PROFÍCUAS PARCERIAS

Gabaritados colunistas e colaboradores, de domingo a domingo, sempre com novos temas.

ENTREVISTAS EXCLUSIVAS

Um bate-papo com alguns dos maiores nomes da MPB e outros artistas em ascensão.

HANGOUT MUSICARIA BRASIL

Em novo canal no Youtube, Bruno Negromonte apresenta em informais conversas os mais distintos temas musicais.

quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

GEOGRAFIA DAS EXPRESSÕES

Um ensaio fotográfico sobre o homem e seus territórios, focando as expressões diversas dos indivíduos no cotidiano e em suas respectivas paisagens. 

Por Fábio Nunes












EM SEU QUARTO ÁLBUM, O MÚSICO CARIOCA CÍCERO INCORPORA O SOM DA BANDA ALBATROZ


Cantor e compositor grava canções mais otimistas e finalmente sai do apartamento onde criou sozinho seus três discos anteriores 

Por Guilherme Augusto* 


Resultado de imagemO compositor e produtor carioca Cícero, de 31 anos, cavou para si um espaço na música de forma independente e autoral – gravou seus discos em casa, tocando os instrumentos sozinho. Porém, quando se apresentava ao vivo, com uma banda de apoio, o músico notava os arranjos mais dinâmicos e efusivos. Muito embora não fossem idênticos à composição original, o resultado acabava agradando ao autor. Em seu quarto álbum, Cícero decidiu incorporar a banda no processo criativo, dando a ela o nome de Albatroz.

Cícero & Albatroz, lançado neste mês pela Sony Music, configura o encontro dos músicos Bruno Schulz, Uirá Bueno, Gabriel Ventura, Cairê Rego, Felipe Pacheco Ventura, Vitor Tosta e Matheus Moraes com Cícero. “Essa ‘banda’ foi formada aos poucos, ao longo dos últimos anos, com pessoas que eu chamava para trabalhar comigo”, diz o compositor. “Além de sermos amigos, nossa comunicação sempre foi muito clara, o que ajudou no processo de produção.”

Agora ao lado de uma banda, Cícero adota um tom mais otimista, distante das canções minimalistas que o tornaram conhecido no cenário da atual MPB. “Como cada um tem uma personalidade própria, as músicas ganharam um caráter de celebração, por mais que elas tratem de temas ‘não felizes’. Essa é a grande onda de uma banda: as músicas devem te dar aquela vontade de cantar junto”, comenta. Além disso, a responsabilidade decresce, segundo ele. “Quando se lança um disco solo, a ideia de um é a que sobressai. Com banda, as vozes de todos convergem, e é preciso achar um meio-termo no qual todos concordem com o que está sendo feito.”


APARTAMENTO

Se antes os temas que pairavam sobre as canções do carioca eram as relações humanas, tratadas com melancolia, desta vez predomina um saudável sentimento de inquietação. Saem os arranjos diminutos, quase silenciosos, para dar lugar a melodias crescentes com direito a percussão marcada e metais. É a prova de que Cícero, enfim, saiu de seu apartamento, onde ele gravou Canções de apartamento (2011), Sábado (2013) e A praia (2015).

Apesar disso, o tom de celebração não está dissociado de uma preocupação em abordar assuntos incômodos. A grande sacada está nas entrelinhas. Para a faixa A cidade, primeiro single do trabalho, ele gravou vídeo em que aparece deitado no meio da rua ao lado de um carro tombado, dando a ideia de um acidente. O local foi escolhido a dedo: o Tribunal Regional do Trabalho do Rio de Janeiro.

“Quando fiz essa música, estava muito em voga essa questão da reforma trabalhista, o que acho muito sério e preocupante. Além disso, a música trata desse cara que não tem opção, a não ser se relacionar com a cidade. Ao mesmo tempo, eu queria fazer algo que falasse sobre esses temas, mas ficasse no campo artístico e não se tornasse panfletário”, explica. A sutil poesia da canção remete a Construção(1971), de Chico Buarque. Mas sem pretensão, assim como ele já fez com a obra de Tom Jobim (1927-1994).

Apesar de suas referências serem do passado, ele nega ser um saudosista, principalmente quando o assunto é o consumo de músicas. Cícero surgiu quando o streaming ainda engatinhava no Brasil. À época, liberava seus discos para download gratuito, num gesto pouco usual naquele momento. Fez isso até o terceiro. Depois, com a chegada dos serviços on-line, viu que o esforço era inútil. Agora, toda a sua discografia se encontra nas redes. “A única coisa que me incomoda é o fato de esses sites ignorarem a ficha técnica das músicas. Apesar disso, melhorou muito. Dá para conhecer e ouvir de tudo. Isso me fascina”, comenta.

Com um álbum que se organiza em duas partes, Cícero parece retornar mais maduro após os dois anos que separam esse disco do anterior. O tom de suas composições o coloca como bom candidato a preencher um lugar deixado por Los Hermanos. No entanto, diferentemente da banda de Marcelo Camelo e Rodrigo Amarante, que nasceu barulhenta e morreu minimalista, Cícero reencontra o lugar para suas histórias num espaço maior, expandido, que incorpora mais de um artista autoral e criativo. O show lançamento do disco deve chegar a Belo Horizonte em 17 de março, no Sesc Palladium.


*Estagiário sob a supervisão de Silvana Arantes


CÍCERO & ALBATROZ
Artista: Cícero
Gravadora: Sony Music
Disponível nas plataformas digitais

terça-feira, 30 de janeiro de 2018

LENDO A CANÇÃO

Por Leonardo Davino*



O que é canção? Bruno Cosentino

Bruno Cosentino


- O que é canção para você?
É dizer com ritmo e melodia palavras que façam sentido ou não, mas que o todo sonoro – que é a junção de sons, performance, timbres, ruídos, ritmos, harmonia, estados subjetivos do cantor e do ouvinte, os astros etc. - resulte esteticamente significante.

- De onde vem a canção?
A canção é a cristalização da fala em ritmo e melodia e a canção vem das falas e melodias que estão no ar e de todas as pessoas que vivem ou já viveram no mundo e vem também da batida do coração, que dita o ritmo da vida em todos nós e a partir do qual todos os ritmos se originam. 

