deram. Boni e Magaldi adoraram a música e acharam que a letra não era lá grande coisa mas também funcionava, que expressava muito bem a mensagem de esperança e fraternidade que queriam passar. Aprovada a música, chamamos o MPB 4 e o Quarteto em Cy e gravamos com eles, dobrando e quadruplicando as vozes no estúdio, para produzir a massa vocal das 60 pessoas — o elenco estelar da TV Globo — que “cantariam” na gravação no Teatro Fênix. No dia da gravação, animadíssimo, levei uma ducha gelada: minha amiga Dina Sfat estava furiosa com a música que teria que “cantar” e me chamou de lado para uma amistosa mas dura cobrança: como tínhamos feito aquilo? Era uma vergonha: aquela música servia aos objetivos da propaganda da ditadura, com a cumplicidade da TV Globo. Fiquei chocado: mesmo em minhas piores paranóias nunca imaginei nada parecido. Reconheci que a letra realmente passeava entre o sentimentalismo e um delirante otimismo, mas Dina reconheceu que seria muito difícil escapar desses clichês natalinos e concordamos que seria impossível fazer uma música de Natal de oposição. Depois, Dina e as estrelas da Globo — Tarcísio Meira e Glória Menezes, Francisco Cuoco, Marília Pêra, Regina Duarte, Cláudio Marzo, Leila Diniz, Chico Anísio, Cid Moreira, Paulo José, Lima Duarte, Paulo Gracindo e grande elenco — cantaram animadamente: “Hoje é o novo dia de um novo tempo que começou...”

Veiculada maciçamente, a campanha da Globo foi um sucesso nacional fulminante e o nosso jingle se transformou na música mais tocada e cantada do fim de ano: em todas as festas, em todas as churrascarias, em todas as casas, em vez de “Jingle Bells” cantava-se “Um novo tempo” e eu não sabia se sentia orgulho ou vergonha. “Hoje a festa é sua, hoje a festa é nossa, é de quem quiser, é de quem vier.” Em janeiro de 1972, a Aquarius viveu seu melhor momento: acertamos com o empresário Guilherme Araújo em Londres e fomos os produtores dos shows que marcaram a volta de Gil e Caetano do exílio, no Teatro João Caetano e no Teatro Municipal, gravados ao vivo pela TV Globo. Eles chegaram discretamente e foram recebidos festivamente como heróis, vieram com seus novos discos gravados em Londres, suas músicas em inglês, seus cabelos imensos, suas novas bandas (a de Caetano liderada por Jards Macalé) e suas novas músicas. E até seu próprio equipamento de som, pilotado pelo inglês Maurice Hughes. Os shows foram triunfais, com Caetano dando ênfase a melodias elaboradas e a um intimismo gilbertiano e Gil apresentando arranjos vigorosos, cheios de jazz e funk, e lançando seu rock “Back in Bahia” e a sensacional “Expresso 2222”. No final, em vez de uma apoteose roqueira, como tantos esperavam deles, vindos de onde eles vinham, os dois surpreenderam cantando juntos um samba-de-roda do velho baiano Riachão, que soou como um comentário irônico, uma forma tropicalista de expressar suas novas posições, com um pé na tradição e outro no futuro.

“Xô, xuá, cada macaco no seu galho xô, xuá, eu não me canso de falar...” E fecharam com um surpreendente e antigo sucesso das irmãs Aurora e Carmen Miranda, rebolando alegre e provocativamente no palco: “Nós somos as cantoras do rádio levamos a vida a cantar de noite embalamos seu sono de manhã nós vamos te acordar...” Na platéia, Cacá Diégues adorou, mas sentiu um frio na barriga: era exatamente a música que ele tinha pescado no fundo do baú para ser o tema principal, o gran finale do seu filme Quando o carnaval chegar, que começaria a rodar em poucos dias com Chico Buarque, Nara Leão, Maria Bethânia e Hugo Carvana nos papéis principais. Às vésperas do carnaval, encontrei Marília Pêra num corredor da TV Globo, me apresentei, conversamos um pouquinho e convidei-a para ir passar o carnaval na Bahia comigo. Ela riu e disse que já tinha compromisso: era o destaque da escola de samba Imperatriz Leopoldinense que apresentaria o enredo “Alô, alô, taí Carmen Miranda”, onde encarnaria a própria.
 
