PROFÍCUAS PARCERIAS

Gabaritados colunistas e colaboradores, de domingo a domingo, sempre com novos temas.

ENTREVISTAS EXCLUSIVAS

Um bate-papo com alguns dos maiores nomes da MPB e outros artistas em ascensão.

HANGOUT MUSICARIA BRASIL

Em novo canal no Youtube, Bruno Negromonte apresenta em informais conversas os mais distintos temas musicais.

sábado, 31 de março de 2018

PETISCOS DA MUSICARIA: “QUE BONITO É”, OUTRA QUE NÃO SAI DA CABEÇA


Por Joaquim Macedo


“Que Bonito É”: a trilha do futebol que o Canal 100 eternizou


Falar em Luiz Bandeira é lembrar imediatamente de “Voltei, Recife”, “É de Fazer Chorar” (Ó Quarta-feira Ingrata) e outros tantos sucessos.

É assim: a senha para sentir-se um local ao chegar no Carnaval do Recife e de Olinda é saber de cor e salteada a letra de pelo menos um destes clássicos frevos-canção.

Na Cadência do Samba (“Que Bonito É”) – de Luiz Bandeira, 
com Waldir Calmon e sua Orquestra


Luiz Bandeira, cantor, musico e compositor pernambucano nasceu em 25 de dezembro de 1923, falecendo em 22 de fevereiro de 1998, um domingo de Carnaval do Recife.

Passou parte de sua infância em Maceió-AL, onde participou de grupos de repentistas nas feiras locais.

Estreeou sua carreira artística em 1939, num programa de calouros da Rádio Clube de Pernambuco, que o contratou em seguida. Foi violonista, radioator e crooner.

Em 1950, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde estreou nas noites cariocas como cantor de orquestra no Copacabana Palace.

Foi nesse período que Bandeira compôs “Na Cadência do Samba” (Que Bonito É), por muitos anos executada como tema de fundo de jogos de futebol, exibidos pelo jornal de cinema, o famoso Canal 100.

Não confundir com “Na Cadência do Samba”, de Ataulfo Alves, Paulo Gesta/ Matilde Alves, como podem comparar abaixo:



Na Cadência do Samba – de Ataulfo Alves/Paulo Gesta/Matilde Alves, 
com Elizeth Cardoso

Bandeira é considerado um dos maiores compositores de frevo, além de sucessos gravados por Luiz Gonzaga, “Onde tu tá, Neném’, por Clara Nunes, “Viola de Penedo” e muitos outros nomes da música popular brasileira.

Para que não se diga que Bandeira fez aquele samba, de forma incidental, ouçam essa melodia (Apito no Samba), executada pelo maestro Moacir Santos, um conterrâneo de alto quilate (Ouro Negro).

O Apito no Samba, de Luiz Bandeira, interpretação do Maestro Moacir Santos

Durante sua carreira, gravou alguns discos e ganhou prêmios por seus frevos. No final dos anos 80, aposentou-se e voltou a morar no Recife.

Outras composições de Luiz Bandeira: Maria Joana, baião (Continental, 1952); Sincopado, choro (Continental, 1953); Bom Danado, frevo canção em parceria com Ernani Seve (Continental, 1954); Marcha da pipoca (Todamérica, 1954); O que os olhos não vêem, samba (Continental, 1955); Recado de Olinda, samba (Continental, 1958); Samba com Luciano (Continental, 1959); Açucena (Continental, 1959); Nossa timidez, bolero em parceria com Alberto Lopes (RCA Victor, 1960).

Semana que vem tem mais…..


Fontes: Dicionário Renato Phaelante; Dicionário Ricardo Cravo Albin; Fundaj; Wikipedia; Pernambuco de A a Z.

APÓS 20 ANOS AFASTADAS, GAL COSTA E MARIA BETHÂNIA ANUNCIAM PARCERIA

Minha Mãe, escrita por César Lacerda e Jorge Mautner, fará parte do novo disco de Gal


A última parceria entre Gal e Bethania tinha acontecido há mais de 20 anos.


Após quase 20 anos sem serem vistas juntas, Maria Bethânia e Gal Costa vão gravar uma faixa em conjunto no novo CD de Gal, que ainda não teve nome divulgado, mas será lançado pela gravadora Biscoito Fino e está em fase de finalização. A música Minha mãe marca um reencontro de vozes que há 28 anos não se ouvia, porém está presente nas canções Sonho meu, O ciúme e Oração de mãe menininha.

Os compositores César Lacerda e Jorge Mautner fizeram a letra da nova faixa pensando na figura materna que é representada pelas mães das duas cantoras, Dona Mariah Costa Penna e Dona Canô. Eles traçam um paralelo com Nossa Senhora Aparecida, que simboliza a religiosidade das duas mulheres. 

O novo álbum que Gal Costa lançará este ano, conta com outras parcerias. Uma delas é música inédita do compositor paulista Guilherme Arantes, Puro sangue (O libelo do perdão) que foi oferecida a ela. Essa canção quase gerou mais um dueto da cantora com Caetano Veloso. A ideia de possivelmente juntar esses músicos foi do diretor artístico do disco Marcus Preto. Porém, ao ouvir a composição, Caetano considerou que Puro sangue (O libelo do perdão) estava perfeita e não precisava de sua contribuição.


Relação

A cantora Maria Bethânia relatou, em 2017, após ser convidada para dar um depoimento para o documentário em homenagem aos 50 anos de carreira de Gal, que as cantoras não tinham contato desde 2002, momento em que se juntaram a Caetano Veloso e Gilberto Gil para produzir uma reedição do grupo Doces Bárbaros. Desde então, a amizade entre as duas foi questionada. Em 2012, quando Dona Canô, mãe de Maria Bethânia e Caetano Veloso morreu, Gal Costa entrou em contato com os artistas para mandar uma mensagem de pêsames. 

Segundo a assessoria de Gal Costa, as duas sempre foram amigas, porém não trabalham juntas há muito tempo. A última gravação que produziram em parceria uma com a outra foi Iansã, do disco 25 anos, de Bethânia.


Fonte: Correio Braziliense

sexta-feira, 30 de março de 2018

CANÇÕES DE XICO




SEGUNDOS E MILÊNIOS

Certa noite, por descuido, o tempo esqueceu a janela de sua casa aberta e por lá entraram todas as lembranças de um ontem distante. Sentaram-se à sua mesa e, caladas, fizeram o tempo voltar em si mesmo e recordar um passado que já não mais morava perto daquela casa. Era apenas um passado. Não conseguiam entender quão devastador era o poder do tempo que transformava segundos tão poucos e raros de amor em milênios de tanta saudade. Mas, sabiam todos que ele era, sim, o senhor da razão. Por isso, deram-se as mãos, louvaram os dias e dormiram no aguardo de que outras saudades lhes batessem à porta. Ou invadissem aquela casa por uma fresta da telha ou por uma janela esquecida aberta. Qualquer que fosse a forma, sendo da boa, seriam saudades bem-vindas.

FÁBIO CARAMURU LANÇA ECOMÚSICA | AVES, ÁLBUM QUE DÁ SEQUÊNCIA A SEU PROJETO ECOMÚSICA


O lançamento oficial de EcoMúsica | Aves acontece em concerto gratuito na Sala São Paulo, no domingo 15 de Abril, às 11 horas. O concerto terá participação especial do coro Meninas Cantoras de Campos do Jordão, grupo com o qual Fábio Caramuru acaba de gravar mais um vídeo com música do projeto EcoMúsica.

Há três anos o pianista Fábio Caramuru vem se dedicando aEcoMúsica, projeto que idealizou para criações de música e de vídeo dedicadas a diferentes temas ecológicos. No final de 2015 Caramurulançou o álbum EcoMúsica | Conversas de um piano com a fauna brasileira, um diálogo entre seu piano e os sons de aves.

