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quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

PERNAMBUCO CANTANDO PARA O MUNDO GANHA SUA REEDIÇÃO DEPOIS DE QUASE 05 ANOS

Por Bruno Negromonte

Em outubro de 2006, Fábio Cabral teve a brilhante ideia de lançar uma coletânea genuinamente pernambucana. Não que esse tipo de produto nunca tivesse sido lançado no mercado fonográfico, pelo contrário, muitos produtos similares já haviam ocupado espaços nas prateleiras das lojas de discos desde longas datas.

O diferencial desta coletânea intitulada "Pernambuco calando para o mundo" (título alusivo ao slogan da Rádio Jornal do Commercio: “Pernambuco falando para o mundo”), se dá por ela ser capaz de mensurar de forma tão simplória e ao mesmo tempo tão requintada um pouco do que a música pernambucana é capaz de fazer. Todas as faixas soam bem aos ouvidos de quem é sedento por música de qualidade. A regionalidade tão intríseca a esta coletânea a faz universal ao ponto da proposta do Fábio ter tido um alcance que talvez nem o ele mesmo acreditasse que teria na época. A difusão do álbum chegou ao Japão, como pode-se conferir através do link a seguir: http://www.elsurrecords.com/contents/staff/index_69.html

Pois bem, um lançamento como esse não passou desapercebido pelos ouvidos daqueles que admiram a música de qualidade independente de sua localização geográfica e esgotou-se rapidamente. Só agora, praticamente 05 anos após o seu primeiro lançamento o álbum está sendo reeditado e pelo andar da carruagem a tendência é esgotar-se rapidamente da mesma forma como foi a primeira tiragem. O conselho é adquirir logo este "cartão postal sonoro" como foi dito pelo jornalista José Teles não só pelo prazer de ter um excelente disco como também para presentear amigos que vivem em outras paragens, para que saibam que a música Pernambucana é dona de uma variedade que nenhuma terra possui.

O repertório do CD é composto pelas seguintes faixas:
01 - Nas Águas do Mar (Silvério Pessoa) (Intérpretes: Lenine e Silvério)
02 - Mar Cirandeiro (Zeh Rocha) (Intérprete: Zeh Rocha)
03 - Ciranda Guerreira (Herbert Lucena) (Intérpretes: Herbert Lucena)
04 - Recífia (Carlos Mascarenhas) (Intérprete: Geraldo Maia)
05 - Passando Na Ponte (Alessandra Leão) (Intérprete: Mônica Feijó)
06 - Brasil Pernambucano (Maciel Melo) (Intérprete: Maciel Melo)
07 - Aroma de Alegria (Xico Bizerra) (Intérprete: Josildo Sá)
08 - Leme (Cláudio Almeida/Humberto Vieira) (Intérprete: Cláudio Almeida)
09 - Pernambuco é o lugar (Maciel Salu) (Intérprete: Maciel Salu)
10 - Mané Bacurau (Tiné) (Intérprete: Tiné)
11 - Zé Piaba (Zé da Flauta) (Intérprete: Nena Queiroga)
12 - Nas Terras Da Gente (Silvério) (Intérprete: Silvério Pessoa)
13 - A Telefonista Na Floresta Predial (Lula Queiroga) (Intérprete: Lula Queiroga e Pedri Luís)
14 - Aurora De Amor (Maurício Cavalcanti /Romero Amorim) (Intérprete: Maurício Cavalcanti)
15 - As Flores e As Cores (Fábio Trummer) (Intérprete: Eddie)
16 - Pernambuco Tramaway Co. (Alex Mono) (Intérprete: Alex Mono)


Volume 02
Em comemoração aos 05 anos da loja, em 2008 saiu o volume 02 da coletânea "Pernambuco cantando para o mundo", coletânea que assim como a primeira trouxe a proposta de contínua propagação do melhor sumo da música pernambucana. Assim como o primeiro volume, Fábio não peca na parte gráfica do álbum nem na seleção do repertório. Sendo mais uma vez sinônimo de qualidade e um ótimo expoente da música pernambucana para aqueles que querem conhecer um pouco da música pernambucana de boa qualidade e saber um pouco mais sobre os diversos movimentos musicais e culturais aqui existente.

O repertório do álbum "Pernambuco cantando para o mundo - Volume 02" é composto pelas seguintes faixas:
01 - Altos e Baixos (Lula Queiroga/Yuri Queiroga) (Intérpretes: Lula Queiroga e Lenine)
02 - Menina dos Olhos do Mar (Lula Queiroga/Lenine) (Música incidental: "Piaba de Ouro" (Lula Queiroga/Erasto Vasconcelos)) (Intérpretes: Romero Pernambuco e Marina de La Riva)
03- Canção Que Não Morre no Ar (China/Ximaru) (Intérprete: China)
04 - Coco Sabido (Pantico Rocha/Marcus Dias) (Intérpretes: Pantico rocha e Silvério Pessoa)
05 - Cantador animado (Herbert Lucena/Valdir Santos) (Intérprete: Herbert Lucena)
06 - Cocos Com Penha (Domínio Público) (Intérpretes: Sandra Belê e Penha Cirandeira)
07 - Coqueiro do Norte (Joaquim Sebastião da Silva) (Intérpretes: Mazuca de Agrestina + Original do Sample (Remix))
08 - Dona Jurema (Bruno Lins/Tonzinho) (Intérpretes: Fim de Feira e Waldir Silva)
09 - Desperta! (Alessandra Leão) (Intérete: Alessandra Leão)
10 - Linha Cigana (Miguel Marcondes) (Intérprete: Vates e Violas)
11 - Lua Brasil (Xico Bizerra) (Intérprete: Irah Caldeira (Part. de Dominguinhos))
12 - Forró de Gafieira (Silvério Pessoa) (Intérprete: Silvério Pessoa e Dominguinhos)
13 - Beija-Flor (Cezinha) (Intérprete: Cezinha)
14 - Vem da África (Zé da Flauta) (Intérprete: Gláucia Oliveira (Part. de Naná Vasconcelos))
15 - Satuba (Isaar de França) (Intérprete: Isaar)
16 - Gosto de sal (Cristiane Quintas/Paulo Carvalho) (Intérprete: Lêda Dias)
17 - De Todas as Graças (Geraldo Maia) (Intérprete: Geraldo Maia)
18 - Feirante (Nando Lobo) (Intérprete: Flor de Cactus)
19 - Boi do Cangaço (Anchieta Dali) (Música incidental: Boi da Macuca (Anchieta Dali) (Intérprete: Josildo Sá)
20 - "Capibaribe" (César Michiles) - (Intérpretes: Spok Frevo Orquestra, Dominguinhos & César Michiles)


Volume 03
O terceiro álbum da série “Pernambuco cantando para o mundo” da Passa Disco será lançado agora em 2010 dedicado ao sanfoneiro Dominguinhos pela passagem dos 70 anos do artista. No CD, ele será homenageado por como Flávia Bittencourt (em “Todo Domingo”), Liv Moraes (em “Canção Adomingada”), Santanna (em “Domingos”). O próprio homenageado fará duetos com Nena Queiroga, Irah Caldeira, Jessier Quirino, Petrúcio Amorim e Spok Frevo Orquestra. Só nos resta esperar!

20 DE JANEIRO - 10 ANOS SEM NICO ASSUMPÇÃO



Antonio Álvaro Assumpção Neto nasceu em São Paulo, capital, em 13 de agosto de 1954. Seu pai, um industrial de classe média e amante do jazz, tocou baixo acústico, quando jovem, de forma amadora.

Na casa da família Assumpção, a música sempre esteve presente, sendo o jazz uma das principais paixões do pai de Nico, que comprava discos importados através de catálogo. Na década de 50 e 60 era muito comum o empresário de um um músico internacional em turnê no Brasil, levá-lo para jantar na casa de uma família bem sucedida, cujo anfitrião fosse conhecedor sua música e pudesse acolhê-lo com mais hospitalidade. A família de Nico era uma dessas, e seu pai, que tinha influência junto a esses empresários como Roberto Corte Real, sempre oferecia sua casa, fazendo com que Nico estivesse em contato com diversos músicos, como Frank Sinatra Jr., que visitou a casa da família durante sua passagem pelo Brasil em 1966.

Desde pequeno observava-se uma tendência musical ou um bom ouvido, ou sei lá como se definir isso. Mas a realidade é que na casa onde moravam havia um móvel onde os discos eram guardados. Já aos 2 anos Nico alcançava a parte de baixo desse móvel e pedia para ouvir os discos do Michel Legrand, pianista, compositor e arranjador francês, que tornou-se um de seus grandes amigos anos mais tarde.

Início de carreira

Aos 9 anos, Nico já aprendia a tocar violão através das aulas que tinha com o músico Paulinho Nogueira. Aos 13 anos já tocava em uma “banda de garagem”, covers dos "Beatles", grupo que gostava muito. Mas como baixista da banda costumava faltar aos ensaios com frequência. Demonstrando um interesse maior pelos arranjos das músicas instrumentais, Nico trocou o violão pelo baixo elétrico. A partir daí, dedicou-se somente ao baixo, passando, algum tempo depois, a estudar na escola de música CLAM, com o renomado professor Luiz Chaves do Zimbo Trio, com quem também teve aulas de baixo acústico.