Fui sozinho para a Bahia, onde não fiquei sozinho um minuto, tomando cerveja com Caetano e Bethânia e seus irmãos na Praça Castro Alves, dançando atrás do trio elétrico, mergulhando nas águas verdes do Porto da Barra e acabando na praia de Arembepe, transformada em uma colônia hippie, para onde tinham se mudado temporariamente muitos amigos. Lá, vivendo em cabanas de pescadores, entre o mar azul e a lagoa verde, dentro de uma paisagem idílica e selvagem, jovens rebeldes fugidos da cidade viviam com simplicidade e liberdade, comendo frutas e peixe frito, tocando violão,
namorando, fumando maconha, viajando de ácido e conversando, conversando muito, enquanto o tempo parecia não passar. Foi o “verão do desbunde”, que para mim durou três dias: tinha filha para criar, tinha que trabalhar na Philips, na Aquarius e na TV Globo, onde
apresentava um programinha de cinco minutos todos os dias, antes da novela das sete, com as novidades musicais nacionais e internacionais. Chamava-se “Papo firme” e tinha como tema de abertura o “Domingo o parque” de Gilberto Gil. Na Bahia, vi Marília na televisão, de Carmen Miranda, cantando e dançando com infinita graça à frente da escola de samba no Rio e levando-a a surpreendente vitória. Com 28 anos, loura platinada, olhos e boca enormes e um talento efervescente, ela era a atriz do momento, produtora e estrela do maior sucesso teatral do ano: a revista A vida escrachada de Joana Martini e Baby Stompanato, de
Bráulio Pedroso, com músicas de Roberto e Erasmo. Foi quando a vi pela primeira vez, maravilhado, no Teatro Ipanema. Ao mesmo tempo, Marília estourou na televisão como a “Shirley Sexy” da novela “O cafona”, também de Bráulio, ao lado de Francisco Cuoco. Depois do carnaval, já de cabelos curtos e escuros, ela estava estreando no tradicional night club Night and Day, um musical sobre Carmen Miranda, A pequena notável, que fui correndo assistir. Fiquei completamente apaixonado. Por Marília e pela Carmen que ela vivia. Fui cumprimentá-la no camarim, saímos para jantar, voltei na noite seguinte e na outra e na outra e em poucos dias estávamos namorando.

Marília era fã de Elis e me contou que as duas, muitos anos atrás, no início de suas carreiras, tinham disputado o mesmo pequeno papel na montagem carioca do musical americano Como vencer na vida sem fazer força. Embora no teste de canto Elis tivesse arrasado, nos testes de dança e interpretação Marília acabou ganhando o papel. Também me falou com alegria de uma participação especial que tinha feito recentemente no programa de Elis na TV Globo, onde protagonizaram duas vedetes de teatro de revista, com maiôs de paetês, plumas na cabeça, meias arrastão e saltos altíssimos. Com imensos cílios postiços e figurinos idênticos, as duas brincavam de rivais, uma atropelando a outra, disputando os espaços, dançando e cantando “Sucesso aqui vou eu”, um divertidíssimo pastiche de canção da Broadway, criado por Rita Lee e Arnaldo Baptista para o fashion show “Blow Up”, da Rhodia. Fui com Marília à estréia do show de Elis no Teatro da Praia. Com a plateia invadida por uma multidão de convidados, sobrou só um lugarna primeira fila, onde me sentei feliz com Marília no meu colo e dali assistimos ao show e aplaudimos intensamente. No dia seguinte, recebi um telefonema do cabeleireiro Oldy, grande amigo de Elis, me dizendo que ela queria muito falar comigo, que queria conversar, esclarecer umas coisas. Apareceu de madrugada na casa dos meus pais, onde eu passava uns dias, se desculpou muito pelo rompimento abrupto e me disse que estava se separando definitivamente de Ronaldo. Mas nada era mais como antes.