O disco foi recebido com entusiasmo por crítica e público no Brasil e acabou atravessando fronteiras. Fábio Caramuru veio a ser convidado para a realização de longa turnê no Japão – em Abril e Maio de 2017 –, e teve o álbum lançado no mercado internacional por um selo japonês, em Setembro.

O novo EcoMúsica | Aves é mais um capítulo no voo de internacionalização do projeto EcoMúsica. O álbum, cuja ideia nasceudurante o período passado por Fábio Caramuru no Japão, foi gravado poucos meses depois de sua chegada. Caramuru faz questão de dizer que não foi um trabalho encomendado. "É, sim, meu sincero tributo à incrível cultura japonesa."
EcoMúsica | Aves chega ao mercado brasileiro neste mês de Abril – o lançamento é marcado pela realização de concerto na Sala São Paulo. No segundo semestre haverá também lançamento no Japão. O novo trabalho de Caramuru tem apoio institucional da Aliança Cultural Brasil Japão e patrocínio do restaurante Kinoshita.

Música criada na hora – Se no primeiro álbum Fábio Caramuru criou música dialogando ao piano com sons da fauna brasileira (aves, insetos e um anfíbio), no novo EcoMúsica | Aves o pianista e compositor trabalha apenas com aves japonesas.

"Meu processo criativo", explica, "começou com a escolha dos sons das aves. Optei pelos critérios da diversidade e da musicalidade, enquanto tinha em mente o potencial de interação das sonoridades com o piano."

A partir de uma oferta de 40 sons de aves, gravações fornecidas pela Japan Bird Research Association, Caramuru selecionou vinte, "com os cantos que melhor se ajustavam ao conceito do projeto".

Entre os pássaros escolhidos estão o Uguisu, um rouxinol; o Zakaaobato, pombo que apita ecoando os tons da flauta shakuhachi; o Hashibosogarasu, um corvo; o Kakkou, um cuco; e o Toratsugumi, cujo canto evoca os batimentos do coração. No material gráfico do disco são apresentadas figuras de todos os pássaros. E, além dos nomes em japonês, são relacionados também com seus nomes usuais em inglês e com seus nomes científicos.

No processo de composição das peças ele fez experimentos de improvisação com os cantos de cada uma das aves, criando estruturas e motivos embrionários. Segundo Caramuru, "a improvisação foi o procedimento que gerou todas as músicas do álbum". Em outras palavras, tanto no disco como nos concertos a serem realizados a música de EcoMúsica | Avesé criada na hora. Não há partitura, o pianista toca junto com a gravação do pássaro, seguindo a estrutura e a linha básica que criou para cada uma das peças, sempre com liberdade para improvisar e aberto a novas ideias.

A música que se ouve em EcoMúsica | Aves acaba sintetizando toda a vida musical de Fábio Caramuru, pianista que começou carreira na música clássica, dedicou-se por longo tempo ao repertório tradicional e brasileiro e, progressivamente, passou a investir também no trabalho de composição. Além de expressar seu amor incondicional pela natureza, o novo trabalho é uma síntese de todas as suas vivências musicais. Há momentos em que suas criações revelam traços da música europeia, em outros vibram sonoridades de Guarnieri, Villa-Lobos, Jobim.

Fábio Caramuru destaca que, mais do que um projeto brasileiro EcoMúsica | Aves é um trabalho universal. A produção do álbum envolveu profissionais de três continentes: Brasil (criação e gravação), Japão (sons das aves cedidos pela Japan Bird Research Association, projeto gráfico do designer Ryuto Miyake e gravadora Flau Records) e Estados Unidos (textos do encarte escritos pelo crítico Todd B. Gruel – que vão como anexo a esta mensagem).

Lançamento do vídeo Bem-te-vi – O concerto a ser realizado na Sala São Paulo, em 15 de Abril, às 11 horas, marca não apenas o lançamento de álbum EcoMúsica | Aves.

Na mesma ocasião estará sendo também lançado o "Bem-te-vi", mais um vídeo de Fábio Caramuru da série que vem fazendo no percurso do projeto EcoMúsica, todos eles com instigantes diálogos entre a música e a natureza brasileira.

Este novo vídeo foi gravado por Caramuru com as Meninas Cantoras de Campos do Jordão, coro infanto-juvenil criado em 2016 pela AMECampos-Associação dos Amigos de Campos do Jordão. O grupo, com 19 meninas de escolas públicas e privadas da cidade, com idades entre 10 e 17 anos, tem direção musical da mezzo soprano e professora Mere Oliveira.

O coro está também lançando seu álbum de estreia! Pela primeira vez cantando em São Paulo, e no mais cobiçado palco clássico paulistano, as Meninas Cantoras de Campos do Jordão abrem o concerto cantando um tema folclórico congolês. Depois, participam, junto com Fábio Caramuru ao piano, cantando "Bem-te-vi", música que faz parte do álbum EcoMúsica | Conversas de um piano com a fauna brasileira.

O repertório escolhido por Caramuru tem oito das músicas de Aves e mais oito de Conversas de um piano com a fauna brasileira. Em duas delas haverá a participação especial do violonista Daniel Murray.



S E R V I Ç O

CONCERTOS MATINAIS


FÁBIO CARAMURU, piano com as participações de MENINAS CANTORAS DE CAMPOS DO JORDÃO Mere Oliveira, regência / Fábio Fagundes, piano e DANIEL MURRAY, violão

Lançamento do álbum EcoMúsica | Aves
e do vídeo "Bem-te-vi", de Fábio Caramuru
com as Meninas Cantoras de Campos do Jordão

SALA SÃO PAULO
Praça Júlio Prestes 16, Campos Elíseos, tel. (11) 3223-3966

Domingo, 15 de Abril, 11 horas

Ingressos: ENTRADA FRANCA

Distribuição gratuita de ingressos a partir das 10h da segunda-feira anterior ao concerto (9 de Abril), pela internet ou na bilheteria do 1º subsolo da Sala São Paulo.
Ingressos limitados a quatro por pessoa. Devido à grande procura, recomendamos verificação da disponibilidade de ingressos.
No dia do concerto, havendo disponibilidade, a distribuição de ingressos será a partir das 10h. Limitada a um ingresso por pessoa.
Nº de lugares: 1.484

Duração: ~60 minutos

Informações: Alexandre Barros, Echo Promoções Artísticas, 99174-9123, alex@echobr.com.br

quinta-feira, 29 de março de 2018

GRAMOPHONE DO HORTÊNCIO

Por Luciano Hortêncio*



"Marchinha de extraordinário sucesso no carnaval de 1952, em gravação de 25 de setembro de 51, lançada ainda em dezembro, matriz S-093085. Foi também apresentada no filme "Tudo azul", da Flama Filmes, pelos próprios Quatro Ases e um Coringa." (Samuel Machado Filho)


Canção: Apanhador de papel

Composição: Peterpan - Afonso Teixeira

Intérprete - 4 Ases e 1 Coringa

Ano - Dezembro de 1951

Disco - Victor 80-0863-A


* Luciano Hortêncio é titular de um canal homônimo ao seu nome no Youtube onde estão mais de 10.000 pessoas inscritas. O mesmo é alimentado constantemente por vídeos musicais de excelente qualidade sem fins lucrativos).

PROGRAME-SE

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quarta-feira, 28 de março de 2018

PROGRAME-SE


GEOGRAFIA DAS EXPRESSÕES

Um ensaio fotográfico sobre o homem e seus territórios, focando as expressões diversas dos indivíduos no cotidiano e em suas respectivas paisagens. 