Algum tempo depois, Nico foi convidado para dar aulas de baixo elétrico e baixo acústico na mesma escola onde estudava. Na mesma época, em 1974 e 1975, participou de um um trio de jazz que tocava em alguns restaurantes de classe média-alta em São Paulo, como o Padoque Jardins e o Clube Harmonia. Nessa época, os restaurantes obrigavam os músicos a entrarem pela porta dos fundos. Nico foi um dos primeiros a pleitear que os músicos entrassem pela porta da frente. Com isso, algumas pessoas, e até mesmo amigos de profissão, achavam-no arrogante, mas para ele isso era um direito: entrar pela porta da frente impunha um pouco mais de respeito ao músico, independente do seu nível social.

Paralelamente às suas atividades nos restaurantes de São Paulo, suas aulas com Luis Chaves e as aulas que ministrava no CLAM, Nico iniciou um curso por correspondência na "Berklee College Of Music", no qual o aluno estudava a distância e enviava um teste com as respostas para uma futura eliminação de matérias. Em 1974, quinze dias após o falecimento de seu pai, prestou vestibular na PUC de São Paulo para o curso de economia, onde estudou por aproximadamente 3 anos. Continuou desenvolvendo suas atividades como músico tocando com Arrigo Barnabé, que ensaiava, no estúdio que Nico tinha em sua casa, as músicas que no ano de 1980 seriam gravadas no disco “Clara Crocodilo”. A formação desta banda contava, além de Arrigo Barnabé, piano e voz, Nico no baixo, José Pires de Almeida Neto (Netão) na guitarra, Lea Freire na flauta e Duda Neves na bateria. A banda tocou em algumas faculdades como FAU e USP, mas Nico não chegou a gravar o disco.

Em 1975, Nico tocou baixo acústico com um trio de jazz cuja formação era composta por mais dois jovens estudantes e professores do CLAM: Paulo Cardoso (bateria), que hoje atua na área da medicina, e Eliane Elias (piano), que anos mais tarde se consagrou gravando, ao lado de Nico, o disco “Double Rainbow” de Joe Henderson, somente com músicas de Tom Jobim. Nesta apresentação, com uma duração total de 2 horas e meia e feita com seção dupla, o trio tocou apenas standards de jazz. A entrada era franca e a divulgação, feita pelo trio com a ajuda do irmão de Nico, que colaram diversos cartazes pelas faculdades de São Paulo. Essa apresentação registrou a maior lotação do MASP até aquela data.

NY
Chegando em NY, coincidentemente foi morar no prédio em que Ricardo Silveira (guitarra) morava, na rua 22 entre 1rst e 2nd avenida, onde se conheceram e se tornaram amigos. Neste mesmo prédio morava Cláudio Celso (guitarra) e Guilherme Vergueiro (piano). Segundo Ricardo Silveira, “a gente sempre tocava na casa de um ou de outro e tocamos junto com o trompetista Cláudio Roditi”. Nico começou como a maioria dos músicos brasileiros que buscam fazer carreira em NY: tocou com músicos brasileiros.



Alguns meses depois foi convidado para participar do Festival de Newport com o músico Dom Um Romão. Isto abriu-lhe as portas para tocar com Charlie Rouse (sax) e Don Salvador (piano), que, por sua vez, o colocou em contato para trabalhos com renomados músicos de jazz, como Wayne Shorter (sax), Kenny Barron (piano) e Billy Cobham (bateria). Nico também estudou arranjo e orquestração na "Berklee College Of Music". O curso por correspondência feito anos antes permitiu a eliminação de matérias, reduzindo o tempo total dos estudos.

Família

Nico dava grande valor ao relacionamento familiar. Tinha um profundo carinho pela mãe Conceição, sempre se lembrando de sua dedicação ao cuidar de seu pai adoentado. Também tinha uma profunda admiração pelo seu irmão mais novo, Neco - o arquiteto.

Casou-se duas vezes. Do primeiro casamento com Paula teve uma filha - Mariana, nascida em 1985. Do segundo casamento com Rossana Lorentz, não teve filhos; viveram juntos por 6 anos até o seu falecimento em 2001.

Anos 80

Em 1981, de volta ao Brasil, Nico gravou seu primeiro disco instrumental solo de forma independente com 10 músicas, sendo 9 de sua autoria. Teve diversos empecilhos em para lançá-lo, pois dependia de uma grande gravadora para prensá-lo e distribuí-lo, além disso, era encontrado em poucas lojas, uma delas a “Hi-Fi”, em São Paulo. Atualmente este disco é conhecido como “Nico Assumpção” e teve uma prensagem de 3 mil cópias feitas pela Fermata.

Com uma carreira solo, sempre com músicas instrumentais, conquistou um grande espaço no Brasil, principalmente São Paulo e Rio de Janeiro. Foi um dos primeiros baixistas brasileiros a lançar um disco de música instrumental, onde o baixo fosse o destaque.

Na década de 80, a música instrumental era um “modismo” entre os músicos e pessoas de classe média que freqüentavam bares em São Paulo, lotados de segunda a domingo com uma atração diferente a cada noite. Um desses bares era conhecido como “Penicilina”, localizado na Alameda Lorena em São Paulo e quase foi comprado pelos irmãos Assumpção. A programação musical do bar ficava por conta de Nico, que também tocava em uma das noites. Para tocar no Penicilina era necessário entrar em contato com Nico para reservar uma data. Este bar teve um papel muito importante nos anos 80 para a música instrumental que conhecemos hoje. Alguns músicos que se apresentaram neste bar se profissionalizaram, como Teco Cardoso, um dos maiores saxofonistas do Brasil, que tocou acompanhado por Silvio Mazzuca (baixo) e Michel Fridayson (piano), e que também tocou com Nico algum tempo depois.

Em 1982, indicado por Ricardo Silveira, Nico foi para o Rio de Janeiro para tocar no Prudente, um bar em Ipanema, acompanhando Marcos Rezende (piano), que também gostava muito de seu trabalho. Desde então, semanalmente ia para o Rio de Janeiro e ficava hospedado na casa de uma tia, em Laranjeiras no Parque Guile. Rezende tinha casa cheia toda quarta-feira, e com isso, Nico mudou-se definitivamente para o Rio de Janeiro, morando, por 2 anos, em um um apartamento alugado em Botafogo, junto com Zeca Assumpção e Bob White. O que mais motivou sua mudança para o Rio foi a visibilidade que teria para a carreira, afinal era lá que estava a mídia de maior alcance nacional da época - Organizações Globo, vários outros semanários importantes, além de um grande número de artistas.



Firmado seu nome nas noites cariocas, todos queriam tocar com Nico Assumpção. Nesta época gravou muitos trabalhos em estúdio, principalmente com o Luiz Avellar (piano), dono de uma produtora e compositor de arranjos. Luiz Avellar sempre convidava Nico e Ricardo Silveira para gravar trabalhos que iam de jingles e trilhas, a discos de artistas da MPB. Além disso, o trio tocava algumas noites da semana em casas como “Jazzmania”, “Parque da Catacumba” e “Mistura fina”. Esse bar é hoje o internacionalmente renomado restaurante Mistura Fina, que tem apresentações de jazz e música instrumental também com atrações internacionais.

Em 1984 Nico gravou o que seria seu segundo disco solo no extinto estúdio Rádio Patrulha. Esse disco, gravado e mixado, nunca foi prensado e lançado. No mesmo ano, por ter boa experiência com gravações, ia uma vez por semana a São Paulo para fazer os arranjos e gravar o disco solo do amigo Cândido Penteado Serra, que integrou o grupo D’Alma, pela gravadora Eldorado. No término das gravações, Cândido decidiu lançar o disco com o nome “Banda Paulistana”, dividindo os créditos com o amigo baixista.

Em 1985 Ricardo Silveira, convidado para tocar no “Free Jazz Festival”, reuniu Nico, Luiz Avellar, Carlos Bala (bateria) e Steve Slagle (sax), que era seu amigo de NY, para tocar como sua banda no festival. Por mais duas semanas, de quarta a sábado, continuaram a tocar no bar “Jazzmania”. Surgia aí o projeto ”High Life”.

Logo após o festival, a banda decidiu acrescentar algumas músicas para aumentar o repertório, uma delas era “High Life” de Steve Slagle. A banda fazia duas entradas, e, no final da segunda semana, Luiz Avellar sugeriu que continuassem como banda, que seria de todos, e que gravassem um disco. O nome “High Life” surgiu, segundo Ricardo Silveira, por ser o nome de uma das músicas do repertório e porque não conseguiram pensar em um nome melhor naquela época.

O disco foi gravado em dois dias no estúdio “Nas Nuvens”, do músico Liminha, pelos produtores Chico Neves e Vitor Faria. A banda fez diversos shows no Rio e São Paulo, um deles registrado nos arquivos do Centro Cultural São Paulo. O disco “High Life” é o único disco do “Grupo High Life”, sendo conhecido por grande parte dos músicos, principalmente baixistas, como um disco solo de Nico Assumpção; talvez pelo fato de ter duas músicas de autoria do baixista - uma delas, “Cor de Rosa”, muito importante em sua carreia, além dos solos de baixos, temas e acompanhamentos que destacam o baixo de uma maneira incomum para a época.