* A presente obra é disponibilizada por nossa equipe , com o objetivo de oferecer conteúdo para uso parcial em pesquisas e estudos acadêmicos, bem como o simples teste da qualidade da obra, com o fim exclusivo de compra futura. É expressamente proibida e totalmente repudiável a venda, aluguel, ou quaisquer uso comercial do presente conteúdo.

AS FRENÉTICAS TÊM PRIMEIRA, E MELHOR, FASE RELANÇADA

Por José Teles



A Warner Music anuncia a caixinha As Frenéticas – 40 Anos de Dancin’ Days, que chegará às lojas como uma homenagem, não premeditada, à vocalista Lidoka, uma das integrantes da formação original do grupo, falecida ontem, 23 de julho, aos 66 anos, em São Paulo.

Assim como as também fundadoras das Frenéticas, Regina e Leiloca, Lidoka fez parte do antológico Dzi Croquettes. O grupo tinha ainda Dhu Moraes, Edy de Castro, e Sandra Pera, irmã de Marília Pera, na época mulher de Nelson Motta, idealizador do sexteto, que explodiu com furor uterino na música popular brasileira no final dos anos 70, em plena era da disco music.

As Frenéticas – 40 anos de Dancin’ Days, com organização do pesquisador e produtor Rodrigo Faour, reúne os quatro primeiros LPs da banda, Frenéticas (1977), Caia na Gandaia (1978), Soltas na Vida (1979) e Babando Lamartine (1980). Com exceção ao tributo a Lamartine Babo, os outros refletem o Brasil da época da abertura lenta e gradual do presidente Geisel, à que as moças imprimem velocidade. Gravaram canções de versos que forçaram a abertura na censura: “Eu vou fazer você ficar louco/ficar louco/muito louco/dentro de mim” (do final de Perigosa, Nelson Motta/Rita Lee).

São reflexos também, e sobretudo, do ambiente onde As Frenéticas nasceram, a discoteque Frenetic Dancin Days, um espaço no Shopping Gávea, transformado por Nelson Motta numa contraparte carioca, e tropicalizada, da nova-iorquina Studio 54. Casa que acabou acabou inspirando novela global.

As Frenéticas inicialmente eram as garçonetes cantoras. Entre servir doses, coquetéis e pratinhos, elas cantavam três ou quatro músicas. Agradaram tanto, que a Warner Music convidou para gravarem um álbum inteiro, ensaiadas pelo guitarrista Roberto de Carvalho, que encetava namoro com Rita Lee.

Sorte das Frenéticas que ganharam músicas inéditas da ex-Mutante, que inaugura parceria com o quase marido guitarrista. Duas no álbum de estreia, Fonte da Juventude (Rita Lee) e Perigosa, maior sucesso do grupo, de Rita Lee, Roberto Carvalho e Nelson Motta, que repetem a parceria em Perigosíssima, no álbum Soltas na Vida (1979). Os três primeiros LPs são o que de melhor o sexteto fez.

A caixa traz também 17 faixas extras, um caleidoscópio da alegria do grupo, com jingles, chamadas para rádio, versões alternativas, e três inéditas, uma delas Açúcar Candy (Sueli Costa/Tite Lemos), do primeiro álbum solo de Ney Matogrosso.

Maliciosas, sensuais, com um repertório de regravações, e inéditas, cedidas por, entre outros, Gilberto Gil (Sonho Molhado), Roberto e Erasmo (Macho), Flaviola (com Fernando Pinto, O Que Não Mata Engorda), Luhli e Lucina (É Que Nesta Encarnação Eu Nasci Manga), A Frenéticas foram muito além da moda disco, e da nela de altíssima audiência Dancin Days, que tinha Perigosa como tema.

