quarta-feira, 14 de junho de 2017

WALDICK SORIANO, ESTE DESCONHECIDO, EM LANÇAMENTO DIGITAL

Por José Teles



Capa original do LP Waldik Sempre Waldik


Waldik Sempre Waldik, e não Waldick Sempre Waldick, é o título correto do álbum do baiano Waldick Soriano, incluído num pacote de relançamentos digitais da Universal (do catalogo da extinta Copacabana). Conhecido das gerações mais novas pelo doc Waldick – Sempre no meu Coração, de Patrícia Pilar, a história amaciada e romantizada do cantor. Também por livros, como Eu Não Sou Cachorro Não, de Paulo César Araújo, que não demonstra também conhecer muito de WS.

Waldik Sempre Waldik é o 13º disco de Waldick Soriano, um LP de 1967, no auge da jovem guarda. Não é o melhor dele, a orquestra que o acompanha abusa de violinos e coros hollywoodianos, não raro encobrindo a voz do cantor. Embora privilegie o bolero em sua obra (com influência clara do cubano Bienvenido Granda, a cuja obra chegou a dedicar um álbum inteiro), Waldick Soriano foi extremamente eclético no que gravou, encontram-se nos seus discos até os anos 60, praticamente todos os ritmos que faziam sucesso no rádio, do boogie woogie, ao mambo, do cha-chá-chá até o frevo.

O Waldick Soriano redescoberto nos anos 2000, já próximo do fim, foi o nosso Roy Orbinson, quase sempre de roupas sóbrias, chapéu e óculos escuros, e em cada canção um drama. Não o brega rasteiro de Eu Não Sou Cachorro Não. Esta música é tão atípica no repertório dele, quanto Garçom, no de Reginaldo Rossi. No entanto, ambos foram redescobertos por um público com uma visão estereotipada de ambos, que imaginava que a obra deles consistia de canções assim.


Eu Não Sou Cachorro Não é de 1972, quando Waldick Soriano virou bibelô de madame rica no Rio e São Paulo. Elas se divertiam com ele, e ele riu por último de todas. Gravou o que este pessoal achava que era sua linha e assim, pela primeira vez, chegou à elite, Eu Não Sou Cachorro Não foi sucesso em todas as classes sociais, e ele ficou refém da música. Quando a gravou, sua discografia já contava com 21 LPs, além de compactos e 78 rotações. Waldick Soriano não era refinado,mas tampouco suas letras cultivavam a grosseria de Eu Não Sou Cachorro Não.

Muito menos era o brega gente fina e, aos mesmo tempo, espirituoso, espécie de bom selvagem, como passou a ser visto pelos novos fãs. Autêntico, Waldick Soriano cantava bolerões, com letras que seu pouco estudo permitia escrever. As cartas estão sempre presentes em sua música, em que os amantes vão e vêm. vivem às turras, brigam muito, noivados são desfeitos às vésperas das bodas. Mas se perdoam, mesmo depois de grandes traições.

Waldik Sempre Waldik tem a sertaneja Alvorada no Sertão (com Teddy Vieira), o iê-iê-iê, meio mambo, Não Sou Mau Rapaz (com Gilberto Lima), em que a formação instrumental guitarras, bateria, baixo, não dispensa, corais e grande orquestra, mas vai também de samba, com Meu Pranto Secou (com Gilberto Lima). Nas 12 faixas do disco não se vai encontrar nada parecido com Eu Não Sou Cachorro Não que, como foi dito, tem pouco a ver com o grosso da obra de Eurípedes Waldick Soriano, este grande desconhecido da MPB, cuja obra continua quase toda fora de catálogo.

Confiram Waldick Soriano, na jazzy Tudo Que Restou:


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