Em 1988, após ter participado nas edições anteriores do "Free Jazz in Concert" como side man, Nico faz um show com Luiz Avellar, Paul Liberman (sax), Ricardo Slveira (guitarra) e Jurim Moreira (bateria). Antes do evento, tocando a escala cromática como aquecimento, Nico percebe que a partir do 17º traste a nota fá se repetia nos trastes seguintes. Nico teve um acesso de pânico. A primera reação foi pedir um martelo, imaginando que os trastes estivessem empenados. Enquanto o roadie busca o martelo, Nico passou a mão debaixo da corda e descobre que ela estava amassada naquele ponto. Trocou a corda e tudo bem, subiu para o palco e, segundo testemunhas do evento, foi um dos melhores shows do Nico.

Nico Assumpção reuniu uma legião de fãs, em primeiro lugar, músicos. Sempre fazia questão de tocar ao vivo, porque gostava muito. Tocou em casas como “Blue Note” e “Village” em NY, e em diversos bares, como os que temos hoje na Vila Madalena, em São Paulo. Tocou em diversos teatros e também em casas noturnas no Leblon, freqüentadas por diversos músicos que se reuniam no fim de noite para tomar uma cerveja e fazer algumas jam sessions.

Anos 90

A década de 90 foi também muito rica e promissora. Destacam-se os arranjos para os songbooks de Vinicius de Morais e Carlos Lyra, onde somados à qualidade vocal do Be Happy, tornaram-se de uma riqueza fora do comum. Além disso, vários compositores e intérpretes renomados serviram-se de seu trabalho, como Zé Renato (ex-Boca Livre), no disco Arranha-Céu.



A partir de 1991, Nico passa a tocar o baixo de 6 cordas, padrão que adotou a partir de então. Este fato representa um pioneirismo no Brasil, ele foi o primeiro baixista brasileiro a utilizar o baixo de 6 cordas.

Na vida pessoal foi um período conturbado financeiramente, talvez reflexo da crise econômica que se extendeu até o final da década. Havia situações em que Nico tocava a noite inteira por um cachê de R$ 100,00. Aliado a isso tudo, por volta de 1995 ele se separa da Paula, sua primeira esposa e se muda por um tempo para a casa de amigos, como Nelson Faria, e postriormente para um pequeno apartamento na Rua Barão da Torre, ao lado da delegacia da Receita Federal em Ipanema. Pouco tempo depois ele conhece Rossana, sua segunda esposa, e se mudam para a Rua Gastão Bueno, em Ipanema.

Muito embora tivessem períodos de altos e baixos, a década foi extremamente promissora profissionalmente. Inicia um trabalho com o Marco Pereira e em 1991 fazem uma apresentação no "Free Jazz". Grava com grandes músicos e intérpretes como Simone, Wagner Tiso, Raphael Rabelo, Adriana Calcanhoto, Gal Costa, Edú Lobo, Leny Andrade, Ivan Lins, Casa da Bossa - com César Camargo Mariano - e diversos outros artistas. Participou, também, de gravações com vários músicos internacionais, como Larry Coryell, Dionne Warwick, Bob Belden, Joe Henderson, Bill Cunliffe e Phil Sheeran.

Dois trabalhos internacionais merecem destaque pela repercursão. Um deles foi com Joe Henderson, consagrado saxofonista americano que tocou músicas de Tom Jobim; e outro foi com Larry Coryell, guitarrista americano. A parceria mais importante, no entanto, pela extensão de tempo e pelo trabalho realizado, foi com Nelson Faria (guitarra).

Até o fim de sua vida, Nico tocou ao menos uma vez por mês no Mistura Fina, sempre com a casa cheia e notas no jornal anunciando: “Nico Assumpção e Banda”. Com o nome firmado entre os grandes instrumentistas por ter acompanhando grandes nomes da música brasileira, abriu portas para músicos e fãs de instrumentos diferenciados e sem características de instrumento solo, como o baixo elétrico.

João Bosco

A princípio, João Bosco fazia shows sozinho, voz e violão, em dado momento chamou o Nico para fazer um duo. Desde então, Nico consolidou seu trabalho com João Bosco, não apenas como baixista, mas, também, como parceiro musical. Desta parceria sugirão os discos Gagabirô (1984), Cabeça de nego (1986), Ai ai ai de mim (1987), Bosco (1989), Zona de fronteira (1991), As mil e uma aldeias (1997), e Benguelê ballet para um corpo (1998).

Nico e Joao BoscoA afinidade entre os dois pode ser comprovada no especial transmitido pela TV Cultura. Neste show, sentimos uma concepção musical com poucos arranjos e muita liberdade para o baixista solar, João Bosco mantém sua maneira de tocar violão - é comum criar acompanhamentos de violão mais complexos, preenchendo os espaços quando se toca sozinho, e tocar de maneira mais “enxuta”, quando se está acompanhado por um baixista, omitindo as notas mais graves dos acordes para não embolar, porém neste show esse pensamento não foi percebido. João Bosco toca como se estivesse sozinho, preenchendo quase todo o espaço com seu violão, isso permite que Nico explore melhor a região aguda do baixo, fazendo vários solos durante as músicas.

Algum tempo depois, Nico sugeriu que João convidasse outros músicos, aí se forma um novo grupo: Nico (baixo), Marçal (percussão), Robertinho Silva (bateria) e Ricardo Silveira (guitarra). Posteriormente, Nelson Faria (guitarra) e Kiko Freitas (bateria), além dos baixistas Andre Neiva e Ney Conceição, ambos indicados pelo próprio Nico para substituí-lo.



Paralelo ao trabalho com João Bosco, que durou 15 anos, Nico fez uma série de shows e gravações com nomes como Milton Nascimento (compositor e intérprete), Marcio Montarroyos (trompete), Victor Biglione (guitarra), Ricardo Silveira (guitarra), Wagner Tiso (teclado), Helio Delmiro (guitarra), Cesar Camargo Mariano (piano), Nelson Faria (guitarra), Robertinho Silva (bateria), Chico Buarque (compositor e intérprete), Marcos Rezende (piano), Edu Lobo (compositor) e Larry Coryell (guitarra), entre outros. Em grande parte desses trabalhos, teve muita liberdade para criar suas melodiosas e precisas linhas de baixo e fraseados.

Bass Solo

Nico ministrou vários workshops sobre técnicas de contrabaixo, harmonia, improvisação, levadas e etc. Utilizava como material de apoio uma apostila com diversos exercícios e exemplos de digitação, onde mostrava a sua forma de tocar. Esse material, posteriormente foi ampliado e sistematizado, tornado-se o seu método de improvisação Bass Solo, os segredos da improvisação, lançado no final de 2000 pela editora Lumiar.

Segredos

Qual o segredo que havia por trás do Nico? Por que ele tocava tanto? A resposta foi dada por Rossana, sua esposa: "Ele sempre buscou o estudo. Não me lembro de um dia em que o Nico estivesse em casa que não tivesse entrado no estúdio para estudar, seja sábado, domingo ou feriado. Ele tocava, ele estudava e ele ouvia. A capacidade que ele tinha para buscar o aprimoramento é nítido no trabalho que ele deixou. Nico como músico era um ser perfeito. Nunca se contentava com 99%, tinha que ser 100%. O Nico e o contrabaixo eram como se fossem uma coisa só, como se fizessem parte um do outro; o dedo que toca a corda e a corda que penetra o dedo."

O mestre

Nico Assumpção participou de centenas de gravações durante sua carreira entre discos completos e participações, além de um número incontável de shows. Não sobrava tempo para ministrar aulas particulares de música, apenas alguns poucos os baixistas que tinham o privilégio de ter Nico como professor.

Segundo André Neiva e Patrick Laplan, Nico não adotava um método específico em suas aulas particulares, que muitas vezes se estendia por horas em sua casa como um “bate-papo”, sem um tempo pré-determinado, tocando e mostrando suas gravações e trabalhos de outros baixistas que considerava de grande importância para o desenvolvimento musical de qualquer músico. O enfoque principal de suas aulas era a harmonia. Falava sobre o ciclo de quintas ascendentes e descendentes, modos gregorianos e progressões, e a improvisação. A improvisasão, segundo ele, deveria ser vista como uma história com começo, meio e fim, para que tenha contexto musical e não um amontoado de notas sem sentido.

Sempre dizia, principalmente aos alunos mais jovens, que um bom músico deve ser livre de preconceitos musicais, que o segredo para conseguir fazer música com estilo próprio está em saber misturar diversos estilos musicais. Demostrando ser um músico virtuoso, sem ser exibicionista, era admirado por seus alunos por sua simplicidade e respeito ao nível de conhecimento de cada um. Com imensa boa vontade de ajudar no desenvolvimento musical e profissional do aluno, orientava sobre como portar-se diante de um arranjador, maestro ou artista, em como deveriam ser firmes diante de algumas decisões, e, o mais importante na opinião de André Neiva, os ensinava a dizer “não”, mostrando que suas idéias, de que o músico deve ser sempre respeitado, continuavam fortes em seu modo de encarar a profissão.