O sexteto antecipa também o Brock dos anos 80, na euforia de uma liberdade de expressão readquirida, e a luz da democracia pintando no fim do túnel (em 1979 veio a anistia e o fim da censura). Não por acaso, As Frenéticas foram produzidas por Liminha, é o início do trabalho dele, o artífice de estúdio do rock oitentista, como produtor.


PS – A paulista Maria Lidia Martuceslli, a esfuziante loura de cabelos encaracolados, a Lidoka, faleceu em consequência de um câncer, contra o qual lutava há dez anos. Em 2012, lançou a autobiografia, Uma Vida Frenética, e participou de todas as formações do grupo.

domingo, 28 de agosto de 2016

HISTÓRIAS E ESTÓRIAS DA MPB

Considerado um dos maiores sucessos do cantor e compositor alagoano, "Oceano" foi composta de modo inusitado

Por Bruno Negromonte



Djavan em 1989 lança o segundo disco de sua carreira ao qual não conseguiu, digamos, batizar. Tal contexto acabou fazendo com que o seu nono disco saísse apenas com o nome do cantor e compositor. No  entanto não demorou muito para que o seu público acabasse o batizando de "Oceano", por conta do estrondoso sucesso que a canção fez em todo o país. Na época "Oceano" fez parte da trilha sonora da 42ª "novela das sete" exibida pela Rede Globo. "Top Model", foi uma novela que trazia como enredo um contexto meio litorâneo e talvez pelo título da canção se encaixasse de modo coeso à história. Escrita por Walther Negrão e Antônio Calmon, Top Model trazia em seu elenco nomes como Marília Pêra, Nuno Leal Maia, Vera Holtz, Cissa Guimarães, Jonas Bloch, Maria Zilda, Evandro Mesquita, Zezé Polessa, Drica Moraes, entre outros. A canção era atribuída ao personagem Lucas Pasolini, interpretado por Taumaturgo Ferreira (que fazia par romântico com Malu Mader, que interpretava a personagem Duda). Já a par de toda a conjuntura "novelística" a qual a canção está envolvida, voltemos ao que de fato interessa que a música em si. Hoje Djavan conta com cerca de 40 canções em trilas de novelas globais. Na época já trazia aluns temas em seu currículo de intérprete e compositor, mas nenhuma haveria de alcançar o sucesso de "Oceiano". Há de se registrar para quem não tem conhecimento que o cantor e compositor alagoano antes de gravar o primeiro disco trabalhava, além de crooner de boates cariocas, como contratado da gravadora Som Livre para interpretar alguns temas de novelas. Dessa época a canção que mais se destacou na voz do pretenso cantor foi "Alegre menina", que fez parte da trilha sonora da novela "Gabriela", exibida em 1975, ou seja, um ano antes do lançamento do primeiro LP do artista. 

"Oceano" foi feita de modo inusitado. Após encontrar esta canção entre cassetes de projetos abandonados pelo cantor e compositor, sua filha liga para o pai que encontrava-se nos EUA e sugere que Djavan ao voltar para o Brasil reconsidere a possibilidade de concluir aquela melodia belíssima que ela havia encontrado. O músico acata a ideia e retoma a ideia de música baseando-se em seu propósito inicial que era trazer para o contexto sonoro de "Oceano" ares flamenco. Tanto que a ideia inicial era que "Oceano" tivesse sua letra em espanhol (o que só acabou ocorrendo em 1994, cinco anos depois do lançamento do da gravação original, quando Djavan lançou o projeto "Esquinas", disco voltado para o mercado latino e que traz alguns dos seus grandes sucessos com letras em espanhol). Persistindo nesta áurea flamenca, Djavan descobre na época da gravação que estava vindo ao Brasil era Paco de Lucia, um dos maiores nomes do gênero a partir de um inconfundível violão. Marcos Mazzola, produtor do disco do Djavan, intermedia o encontro entre os dois artistas e Paco aceita o convite para participar do disco. No dia marcado, Paco chega ao estúdio e pede para ouvir a melodia de "Oceano" para basear-se. Ao término, Paco, um dos maiores violonistas da historia da música, diz ao Djavan: "Sua música tem muita harmonia... Eu só sei 3 acordes”. Djavan pede então que ele entre no estúdio e execute os 3 acordes que ele sabe. Paco entra no estúdio e faz um solo magistral com os "três" acordes que sabia. Hoje, quase três décadas depois do seu lançamento, a canção ganhou o status de hit do cantor e é exaustivamente executada nos mais distintos ambientes (desde rodas de violão até as plataformas digitais de música). Interpretadas por nomes como Leny Andrade, João Bosco, Carol Welsman entre outros; o próprio autor já a registrou novamente em mais dois CD's ao vivo e 4 DVD's. A título de curiosidade a canção é a mais acessada entre os vídeos disponíveis no canal Djavan VEVO (canal do cantor existente no youtube). "Oceano" já caminha para os 5 milhões de visualizações