- Para que cantar?
Cantar é o extravasamento de um estado de espírito (seja ele qual for: alegria, tristeza, melancolia, medo, excitação etc.). Quando cantamos por profissão, devemos reviver os sentimentos primeiros que deram forma ao canto.

- Cite 3 artistas que são referências para o seu trabalho. Por que estes?
Dorival Caymmi, graça, ritmo, leveza, saúde, imagens, cores, atmosferas, plasticidade; João Gilberto, perfeição, balanço, estranhamento, restaurador da individualidade singular em todos nós; Milton Nascimento, timbre, emoção, deus.







* Pesquisador de canção, ensaísta, especialista e mestre em Literatura Brasileira pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e doutor em Literatura Comparada, Leonardo também é autor do livro "Canção: a musa híbrida de Caetano Veloso" e está presente nos livros "Caetano e a filosofia", assim como também na coletânea "Muitos: outras leituras de Caetano Veloso". Além desses atributos é titular dos blogs "Lendo a canção", "Mirar e Ver", "365 Canções".

BATERISTA: INSTRUMENTO-PROBLEMA QUE PODIA SER SOLUÇÃO

Por Henrique Cazes





Incorporada a nossa música popular a partir da década de 1910, na moda mundial da instrumentação chamada de jazz band, a "bateria americana" está há um século entre nós e ainda não se chegou a conclusão se é mais um problema ou uma solução. E isso inclui desde reclamação de vizinho de baterista até a antipatia de freguês de casa noturna.


Cabe ressaltar que o termo jazz band não diz respeito aqui ao jazz música, que só viria a existir de fato na década de 1920. Essa instrumentação de maior volume sonoro: bateria, saxofone, banjo, etc., espalhou-se pelo mundo pois conseguia se impor em ambientes barulhentos como salões de dança e cabarés.

Os pioneiros de um estilo brasileiro de bateria: Luciano Perrone, Walfrido Silva e Sutinho, para citar os mais conhecidos, foram heróis que além de improvisarem o próprio instrumento, visto que era muito difícil comprar equipamento importado no Brasil, inventaram um jeito de tocar, segundo Perrone, baseado no que viam a percussão fazer. Quando ouvimos cada um deles, sentimos que estão "dentro" do ritmo, dialogando, criando espaços para o balanço e tocando para o grupo.

O advento da bossa nova trouxe o hábito de se marcar o samba com o chamado tum-tum no bumbo e aí começaram sérios problemas. Essa figura de ritmo que "anuncia" o tempo com a semicolcheia que o precede, cria a tendência a puxar o andamento para trás, além de diminuir sensivelmente o espaço por onde se desenha a magia rítmica do samba.

Essa questão de imprecisão é muito relevante também nas chamadas viradas. Uma vez eu perguntei ao Ed Lincoln, lá pelo ano de 1998, por que não reorganizava seu lendário conjunto e ele me disse:

_ Se você arranjar uma baterista que faça a virada e volte no mesmo andamento, eu remonto o conjunto na hora!

O tempo foi passando e o acesso a informação fez com que os bateristas fossem se tornando mais técnicos e precisos e, curiosamente, parece que isso potencializou a inadequação do instrumento à nossa realidade.

Entre 2004 e 2007, quando fui diretor musical do Rio Scenarium, vi acontecer muitas vezes. Uma banda organizada, com uma cantora boa, arranjos arrumadinhos e repertório caprichado, naufragava na estreia por causa de um baterista que resolvia se exibir e tocar mais alto que o restante. Cheguei mesmo a pensar na época em sugerir à Ordem ou Sindicato dos Músicos que exigissem uma licença especial, espécie de porte de arma, dos bateristas, dado o seu potencial destrutivo. 

Mais recentemente, a bateria brasileira começou a redescobrir a percussão e apareceu inclusive o termo "percuteria", para definir um set que mistura algumas peças da bateria com instrumentos de percussão. Demorou!

segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

PAUTA MUSICAL: SILVIA MARIA - TALENTO A FLOR DA PELE

Por Laura Macedo









Em certa ocasião tive  a grata surpresa da presença da cantora Silvia Maria no programa Sr Brasil (TV Cultura). Para quem não assistiu e/ou deseja rever, eis os vídeos. No post - “O retorno de Silvia Maria”- o seu último CD - Ave Rara - pode ser ouvido na íntegra. Que o retorno da talentosíssima Silvia Maria, cujas interpretações são de arrepiar, seja permanente.

A VIDA LOUCA DA MPB (ISMAEL CANAPPELE)*

Resultado de imagem para A Vida Louca da MPB


CARMEM MIRANDA



Carmen é convidada a retornar ao Cassino da Urca para um evento beneficente envolvendo aliados do governo Getúlio Vargas. Quando surge nopalco, cumprimenta a plateia com um estranho “Good night people”, e abre a apresentação cantando “South american way ” e “Disseram que eu voltei americanizada”. Mas a audiência está gélida, e assim prossegue. O cassino está tomado por políticos sisudos ligados ao Estado Novo. Aos prantos, Carmen deixa o palco em meio ao show. Não sabe que o Brasil, cada vez mais aliado à Alemanha nazista, vê os Estados Unidos como inimigo crescente. Carmen representa o sucesso norte-americano, e acaba por levantar suspeitas na plateia formada por grandes figurões nacionalistas. Em outubro, desiludida e abalada, retorna aos Estados Unidos levando a mãe e dois irmãos, Odila e Mocotó.
A produção do segundo filme em Holly wood, Uma noite no Rio, tem início. Logo a força de vontade de Carmen chama atenção. Ligadona, mesmo tendo que vestir pesados figurinos, está sempre disposta para o trabalho. Será a benzedrina fazendo efeito mais uma vez? Pontualíssima, é sempre a primeira a chegar. O diretor Irving Cummings a apelida de one take girl, por jamais errar em frente às câmeras. Sem falar inglês, estuda a sonoridade de cada frase antes de repeti-la em cena. Além disso, com dificuldade para seguir uma coreografia preestabelecida, pois nunca estudara dança, pede ao diretor que a deixe livre.
É Carmen quem rouba a cena na festa do Oscar de 1941. Logo depois, com apenas um filme lançado, deixa sua marca na Calçada da Fama, em Holly wood. Sua performance é parodiada e imitada ao redor do mundo, para os mais diversos fins.
Tudo vai bem. Ela está ambientada ao clima quente da Califórnia, e sofre sempre que precisa retornar à fria Nova York. Em Manhattan, ainda ligada a Shubert, deve cumprir a temporada de Sons o’ fun. Além dos ensaios, o empresário fecha dois shows por noite durante três meses, antes da estreia na Broadway. Anfetaminas e soníferos precisam ser consumidos mais do que nunca. Carmen segura firme, mas o Bando da Lua não aguenta o pique. Hélio e Vadeco abandonam o grupo e retornam ao Brasil. Da formação original, restam apenas três.