Além das poucas aulas particulares ministradas em seu apartamento no Rio de Janeiro, Nico participou das edições de 92, 94 e 95 do “Festival de Verão de Brasília” na Escola de Música. Segundo o professor Oswaldo, que participou dos três cursos ministrados por Nico, "essa experiência (...) mudou minha visão no estudo do contrabaixo”. Nico demonstrou nesses festivais o domínio que tinha tanto sobre o baixo elétrico como o acústico, impressionando os músicos presentes pela sua técnica, conhecimento harmônico e fluência em improvisação, provando estar realmente à frente de seu tempo.

Anos 2000 - ascenção, amadurecimento e final de carreira

Com uma diferença de 16 anos entre o lançamento do segundo e o terceiro disco, em abril e junho de 2000, Nico voltou aos estúdios ao lado de Nelson Faria (guitarra) e Lincoln Cheib (bateria) para gravar o disco “Três/Three”. Foram regravadas músicas como “Cor de rosa” - uma das mais importantes de sua carreira, “Eu sei que vou te amar” de Tom Jobim e Vinicius de Moraes, “Vera Cruz” de Milton Nascimento e Márcio Borges, e músicas inéditas de autoria própria em parceria com Nelson Faria, além de composições de Lincoln Cheib e Mauro Rodrigues. O último registro ao vivo de Nico Assumpção é no disco “Tocando Victor Assis Brasil”, gravado no Mistura Fina nos dias 30 e 31 de março e 1º de abril de 2000, ao lado de Luiz Avellar (piano) e Kiko Freitas (bateria), tendo a participação especial de Nivaldo Ornelas (sax) e Ricardo Silveira (guitarra), tocando apenas composições de Victor Assis.

Morre o homem, nasce o mito

Nico sempre foi muito preocupado com a questão de preparo físico. Dava voltas de bicicleta em torno na Lagoa Rodrigo de Freitas e estava sempre bem disposto, tanto nos workshops, tanto nos shows.

Em 1999 ele iniciou um trabalho com o músico mineiro José Namen (teclado) em parceria com Nelson Faria (guitarra), cuja proposta era tocar Beatles em ritmo brasileiro, o trabalho chama-se "Beatles - Um tributo brasileiro". Fizeram alguns shows, inclusive em Ouro Preto. Durante esse período, Nico apresentou problemas de saúde, sendo necessária uma intervenção cirúrgica para correção de hérnia de disco.

Durante uma turnê na Europa para promover o CD da Maria João e do Mário Laginha, sentiu-se mal e comentou que chegando no Brasil faria exames. Foi então ao médico que o diagnóstico com câncer no pulmão em estágio avançado.



Nico encarou a doença de maneira serena e consciente do trabalho realizado. Na verdade, quem conversou com o Nico durante esse periodo, jamais imaginaria a gravidade do problema pelo qual ele estava passando. Em uma dessas ocasiões Rossana lhe perguntou como ficaria a memória da sua obra, não tinha um acervo de participações em shows, eventos, não havia produzido nenhum filme, tipo video-aula e etc. Nico respondeu que ela não precisava se preocupar com isso, iria aparecer muita coisa depois.

A doença se alastrou para o fígado e depois para a coluna vertebral. O tratamento foi dificil e doloroso e o lançamento do disco Três ocorreu nesse período, inclusive com Nico autografando o CD no hospital em dezembro. Ele falava inglês e francês fluentemente e, neste momento, já misturava as línguas sem nenhum motivo aparente durante a conversa. Era um evidente sinal que a doença já havia atingido um estágio muito avançado e fatal: o cérebro.

Amigos e parceiros o visitam nessa hora e ele fala prá um deles: "Gostaria de poder voltar no tempo e começar de novo algumas coisas, para ser possível demonstrar e expressar para as pessoas que eu amo o quanto elas são importantes."

Na sexta feira, dia 19 de janeiro o amigo Luiz Avellar o visita. No sábado ele partiria para um trabalho em Boston. Aquele momento se transformou em uma despedida do parceiro de longas datas e de trabalhos que hoje fazem parte da história da música brasileira.

"Era um sábado de manhã, e eu não havia ligado para saber notícias durante aquela semana, estava em Belo Horizonte. Liguei para a sua casa e o telefone tocou até cair a ligação. Achei estranho e liguei para o celular da Rossana. Dona Conceição atende e eu pergunto pelo Nico. A resposta, curta, foi de uma dimensão tal que me deixou completamente sem reação: "ele faleceu durante a madrugada."

Era o dia 20 de janeiro de 2001. Nico faleceu e suas cinzas, no dia seguinte, foram depositadas na lagoa Rodrigo de Freitas. Nesse local, há uma placa em sua homenagem, colocada sob uma árvore, com o nome "Recanto Nico Assumpção".

Em agosto de 2002, com a presença de sua mãe, dona Conceição e de sua filha Mariana, por iniciativa da Rossana, com a participação de Cláudio Infante (bateria), de Afonso Cláudio (sax), de Nelson Faria (guitarra) e de André Neiva (baixo), foi realizado um show em tributo a Nico Assumpção na loja Show Point, no centro da Cidade do Rio de Janeiro. Foi a comemoração do relançamento em CD do seu primeiro LP da carreira solo, tocando apenas músicas de sua autoria, como: "Cor de Rosa", "Maxixe", "Paca Tatu, Cotia Não" e “The Quartet". Além disso, o show inaugurava o “Espaço Nico Assumpção”, um auditório localizado dentro da loja Show Point, feito em sua homenagem.

No final do evento, dona Conceição confidenciou: "Esse baixista me fez lembrar o Nico algumas vezes."

Quase 10 anos depois, muitas homenagens foram feitas, mas como resumir Nico Assumpção? Talvez a resposta esteja no diálogo de João Bosco com um trombonista sueco, encantado com o solo da música "Holofotes" (CD Zona de Fronteira - 1991).

"Quem fez esse solo?" - perguntou o sueco surpreso. João Bosco imediatamente respondeu: "Foi o Nico, um baixista brasileiro."

Nico Assumpção - um baixista brasileiro que encantou o mundo!

REGISTRO AO VIVO DO SHOW "ÁRIA" EM CD E DVD PODE SER NO RECIFE

Por Bruno Negromonte

Depois de 18 álbuns autorais, Djavan durante o ano passado lançou seu primeiro disco como intérprete (parceria entre o seu selo Luanda Records e a gravadora Biscoito Fino).

Ária, como foi intitulado o disco, é um álbum onde o alagoano deu vazão total ao seu lado intérprete (lado este que geralmente é pouco exercitado em seus registros fonográficos).

Segundo o próprio Djavan a escolha do repertório foi difícil, porém as canções escolhidas têm, de uma forma ou de outra, algum tipo de relação com suas memórias afetivas. São reminiscências de seu período como crooner nas noites do Rio de Janeiro, são lembranças do repertório cantarolado por sua mãe entre outras lembranças.

O álbum possui canções que vão de Luiz Gonzaga (13 de dezembro) a Frank Sinatra (Fly to the moon) , de Cartola (Disfarça e chora) a um grande clássico do Gilberto Gil (Palco), também trás a canção "Nada a nos separar (West of the wall) que foi gravada na década de 60 pelo Trio Esperança. Essa gravação remete Djavan ao período em que ele morou em Recife e que decididamente optou por sua carreira como músico.

Talvez por ter boas lembranças da cidade do Recife (onde, diga-se de passagem, seus espetáculos são sinônimos de elogios e casa cheia), que durante esse ano de 2011 Djavan tem por pretensão fazer o registro de seu segundo trabalho ao vivo a ser lançado em CD e DVD.

Em mais uma parceria da Luanda Records com a Biscoito Fino, o registro ao vivo do show Ária (que estreou com sucesso de crítica e público em setembro do ano passado em São Paulo) a princípio está programado para ser registrado no Teatro de Santa Isabel, em Recife talvez ainda neste primeiro semestre. É esperar para ver!

CULTURA SOFRERÁ UM CORTE DE 600 MILHÕES

Por Marcelo Pereira e Flávia de Gusmão

Duas mudanças recentes devem ditar os rumos do Ministério da Cultura neste começo de ano. A primeira é queda expressa no valor do Orçamento 2011 enviado ao Congresso – terá menos recursos, por exemplo, o Fundo Nacional de Cultura, que permite incentivo direto. O orçamento total do MinC, que em 2010 alcançou o recorde de R$ 2,2 bilhões, minguou para R$ 1,6 bilhão em 2011 e o Fundo Nacional de Cultura (FNC) em 2011 terá apenas R$ 326 milhões. Em 2010, esse valor foi de R$ 898 milhões para o FNC (em 2009, também foi superior, de R$ 523 milhões).

O orçamento como um todo deve sofrer com a nova restrição às emendas parlamentares (gerada pelo escândalo recente envolvendo o relator Gim Argello, que se afastou após a denúncia, pelo jornal O Estado de S. Paulo, do envio de recursos a entidades culturais “fantasmas”). No ano passado, aquelas emendas garantiram um aumento de R$ 858 milhões no Orçamento de 2010, levando o MinC ao patamar de R$ 2,2 bilhões. Em agosto, decreto do ex-presidente Lula “blindou” os recursos do FNC de quaisquer tipos de contingenciamento – a queda substancial no valor destinado ao FNC já seria preventiva, para garantir o não engessamento de recursos.