Por Fábio Nunes







LEGADO DE DALVA DE OLIVEIRA É CELEBRADO EM CD COM PARTICIPAÇÃO DE VÁRIAS GERAÇÕES DE ARTISTAS

O repertório lançado pela cantora marca até hoje a história da música popular brasileira

Por Ana Clara Brant


O Cruzeiro/Arquivo EM - 31/10/52
Dalva de Oliveira (C), em 1952, quando gravou a marcha Estrela do mar
(foto: O Cruzeiro/Arquivo EM - 31/10/52)


A história dela foi parar em livros, palcos e até em minissérie da Globo. Curiosamente, em 2017, ano de seu centenário de nascimento, aquela que é considerada por muitos a maior cantora do Brasil foi pouco lembrada. “Dalva de Oliveira é uma das artistas mais completas que este país já viu, uma intérprete fabulosa. Infelizmente, não tivemos muitos eventos para celebrá-la”, lamenta o produtor musical e jornalista Thiago Marques Luiz. Partiu dele e do pesquisador e crítico Ricardo Cravo Albin uma das raras homenagens à “Estrela Dalva”.
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De julho a agosto do ano passado, 32 artistas de várias gerações e estilos se reuniram no espetáculo Dalva de Oliveira – 100 anos. Foram duas noites: em São Paulo, no Teatro J. Safra, e no Rio de Janeiro, no Imperator. Angela Maria, Claudette Soares, Alaíde Costa e Leny Andrade – cantoras que conviveram com Dalva – subiram ao palco, além de representantes da nova cena da MPB: Filipe Catto, Julia Vargas, Ayrton Montarroyos, Xênia França, Assussena e Raquel Virgínia – as duas últimas integrantes da banda As Bahias e a Cozinha Mineira.

“A ideia era justamente fazer o encontro de gerações, reunindo diversos estilos e influências. Essa mistura é muito bacana. Particularmente, tenho muito orgulho de levar para o palco Dóris Monteiro, Alaíde Costa, Luciene Franco, que foi nora da Dalva, Claudette Soares, Célia, Eliana Pittman e Maria Alcina, grandes cantoras que estão na ativa. Ao mesmo tempo, mostramos a turma que está acontecendo: Ayrton Montarroyros, que ficou conhecido no The voice, Marina de La Riva e Filipe Catto. Música não tem idade”, ressalta Thiago Luiz. O jornalista é especialista em comemorar o centenário de nomes emblemáticos de nossa música. Já ganharam tributos Cartola, Carmen Miranda, Herivelto Martins (ex-marido de Dalva de Oliveira), Adoniran Barbosa e Luiz Gonzaga. “Todos esses eventos reuniram os mais variados tipos de artistas. No segundo semestre, vamos celebrar os 100 anos do sambista Geraldo Pereira”, avisa, referindo-se ao mineiro de Juiz de Fora, autor do clássico Acertei no milhar.



Maio
As duas apresentações em homenagem a Dalva, mãe do saudoso cantor Pery Ribeiro, resultaram no CD duplo gravado ao vivo lançado pela Biscoito Fino. “A festa não acabou. Vamos fazer um show de lançamento em maio, no Rio, e mais para a frente em São Paulo. Esse trabalho mostra toda a força da Dalva, pois traz o repertório imortalizado por ela – Segredo, Calúnia, Bandeira branca, Zum zum e Ave Maria no morro. Além isso, tem o lado B, as canções não tão conhecidas”, revela.

Uma das faixas do CD é Mentira de amor, a última gravação da cantora Célia, que morreu em setembro do ano passado. O álbum, aliás, foi dedicado a ela. “O mais bacana é que praticamente todas essas composições foram feitas para a Dalva e lançadas por ela. Dalva de Oliveira se tornou um mito porque era cantora única, com uma potência vocal de impressionar. Ela nunca se repetia. Teve várias seguidoras, como a própria Angela Maria”, diz o pesquisador. Nascida em Rio Claro (SP), a cantora morreu em 1972, aos 55 anos, de câncer.

Thiago Marques Luiz, de 38 anos, conta que a curiosidade a respeito da música brasileira o acompanha desde a infância. “Guardava o dinheiro que meus pais davam para o lanche e comprava LPs dos cantores. Formei-me em jornalismo e acabei trabalhando com produção musical. Há uns 10 anos faço projetos celebrando os grandes nomes da MPB. No que depender mim, essas figuras, fundamentais para a nossa história e a nossa cultura, serão sempre lembradas”, conclui.


Casa de Dalva

Neste domingo, os mineiros Thelmo Lins e Wagner Cosse vão homenagear Dalva de Oliveira. Às 18h, a dupla apresenta o show Casa de Dalva no Teatro Santo Agostinho. O repertório reúne os clássicos Máscara negra, Errei, sim e Bandeira branca, entre outros. Thelmo e Wagner estarão acompanhados por Rogério Delayon (cordas e arranjos) e Tatá Sympa (teclado e acordeom). O teatro fica na Rua Aimorés, 2.679, Bairro Santo Agostinho. Ingressos: R$ 40 (inteira) e R$ 20 (meia-entrada). Informações: (31) 3209-4858. Entradas antecipadas custam R$ 17 e podem ser adquiridas no site www.sympla.com.br/tw.


DALVA DE OLIVEIRA: 100 ANOS
Vários artistas
32 faixas
Biscoito Fino
Preço sugerido: R$ 50

terça-feira, 27 de março de 2018

LENDO A CANÇÃO

Por Leonardo Davino*



O que é canção? Felipe Cordeiro

Felipe Cordeiro


- O que é canção para você?
Canção, no caso de estarmos falando de canção popular no Brasil, é a simbiose entre letra e música. Neste caso, uma coisa existe em função da outra, sendo rigorosamente equivocada, na minha opinião, a análise que desmembra arbitrariamente a letra da música. 

- De onde vem a canção?
A canção, no caso brasileiro, vem da mestiça tradição que une basicamente as "cantigas" portuguesas com os refrões africanos e o sentimento telúrico indígena. 

- Para que cantar?
Pra espantar todo mal. 

- Cite 3 artistas que são referências para o seu trabalho. Por que estes?
Chico Science, Alípio Martins, Caetano Veloso.





* Pesquisador de canção, ensaísta, especialista e mestre em Literatura Brasileira pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e doutor em Literatura Comparada, Leonardo também é autor do livro "Canção: a musa híbrida de Caetano Veloso" e está presente nos livros "Caetano e a filosofia", assim como também na coletânea "Muitos: outras leituras de Caetano Veloso". Além desses atributos é titular dos blogs "Lendo a canção", "Mirar e Ver", "365 Canções".

CURIOSIDADES DA MPB

O reconhecimento internacional DE Ernesto Nazareth só veio depois de sua morte. Em 1939, os atores norte-americanos Fred Astaire e Ginger Rogers dançaram "Dengoso", no filme "A História de Irene e Vernon Castle". Em 1948, a polca "Apanhei-te, Cavaquinho" foi incluída na trilha sonora do desenho Melody´s Time, dos estúdios Walt Disney, nos Estados Unidos.

segunda-feira, 26 de março de 2018

MORRE MESSIAS HOLANDA, DO CLÁSSICO 'EU QUERO ME TREPAR NO PÉ DE COCO'

'Depois eu quero quebrar o coco, pra saber se o coco é oco, pra saber se o coco é oco' viraram versos obrigatórios no carnaval


Músico tinha 76 anos. 

O músico Messias Holanda morreu na manhã nesta segunda-feira (26), aos 76 anos, após falência múltipla dos órgãos. O cearense que ficou conhecido por canções como Pra tirar côco e Mariá vinha passando por dificuldades na saúde desde que sofreu um AVC, em 2016. O velório aberto ao público será realizado no Theatro José de Alencar, no Centro de Fortaleza, às 13h.

O velório vai contar com homenagens de Waldonys do Acordeon, Adelson Viana e outros músicos que ainda serão confirmados. Desde janeiro, o forrozeiro estava internado no Hospital do Coração de Messejana, localizado na capital cearense, devido a uma pneumonia.