* * *
Finalmente, Carmen rompe com Shubert e assina um contrato de exclusividade com a Fox, prevendo dois filmes por ano. Apesar de estar menos sobrecarregada profissionalmente, seu corpo segue dependendo da mesma quantidade de remédios. Importante lembrar que, na época, a indústria farmacêutica era uma atividade recente, e pouco se sabia sobre os efeitos colaterais provocados por tantos químicos. Na Holly wood dos anos 1940, a única certeza era a de que a vida devia ser curtida sob o efeito constante de alguma droga. Carmen volta à Costa Oeste para gravar Minha secretária brasileira. 

Enfim aparece sem as plataformas, balangandãs ou turbantes. Decidida a viver na Califórnia, compra uma casa em Beverly Hills, onde mora com a mãe, Aurora e o cunhado. Num quarto no andar de baixo fica Aloy sio, seu affaire. Carmen é profundamente ligada ao rapaz. Os dois chegaram juntos aos Estados Unidos e venceram longe de casa. Mas antes que o casal pudesse assumir o romance, Walt Disney contrata o brasileiro como seu assessor
pessoal para projetos latino-americanos. Aloy sio deixa o Bando, a casa e a vida de Carmen. Após cinco anos juntos, ela sofre a primeira solidão. Logo em seguida, o rapaz se casa e tem um filho com outra mulher. Carmen amarga a perda de mais um amor. Seu corpo clama por filhos. Deseja seguir os passos da irmã, Aurora, e constituir uma família. Está cansada de ser só, de ser apenas uma cifra, um nome brilhante no disputado casting de Holly wood. Ou um corpo que só sabe dançar sob o efeito de algum poderoso excitante. Seus sonhos se transformam, sem que haja indícios de que serão realizados.
Enquanto isso, no Brasil, Carmen é ridicularizada até mesmo pelos jornalistas de quem acreditava ser amiga. A crítica esculhamba praticamente todas as suas produções. Mesmo a distância, lê tudo o que sai a seu respeito. Não entende como pode ser tão hostilizada na própria casa. Não compreende o motivo de tanto desprezo. Porém, o que mais a incomoda agora é seu nariz. Em 1943, aos 34 anos, escondida da mãe e da irmã, submete-se a uma desastrosa cirurgia plástica.
A operação, rudimentar, é feita em casa. A cicatrização é lenta. Para piorar ainda mais o quadro, Carmen precisa filmar Entre a loura e a morena (The gang’s all here). Às custas de uma prótese artificial, ostenta um nariz perfeito, feito de cerâmica. O filme é um sucesso, talvez o ponto alto de sua carreira, mas Carmen Miranda está perdida. Quando terminam as filmagens, volta a operar o nariz. A prótese serve para a tela, não para a vida. A cirurgia, aparentemente simples, acaba gerando sérias complicações. O fígado sofre uma grave infecção, combatida com doses cavalares de antibióticos e transfusões de sangue. Suas chances de vida são mínimas. Carmen passa semanas à beira da morte. Os executivos da Fox se preparam para o pior. Passado algum tempo, Carmen se recupera e volta para casa. O fato é abafado na imprensa. Meses depois, retorna aos estúdios atuando em Quatro moças num Jeep. Terminadas as filmagens, volta à mesa de cirurgia para uma terceira intervenção nasal. Assim como Michael Jackson anos depois, ostentar um nariz finíssimo é sua maior obsessão.