A outra novidade que mexe com a dinâmica de financiamento do Ministério da Cultura veio no último dia do ano. Foi editada uma Instrução Normativa alterando procedimentos de uso da atual Lei Rouanet. O MinC restabeleceu o pagamento de 10% do valor de um projeto incentivado para o pagamento de “serviços de captação” – o profissional que formata projetos e vai até as empresas buscar patrocínio, até o teto máximo de R$ 100 mil.

Foi a segunda decisão sobre esse assunto em cerca de dois meses. Em outubro, o MinC tinha fixado o porcentual em 7,5% (até o limite máximo de R$ 50 mil). Mas houve uma grita dos produtores culturais, que no final do ano alegaram não estar conseguindo captadores com base nesses valores. O ministério informou que essa decisão foi da gestão Juca Ferreira, e não da nova ministra Ana de Hollanda.

O ex-ministro Juca Ferreira já previa o patamar de 10% no anteprojeto da nova Lei de Incentivo à Cultura, que tramita no Congresso (embora o ex-ministro manifestasse publicamente contrariedade em relação ao que batizou de “despachantes da cultura”, que enxertariam valores extras no custo).

Em 2009, Claudio Weber Abramo, presidente da organização não governamental Transparência Brasil, chegou a estimar que a atual Lei Rouanet propiciasse um “índice de desperdício” de até 30% em boa parte dos projetos, que estaria concentrado, principalmente, no que ele chamou de “atravessadores” da lei (produtores que embutiriam nas planilhas de custos comissões arbitrárias, além de outras despesas alheias ao propósito final).

Ao mesmo tempo em que diminuiu a verba para estímulo direto à cultura pelo MinC, algumas instituições vinculadas, como a Agência Nacional de Cinema (Ancine), tiveram aumento orçamentário – o da Ancine saltou de R$ 86,2 milhões em 2010 para R$ 96,6 milhões em 2011.

Ontem, chegou ao Congresso o primeiro projeto de escopo cultural do governo Dilma (PL 8052/11). Trata-se de uma proposta de combate à pirataria, e que altera o Código Penal para agilizar o julgamento de crimes contra o direito autoral. Permite a perícia de bens por amostragem – dispensa obrigação de se analisar um por um todos os CDs e DVDs apreendidos numa operação policial.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

CLASSIFICADOS CULTURAL MUSICARIA


Hoje resolvi inaugurar uma nova coluna em nosso estimado blog. Resolvi "criar" essa coluna tendo por objetivo ceder um pedacinho do blog para que nós (amantes e colecionadores da boa música popular brasileira) tenhamos um espaço para negociarmos (seja trocando, vendendo ou comprando) bons álbuns e registros da nossa música, seja ele em CD, LP ou DVD, e que se encontram fora da catálogo .
A proposta dessa coluna é ceder um espaço para que os frequentadores do Musicaria possam se manifestarem por álbuns que andam em busca a bastante tempo e sempre esbarram em preços exorbitantes no Mercado Livre ou em outros sites do gênero.
A proposta aqui é deixar publicado aqueles discos que andamos em busca e nossos respectivos contatos para que a pessoa interessada na negociação possa nos cantactar.
Eu por exemplo ando em busca de quase todos esses álbuns que ilustra a foto desta postagem. Mas hoje quero "solicitar" um outro álbum a parte daqueles ali encontrados. Abaixo segue o primeiro álbum a títulos de troca, compra e venda nesta primeira postagem (esperando que seja a primeira de muitas bem sucedidas da coluna).

Que a boa sorte acompanhe a todos aqueles que buscam seus respectivos álbuns "raros"!!!


P.S. - Não custa nada lembrar que o espaço aqui é concedido para a negociação, mas o Musicaria Brasil em momento algum intervém na transação entre os frequentadores do blog, portanto em nada nos responsabilizamos pelas negociações aqui feitas.
Para que o álbum que você deseja encontrar seja publicado procure mandar os dados necessários (Ex: se é vinil, CD ou DVD, nome do artista e respectivo álbum e se deseja comprar, trocar ou vender) para o e-mail de contato do Musicaria sob o título de CLASSIFICADO CULTURAL. Nosso contato é o brnegromonte@bol.com.br


Pois bem, para dar o pontapé inicial em nosso classificado musical ando em busca de um álbum do Geraldo Azevedo lançado em LP por volta de 1983 e lançado muitos anos depois.

Ando em busca do CD e tenho alguns outros títulos não só do Geraldo para troca, mas de outros artistas. A quem for de interesse a troca é só dizer qual o título que anda em busca ou se preferir a venda é só anunciar o preço.

TEMPO TEMPERO (Barclay)
Produzido por Durval Ferreira Direção Artística: Mazola

Faixas:
01 - Terra à Vista (Geraldo Azevedo/Carlos Fernando)
02 - Sabor Colorido (Geraldo Azevedo) - Tema de "O Mágico de Nóis", forrópera infantil de Nonatho Freire
03 - Tempo Tempero (Geraldo Azevedo/Carlos Fernando)
04 - O Charme das Canções (Geraldo Azevedo/Capinam)
05 - Acende-me (Geraldo Azevedo/Carlos Fernando)
06 - Nosotros Nosotras (Geraldo Azevedo/Capinam) - Participação Especial: Nana Caymmi
07 - Oitavo Pecado (Geraldo Azevedo/Carlos Fernando)
08 - Qualquer Pessoa (Geraldo Azevedo/Carlos Fernando)
09 - Fases (Geraldo Azevedo/Capinam)
10 - Lennon in the Sky (Geraldo Azevedo/Pippo Spera/Capinam)

A quem for de interesse a venda ou esteja em busca de algum álbum para que possa ser efetuada a troca por esse do Geraldo é só me contactar: brnegromonte@bol.com.br

MEMÓRIA MUSICAL BRASILEIRA

Para dar início a essa nova coluna de nosso blog e não deixar cair no ostracismo a história de nossa música popular brasileira quero trazer ao conhecimento de nossos frequentadores um álbum lançado a exatamente 40 anos atrás. Tenho plena coonvicção de que muitos que aqui "passeiam" nesse espaço nem eram nascidos quando este álbum foi lançado (inclusive eu!), então fica aqui para o conhecimento de muitos o segundo LP na escassa discografia do Candeia.

Por falar em Candeia, vou trazer um breve resumo da biografia deste grande nome do samba brasileiro: Era de filho de sambista. Em seus aniversários, a festa era mesmo com feijoada, limão e muito partido alto. Coisa que não agradava muito ao menino Antônio, que gostaria na verdade de muito refrigerante , bolo, doces e salgados.

Seu pai, tipógrafo e flautista, foi, segundo alguns, o criador das Comissões de Frente das escolas de samba. Passava os domingos cantando com os amigos debaixo das amendoeiras do bairro de Oswaldo Cruz. Assim, nascido em casa de bamba, o garoto já freqüentava as rodas onde conheceria Zé com Fome, Luperce Miranda, Claudionor Cruz e outros. Com o tempo, aprendeu violão e cavaquinho, começou a jogar capoeira e a freqüentar terreiros de candomblé. Estava se forjando ali o líder que mais tarde seria um dos maiores defensores da cultura afro-brasileira.

Candeia começou a fazer músicas ainda na adolescência. Seu pai tocava flauta e carregava o filho para rodas de samba e de choro em Oswaldo Cruz e Madureira.

Compôs em 1953, aos 17 anos, seu primeiro enredo, Seis Datas Magnas, com Altair Prego: foi quando a Portela realizou a façanha inédita de obter nota máxima em todos os quesitos do desfile (total 400 pontos). É até hoje um dos grandes nomes no panteão da Portela.

No início dos anos 60, dirigiu o conjunto Mensageiros do Samba, no qual participavam Arlindo, Jorge do violão, Picolino, Casquinha e Casemiro. Em 1961, entrou para a polícia. Tinha fama de truculento e suas atitudes começaram a causar ressentimentos entre seus antigos companheiros. Provavelmente, não imaginava que começava a se abrir caminho para a tragédia que mudaria sua vida. Diz-se que, ao esbofetear uma prostituta no ano de 1965, ela rogou-lhe uma praga; na noite seguinte, após bater em um caminhão de peixe e atirar nos pneus do caminhão, Candeia levou cinco tiros, entre eles um atingiu a medula óssea e paralisou para sempre suas pernas. Viveu os seus últimos treze anos de vida numa cadeira de rodas, em decorrência daquele tiro. Candeia se aposentou por invalidez após o acidente e pôde, então, se dedicar exclusivamente à música.

Sua vida e obra se transformaram completamente. Em seus sambas, podemos assistir seu doloroso e sereno diálogo com a deficiência e com a morte pressentida: Pintura sem Arte, Peso dos Anos, Anjo Moreno e Eterna Paz são só alguns exemplos. Recolheu-se em sua casa; não recebia praticamente ninguém. Foi um custo para os amigos como Martinho da Vila e Bibi Ferreira trazerem-no de volta. "De qualquer maneira, meu amor, eu canto", diria ele depois num dos versos que marcaram seu reencontro com a vida.