SR. BRASIL - ROLANDO BOLDRIN

MEMÓRIA MUSICAL BRASILEIRA

35 anos depois, "Saúde" ganha reedição em CD através do box Rita Lee



Saúde - Rita Lee (1981)

O que fazer depois de 2 discos de sucesso em dois anos seguidos? A resposta parece óbvia: um terceiro disco de sucesso no terceiro ano. É assim que funciona a indústria fonográfica, ainda que o humor e criatividade dos artistas contratados nem sempre consigam acompanhar. Mas, para esta indústria fonográfica, pouco importa, o que vale mesmo é o saldo de vendas. Vamos examinar agora o outro lado da moeda, o lado do artista. Os dois discos de sucesso de Rita Lee, em 1979 e 1980 (resenhados aqui) tinham razão de ser: eram grandes coleções de canções inspiradas com arranjos criativos e modernos (pra época) e uma produção impecável. A somlivre não poderia deixar passar batido e em 1981 deveria vir outro campeão de vendas.

Saúde, de 1981, consegue realizar bem o lado da gravadora, mas deixa um pouco a desejar do ponto de vista das canções, mas ainda assim, vale a audição. Aqui, Rita está um pouco mais cansada (ainda que o disco apresente umas 3 ou 4 canções muito boas) e a repetição das mesmas fórmulas nos arranjos e na produção dos discos anteriores, faça este disco soar como uma “continuação” dos álbuns anteriores.

Rita clama quero mais: saúde! E esse grito pode até ser interpretado dentro deste contexto que contrapõe artista e gravadora, ainda que a intenção da letra seja claramente outra:
Me cansei de escutar opiniões / de como ter um mundo melhor ... Mas ninguém sai de cima / nesse chove não molha / eu sei que agora eu vou é cuidar mais de mim!...

Por sinal, saúde, a música que abre e dá o título ao disco, é o pop-rock perfeito que Rita e Roberto conseguem repetir aqui, com certa cara de novidade. Naquele tempo a gente pousava delicadamente a agulha sobre a bolacha preta de vinil e o “shhhhhhhh” chiado baixinho (mas perceptível) do diamante percorrendo os sulcos eram como uma introdução sonora aos discos. Então vem a introdução de Saúde (a música), acho que não consigo lembrar de outra introdução de música tão bonita quanto esta: a batida levemente disco acompanhada de uma sutil guitarra e um lick repetitivo de piano elétrico soam como uma preparação para a música que vai começar. De repente uma frase de guitarra vem como que apresentar Rita que entra em seguida, cantando firme: me cansei! De lero-lero! Dá licença mas eu vou sair do sério...

E a música mistura a batida disco com um guitarra stoniana, seguindo a sugestão que os próprios já haviam dado em Miss You (1978). Saúde tem um andamento que fica entre o lento e o acelerado e é uma delícia de ouvir. Fiquei anos sem ouvi-la, e acho que hoje gosto mais dela do que da primeira vez que ouvi.