Manuel Messias Holanda da Silva dedicou cinco décadas de sua vida ao forró, deixando mais de 100 composições em mais de 30 discos, além de coletâneas. Ele também fez participações especiais em DVDs como Canta e encanta: Viva Ceará (2014). No ano passado, músicos cearenses como Dorgival Dantas e Dedim Gouveia realizaram uma apreesentação em homanagem a Messias para financiar o tratamento de fisioterapia do artista.


Fonte: Diário de Pernambuco

PAUTA MUSICAL: LUIZÃO PAIVA, O PIAUÍ AO PIANO

Por Laura Macedo



O maestro, pianista, compositor e arranjador Luizão Paiva é um dos maiores pianistas de jazz da atualidade. É maravilhosa a opção de sair à noite e encontrar o Luizão, em uma das várias casas noturnas de Teresina, deslizando, suavemente, suas mãos no piano com competência, erudição e lirismo. A plateia arrebatada pela emoção, produzida pela melodia, harmonia e ritmo irretocáveis, aplaude e pede bis.

Saiba mais, AQUI.

domingo, 25 de março de 2018

VAMOS FALAR DE DISCOS?

PROGRAME-SE

A imagem pode conter: 10 pessoas, pessoas sorrindo, texto

sábado, 24 de março de 2018

PETISCOS DA MUSICARIA: ENSAIO SOBRE TEMPO E ESPAÇO NO MUNDO DO CAOS


Stephen Hawking


Queria falar de ontem. Melhor ainda, falar de amanhã, projetos. Queria falar do agora, já, imediatamente.

Às vezes, falta texto, contexto, suor/inspiração. Quando retiro o elmo que reveste o personagem, fico nu, perplexo diante de tudo, todas as coisas cruéis e gentis desse suceder de noites e dias sem fim.

A memória é o melhor reduto para se ficar equidistante de tempos e espaços. Permite viajar, arruar, imaginar, sentir, cheirar, deixar-se molhar pelos pingos de chubas, orvalhos, ares de montanha e brisa de spray à beira-mar. O cume. A Cimeira. A maior visão do mundo (Everest? K2?).

Não existe melhor sensação de poder do que estar no mais alto da pedra do Baú, na encantadora Campos do Jordão-SP.

Campos é a Mantiqueira que, vocacionada para sanatórios, se espalha em beleza, campanhas, várzeas, hectares sem fim. É o panótico do Vale do Ribeira. A encruzillhada perfeita entre São Paulo, Rio e Minas Gerais, olhando para trás.

Quem deixa Campos de trem, cuidado: a volta pela velha estrada de ferro Pindamonhangaba-Campos, pode acabar em Santo Antonio do Pinhal, por acaso.

Há momentos, como na antiga Santos-Jundiaí, que não vemos os trilhos tocarem nas dormentes, é preciso atenção no ruído.


O Mundo é um Moinho, de Cartola, por Cartola



Falar de depois de amanhã é muita pretensão para um homem comum. Quem diria que teríamos uma semana tão conturbada, esta última que terminou no sábado. Nesse caos já estabelecido, que é a sociedade que criamos.

Stephen Hawking, 76 anos, alojou-se num buraco negro e foi trabalhar, sem forma humana, já disforme por ELA, resolvendo questões no silêncio, buscando a origem da vida e apontando a necessidade de uma nova Terra, a “próxima B”.

Ainda desafiando aqueles que se escoram num Deus etéreo para resolver problemas comesinhos, gastando o tempo do Senhor. Hawking se entocou, mas a “velha” pergunta ninguem a fez.

Aqui mais no nosso quintal – e noutra dimensão – uma perda difícil para quem gosta de esportes. Bebeto de Freitas, sócio-fundador-torcedor e todo feito de Botafogo Futebol e Regatas foi bater uma bola com o primo Heleno (o dândi), ensinando o vôlei ao tio João Saldanha. Hoje, 68 anos é quase um moço.

E a vereadora Marielle Franco, esta sim, jovem de tudo, 38, assassinada com balas 9 mm, quatro delas furando-lhe o seu rosto, muito bonito, da beleza negra, da mulher, militante de mil causas e que se torna um “case” de mídia avassalador por todos os seus significados. Desde o início da notícia do fato, apreciei que falassem do Anderson Gomes, o Motorista, com igual ênfase.

Afinal, em casos semelhantes, fala-se da celebridade morta, acompanhada de um piloto, copiloto, um motorista, um guarda-costas, um anônimo que fazia as vezes de anjo da guarda. Em geral, tratado pelo pré-nome. Nota à parte: tenho pavor de Uber, embora não conheça seus serviços.


Preciso me Encontrar, de Candeia, com Ney Matogrossso

Volto ao agora e me movimento em pensares. À mente, dois pensamentos de Brecht: o primeiro – “Infeliz do povo que precisa de heróis”.

Depois, o magnífico aforismo: “Há homens que lutam um dia e são bons, há outros que lutam um ano e são melhores, há os que lutam muitos anos e são muito bons; porém, há os que lutam toda a vida. Esses são os imprescindíveis”.

Sem entrar no mérito da monumental obra de Bertold Brecht, os dois apotegmas que proferiu, deixam-me definitivamente confuso, pois se acredito num conceito, abandono o outro, por uma razão lógica. Um propõe o mérito; o outro, o bem-estar pela inércia.

Falei de ontem, de anteontem e nem cheguei ao Planalto, ao STF e ao Congressso, masmorras onde são tramados os desenganos da nação. Nem o alento pelos encarcerados, pois, dependendo da sentença do ministro, alguns/muitos se livram em liminares e postergações, como sempre foi.

Vindo por rodovia de Campos do Jordão, passo em Taubaté-SP, ambiente onde Monteiro Lobato fez reinações e causou polêmicas, além da alegria de crianças juvenis.

Sigo e entro em São Luiz do Paraitinga-SP, terra de Oswaldo Cruz, de um belísimo carnaval (de Juca Teles, as marchinhas), o bucolismo do Vale do Paraíba, tão acolhedor.

Sei não, aqui da minha toca, onde visito passados, presentes e futuros, às vezes fico pensando: um heroizinho de vez em quando faz bem!

Até semana que vem..

PROGRAME-SE


sexta-feira, 23 de março de 2018

CANÇÕES DE XICO



HISTÓRIA DE MINHAS MÚSICAS


Em meu disco FORROBOXOTE 8 presto homenagem, a cada faixa, a um sanfoneiro. Nele são reverenciados Dominguinhos, Camarão, Luiz Gonzaga, Zé Bicudo, Gennaro, Arlindo dos 8 Baixos, Sivuca, Flávio José e Terezinha do Acordeon. Não poderia ficar de fora um dos grandes instrumentistas do Brasil que é Oswaldinho, para o qual dedicamos este Xote Azul, uma melodia de Ozi dos Palmares ‘letrada’ por mim. A interpretação ficou por conta de Geraldo Maia, cuja versão segue nesta postagem. Além dele, foi gravada por Adelson Viana, do Ceará.


XOTE AZUL 
Ozi dos Palmares e Xico Bizerra

Estampa que se coloriu de norte a sul 
seu xote tem a cor azul das notas musicais 
pincéis que já se matizaram de jazz, de blues 
a enfeitar as telas dos alpendres e quintais

sertanejando a lua pedro se fez pintor 
e ele veio oswaldiando em meio à canção
sanfona arcoirizada com as tintas do amor
aquarelando alegria em nosso coração

e um coro alegre se ouviu ao fundo
da melodia adornando o mundo 
como encanto santo ali surgia assim, enfim
semente fértil que fecunda o amor 
fina textura sonorando a cor 
riso verdade de uma paz dentro de mim

estampa que se coloriu de norte a sul 
e ele veio oswaldiando em meio à canção 
pincéis que já se matizaram de jazz, de blues

aquarelando alegria em nosso coração

MORRE O PRODUTOR MUSICAL CARLOS EDUARDO MIRANDA


Miranda ficou conhecido por ser jurado de vários programas de calouros como 'Ídolos', 'Astros' e 'Qual é o Seu Talento?' 