* * *
Após essa passagem, Carmen começa a enfrentar dificuldades para ser encaixada nas novas tramas da Fox. Sua figura ficou datada. Já não exala mais a mesma juventude. Tornou-se uma senhora, mas ainda não sabe se comportar como tal. Seu coração apresenta problemas. Uma forte arritmia a deixa preocupada. Os médicos receitam descanso, mas tudo o que ela faz é  abusar de soníferos e estimulantes. Escapando da vigilância, cria uma rede de profissionais que podem lhe oferecer todas as receitas médicas necessárias.
Disposta a melhorar a saúde, torna-se fumante. As campanhas de cigarro vendem o vício como um excelente tônico para os pulmões. Fumar faz bem. Influenciada pela filha, até mesmo dona Maria decide cuidar da saúde e começar a fumar. Apesar de estar em frangalhos do ponto de vista físico e emocional, Carmen Miranda é a mulher que mais ganhou dinheiro nos Estados Unidos, e possivelmente no mundo, em 1944. Foram mais de 200 mil dólares. Apenas 36 homens faturaram mais do que ela naquele ano.
Em 1945 é só festa. Com o fim da Segunda Guerra, muitos brasileiros começam a chegar a Holly wood levando anotado o telefone da casa de Carmen Miranda. Pode parecer estranho, mas seu número é divulgado exaustivamente pela imprensa brasileira. Se hoje as celebridades reclamam das constantes invasões de privacidade, naquela época, Carmen parece não se incomodar. Ela se esbalda com os presentes que os conterrâneos trazem – sacos de feijão, quilos de farofa, metros de linguiça e cachaça, muita cachaça. Mas Carmen ainda não aprendeu a beber. Seu barato, por enquanto, são as bolinhas.
Entre os muitos brasileiros que frequentam a casa de Carmen está Vinicius de Moraes. Enviado pelo Itamaraty para trabalhar no Consulado brasileiro, o poeta logo vira amigo da estrela, que, como ele, tem o hábito de manter a casa sempre aberta. Os dois passam as noites conversando. Vinicius, com seu copo de uísque na mão, estranha o fato de aquela mulher feita jamais consumir uma única gota de álcool.
A casa de Carmen Miranda em Beverly Hills pode ser uma festa, mas sua vida profissional apresenta sinais preocupantes. A Fox agora lhe oferece apenas pequenas participações em filmes B. Seu nome já não é mais um trunfo capaz de atrair público. Antes de ser demitida, Carmen toma as rédeas, rompe seu contrato e se transforma numa das primeiras artistas independentes de Holly wood.
Apesar de desejar ardentemente ser mãe e constituir uma família, Carmen não consegue manter relacionamentos duradouros. Praticamente todos os homens que se aproximam acabam passando um tempo de festa ao lado da estrela para depois se afastar e se casar com outra mulher. Diante disso, Carmen inveja Aurora, sua irmã, que, mesmo sendo uma estrela internacional, vive um casamento de sucesso, com filhos e um marido presente. São muitas as desilusões, a última delas com um jovem ator de Holly wood com quem se envolve, e que desaparece subitamente para, como de costume, reaparecer casado com outra mulher pouco tempo depois. Arrasada, Carmen encontra consolo num assistente de produtor, fracassado e desinteressante. Na realidade, o cara é asqueroso. Apesar disso, é sua única possibilidade de, aos 38 anos, se tornar mãe.
Dave Sebastian investe pesado quando percebe que a estrela está disponível. Não demora muito para que, carente, ela caia na lábia do conquistador. O casamento, obviamente com comunhão total de bens, acontece poucos dias após o pedido. Antes da cerimônia, Carmen descobre que o noivo é judeu. A Igreja Católica, da qual é participante ativa, não abençoa o enlace, mas acaba cedendo após insistência do noivo. Assim, o fracassado assistente de produtor se casa com uma das mulheres mais ricas do mundo. De quebra, abocanha metade de sua fortuna.
* * *





* A presente obra é disponibilizada por nossa equipe, com o objetivo de oferecer conteúdo para uso parcial em pesquisas e estudos acadêmicos, bem como o simples teste da qualidade da obra, com o fim exclusivo de compra futura. É expressamente proibida e totalmente repudiável a venda, aluguel, ou quaisquer uso comercial do presente conteúdo.

domingo, 28 de janeiro de 2018

VAMOS FALAR DE DISCOS?




MPB - MÚSICA EM PRETO E BRANCO

Saulo Duarte e a unidade

sábado, 27 de janeiro de 2018

PETISCOS DA MUSICARIA





Por Joaquim Macedo Junior


SÉRIE TRILHAS E MÚSICAS DE FILMES NACIONAIS – FEBRE DO RATO

Febre do Rato

“Febre do Rato” é dirigido por Claudio Assis, o mesmo de “Baixio das Bestas” e “Amarelo Manga”.

Lançado em 2012, a sinopse do filme diz que o título refere-se a uma expressão popular do Recife (predominantemente), para dizer que “algo é ruim”, “está fora de controle”.


Conta, numa película filmada em preto e branco e com ritmo frenético/alucinante, a história de Zizo, poeta que publica um tabloide.

Com fins lucrativos, o poeta resolve viver em um mundo particular, em que ajuda os menos afortunados e também faz muitas maldades, até que conhece Eneida, menina de boa educação, interpretada por Nanda Costa.

Aliás, um dos pontos fortes do filme é seu elenco, que tem Nanda Costa, Irandhir Santos, Juliano Cazarré, Mateus Nachtergaele, Conceição Camarotti, Ângela Leal, além do cantor Jonny Hooker e o pianista Victor Araújo.


“Tubarão de Bacia”, da trilha sonora de “Febre do Rato”

Venceu o “Festival de Paulínia de Cinema”, de 2011, em diversas categorias: Melhor Filme (Crítica e Público); Melhor Ator – Irandhir Santos; Melhor Atriz – Nanda Costa; Melhor Fotografia – Walter Carvalho; Melhor Montagem – Karen Harley; Melhor Direção de Arte – Renata Pinheiro; e Melhor Trilha Sonora – Jorge Du Peixe.

“Passione”, de Junio Barreto e Jorge Du Peixe


Um cartaz

O filme foi concebido durante as filmagens de “Amarelo Manga”, em 2003. Em 2005, o roteiro foi apoiado pelo “Fundo Hubert Bals”, do Festival de Roterdã, na Holanda.

Cláudio Assis


Claudio Assis nasceu em Caruaru, PE, em 1959. Do início de sua carreira como ator e cineclubista na cidade natal, até a direção do seu primeiro longa – “Amarelo Manga”, o diretor construiu uma trajetória que inclui a direção de curtas, documentários e longas. O trabalho é resultado de profunda reflexão sobre a linguagem do cinema e seus meios de produção.

Seus filmes são projetos de baixo orçamento, embora na tela não transpareçam as dificuldades e limitações enfrentadas para a realização.

Ganhou, entre outros, os prêmios de: Melhor Longa de Ficção por “Big Jato”, no Festin de Lisboa, em 2012; Melhor Filme de Ficção com “Febre do Rato”, em Paulínia, 2011; Fórum do Cinema Novo do Festival de Berlim, com “Amarelo Manga”, em 2003; Melhor Filme e Prêmio dos Críticos no Festival de Brasília, de 2006, por “Amarelo Manga”; além do “Tigre de Ouro de Melhor Filme”, por “Baixio das Bestas”, no Festival Internacional de Amsterdã, com “Baixio das Bestas”; Melhor Primeiro Trabalho, por “Amarelo Manga”, no Festival de Havana.

Semana que vem, tem mais….