Outro momento memorável é Banho de Espuma, que alia à letra sutilmente sacana de Rita Lee, um arranjo cheio de metais (assinado por Lincoln Olivetti, que também tocou o piano emSaúde), mudanças de andamento e uma bateria eletrônica (não sei se é, ou é tocada de maneira a parecer assim...) que era marca registrada nos discos típicos dos anos 80 “hooked on classics”, “ hooked on swing”... Além destas destacam-seMutante, que apesar do nome não é referência aos Mutantes, mas uma linda balada romântica, cheia de sons espaciais de sintetizadores e uma percussão meio puxada pro latino, e mesmo assim a mistura fica de muito bom gosto. Atlântidatambém é outro bom momento. Aqui também vemos Rita e Roberto experimentando uma sonoridade nova, que não aparecia nos disco anteriores. A bateria “eletrônica” citada antes aqui vem mais forte, mais marcada (primórdios do bate-estaca), já que o arranjo é, sonoramente, mais limpo, mais econômico. Destacam-se Rita Lee que canta sussurrando, o acompanhamento rítmico de piano de Lincoln e a guitarra inspiradíssima que vou creditar a Roberto (apesar de que o encarte do disco não deixa claro quem tocou). Tititi é o momento rock’n’roll do disco, e foi até trilha de novela numa versão regravada por Virginie e sua banda Metrô. Boa canção, mas não chega nem aos pés de Ôrra Meu (´80) ou Papai me Empresta o Carro (´79), dos discos anteriores. Tatibitati é prova cabal de que Rita e Roberto estavam se cansando de todo esse troço (Rita Lee tinha virado mega star com direito até a especial de fim de ano na Globo). Mother Nature é a versão em inglês para Mamãe Natureza (´74, ver a resenha de Atrás do Porto...) e nada acrescenta a versão original, enquanto que Favorita foi cedida pra Roberto de Carvalho cantar, experiência que não se repetiria mais, graças a deus. Duas canções com cara de “estamos enchendo lingüiça pra fechar o disco e lançar antes do natal”, como de fato aconteceu e eu, o ganhei no natal de 1981. 


Faixas:
01 - Saúde (Rita Lee - Roberto de Carvalho)
02 - Tatibitati (Rita Lee - Roberto de Carvalho)
03 - Mutante (Rita Lee - Roberto de Carvalho)
04 - Ti-Ti-Ti (Galinhagem) (Rita Lee - Roberto de Carvalho)
05 - Banho De Espuma (Rita Lee - Roberto de Carvalho)
06 - Atlântida (Rita Lee - Roberto de Carvalho)
07 - Favorita (Rita Lee - Roberto de Carvalho)
08 - Mother Nature (Mamãe Natureza) (Rita Lee - Roberto de Carvalho)

Fonte: http://1001br.blogspot.com.br

sábado, 27 de agosto de 2016

PETISCOS DA MUSICARIA

GRANDES INSTRUMENTISTAS PERNAMBUCANOS (IV) – ROBERTINHO DE RECIFE


Robertinho do Recife, no estúdio Abbey Road, gravando com George Martin


Na trilha dos grandes músicos instrumentistas de minha terra, chego agora em Robertinho do Recife (ou de Recife, tanto faz). Até aqui, viajamos nos solos virtuosos de Heraldo do Monte, Novelli, Naná Vasconcelos e Paulo Rafael.

Robertinho, nascido no Recife há 63 anos é destes caras que já vêm ao mundo sendo. Ainda menino, foi logo apontado como músico prodígio. Aos 12 anos, já era considerado um virtuose na guitarra. Normal para a tenra idade, amostrava-se fazendo malabarismos, como tocar com os pés (outros fizeram com os dentes).

Ainda no seminário onde estudou, Carlos Roberto Cavalcanti de Albuquerque exercitou-se tocando música sacra. É considerado pela crítica e pelo público um dos melhores guitarristas do Brasil. Hoje, além de músico, tem uma carreira sólida como produtor, fazendo trabalhos para alguns dos mais famosos nomes da música brasileira.