(foto: RedeTV/Reprodução)

O produtor musical e ex-jurado dos programas Ídolos e Astros, ambos do SBT/Alterosa, Carlos Eduardo Miranda, de 56 anos, morreu nesta quinta-feira (22), em casa, em São Paulo, depois de sofrer um mal súbito.

Miranda era um dos produtores musicais mais respeitados do pop brasileiro. Lançou a banda Raimundos, ícone do rock nacional na década de 1990, e trabalhou com a mineira Skank. Seu multifacetado currículo inclui os grupos Mundo Livre SA, O Rappa, Blues Etílicos, Cansei de Ser Sexy, Cordel do Fogo Encantado e Móveis Coloniais de Acaju.

O site Trama Virtual, dirigido por ele, foi um dos pioneiros da distribuição de trabalhos de artistas independentes por MP3. Gaúcho, foi muito atuante na cena musical de Porto Alegre nos anos 1980.


Fonte: Estado de Minas

quinta-feira, 22 de março de 2018

GRAMOPHONE DO HORTÊNCIO

Por Luciano Hortêncio*



Canção: Chofer de fogão

Composição: Sebastião Neves, Luiz C. Vieira, Neidir Figueirôa

Intérprete - Roberto Silva

Ano - Janeiro de 1963.

Disco - Copacabana 6.479



* Luciano Hortêncio é titular de um canal homônimo ao seu nome no Youtube onde estão mais de 10.000 pessoas inscritas. O mesmo é alimentado constantemente por vídeos musicais de excelente qualidade sem fins lucrativos).

ABRIL PRO ROCK ANUNCIA PROGRAMAÇÃO COMPLETA COM BANDAS NACIONAIS E INTERNACIONAIS

A 26ª edição do evento ocorre nos dias 27 e 28 de abril, no Baile Perfumado


Immolation, dos Estados Unidos, é uma das atrações do sábado. Foto: Abril pro Rock/Divulgação


O festival Abril pro Rock anunciou nesta quarta-feira (21) o line-up completo para a edição deste ano. O evento ocorre nos dias 27 e 28 de abril, no Baile Perfumado (Rua Carlos Gomes, 390, Prado), e recebe bandas do rock regional, nacional e internacional. Os ingressos estão sendo vendidos através do site Sympla e nas lojas Passadisco e Disco de Ouro. O primeiro lote custa R$ 50 (meia), R$ 60 (social + 1 kg de alimento) e R$ 100 (inteira) e estão disponíveis até o dia 26 de março. Depois, passam para R$ 60 (meia), R$ 70 (social 1 kg de alimento) e R$ 120 (inteira).

Para a sexta-feira (27) estão confirmadas as bandas nordestinas 70mg (PE), Plugins (PE) e Mad Monkees (CE). Além delas, ainda se apresentam Asomvel (Inglaterra), Supersuckers (Estados Unidos) e o ex-baterista do Ramones, Richie Ramone (EUA). Já no sábado (28), dia do festival que é conhecido por ser dedicado ao metal, sobem ao palco as bandas Moonspell (Portugal), Immolation (EUA), Noturnall (SP), Uganga (MG), Armored Dawn (SP), Heavenless (RN), Hanagorik (PE), Matakabra (PE), Autopse (AL) e Decomposed God (PE).

Como parte de uma programação paralela, o festival vai contar com a sétima edição da Mostra Pôster Arte Design, ocupando o Centro Cultural dos Correios (Avenida Marquês de Olinda, 262, Bairro do Recife), com datas e tema a serem divulgados na próxima semana. No ano passado, o Abril pro Rock foi realizado no Classic Hall, em Olinda, e contou com novatos e veteranos do rock mundial no line-up. Os norte-americanis Suicidal Tendencies, Tiger Army e Death, a inglesa Cockney Rejects e a alemã Nocturnal fizeram parte dos shows, que também foram divididos em duas noites. 


Fonte: Diario de Pernambuco

quarta-feira, 21 de março de 2018

BANHO DE FOLHAS - LUEDJI LUNA (OFICIAL)

CORDEL DO FOGO ENCANTADO MARCA PRIMEIRO SHOW NO RECIFE

A apresentação da turnê Viagem ao Coração do Sol vai explorar músicas do novo disco da banda



Cordel retorna aos palcos com formação original. 


Cordel do Fogo Encantado anunciou seu primeiro show no Recife após o retorno das atividades do grupo. A apresentação da turnê Viagem ao coração do sol está marcada para o dia 12 de maio, no Clube Português, localizado no bairro da Madalena. As informações sobre a venda de ingressos serão divulgadas em breve. Entre abril e maio, a banda arcoverdense também vai passar por Salvador (BA), Rio de Janeiro (RJ), Ribeirão Preto (SP) e Fortaleza (CE).

O repertório do espetáculo vai explorar as músicas do disco Viagem ao coração do sol, cujo lançamento está agendado para 6 de abril. Eles também apresentarão alguns clássicos dos álbunsCordel do Fogo Encantado (2001), O palhaço do circo sem futuro (2002) e Transfiguração (2006). A iluminação e a cenografia estão nas mãos de Jathyles Miranda de Souza, enquanto Isadora Gallas assina os figurinos.

Assim como no disco, o Cordel retorna aos palcos com formação original: Lirinha (voz e pandeiro), Clayton Barros (violão e voz), Emerson Calado (percussão e voz), Nego Henrique (percussão e voz) e Rafa Almeida (percussão e voz). O lançamento tem produção de Fernando Catatau, do Cidadão Instigado, reunindo composições feitas no ano passado e outras que não foram lançadas durante o tempo de atividade do grupo.


Fonte: Diario de Pernambuco

terça-feira, 20 de março de 2018

LENDO A CANÇÃO

Por Leonardo Davino*



O que é canção? Simone Mazzer

Simone Mazzer


- O que é canção para você?
A canção é o que sustenta o ritmo da minha vida.

- De onde vem a canção?
A canção vem de onde nossos sentidos permitem. É preciso estar aberto, ouvidos livres para saber ouvir.

- Para que cantar?
O cantar pra mim é um complemento vital. É o meu jeito de me comunicar com o mundo.

- Cite 3 artistas que são referências para o seu trabalho. Por que estes?
Ângela Maria, pela persistência e fé na música. Billie Holiday, pelo amor que ela sentia pela música. Elis Regina, pela forma que se colocou na vida, na música, pela música.





* Pesquisador de canção, ensaísta, especialista e mestre em Literatura Brasileira pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e doutor em Literatura Comparada, Leonardo também é autor do livro "Canção: a musa híbrida de Caetano Veloso" e está presente nos livros "Caetano e a filosofia", assim como também na coletânea "Muitos: outras leituras de Caetano Veloso". Além desses atributos é titular dos blogs "Lendo a canção", "Mirar e Ver", "365 Canções".

MPB - MÚSICA EM PRETO E BRANCO

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Gal Costa, Mutantes, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Jorge Ben

segunda-feira, 19 de março de 2018

PAUTA MUSICAL: MILTINHO, 90 ANOS

Por Laura Macedo



Dono de estilo absolutamente personalizado de cantar o samba e com perfeito domínio da divisão rítmica, MILTINHO tornou-se um mito entre músicos e intérpretes. Seus sucessos em duos com as cantoras Elza Soares e Dóris Monteiro renderam recordes de vendagem de discos.

Para explicar Miltinho, vale o espanto do maestro Erlon Chaves, em um ensaio, quando regia o cantor pela primeira vez e este “escorregava” no arranjo, adiantando e atrasando a divisão. Interpelado, respondeu: “Não se preocupe maestro; ao final da música, eu e a orquestra acabaremos como um casal em lua de mel, juntinhos”.