CURIOSIDADES DA MPB

Sinhô ficou viúvo jovem, apenas com 26 anos. Com três filhos para criar, trabalhava demonstrando partituras ao piano na Casa Beethoven durante o dia e se apresentava em bares, prostíbulos, boites, clubes da alta sociedade e até em acampamentos de ciganos durante a noite. Um desses locais era o clube de dança Kananga do Japão - título de novela na extinta TV Manchete, na década de 80.

sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

CANÇÕES DE XICO



HISTÓRIA DE MINHAS MÚSICAS


Já em estúdio, gravando o primeiro CD, senti falta de uma música para completar a ‘tradicional’ quantidade de 12. Ouvindo um disco de Heleno dos 8 Baixos, tocador de Caruaru que mora na França, veio a idéia de homenageá-lo fazendo um xote falando das coisas de Paris. Daí saiu o Último Xote em Paris, gravado por Nico di Pádua e Serginho Luz. Ainda hoje rio com o trabalho que tivemos pra que Nico pronunciasse corretamente o ‘le derniére em Paris’. Vejam como ficou.


ÚLTIMO XOTE EM PARIS
Xico Bizerra

valei-me, notre-dâme, onde foi que eu vim parar 
do sertão de pouca sombra, incandiou-me tanta luz 
sem ter capibaribe no sena vim navegar 
rapadura com manteiga, brioche com cuscus 
lá do triunfo dá prá torre espiar 
é tanto boulevard e só de veredas eu sei 
eu tô vexado é prá hora do au revoir 
les enfants de la patrie, qualquer dia eu voltarei

meus oito aqui por quinze é multiplicado 
e o povo agalegado se renda ao pié-de-bodé 
eu meto o dedo nos oito e em quantos venha 
até parece to nas brenhas, ô xente, vou me benzer 
vixe, que saudade, do cheiro da açucena 
do abraço da morena, é só lá que eu sou feliz 
eu sinto falta do fungar no teu cangote 
mas só vou depois dum xote, o derradeiro em paris 
le dernière em paris

SR. BRASIL - ROLANDO BOLDRIN

quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

GRAMOPHONE DO HORTÊNCIO

Por Luciano Hortêncio*


"Calango gravado em 23 de junho de 1959, mas lançado apenas e tão-somente em novembro de 60 (!), matriz 13-K2PB-0700." (Samuel Machado Filho)



Canção: Pau de sabugueiro

Composição: Nhô Belarmino

Intérprete - Nhô Belarmino (Acordeon - 8 Baixos)

Ano - Novembro de 1960.

Disco - RCA Camden - CAM 1.024-B



* Luciano Hortêncio é titular de um canal homônimo ao seu nome no Youtube onde estão mais de 10.000 pessoas inscritas. O mesmo é alimentado constantemente por vídeos musicais de excelente qualidade sem fins lucrativos).

PORTO MUSICAL 2018 ANUNCIA PROGRAMAÇÃO COMPLETA

Por Leonardo Vila Nova 

 
Chico César encerra a programação, no dia 3 de fevereiro (Foto: Amanda Fogaça)


Foi divulgada, nesta terça (9), a programação completa da 8ª edição do Porto Musical, que acontece nos dias 1, 2 e 3 de fevereiro, no Bairro do Recife. A convenção internacional de Música aporta na cidade com uma programação que inclui discussões, palestras, speed meetings, uma oficina de criação, showcases e rodadas de negócios da música.

A programação se dividirá entre o Paço do Frevo, os teatros Apolo e Hermilo, e a Praça do Arsenal (onde acontecem os showcases), num total de 44 atividades. O Som na Rural, de Rogê de Renor, que completa 10 anos de existência, marcará presença nos três dias do evento, na Praça do Arsenal.

Entre as atrações dos showcases, estão artistas locais, nacionais e internacionais, como Isadora Melo, Jr. Black, Sofia Freire, Mestre Galo Preto, Renata Rosa e Chico César, que encerrará a programação do festival, no dia 3.

As inscrições para a programação de formação e discussões estão abertas pelo site do Porto Musical. Custa R$ 150 a tarifa inteligente, que segue até 15 de janeiro de 2018; e R$ 200,00 do dia 16 de janeiro até os dias do evento.


Programação (Showcases)
1º/2 (Quinta)
19h – 19h40
Som da Rural convida: Zeca do Rolete – PE (Praça do Arsenal)

20h – 20h40
Isadora Melo – PE (Praça do Arsenal/Palco)

21h-21h40
Renata Rosa – SP (Praça do Arsenal/Palco)

22h – 22h40
Jr. Black – PE (Praça do Arsenal/Palco)

23h – 23h40
Mestre Galo Preto – PE (Praça do Arsenal/Palco)

0h – 0h40
Ifá Afrobeat – BA (Praça do Arsenal/Palco)



2/2 (sexta)
19h – 19h40
Som na Rural convida: MC Ririca – PE (Praça do Arsenal)

20h – 20h40
Flávia Coelho – França/Brasil (Praça do Arsenal/Palco)

21h-21h40
Almério – PE (Praça do Arsenal/Palco)

22h – 22h40
Barro – PE (Praça do Arsenal/Palco)

23h – 23h40
Tássia Reis – SP (Praça do Arsenal/Palco)

0h – 0h40
Eddie – PE (Praça do Arsenal)



3/2 (sábado)
19h – 19h40
Som da Rural convida: Edgar – SP (Praça do Arsenal)

20h – 20h40
Sofia Freire – PE (Praça do Arsenal/Palco)

21h-21h40
Bulldozer – Colômbia (Praça do Arsenal/Palco)

22h – 22h40
SHOWCASE: Nomade Orquestra – SP (Praça do Arsenal/Palco)

23h – 23h40
OQuadro (Praça do Arsenal/Palco)

0h – 0h40
Chico César – PB (Praça do Arsenal)

quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

VÔTE, ESCUTA SÓ! (EFEMÉRIDE DE UMA PRISÃO POLÍTICA)

Em dias de turbulência, onde desmemoriados e mal informados, tentam negar as ações truculentas da ditadura militar instaurada em 1964, recebo este relato, uma crônica da realidade nos tempos sombrios quando a democracia deixou de existir e o arbítrio tomou conta do país.

Por Paulo Carvalho


Professor Argus Vasconcelos


Crônica escrita pelo Professor Argus Vasconcelos, amigo e companheiro de lutas em defesa da Universidade Pública, gratuita, laica e de qualidade.