No curto reinado que lhe restava, dono de uma personalidade rica e forte, Candeia foi líder carismático, afinado com as amarguras e aspirações de seu povo. Fiel à sua vocação de sambista, cantou sua luta em músicas como Dia de Graça e Minha Gente do Morro. Coerente com seus ideais, em dezembro de 1975 fundou a Escola de Samba Quilombo, que deveria carregar a bandeira do samba autêntico. O documento que delineava os objetivos de sua nova escola dizia: "Escola de Samba é povo na sua manifestação mais autêntica! Quando o samba se submete a influências externas, a escola de samba deixa de representar a cultura de nosso povo".

No mesmo ano de 75, Candeia compunha seu Testamento de Partideiro, onde dizia: "Quem rezar por mim que o faça sambando". Era também lançado o LP "Claridade", da cantora Clara Nunes, que se tornou recorde de vendagem, e cujo maior sucesso era a trilha de "O Mar Serenou", de Candeia.

Em 1978, ano de sua morte, gravou Axé um dos mais importantes discos da história do Samba, porém não chegou a ver o disco pronto. Ainda viu publicado seu livro escrito juntamente com Isnard: Escola de Samba, Árvore que Esqueceu a Raiz.

No dia 16 de Novembro de 1978 decorrente de uma infecção generalizada Candeia parte deixando esposa, filhos, amigos e fãs inconsoláveis.

Filosofia do Samba - Candeia (1971)
Uma curiosidade deste álbum é a inusitada parceria entre Candeia e o radialista Adelzon Alves, para quem não sabe Adelzon foi uma das primeiras pessoas a quem o cantor e compositor Djavan recorreu quando chegou ao Rio. O radialista conterrâneo do Djavan Edson Mauro apresentou-o a Adelzon Alves e este, por sua vez, o apresentaram a João Mello, produtor da Som Livre, que deu ao cantor sua primeira grande oportunidade. Djavan gravou músicas de outros compositores, incluídas em trilhas sonoras de novelas da Rede Globo.

Faixas:
01 - Filosofia do Samba (Candeia)
02 - Vem é Lua (Candeia)
03 - Silêncio Tamborim (Wilson Bombeiro - Anésio)
04 - Saudade (Candeira - Arthur Poerner)
05 - A Hora e a Vez do Samba (Candeia)
06 - Quarto Escuro (Candeia)
07 - Vai pro lado de lá (Candeia - Euclenes Rosa)
08 - Saudação à Toco Preto (Candeia)
09 - De Qualquer mandeira (Candeia)
10 - Imaginação (Candeia - Aldecy)
11 - Minhas Madrugadas (Candeia - Paulinho da Viola)
12 - Regresso (Candeia - Adelzon Alves)

sábado, 8 de janeiro de 2011

O REGAÇO DA CULTURA PERNAMBUCANA

A Passa Disco, como foi descrita aqui no último mês de novembro, é uma simpática, acolhedora e seleta loja de música popular localizada aqui na cidade do Recife. Loja esta que tem a frente Fábio Cabral, que além de proprietário é profundo conhecedor da música popular brasileira e pernambucana. A loja tem 07 anos e desde o seu surgimento não só a música pernambucana, mas a cultura regional nordestina ganhou mais um espaço de resistência cultural.

Isso pode ser comprovado a partir da matéria publicada em um dos jornais de maior circulação aqui no estado de Pernambuco (Diário de Pernambuco) no último dia 19 de dezembro


Música de PE tem a preferência

Metade do catálogo da Passa Disco é composta por trabalhos de artistas locais - um dos segredos do sucesso da loja

Existe um lugar no Recife onde Justin Bieber, Lady Gaga, Madonna, Beyoncé, U2, Frank Sinatra e até os Beatles não têm vez. E não é preconceito. É apenas reserva de mercado mesmo. Na Passa Disco, quem reina é a música pernambucana. Pelo menos 50% do catálogo da loja é formado por discos de cantores e compositores da terra. Na outra metade do cardápio, só títulos de artistas brasileiros. Uma receita que vem dando certo há sete anos, desde que o empresário Fábio Cabral de Melo decidiu trocar a gastronomia pela música.

Fábio dividia com dois irmãos a sociedade do bar e restaurante Rei do Cangaço, no bairro de Casa Amarela. Durante o tempo dedicado aos comes e bebes, ele iniciou um vínculo com cantores e grupos locais. 'Eles começaram a produzir os primeiros discos e deixavam lá para divulgar. 'Em 2002, Fábio decidiu sair da sociedade. Passou o ano fazendo outras coisas, até que teve a ideia de abrir a Passa Disco. 'Além de gostar de música, eu via as lojas de disco fechando, enquanto vários músicos pernambucanos estavam gravando.'

Hoje, a Passa Disco - que funciona no Shopping Sítio da Trindade, em Casa Amarela - conta com cerca de 2 mil títulos. Desde o início, virou um reduto para os músicos lançarem trabalhos e realizarem apresentações ao vivo. Fábio Cabral calcula que, nesses sete anos, já aconteceram mais de cem eventos do tipo na loja. 'Já fizemos o lançamento de discos de Silvério Pessoa, Erasto Vasconcelos, Geraldo Maia, Alessandra Leão, Maciel Melo, Elba Ramalho, Xico Bezerra', contabiliza o empresário, que também é o único atendente da loja.

Mas servir de point da música local não basta: a Passa Disco já tem duas coletâneas próprias (Pernambuco cantando para o mundo) e uma terceira chegará às prateleiras em 2011. Ainda não tem nome, mas será em comemoração aos 70 anos de Dominguinhos. O lançamento será durante as festas juninas, claro, para ´casar` com o público cativo do cantor. Na produção desta nova coletânea, Fábio vai contar com a ajuda do pesquisador Paulo Vanderley. Outro projeto para o próximo anoé a criação do selo Passa Disco.

'Vamos juntar artistas diversos, não apenas pernambucanos, para distribuir os discos, além das nossas próprias coletâneas', adianta o empresário. Discos de outro selo local (Candeeiro Records) também serão distribuídos. 'Vamos vender para o resto do Brasil, procurar as lojas alternativas e sair oferecendo os discos', conta Fábio, que quando não está atendendo os clientes, navega na internet em busca de novidades musicais. Curiosamente, a primeira banda a contar com o trabalho do novo selo não é pernambucana, é a carioca Vulgue Postoi.

Apesar de não falar em valores, o empresário diz que o investimento no selo Passa Disco não precisa ser muito grande. É tudo alternativo. Mas a loja não vai perder atenção, ele garante. Por mês, Fábio calcula que vende 700 unidades. Podem dizer que é pouco, porém, ele diz que dá para se manter. 'Eu não tenho ideia de quanto vende uma Cultura, uma Saraiva, mas eu acho prazeroso ter a loja. Eu me aproximo cada vez mais da música pernambucana. Tudo isso é muito gratificante. Sou muito feliz com o que eu faço.'

TALENTOS HERDADOS

Anelis Assumpção
A malemolência feminina ecoa elegantemente no trabalho de Anelis Assumpção.

Cantora, compositora e percussionista, ela prepara-se para gravar seu primeiro CD com um punhado de canções Próprias – e pode manter o P maiúsculo aí no adjetivo porque as composições da moça têm um tempero que não se encontra em outras cozinhas. Com a sagacidade de quem canta na fluência das melhores conversas de botequim, a filha de Itamar Assumpção encontra o ponto certo do molho na mistura de uma descompromissada poesia (provável herança do gene paterno) com um balanço refogado na fervura do samba, do reggae, do hip hop e da chamada vanguarda paulistana – expressão essa, designada para identificar a inclassificável música de seu pai e comparsas como Arrigo Barnabé.

O timbre quase grave de voz e a interpretação quase teatral valorizam letras como a de “Bola Com Os Amigos”, um desabafo-canção direto e reto sobre uma frustração recorrente entre as mulheres brasileiras. Ela canta: “chamei meu nêgo pra passear / mas ele foi jogar bola com os amigos” (...) “não há razão pro suicídio / depois da bola eu sei que ele vem pra casa ver um vídeo”. Simples e aconchegantes, alguns de seus versos até soam familiares na voz de alguma pessoa conhecida, parecem fragmentos de uma conversa antiga ou diálogos em balão de algum HQ lido no jornal que te fez rir no café da manhã.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

ADÃO DAXÃLEBARADÃ

Adão Daxãlebaradã: um gênio destruído pela violência

Um dia o cineasta Walter Salles subiu o morro do Cantagalo, no Rio, à procura de novas expressões artísticas. De lá, saiu com um documentário e uma descoberta: Adão Dãxalebaradã. Waltinho foi levado à casa desse músico desconhecido por Luanda, caçula dos filhos de Adão e bailarina do projeto Dançando para Não Dançar. O diretor de Central do Brasil ficou impressionado com o compositor, de mais de 500 canções, e o apresentou à sua parceira Daniela Thomas e ao irmão dela, o produtor musical Antônio Pinto. “Fiquei obcecado em registrá-lo. Adão tem um discurso de contestação, de paz, mas com olhar particular”, disse Antônio. Hipnotizados pela mistura de sons – reggae, samba, afro-beat, rap – e pelas letras vigorosas, os três decidiram revelar Adão. O resultado foi o disco Escolástica, o documentário Somos Todos Filhos da Terra e o videoclipe Armas e Paz.

