Por José Teles
O fluminense (de Campos dos Goytacazes), Evaldo Braga, feito Jim Morrison, Kurt Cobain ou Amy Winehouse, morreu aos 27 anos, mas nunca é lembrando quando por algum motivo escreve-se sobre os que se foram sem chegar aos 28. Assim como os citados astros gringos, ele teve carreira curta, e surgiu na música popular tal um meteoro. Uma trajetória que foi de 1969 a 1973.
Tudo terminou, em 31 de janeiro de 1973, com um acidente fatal, na BR-3, quando a Variant –TL, na qual viajava com um motorista, bateu numa carreta. Vinham de BH para o Rio, depois de mais um show (na época fazia uma média de 75 por mês). Morreram ambos. Evaldo Braga estava no auge, foi pranteado Brasil inteiro, onde se tornara um dos mais populares ídolos da música no país.
O cantor, no entanto, nunca foi redescoberto pelos formadores de opinião, como aconteceu com Odair José, por exemplo. Estava esquecido, e agora volta às páginas dos jornais por conta da biografia Eu Não Sou Lixo – A Trágica História do Cantor Evaldo Braga, do jornalista e escritor Gonçalo Junior. Eu Não Sou Lixo é o título punk, de uma canção com uma história punk, autobiográfica, garantia Evaldo Braga, cuja mãe teria sido uma prostituta que o teria abandonado no lixo.
O irmão dele nega, mas mesmo assim a vida do cantor não foi fácil. Entregue pelo pai para ser criado por outra família, ele acabou perambulando pelas ruas, foi engraxate, viveu algum tempo no SAM (Sociedade de Amparo ao Menor), um reformatório de péssima fama, onde começou a exercer seus dotes vocais, fazendo as primeiras apresentações.
Sua história na música começa há 50 anos, ao conhecer Osmar Navarro, compositor de muitos sucessos, e produtor, que o levaria a gravar, pela RCA, pela qual estreou com um compacto, que trazia uma música de Navarro (Dois Bobos), e uma de sua autoria com Carmem Lucia (Não importa). Dois anos depois estaria na Phillips, a multinacional mais poderosa, que congregava nomes Caetano, Gil, Chico Gal e Bethânia.
Lançou, em 1971, o compacto Só Quero, um hit nacional imediato. Encaixado no nicho do brega, ainda chamado de cafona, ele trazia influências, como seus contemporâneos que cantavam para o povão, da Jovem Guarda, que renegava, como datada.
O que o diferencia dos “cafonas” contemporâneos era a força da voz, da interpretação que continha mais soul, do que quase todos os que tentavam cantar o gênero no inicio dos anos 70. A gravadora até pegou carona no movimento black que acontecia no Rio, intitulando de O Ídolo Negro, o primeiro álbum de Evaldo Braga, de 1972. Tão bem sucedido que ganhou edição em espanhol.
A biografia é providencial e necessária. Evaldo Braga não se aproximou da elite da MPB, criou um estilo de canto, que se tornou voz guia do brega. Desde sua morte foi muito copiado. Braga jogava a voz às alturas, e compunha canções, quase sempre com Carmem Lúcia, com uma urgência de quem parecia saber que ia passar rápido. Sorria, Sorria, por exemplo,seu maior sucesso, é acelerado até o fim, sem pausa que refresca, o acompanhamento tem metais, cordas, mas se sustentava no básico baixo, guitarras e bateria na levada abolerada do iê, iê, iê. Um dos originais da música brasileira.
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