Vou continuar contando a história e trazendo ilustrações de Robertinho, mas não posso omitir que passei a ficar absolutamente ligado ao músico depois que gravou na sua guitarra rouca o frevo “Come e Dorme”, de Nelson Ferreira, que tornou-se o mais cantado Hino do Náutico, meu clube do coração. Ouçam:

Ainda na Jovem Guarda, Robertinho acompanhou ídolos como Rosemary e Jerry Adriani. Tocou em bandas nos Estados Unidos e também em transatlânticos em cruzeiros na costa brasileira, executando principalmente blues, jazz e country.

No período em que foi músico de estúdio, tocava estilos bem variados, acompanhando artistas como Jane Duboc, Cauby Peixoto, The Fevers e Hermeto Pascoal. Tocou muito heavy metal e – curiosidade – música infantil. Na época do lançamento de seu disco “Rapsódia Rock”, apresentava-se vestido de Mozart.


Rapsódia Rock: vestido de Mozart


Em 1985, juntamente com sua banda, fez o disco “Metal Mania”, com o grupo de que recebeu o nome do álbum (projeto de Robertinho), quando abriu shows para a banda norte-americana Quiot Riot, em São Paulo, no Rio e em Porto Alegre. No ano seguinte, Robertinho fundou o grupo musical Yahoo, que ficou conhecido por fazer versões de grandes sucessos internacionais, com versão em português.

O auge de sua carreira como guitarrista foi nos anos 70 e 80. Embora, toque e participe de discos de diversos artistas ainda hoje, passou a se dedicar a produzir artisticamente para Geraldo Azevedo, Fagner, Xuxa e Zé Ramalho, entre outros.

Com muita bagagem e anos de estrada, na noite, em acompanhamentos e discos solo, Robertinho optou deixar a carreira musical, negando até convite para integrar o grupo americano Chicago, sendo chamado por Fagner para produzir seus discos na década de 1980.

Atualmente, trabalha principalmente no seu estúdio, o “Special Discos”, no Rio de Janeiro. Como guitarrista, participou em shows ou gravou com vários artistas e bandas internacionais como Stanley Clarke, Peter Tosh, George Martin, Deep Purple, Arto Lindsay, Andy Summers.

Entre os brasileiros, além do que já citamos, tem trabalhos com Luiz Melodia, Dominguinhos, Gal, Wagner Tiso, Zeca Baleiro, Moraes Moreira, Amelinha, Lenine.

Solo de Deslizes, com Fagner:



Em 1982, lançou com a cantora Emilinha Borba, o LP “Satisfação”, atuando na faixa “Feliz com Você”, além tocar parcerias suas com Fausto Nilo, Abel Silva e Capinam. Em 1997, suas músicas “Não mais nada” e “O movimento está parado” em parceria com Falcão foram gravadas no CD de Falcão “A um passo da MPB”.

Metal Mania: na formação de 2014


Em 2004, integrou a banda “Na Mata Café” cujas apresentações ao vivo trouxeram performances brega/new wave, com o pior e o melhor do som dos anos 80. Somou às atividades artísticas a atuação como produtor musical por longo tempo. Em 2011 foi homenageado, em sua cidade natal, pelo bloco de carnaval “Galo da Madrugada”.


Robertinho de Recife Live – Concerto em 1989, Rio de Janeiro:



Na mesma época, envolvido com uma nova geração de músicos que ele mesmo havia entusiasmado e influenciado, retornou aos palcos em uma turnê ao lado do grupo “Os Autoramas”.


No fim de 2014, oito meses após sofrer um infarto, reativou seu grupo de rock Metal Mania e lançou o disco “Back for more”, registrado também em vinil. No álbum, quase todo instrumental, tocou guitarra, principal das gravações.

Semana que vem tem mais dessa festa em louvor à música instrumental pernambucana e brasileira.


Fontes: Dicionário Ricardo Cravo Albin; wikipedia; acervo pessoal; site onordeste; O Globo; site Metal Mania.

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