Sobrevivente de emboscadas da polícia e de bandidos, levou 12 tiros. Quatro foram de metralhadora, e foi perseguido por 30 homens da polícia especial. Segundo Adão, o motivo foi ele ter sido excluído do Exército, conforme crê, por preconceito racial. Passou a pregar peças no coronel responsável pela sua exclusão. Em plena ditadura militar, conta ter sido até torturado. Um dos tiros de metralhadora ficou a um dedo do coração, e Adão passou meses no hospital.

A última bala ele levou quando tentava se afastar da violência do morro, como mecânico, em 1973. Em tese, foi assalto. Quis reagir e, sem ver que havia outro bandido atrás, foi alvejado. O tiro o deixou numa cadeira de rodas. “Sou semiparaplégico, consigo andar segurando nas coisas, tomar banho sozinho, fazer sexo", dizia. "Na verdade o tiro foi um mal que veio para bem, pois descobri as coisas da Umbanda e do Candomblé”. Daxãlebaradã é uma qualidade de Xangô que significa “Princípio, Meio e Fim”. Este foi o nome espiritual que adotou desde então.

Adão começou a fazer música aos cinco anos: “Meus pais eram crentes. Fazia hino de igreja”. Sua brincadeira era imitar o pastor. Aos oito anos, fugiu de casa e foi morar na rua. “Não tinha liberdade, era criado na base da pancada. Não podia jogar bola de gude nem soltar pipa porque eram coisas do diabo”, lembrava ele, o mais velho de nove irmãos. “Só podia brincar no porão. Não podia me misturar com filhos de pessoas que não eram da igreja.”

Na rua, sobrevivia com o que lhe davam. Foi encaminhado a uma instituição para menores, onde ficou dos 9 aos 17 anos. Foi guia espiritual de sua comunidade e por ser ligado às raízes afro-brasileiras, compôs cerca de 500 músicas sobre o tema. Residia no Morro do Cantagalo, em Ipanema. Faleceu no Hospital Miguel Couto, segundo alguns, vítima de uma Hepatite C com infecção generalizada, sendo enterrado no cemitério São João Batista, mas há muitos que juram que Adão incomodou o pessoal do tráfico, quando fêz a música "armas e paz", um protesto criticando o tráfico de armas e sua morte foi "repentina" e estranha demais...

A música de Adão é forte, cheia de fúria, com as letras focadas na injustiça de todos os matizes. Tocava apenas um atabaque - que era como compunha suas músicas - e muita gente achava que fazia parte da galera do funk carioca, o que o produtor Antônio Pinto provou não ser verdade, pois construiu junto com Adão um dos discos mais lindos da história da música brasileira. Adão era um homem de raiva e de fé, raiva dos poderosos que manipulam idéias para manter os homens escravizados, raiva da apatia dos seus iguais e fé na força de suas origens no Orun e nos rios da África, que o inspiravam na sua pregação libertária. Com uma voz rouca e profunda, forjada na tristeza e na difícil vida que levou, ela soa como se viesse de antes dos tempos, tempos melhores que estes que o fizeram vítima da violência. Adão foi uma perda, quase despercebida pelos homens, mas certamente, será sempre lembrado pelos deuses.
Deixou dois filhos: Ortinho e Luanda.

Seu único registro fonográfico foi este:

Adão Dãxalebaradã - Escolástica (2003)
Faixas:
01 - Armas e Paz
02 - África
03 - Computador
04 - Bibi Lobi Woa
05 - Luanda
06 - Deus é um Negrão
07 - Vida Curta
08 - Escolástica
09 - Diamante
10 - I Ia Laa
11 - Xirê
12 - Vida Curta (Remix)
13 - Armas e Paz (Remix)

O REI DO CÔCO BEZERRA DA SILVA

Por Bruno Negromonte

Próximo dia 17 de janeiro é uma data por muitos lembrada como o dia em que um dos pernambucanos mais cariocas que havia partiu dessa para uma melhor. Foi em um 17 de janeiro, mais especificamente no ano de 2005, que José Bezerra da Silva faleceu, aos 77 anos.

Bezerra da Silva, nasceu em Pernambuco; porém resolveu seguir para o Rio de Janeiro para arriscar a sorte. Penou um bocado para se estabelecer na cidade maravilhosa e se tornar o embaixador dos morros e favelas. Inclusive chegando a mendigar.

Se tornou conhecido por seu repertório de partido altos, mas antes dessa projeção Bezerra iniciou sua carreira gravando Cocos, gravando inclusive dois álbuns (os dois primeiros discos de Bezerra) e que até então nunca haviam sido editados em CD.

O Rei do Côco (1975) e O Rei do Côco Vol. 2 (1976) estão ganhando suas respectivas versões em CD pelas mãos do produtor Marcelo Fróes (proprietário do selo Discobertas) e por aqueles que detém os direitos da antiga gravadora Tapecar ser relançados no início deste ano de 2011 pelo selo Discobertas, dando continuidade à parceria firmada entre o selo do pesquisador Marcelo Fróes e os herdeiros do acervo da extinta gravadora Tapecar. Eis abaixo o repertório dos dois discos:


O Rei do Côco (1975)
Faixas:
01 - O Rei do Côco (Bezerra da Silva)
02 - Língua Grega (Buco do Pandeiro e José Pereira)
03 - Valente na Boca do Boi (Arnô Canegal e Waldemar Silva)
04 - Côco de Itambé (Bezerra da Silva)
05 - Rapa Cuia (Bezerra da Silva e Jorge Garcia)
06 - Côco do Trato (Bezerra da Silva e F. Terra)
07 - A Coisa Mudou (Bezerra da Silva e Geraldo Barbosa)
08 - Côco do B (Bezerra da Silva e Jorge Garcia)
09 - O Catimbozeiro (Bezerra da Silva e Sydney da Conceição)
10 - Vai Chover Hoje Urubu (Antônio Rodrigues e Buco do Pandeiro)
11 - Lei da Bahia (Bezerra da Silva e Jorge Garcia)
12 - Rima de Doê (Bezerra da Silva)


O Rei do Côco - Volume 02 (1976)
Faixas:
01 - Se Não Souber Dizer (Buco do Pandeiro)
02 - Assim, sim (Janice e Carlinhos do Cavaco)
03 - Carne de Pescoço (Bezerra da Silva e Darcy de Souza)
04 - Pour la Madame (Bucy Moreira e Arnô Canegal)
05 - Não Sou Valente (Dida e Neoci)
06 - O Rei do Côco (Bezerra da Silva)
07 - Vamos S’imbora, Neném (Avarése)
08 - Cara de Boi (Dicró e Bezerra da Silva)
09 - Mãe É Sempre Mãe (Bezerra da Silva)
10 - Segura a Viola (Pernambuco e Betinho)
11 - Côco do trocadilho (Buco do Pandeiro)
12 - Bruta Inveja (Bezerra da Silva e Nilo Dias)

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

MPB - MÚSICA EM PRETO E BRANCO

Nelson Sargento

A POSSE DE ANA DE HOLLANDA, A NOVA MINISTRA DA CULTURA DO BRASIL

O rapper GOG virou mestre de cerimônia, o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) sacolejou ao lado de mulatas e ritmistas, o calango voador do Seu Estrelo e o Fuá do Terreiro entrou no auditório, uma senhora ensopada pela chuva resmungou por não ter encontrado Chico Buarque, o agora ex-ministro da Cultura Juca Ferreira emocionou-se na despedida, o pai de santo Doté Francisco d’Ynhasá pediu que os orixás iluminassem o caminho da sucessora de Juca, e, por falar nela, lá foi Ana de Hollanda, 62 anos assumir o cargo, na festa – vulgo cerimônia de transmissão de cargo – mais farofada do governo Dilma, que reuniu embaixadores, políticos, grupos de circo, samba e percussão e quem mais passasse na segunda à noite pelo Museu da República, em Brasília.

Adotando o tom conciliador do mundo político, Ana enalteceu o trabalho de Juca Ferreira, mesmo tendo pontos de conflito com ele – como a controversa revisão da Lei dos Direitos Autorais, colocada para consulta pública no ano passado e a reforma da Lei Rouanet, omitidos em seu discurso. A primeira ministra da Cultura da primeira mulher presidente do Brasil preferiu enaltecer as políticas públicas da era Lula, prometeu continuidade, observou que a emergente classe C tem consumido, até aqui, mais eletrodomésticos que cultura – e que isso precisa mudar. “A balança não pode permanecer assim tão desequilibrada. Cabe a nós alargar o acesso da população aos bens simbólicos, porque é necessário democratizar tanto a possibilidade de produzir quanto a de consumir”, disse, sob aplausos de uma plateia heterogênea, formada inclusive por colegas dos tempos em que foi secretária de Cultura de Osasco (SP) e vice-presidente do Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro.