MC CAROL FAZ CLIPE CONTRA VIOLÊNCIA RACIAL: 'POVO PRETO TÁ SOFRENDO'



Em tributo a Marielle, letra da canção diz: 'Eu estava naquele carro, fui executada'. Música tem a colaboração do coletivo Heavy Baile 


Clipe é um protesto pela morte da vereadora, defensora dos direitos humanos e da população negra carioca (foto: YouTube/Reprodução)


A carioca MC Carol lançou, nesta quinta-feira (22), um clipe intitulado Marielle Franco, em homenagem à vereadora do PSOL assassinada na última quarta-feira (14). 

Feita em colaboração com o coletivo Heavy Baile, a funkeira denuncia a violência policial sofrida pela população negra no Brasil. "O povo preto está sofrendo todo dia / Eu não aguento mais viver oprimida nesse país sem democracia / Tô me sentindo acorrentada, desmotivada / Eu estava naquele carro, fui executada", desabafa.

O clipe é composto por trechos de notícias sobre jovens negros assassinados por policiais - incluindo uma manchete e gravações amadoras de protestos em que a população pede por direitos. "Mulheres pretas aqui não têm direitos, não têm direitos", diz um dos versos. 


Fonte: Diário de Pernambuco


domingo, 18 de março de 2018

VAMOS FALAR DE DISCOS?

MITO DA MPB, GERALDO VANDRÉ VOLTA AOS PALCOS EM SHOW GRATUITO APÓS 50 ANOS

Última apresentação do paraibano foi na véspera da publicação do AI-5


Por Luiza Maia



Geraldo Pedrosa de Araújo Dias na década de 1960 e em registro mais recente, de 2008. 


Uma das figuras mais intrigantes da música popular brasileira, dado o ostracismo que se impôs desde o retorno ao Brasil, em 18 de agosto de 1973, Geraldo Vandré, nome artístico de Geraldo Pedrosa de Araújo Dias, voltará aos palcos para dois concertos nesta semana. O paraibano de João Pessoa se apresentará na terra natal nos dias 22 e 23, no Espaço Cultural José Lins do Rêgo, na capital paraibana. Os ingressos são gratuitos e serão distribuídos em 21 de março.

A apresentação, já histórica, será composta por dois atos. O primeiro contempla seis peças para piano escritas em parceria com a pianista Beatriz Malnic. A dupla dividirá o palco. O segundo, com a Orquestra Sinfônica da Paraíba, será dedicado a canções de Vandré. O repertório, adianta texto enviado à imprensa, resgata a clássica Pra não dizer que não falei das flores (Caminhando), cujas estrofes foram emblemáticas para as lutas pela democracia nos tempos de ditadura, À minha pátria, Mensageira e Fabiana. 

Ícone da geração dos festivais de música, Vandré fez o último show no Brasil em 12 de dezembro de 1968, véspera da publicação do Ato Institucional nº 5, responsável por ceifar vários direitos dos cidadãos brasileiros e expulsar compatriotas. Exilou-se e voltou ao país em 1973, quando, no aeroporto, concedeu entrevista, escoltado por militares, e prometeu fazer "canções de amor e paz a partir dali".

Silenciou. Não mais lançou inéditas e se negou a responder questionamentos sobre sessões de torturas ou acordos com o governo para não mais lançar músicas com teor político ou de protesto. O último disco foi de 1971, Das terras de Benvirá, gravado com o Quinteto Violado, na França. O último livro, publicado em 1973 no Chile, ganhará primeira edição brasileira com lançamento na quarta-feira. 

Em 2014, Vandré alimentou as esperanças de um retorno: participou de um show de Joan Baez e comentou a possibilidade de um projeto em espanhol, mas nada passou das palavras jogadas ao vento. "Pode ser ainda que entre uma apresentação e outra eu recite alguns de meus poemas. Vai depender da emoção do momento. Eu tenho noção da importância desse concerto para o país", diz o artista, em material divulgado pela imprensa pela Secretaria de Cultura da Paraíba.

Em uma rara entrevista, concedida ao Viver às vésperas dos 80 anos, em 2015, ele revelou ter guardadas muitas composições em espanhol, mas não garantiu divulgá-los: "Isso aí nem eu sei". "Não é voltar atrás. É mais à frente", corrigiu, à época, sobre a chance de "voltar atrás" quanto à decisão de não mais atuar como artista. Menos de três anos após respostas misteriosas sobre a possível retomada da trajetória artística , enfim, Geraldo Vandré rompe o silêncio. O Brasil muito mudou e viveu desde a véspera do AI-5, mas ainda enfrenta ameaças à democracia e aos direitos básicos de seus filhos. Os versos dele, quiçá, podem trazer esperança.

sábado, 17 de março de 2018

PETISCOS DA MUSICARIA: AVE SANGRIA – “AS MÚSICAS QUE NÃO ESQUEÇO”

Por Joaquim Macedo Junior



Ave Sangria é o nome de um conjunto musical brasileiro de Rock Psicodélico, um dos principais expoentes da cena psicodelicapernambucana, dos anos 1970, junto com Alceu Valença, Flaviola e o Bando do Sol, Lula Côrtes, Alceu Valença, Flaviola e o Bando do Sol, Marconi Notari e Lailson.

Chamado inicialmente de Tamarineira Village, o grupo mudou de nome por sugestão de uma cigana que os integrantes conheceram no Interior da Paraíba.

Formado por Marco Polo (vocais), Ivson Wanderley (guitarra solo e violão), Paulo Raphael (guitarra base, sintetizador, violão, vocal), Almir de Oliveira (baixo), Israel Semente (bateria) e Agrício Noya (percussão), seu trabalho mais conhecido é o álbum Ave Sangria de 1974.

O grupo foi alvo da censura governo militar. A ilustração da capa do primeiro e único disco da banda sofreu modificações, sendo definida pelos integrantes como um “papagaio drag queen”. 

Ave Sangria – “Lá Fora É”


O álbum de estréia da banda teve suas principais músicas compostas Marco Polo. Eles usavam batom, beijavam-se na boca em pleno palco, faziam uma música suja, com letras falando de piratas, moças mortas no cio.

E eram muito esquisitos; “frangos”, segundo uns, e uma ameaça às moças donzelas da cidade, conforme outros. Estes “maus elementos” faziam parte do Ave Sangria, ex-Tamarineira Village, banda que escandalizou a Recife de 1974, da mesma forma que os Rolling Stones a Londres de dez anos antes. Com efeito, ela era conhecida como os Stones do Nordeste.

“Isto era tudo parte da lenda em torno do Ave Sangria” – explica, 25 anos depois, Rafles, o ministro da informação do grupo. “O baton era mertiolate, que a gente usava para chocar. Não sei de onde surgiu esta história de beijo na boca, a única coisa diferente na turma eram os cabelos e as roupas.” Rafles por volta de 68, era o “pirado” de plantão do Recife. Entre suas maluquices está a de enviar, pelo correio, um reforçado baseado, em legítimo papel Colomy, para Paul McCartney. Meses depois, ele recebeu a resposta do Beatle: uma foto autografada como agradecimento.

Foi Rafles quem propôs o nome Tamarineira Village, quando o grupo tomou uma forma definitiva, com a entrada do cantor e letrista Marco Polo. Isto aconteceu depois da I Feira Experimental de Música de Fazenda Nova. Até então, sem nome definido, Almir Oliveira, Lula Martins, Disraeli, Bira, Aparício Meu Amor (sic), Rafles, Tadeu, e Ivson Wanderley eram apenas a banda de apoio de Laílson, hoje cartunista do DP.

Marco Polo, um ex-acadêmico de Direito, foi precoce integrante da geração 65 de poetas recifenses. Com 16 anos, atreveu-se a mostrar seus poemas a Ariano Suassuna e a Cesar Leal.