Efeméride de minha prisão política

No dia 05 de janeiro de 1970, há 48 anos atrás, fui preso pela ditadura empresarial-militar, em Brasília, quando tínhamos acabado de receber o certificado de reservista e descíamos alegres, eu e meus cinco companheiros, para comemorar o evento.
Na porta do Ministério do Exército, havia uma viatura (das famosas “veraneios”) com três agentes da PF. Desceram do carro e um deles, o mais velho, me deu voz de prisão: - “Polícia Federal, está detido pela Lei de Segurança Nacional”. Meus companheiros perguntaram o que estava ocorrendo e os agentes, de armas na mãos, disseram para seguir em frente. O sentinela do ministério ainda chegou a armar sua metralhadora, pensando tratar-se de um assalto.
Quando embarquei naquela viatura, pensei comigo que havia chegado a minha hora. Estávamos vivendo o início do governo Médici, e a ditadura recrudescia a repressão aos movimentos de resistência.
Cheguei preso a uma delegacia da Asa Sul, que era uma espécie de depósito para classificação dos presos políticos. Ao chegarmos, um agente de plantão perguntou: De onde é esse? Ao que responderam: do ME (movimento estudantil). Depois fiquei sabendo que a classificação inicial era: do movimento estudantil, do movimento sindical operário, camponês ou “terrorista” (do movimento armado de resistência), que era da barra pesada e logo encaminhados para a tortura no famigerado Doi-Codi.
Fiquei numa cela com beliches e logo reparei que tinha companhia, que estava enrodilhado numa cama coberto até a cabeça. Quando eu entrei, ele acordou e o reconheci logo; tratava-se de Issahan Yuseff, um dirigente do grêmio estudantil do CIEM da UnB, onde havíamos estudado e militado juntos no ME. Ele colocou logo o dedo na boca para que não nos falássemos. Issa, como era conhecido, era de origem palestina. Muitos anos depois, vim a saber que tinha voltado à Palestina e se integrado ao movimento de resistência palestina e lá teria morrido em combate com as forças de ocupação israelense.
Na mesma noite começaram os interrogatórios. Acordavam-me de madrugada e numa sala com uma forte luz nos olhos, um interrogador que eu não via a cara, fazia ao perguntas, enquanto um datilógrafo escrevia numa máquina as respostas. As perguntas eram quase sempre as mesmas sobre as organizações, nomes e atividades de militantes do movimento. Eu tratava de esconder a identidade dos companheiros alegando os “nomes de guerra” que usávamos no movimento. Um dos interrogadores, então disse que eu não estava “entregando”, mas quando fosse levado ao Doi-Codi, sob tortura, eu iria contar a história toda.
Durante as noites na prisão, era sabido que o pessoal do Doi-Codi, chegava para buscar os presos para o interrogatório até meia noite e ouvi várias vezes, altas vozes que diziam nomes e endereços para serem avisados e vi também o seu retorno, depois de alguns dias, sendo arrastados pelo corredor com os corpos feridos e deformados pela tortura.
A partir de então, esse era o meu grande temor, de não suportar a tortura e revelar nomes e atividades consideradas “subversivas”. Então, tentei mentalmente montar uma versão coerente para não entregar ninguém à repressão. Versão que repetia toda vez que era interrogado, o que causava muita irritação aos interrogadores.
Depois de alguns dias de prisão, meu pai conseguiu localizar o meu paradeiro, graças a um seu parente general do exército. Quando veio me visitar me contou toda a sua longa peregrinação para localizar-me.
A partir de então, comecei a desfrutar de duas horas de banho de sol usando uma vassoura para varrer o pátio. Recebia o almoço que meu pai enviava, que era bem melhor do que a insuportável boia da prisão. Acabaram-se os intermináveis interrogatórios e terminei não sendo levado para a tortura no Doi-Codi.
Depois de um mês de cadeia, meu pai veio para soltar-me, recebendo todas as exigências da parte dos agentes de soltura: “Não pode fazer isso, não pode fazer aquilo” etc.
Foi a primeira vez que percebi a cara feia da morte de frente e fiquei impressionado com a minha calma determinação em cair com dignidade. Depois, peguei minha trouxa, respirei fundo e entrei no carro, olhando a paisagem pelo vidro da janela, senti que a vida valia a pena, pois, fazia um belo dia de sol em Brasília.


*Argus Vasconcelos de Almeida
Recife, 05 de janeiro de 2018.



*Professor Titular do Departamento de Biologia da UFRPE, pesquisador em história e filosofia das Ciências Biológicas.


CURIOSIDADES DA MPB

Apesar de ser conhecido como um ícone de Brasília, Renato Russo nasceu no Rio de Janeiro, onde viveu até os seis anos na Ilha do Governador, Zona Norte da cidade. Antes de ir para Brasília, o cantor ainda morou dois anos em Nova York com sua família. Foi só em 1973 que Renato se mudou para um apartamento de 150 metros quadrados do Bloco B da SQS 303, na Asa Sul de Brasília.

terça-feira, 23 de janeiro de 2018

LENDO A CANÇÃO

Por Leonardo Davino*



O que é canção? Mariano Marovatto

Mariano Marovatto


- O que é canção para você?
Canção ainda é, desde o século passado, a forma de arte mais efetiva criada pelo homem.

- De onde vem a canção?
A canção vem da Linguagem humana. Inventar uma melodia é a forma mais prazerosa de testar, posso dizer, faticamente, segundo Jakobson, o aparato vocal com o qual viemos de fábrica. A letra diz respeito a nossa vontade de contar e repassar uma história e também da vontade de saciar o lirismo pessoal e intransferível de cada um. Mesmo que universal cada canção serve a um propósito específico para o lirismo de cada indíviduo, seja ela ouvinte, seja ele compositor.

- Para que cantar?
Cantar para contar seus segredos de um jeito especial. Ouvir o canto para criar novos segredos só seus.