A dama da Cultura aproveitou a ocasião – e a presença de alguns parlamentares – para pedir ajuda ao Congresso: “Vamos aprovar, este ano, nesses próximos meses, o nosso Vale Cultura (subsídio para entrada de cinema, teatro e outros eventos), para que a gente possa incrementar, o mais rapidamente possível, a inclusão da cultura na cesta do trabalhador e da trabalhadora.”

Da lista de projetos que envolvem a pasta, destacou o PAC das Cidades Históricas e ações do Mais Cultura, falou até em levar arte para as zonas rurais, uma espécie de Luz Para Todos para o campo. Emotiva, disse que cada artista pode ter a certeza de que seu coração “está batendo por eles” e que isso vai ser traduzido em mais iniciativas, com o ministério ligado às raízes nacionais.

O que Ana Hollanda trouxe de novo foi a ênfase na aliança com o Ministério da Educação e a aproximação estratégica com outras áreas do governo: “O ministério não será uma senhora excêntrica”.

Para o segundo escalão do MinC, Ana tem praticamente certo três nomes até o momento: o ator Antonio Grassi, que presidirá a Funarte, o administrador cultural gaúcho Vitor Ortiz, que será secretário-executivo, e Glauber Piva, diretor da Agência Nacional de Cinema (Ancine), ainda sem função na nova gestão.

A cantora Rosemary acredita que a chegada de Ana engrandece a participação feminina na Esplanada. “É uma pessoa muito ligada à área, que tem uma história. Gosto muito da família do Chico”, disse.


A SAÍDA

O troca-troca no MinC mobilizou parte da classe artística, que defendeu a permanência de Juca Ferreira. O movimento “Fica, Juca” ganhou corpo, até um manifesto foi divulgado, mas nada disso foi suficiente para convencer Dilma a mantê-lo. Ao falar para o público, Juca disse que sai com a convicção de ter cumprido o dever. “Aliás, fomos além do dever e das obrigações. Colocamos a cultura no patamar das políticas públicas mais importantes no Brasil.” Juca afirmou que vai estudar os convites que surgirem para definir o futuro.

No final da festa (que custou por volta de R$ 50 mil, segundo a assessoria do MinC), teve show do GOG, uma fila de gente querendo cumprimentar a ministra, burburinho nos corredores do museu – e até quem dissesse que Chico se ausentou para não ofuscar a irmã. “O Chico não costuma sair muito de casa, isso é público e notório. Ele vem depois”, afirmou Ana à imprensa.



DIREITOS AUTORAIS

O anteprojeto que reforma a Lei dos Direitos Autorais deve passar por análise, segundo a nova ministra da Cultura, Ana de Hollanda. A proposta original tinha entre os seus maiores defensores o ex-ministro Juca Ferreira. “Acho que (o anteprojeto) deve passar por mais uma análise”, disse Ana. “O ministério vai ter de ter uma atitude madura de como analisar o projeto de lei. Só posso dizer que foi bastante polêmica a recepção. Se tem polêmica, vamos ter de afinar um pouco mais.

A proposta de revisão dos direitos autorais criminaliza o “jabá” (oferecimento de propina para que certas músicas sejam tocadas em rádios e na TV), dispensa a utorização dos titulares para a restauração de filmes e exibições em cineclubes e prevê supervisão do governo em associações de gestão coletiva de direitos autorais, como o Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad).

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

A SINFONIA E OS BATUQUES DE NANÁ VASCONCELOS

Por Bruno Negromonte

Uma das atrações programada para o último natal na cidade do Recife foi o lançamento do mais recente álbum do percussionista Naná Vasconcelos: Sinfonia e Batuques.

Naná dispensa apresentações. Exímio músico, Juvenal de Holanda Vasconcelos que é popularmente conhecido por Naná vem de uma carreira discográfica desde 1972, quando lançou AfricaDeus juntamente com Novelli e Nelson Ângelo. Daí em diante Naná fixou morada em Nova York por um tempo e seu talento ganhou o mundo.

Mas voltemos ao projeto atual e a constante prática experimentalista que permeia e caracteriza a obra do virtuoso percussionista pernambucano. Faz parte desse seu novo álbum arranjos geralmente incomuns em trabalhos discográficos. E isso talvez seja a assinatura tão peculiar e o que chega a distinguir, caracterizar e definir Naná como um dos maiores do mundo em sua atividade musical.

Em sinfonia e batuques, Naná trás cordas, instrumentos sinfônicos e fricção da água (por incrível que pareça!) como artifício percussivo. Busca trazer nessa sua mais recente obra as raízes da música pernambucana quando toca maracatu e também procura dar ênfase a elementos eruditos, pois tem como convidado Orquestra Experimental de Câmera.

No álbum Naná também gravou três composições de sua filha pianista Luz Morena, de 11 anos, e uma faixa com um coral infantil, Menininha nagô (homenagem a Mãe Menininha de Gantois), que abre o disco. Há a utilização de experiências áquaticas como Lamentos e Batuque das Águas (esta é um medley com uma canção do Milton Nascimento gravada pelo próprio Naná em Bush Dance.

Enfim, o álbum transita pelo maracatu, pelo samba, música de câmara e xaxado. Há gravações de temas de sua própria autoria e de compositores como a já citada Luz Morena, do compositor angolano Kituche e de seu conterrâneo J. Michiles.

A versatilidade de Naná é mais uma vez posta em prova e mais uma vez Naná se supera e faz de sua dádiva aquilo que deve ser verdadeiramente chamada de música.

Salve Pernambuco! Salve a música! Salve Naná!

EFÊMERA (TULIPA RUIZ)

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

DOCUMENTÁRIO GILBERTO GIL TEMPO REI - PARTE 02

Dando continuidade a postagem anterior segue a segunda e última parte do documentário "Tempo Rei".

Parte 10



Parte 11



Parte 12



Parte 13



Parte 14




Parte 15



Parte 16



Parte 17



Parte 18

DOCUMENTÁRIO GILBERTO GIL TEMPO REI

Passaram-se 15 anos desde que foi gravado o documentário "Tempo Rei", registro cinematográfico da biografia do grande Gilberto Passos Gil Moreira em homenagem aos 30 anos de carreira do cantor e compositor baiano... nesse documentário Gil volta a Itauçu (BA) cidade na qual não voltava desde 1951, conta histórias interessantes acompanhado de amigos e familiares; enfim, ele procura mergulhar a fundo em sua biografia.
"Tempo Rei" foi dirigido por Andrucha Waddington, Lula Buarque de Hollanda e Breno Silveira. O filme foi rodado em 1996 e mostra Gil em contato com sua própria história. Vale a pena conferir!

Parte 01



Parte 02



Parte 03



Parte 04



Parte 05



Parte 06



Parte 07



Parte 08



Parte 09

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

CURIOSIDADES DA MPB

Ao saber do casamento de um primo, Noel Rosa mandou o recado: “Meu querido primo Jacy, um abraço! Quero com ele dar os meus pêsames pelo seu casamento”. Contrair núpcias não figurava entre as prioridades do jovem sambista. Aos 23 anos, ele teve um rápido relacionamento com Lindaura, então menor de idade. Não esperava que a mãe da moça fosse reclamar com o delegado: “Noel raptou minha filha!”. A condição para não abrir o inquérito era que ele se casasse com Lindaura. Noel disse que preferia a cadeia, mas acabou cedendo. Na foto, tirada em 1º de dezembro de 1934, demonstra toda a satisfação por entrar no time dos casados.

QUINCY JONES E A MPB

Aos 77 anos, o músico e produtor Quincy Jones é uma das maiores lendas da música americana. Autor do clássico Soul Bossa Nova, trompetista, compositor de trilhas sonoras, arranjador, militante da causa negra e produtor de nomes como Frank Sinatra e Michael Jackson, Jones segue na ativa. O disco Q: Sou Bossa Nostra, em que nomes como Amy Winehouse, Jamie Foxx, Snoop Dogg, John Legend, Akon e Ludacris reinterpretam clássicos compostos por ele, foi lançado nesta semana nos EUA. Em entrevista à revista Billboard ele relembra os quase 60 anos de carreira e fala sobre projetos futuros.

Entre eles está um filme sobre a música brasileira. Jones é um grande admirador do samba e da bossa nova e vem ao Brasil em fevereiro com o diretor William Friedkin (de O Exorcista) para filmar o Carnaval e outras manifestações da cultura brasileira. Ele disse que o projeto é trazer jovens músicos americanos de jazz e blues para ter experiências de intercâmbio com os músicos brasileiros.

O produtor também está trabalhando em um projeto para unificar o currículo das principais escolas de música dos Estados Unidos, com o objetivo de educar os jovens sobre a cultura da música."É uma pena que a nova geração não conheça as raízes da música americana", disse. Outro projeto ambicioso é um livro de 360 páginas, acompanhado de um DVD, que serve como "manual" sobre as técnicas de produção musical.

Ele dá duas lições que considera importantes para os produtores atuais: "A primeira é: produzir também é em parte psicologia. Quando você diz a alguém como o Frank (Siantra), Ray (Charles) ou Michael (Jackson) para saltar sem uma rede de proteção, é melhor saber do que está falando. A segunda é: conheça sua música e entenda seu ofício. Assim você estará sempre certo, e o Pro Tools (programa de produção no computador) trabalha para você. Se não, a máquina vai te puxar pela coleira".

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