Foi aprovado pelos dois e lançou seu primeiro livro em 66. Em 69, iniciou-se no jornalismo, como repórter do Diário da Noite. Logo ganhou o mundo. Em 70, trabalhou por algum tempo no Jornal da Tarde, em São Paulo, mas logo virou hippie, trabalhando como artesão na desbundada praça General Osório, em Ipanema.

O primeiro show como Tamarineira Village foi o Fora da Paisagem, depois do festival de Fazenda Nova. Vieram mais dois outros shows, Corpo em Chamas e Concerto Marginal. A partir daí a banda amealhou um público fiel.


“Seu Valdir” – Marco Polo, com Mey Matogrosso


A mudança do nome aconteceu quando o grupo passou a ser convidado para apresentações em outros Estados. Os músicos cansaram-se de explicar o significado de Tamarineira Village. Aí veio a história da cigana: “Ela gostou de nossa música e fez um poema improvisado, referindo-se a nós como aves sangrias. Achamos legal. O sangria, pelo lado forte, sangüíneo, violento do Nordeste. O ave, pelo lado poético, símbolo da liberdade do nosso trabalho.

Na época, o som do Quinteto Violado era uma das sensações da MPB. Não tardou para as gravadoras mandarem olheiros ao Recife em busca de um novo quinteto. A RCA foi uma delas. O Ave Sangria foi sondado e recusou a proposta (a RCA contratou a Banda de Pau e Corda).

O disco viria com a indicação da banda, pelo empresário dos Novos Baianos, à Continental, a primeira gravadora a apostar no futuro do rock nacional. Antecipando a gozação por serem nordestinos, os integrantes da banda chegaram no estúdio Hawai, na Avenida Brasil, Rio, todos de peixeira na mão: “Falamos para o pessoal ter cuidado, porque a gente vinha da terra de Lampião”, relembra Almir Oliveira. Foi um dos poucos momentos de descontração ali, naquele momento. Com exceção de Marco Polo, nenhum dos integrantes conhecia o Rio e jamais haviam entrado num estúdio de gravação.

Ave Sangria – “Georgia, A Carniceira”

Como agravante, quem produziu o disco foi o pouco experiente Marcio Antonucci. Ex-ídolo da Jovem Guarda (formou a dupla Os Vips, com o irmão Ronaldo), Antonucci ficou perdido com o som que tinha em mãos, e o pôs a perder:

“Ele não entendeu nada daquela mistura de rock e música nordestina que a gente fazia, e deixou as sessões rolarem. O diabo é que a gente também não tinha a menor experiência de estúdio”, conta o guitarrista Paulo Rafael. Resultado: o disco acabou cheio de timbres acústicos. O Ave Sangria, involuntariamente, virou uma espécie de Quinteto Violado udigrudi. E adulterado não foi apenas o som. A gravadora não topou pagar pela arte da capa e colocou em seu lugar um arremedo do desenho original, assinado por Laílson.

O disco, mesmo pouco divulgado, conseguiu relativo sucesso no Sudeste, e vendeu bastante em alguns estados do Nordeste.

Uma das músicas que fizeram mais sucesso, e polêmica, foi o samba-choro Seu Waldir. “Seu Waldir o senhor/ Machucou meu coração/ Fazer isto comigo, seu Waldir/ Isto não se faz não… Eu quero ser o seu brinquedo favorito/ Seu apito/ Sua camisa de cetim…” Numa época em que a androginia tornava-se uma vertente da música pop.

Lá fora com o gliter rock de David Bowie, Gary Glitter e Roxy Music com Alice Cooper, aqui com o rebolado dos Secos & Molhados, ‘Seu Waldir’ foi considerado pelos moralistas pernambucanos como uma apologia ao homossexualismo, quando não passava de uma brincadeira do irreverente do Ave Sangria.

Seu Waldir por pouco não vira mito. Uns diziam que era um senhor que morava em Olinda, pelo qual o vocalista do Ave Sangria apaixonara-se. Outros, que se tratava de um jornalista homônimo. Enfim, acreditava-se que o tal Waldir era um personagem de carne e osso. Marco Polo esclarece a história do personagem “Eu fiz Seu Waldir, no Rio, antes de entrar na banda. Ela foi encomendada por Marília Pera para a trilha da peça A Vida Escrachada de Baby Stomponato, de Bráulio Pedroso, que acabou não aproveitando a música”.

O Departamento de Censura da Polícia Federal não levou fé nesta versão. Proibiu o LP e determinou seu recolhimento em todo território nacional. A proibição incitada, segundo os integrantes do Ave Sangria, pelo hoje colunista social do Diário de Pernambuco, João Alberto: “Ele tocava a música no programa de TV que ele apresentava e comentava que achava um absurdo, que uma música com uma letra daquelas não poderia tocar livremente nas rádios”, denuncia Rafles. Almir Oliveira diz que lembra dos comentários do jornalista na televisão: “Mas não atribuo diretamente a ele. Se não fosse ele, teria sido outra pessoa, a música era mesmo forte para a época”, ameniza. A proibição, segundo comentários da época, deveu-se a um general, incentivado pela indignação da esposa, que não simpatizou com a declaração de amor a seu Waldir.

O disco foi relançado sem a faixa maldita, mas aí o interesse da mídia pelo grupo já havia passado. A Globo, por exemplo, desistiu de veicular o clipe feito para o Fantástico, com a música Geórgia A Carniceira. O grupo perdeu o pique: “A gente era um bando de caras pobres, alguns já com filhos, a grana sempre curta. No aperto, chegamos até a gravar vinhetas para a TV Jornal (uma delas para o programa Jorge Chau)”, relembra Marco Polo.

Semana que vem tem mais!!!

DISCO DE MARCOS SACRAMENTO HOMENAGEIA ARACY DE ALMEIDA

Projeto teve início em 2014, em parceria com o violonista Luiz Flavio Alcofra

Por Ana Clara Brant 


O Cruzeiro/Arquivo EM - 24/5/1949 (foto: O Cruzeiro/Arquivo EM - 24/5/1949)


Nos últimos anos de vida, Aracy de Almeida (1914-1988) ficou marcada como jurada do programa de calouros de Silvio Santos e pelo indefectível bordão “vou mandar 10 paus”. Ainda hoje, poucos sabem que essa carioca, com seu jeito especial de cantar, marcou de forma especial a história da música popular brasileira.
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“As novas gerações, principalmente, ficaram com o registro dela como pessoa rabugenta e ranzinza, sempre a identificaram como aquela jurada. Uma das funções do nosso trabalho é justamente corrigir esse equívoco, jogar luz sobre uma das figuras mais importantes da música brasileira. Aracy foi revolucionária em todos os sentidos”, ressalta Marcos Sacramento. O cantor se refere à série de shows e ao disco Aracy de Almeida – A rainha dos parangolés (Acari Records), homenagem à “Dama do Encantado”, apelido que ela ganhou devido ao subúrbio onde viveu.

Idealizado pelo compositor e produtor Hermínio Bello de Carvalho – amigo e admirador da artista –, o projeto teve início em 2014, ano do centenário de nascimento dela. Na época, Marcos Sacramento e o violonista Luiz Flavio Alcofra se apresentaram em São Paulo, Rio de Janeiro, Niterói e Curitiba.

O repertório traz canções eternizadas por Aracy, sobretudo as de Noel Rosa. Durante muitos anos, a carioca ficou conhecida como a intérprete favorita do sambista. “Ela carregou isso para o bem e para o mal. Apesar de realmente o Noel ter predileção pela Aracy, ela ficou com essa chancela. É uma impressão reducionista, pois Aracy de Almeida era muito mais do que isso”, ressalta Sacramento.