- Cite 3 artistas que são referências para o seu trabalho. Por que estes?
Para mim toda a estrutura do mundo da canção está baseada em três pilares, tão óbvios de tão importantes: Paul McCartney, John Lennon e Caetano Veloso. John e Paul estabeleceram uma espécie de marco zero ideológico, estético e técnico da canção. Com eles a canção ficou atrelada para sempre ao seu processo de gravação, penso que esse é um dos maiores ensinamentos dos Beatles, entre tantos. Caetano, você sabe muito bem porque é o catalisador, personagem, antena e multiplicador principal da canção brasileira dos últimos 50 anos.





* Pesquisador de canção, ensaísta, especialista e mestre em Literatura Brasileira pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e doutor em Literatura Comparada, Leonardo também é autor do livro "Canção: a musa híbrida de Caetano Veloso" e está presente nos livros "Caetano e a filosofia", assim como também na coletânea "Muitos: outras leituras de Caetano Veloso". Além desses atributos é titular dos blogs "Lendo a canção", "Mirar e Ver", "365 Canções".

PROGRAME-SE


segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

PAUTA MUSICAL: ANDRÉ FILHO E A CIDADE MARAVILHOSA

Por Laura Macedo



O compositor, arranjador, radialista, cantor e instrumentista - André Filho - (21/03//1906 – 02/07/1974) assinou inúmeras composições, entre sambas, marchinhas e canções românticas. Alguns sucessos, como "Alô, Alô" foram imortalizados por Carmem Miranda. Foi parceiro de Noel Rosa no samba "Filosofia" (tempos depois gravado por Chico Buarque), e também de Vicente Paiva, Valfrido Silva e Heitor dos Prazeres, entre outros.

O Rio que inspirou o compositor, ganhou dele o melhor dos apelidos, “Cidade Maravilhosa”, composta em 1934. No ano seguinte, ficou em segundo lugar num concurso de marchinhas de carnaval. Mas venceu entre as mais tocadas nos bailes. Foi a escolhida pelo público. Uma canção que tinha chegado para ficar.

Cidade Maravilhosa virou sucesso na voz da irmã de Carmem Miranda, Aurora. E 26 anos depois, uma lei transformou a canção de André Filho em hino do Rio de Janeiro, na época, estado da Guanabara. Nem precisava. Para os cariocas, ela é a cara da cidade.