A ideia não é apenas revisitar o cancioneiro que a marcou – Triste cuíca (Noel Rosa e Hervê Cordovil), Onde está a honestidade? (Noel Rosa), Camisa amarela (Ary Barroso), Quando tu passas por mim (Antônio Maria/Vinicius de Moraes) e O orvalho vem caindo (Noel Rosa e Kid Pepe) –, mas buscar reinterpretar esse repertório. “Até porque ninguém canta como ela cantava. É uma aproximação da obra da Aracy, uma abordagem respeitosa, mas com a nossa assinatura, pois todos os arranjos são do Luiz Flavio. Ele traz toda a atmosfera do universo do Ary, do Noel e do Francisco Alves”, explica Sacramento.

O resultado dos shows foi tão surpreendente que surgiu a ideia de registrá-los em disco. Daniel Boechat (cuíca) se juntou a Sacramento e Alcofra. Hermínio Bello, que assina a produção do álbum, batizou o projeto como A rainha dos parangolés. Parangolé significa conversa fiada, falar besteira.

Nos anos 1940/1950, lembra Sacramento, artistas tinham apelidos que se tornaram famosos. Angela Maria é a “Sapoti”. Francisco Alves ficou conhecido como “O Rei da Voz”. Carmen Miranda virou “Pequena Notável”. Aracy era a “Dama do Encantado”.

“Porém, o Hermínio resolveu dar à velha amiga uma nova alcunha. Figura polêmica que convivia com boêmios e ia para a zona beber com Noel Rosa, ela era totalmente à frente de seu tempo. Hermínio misturou tudo isso e chamou de parangolé. Casou bem com o que a Aracy de Almeida representou”, conclui Sacramento.

sexta-feira, 16 de março de 2018

CANÇÕES DE XICO




REINO DA ZOADA POUCA

Estou no reino da zoada pouca, onde só se ouve a sinfonia de sapos e grilos, coro de cigarras, solos de sabiás e contracanto de capotes misturando canções várias. Estou onde quero estar, numa casa na serra, sem rádio e sem notícia das terras civilizadas. Aqui nada se sabe, de quantos mataram, de quantos morreram, de quantos e de quanto se roubou. Sabe-se, apenas, que continuam matando, morrendo e roubando. Importa muito mais ver-me anoitecendo cedo para amanhecer-me mais cedo, a tempo de ver a troca de plantões entre a lua e o sol, um chegando, outra se indo, cada qual com sua beleza. Estou numa casinha na serra com as portas do sorrir escancaradas. Sem buzinas, sem motores, sem zoadas. Sou vizinho, parede-e-meia, da paz.

AUTOR DE SUCESSOS GRAVADOS POR ROBERTO CARLOS SE LANÇA COMO CANTOR

Aos 80 anos, Getúlio Côrtes, que também tem músicas gravadas por vários outros nomes da MPB, faz releitura roqueira de 'Negro gato', seu maior hit

Por Mariana Peixoto


Compositor Getulio Côrtes ao lado dos músicos André Paixão, Marcelo Callado, Benjão e Melvin, com quem gravou 10 canções suas (foto: MARKÃO OLIVEIRA/DIVULGAÇÃO)


Ele é um negro de Madureira que nunca gostou de samba. “Nasci ao lado da Portela.´É aquela coisa: as pessoas associam negritude ao samba. Comecei na música influenciado pelos musicais da Metro Goldwyn Mayer, me empolguei com Gene Kelly e Fred Astaire. Mas queria mesmo era ser cantor de rock”, conta Getúlio Côrtes, de 80 anos.

Cantor ele não se tornou. Mas suas músicas são cantadas há mais de 50 anos. Exemplos: Negro gato, a mais conhecida, O sósia, O gênio, Eu só tenho um caminho, Noite de terror, Toque pra frente, Quase fui lhe procurar, entre outras. Treze canções de sua autoria foram gravadas por Roberto Carlos. Mas a lista de intérpretes é grande: Renato e seus Blue Caps (que o lançaram), Luiz Melodia, Marisa Monte, Titãs, Raul Seixas, Reginaldo Rossi, Toni Tornado, Leno & Lilian, Wanderléa, Erasmo Carlos.

Somente agora Getúlio está realizando o sonho de ser cantor de rock. As histórias de Getúlio Côrtes (Discobertas) reúne 10 canções primeiramente gravadas por terceiros. Negro gato, na versão de Getúlio, faz a versão de Roberto (1966) parecer uma canção de ninar. Guitarras distorcidas e uma interpretação rascante (a voz desmente a idade do compositor), a “versão do autor” pode embalar qualquer noitada de 2018.

O lançamento é obra do pesquisador Marcelo Fróes. Ele conta que, em janeiro de 2017, no aniversário de 70 anos de Jerry Adriani, falou sobre um disco com Getúlio. “Ele me disse: ‘Tem que fazer mesmo, pois ano que vem faço 80’”, relembra Fróes, que convidou André Paixão (o Nervoso, que integrou bandas como Acabou La Tequila e Autoramas, francamente inspiradas na Jovem Guarda) para dirigir o projeto.


Cantor Médio 

Este, por seu lado, convocou músicos jovens da cena carioca para completar a banda: o baterista Marcelo Callado (Do Amor, Banda Cê, que acompanhou Caetano), o guitarrista Gustavo Benjão (Abayomi Afrobeat Orchestra) e o baixista Melvin (Carbona e Acabou La Tequila).

“O arranjo é totalmente diferente daquele som da Jovem Guarda. Achei mais rebuscado e ficou bonito. Mas me acho um cantor médio, desafino um pouco”, diz Getúlio. O show de lançamento será na quinta (29), no Rio.

Até conseguir emplacar suas músicas, Getúlio fez um pouco de tudo. Teve um grupo de dança, fez shows como dublador de Frank Sinatra, virou roadie de Renato e seus Blue Caps. Em início de carreira, pelos idos de 1962, o grupo não tinha um tostão. Getúlio trabalhava de graça.

Construiu um barracão no fundo da casa de sua família em Madureira para ter certa tranquilidade. Era nas madrugadas que tentava compor suas músicas. “Só que tinha um gato que perturbava toda noite, às 2 da manhã. Eu jogava pedra e ele não saía de lá, não me deixava dormir. Até que esse gato me deu uma ideia”, relembra Getúlio. Negro gato, cuja gravação inicial foi de Renato e seus Blue Caps, é inspirada em Three cool cats, da dupla Jerry Leiber e Mike Stoller.

Mas, a partir da hora que ganhou a voz de Roberto, a carreira de Getúlio deu um salto. “A primeira música que ele gravou minha foi Noite de terror. E foi uma surpresa depois, quando ele escolheu Negro gato, pois no disco de 1966 também tinha outra música minha, O gênio. Então fiquei com duas músicas no mesmo álbum do Roberto”, relembra.

Ele passou a compor de forma mais “esmerada” quando via a chance de Roberto gravar. “Em 1968, ouviu de RC: ‘Getúlio, não quero mais rockzinho, quero música de amor, de dor de cotovelo’. Fiz Quase fui lhe procurar, que ele adorou.”

Mas vieram outros compositores, e a parceria arrefeceu. “As pessoas só contam as vitórias, nunca as derrotas. Em 1995, a minha situação estava precária, a coisa (direitos autorais) tinha caído. Nessa época, Roberto estava em Nova York e viu num cruzamento uma pessoa muito parecida comigo. Ele estava com o (produtor) Mauro Motta, que contou que eu não estava muito bem, cheio de problemas”, relembra. “Quando a gente é jovem, faz muita besteira. Joguei dinheiro fora com carrão, joias. Meu pai tinha me alertado que eu tinha que comprar um imóvel.”

Pois, de acordo com Getúlio, Roberto decidiu ajudá-lo. Regravou Quase fui lhe procurar para seu álbum de 1995. “Ser gravado pelo Roberto era como ganhar numa mini-loteria. Tomei juízo e depois daquela época comprei meu apartamento”, conta.

AS HISTÓRIAS DE GETÚLIO CÔRTES
• Canções de Getúlio Côrtes
• Selo Discobertas
• Preço médio: R$ 21,90

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