A VIDA LOUCA DA MPB (ISMAEL CANAPPELE)*

Resultado de imagem para A Vida Louca da MPB


CARMEN MIRANDA

Mais de cem anos após seu nascimento, em 1909, essa falsa baiana continua viva no imaginário popular. Em algum lugar do mundo, exatamente agora, deve haver uma bicha velha ou um little monster imitando Carmen Miranda em frente ao espelho. Ícone da cultura pop, sua persona abriu caminho para Elvis Presley, Michael Jackson, Madonna e, obviamente, Lady Gaga. Todos são suas crias. Primeira referência musical brasileira a rodar o planeta, Carmen foi também um ícone fashion. Praticamente inventou o salto plataforma, e além de popularizar o uso dos turbantes e da maquiagem pesada entre as recatadas it girls norte-americanas. Tornou-se um meme muito antes de o termo existir. Quase uma drag queen, o visual que ela mesma criou, e muitas vezes costurou, a transformou em um valioso produto de exportação. Mas essa figura caricata e ao mesmo tempo genuína sempre dividiu os brasileiros, que até hoje vivem uma relação de amor e ódio com sua maior estrela. Carmen pode ser encarada tanto como um símbolo de afirmação e liberação da mulher quanto de submissão. Apesar de jamais ter esboçado qualquer opinião política, foi usada como instrumento de propaganda pelo Estado Novo e pela Política da Boa Vizinhança. Assim como Elvis e Michael, a pop star passou os últimos anos de vida dependente das anfetaminas para manter o pique, e dos soníferos para conseguir apagar. Morreu intoxicada. Todos os dias, sete dias por semana, Carmen trabalhava e também se drogava. Com supervisão médica, foi vítima da emergente indústria farmacêutica. Pouco a pouco, a criatura sufoca a criadora. A fantasia brejeira e sacana de baiana estilizada se torna uma prisão estética. Filme após filme, show após show, repete ad nauseam as mesmas piadas. Apesar de perfeitamente inserida na sociedade norte-americana, diante das câmeras persiste a personagem da imigrante recém-chegada, deslumbrada com o mundo novo, mas incapaz de falar inglês. Os anos avançam, e ela insiste no mesmo. Figurinos, gestual, maquiagem. Nada muda. Ainda assim, ou talvez por isso, o mito sobrevive. * * * Portuguesa de nascença, Maria do Carmo Miranda da Cunha chega ao Rio de Janeiro com apenas um ano, em 1910. A mãe, abandonada pelo marido que partiu para a América em busca de uma vida melhor, pega as duas filhas pequenas, Carmen e Olinda, e embarca rumo ao Brasil. Disposta a reunir a família, retoma o casamento e dá luz a nada menos do que seis crianças. O pai, seu José Maria, precisa se virar trabalhando como barbeiro. Dona Maria Emília, constantemente grávida, lava roupas para a vizinhança da Lapa. Em 1925, no centro do Rio, o enorme casarão onde a família mora se transforma durante o dia em um restaurante que serve refeições para os trabalhadores da região. Carmen tem 16 anos, atende as mesas e ajuda na cozinha. Quer fazer sucesso, mas ainda não sabe como. Logo cedo, seguindo os passos da irmã mais velha, começa a trabalhar em um ateliê de costura e toma contato com o maravilhoso mundo das linhas, tecidos e bordados. É um universo do qual jamais se afastará, desenhando e, muitas vezes, costurando os próprios figurinos. Depois, troca o ateliê pelo emprego de balconista na luxuosa loja A Principal, voltada ao comércio de artigos finos para cavalheiros endinheirados. Nessa época, a Fox do Brasil anuncia um concurso para eleger uma atriz e um ator brasileiros que ganharão contrato com Hollywood. Carmen, aos 18 anos, se inscreve, mas é desclassificada logo na primeira eliminatória. Seu rosto não tem o perfil roliço procurado pelos produtores. Também tenta uma vaga no filme Barro humano, dos cineastas Adhemar Gonzaga e Paulo Benedetti, novamente sem sucesso. Relatos da época contam sobre uma moça habituada às grossas camadas de maquiagem para esconder as espinhas. A jovem e obstinada Carmen Miranda consegue um teste com o respeitado compositor Josué de Barros. Munida de audácia, canta para o próprio autor a música “Chora violão”, e Josué fica deslumbrado com a pequena. O sambista conquista o pai de Carmen e obtém o aval para ser seu tutor artístico. A partir de então, quase todas as manhãs, no porão do restaurante, Carmen e Josué ensaiarão exaustivamente. Depois, se sentarão à mesa com o patriarca, com quem almoçarão e discutirão os planos artísticos. A parceria dá samba. Carmen logo fecha contrato com a recémchegada gravadora alemã Brunswick, pela qual grava duas canções de Josué, “Não vá simbora” e “Se o samba é moda”. O disco de 78 rotações acaba não saindo, e o tutor bate à porta da RCA Victor. Com ajuda de Pixinguinha, funcionário da gravadora, Carmen Miranda emplaca um novo contrato, assinado pelo pai, já que ela ainda não completou 21 anos. Na divulgação, omitem sua nacionalidade portuguesa para evitar comparações com as cantoras de fado. Em janeiro de 1930, a RCA lança seu primeiro disco e, ainda naquele mês, Carmen retorna aos estúdios, gravando duas canções para o Carnaval. Entre elas, seu primeiro grande sucesso popular, “Taí”, de Joubert de Carvalho. Nas ruas do Rio, todos cantam a marchinha, que toca à exaustão nas rádios do Brasil. Pelo feito, a pequena recebe a enorme quantia de catorze contos de réis. O ano de 1930 será fechado com chave de ouro. Com mais de 28 músicas gravadas na RCA em apenas um ano de carreira, já recebe, ao lado do consagrado cantor Francisco Alves, o maior cachê do país. Carmen Miranda é um fenômeno. Não consegue dar conta dos pedidos de apresentações, fotos, reportagens e eventos. Quando perguntada sobre sua origem, decide não manter a mentira inventada pela gravadora e revela ser portuguesa. A declaração em nada abala a reputação da personalidade mais amada do Brasil. Em 1931, um baque. A morte de Olinda, a irmã mais velha e seu modelo de conduta. A estrela desce ao inferno, cogita abandonar a carreira, mas é salva pela vontade de brilhar. Após três meses de luto, a Pequena estreia fora do Brasil, numa temporada em Buenos Aires. Sua vivacidade fora do comum remetia à cocaína, um tônico vendido nas farmácias até pouco tempo atrás e muito usado pelos artistas da época. Diferentemente de hoje, em que o pó vem acompanhado de todo um estigma, nos anos 1930 ele não era visto com tanto pudor. Mas, não, Carmen não cheirava, não fumava nem bebia. Ainda não tomava remédios. Estava limpa. Sua energia vinha unicamente da obstinada vontade de fazer sucesso. Carmen era baixinha. Media 1,52. Em terra de mulatas, quase desaparecia. Mas o palco que ela deseja é ocupado pelos que sabem ser grandes. Em 1934, aos 25 anos, a pequena vai ao sapateiro levando consigo o esboço de um sapato que, inspirado nos aparelhos ortopédicos, teria o poder de torná-la mais alta, sem o desequilíbrio e o incômodo provocados pelo salto agulha. Ela se apresenta em cima daquele estranho instrumento, antecipando o que Marily n Manson faria seis décadas depois, ao glamorizar as vestes cirúrgicas. Graças à ousadia de Carmen, o salto plataforma se torna um clássico. Encantada, continua a reinvenção do próprio visual, e enrola um pano em volta da cabeça, escondendo os cabelos castanhos claros. A pequena se torna longilínea. Notável. A primeira aparição desse novo visual é registrada no palco do Teatro Broadway , em Buenos Aires. Longe de casa, distante de seus conhecidos, ousa sem medo. É nessa mesma viagem que estreia ao lado do Bando da Lua. Justamente esses três elementos – Bando da Lua, uso de turbante e de sapatos plataforma – serão sua marca registrada. É importante ressaltar que, nessa fase inicial, sua cabeça ainda não carrega todos os balangandãs que farão dela um ícone pop. A profusão de frutas e enfeites de plástico, coloridos e brilhantes, ainda espera para explodir. Jovem, inteligente, linda e milionária, a moça é assediada de todos os lados. Carmen tem uma qualidade de estrela até então inédita no Brasil da primeira metade do século passado. A artista é um conjunto, não apenas uma cantora. Atua, canta, dança e inventa moda. No campo amoroso, envolve-se com alguns play boys, mas nenhum romance avança. Não tem tempo para isso.


* A presente obra é disponibilizada por nossa equipe, com o objetivo de oferecer conteúdo para uso parcial em pesquisas e estudos acadêmicos, bem como o simples teste da qualidade da obra, com o fim exclusivo de compra futura. É expressamente proibida e totalmente repudiável a venda, aluguel, ou quaisquer uso comercial do presente conteúdo.

domingo, 21 de janeiro de 2018

VAMOS FALAR DE DISCOS?

Por Bruno Negromonte


40 ANOS SEM ALCIDES GERARDI

Resultado de imagem para ALCIDES GERARDINasceu na cidade gaúcha de Rio Grande, mas se mudou ainda muito jovem para Porto Alegre, onde começou seus estudos, e, logo depois, para o Rio de Janeiro, onde concluiu a escola primária e começou a trabalhar com o pai. Continuou com os estudos e seguiu trabalhando no comércio até 1935, iniciando sua carreira de cantor com uma orquestra de dancing. Na mesma época, candidatou-se como calouro na Rádio Nacional, porém sem sucesso.

Em 1939, atuou no grupo Namorados do Luar, quando começou a se destacar como cantor e fez sua primeira gravação em disco, em edição particular: o samba Não Faça a Vontade Dela (Nelson Cavaquinho). Dois anos depois, passou a integrar o trio Os Três Marrecos, com Marília Batista e seu irmão Henrique, porém durante um curto período. Em 1944, sendo o vocalista da orquestra de Simon Bountman, foi convidado a atuar na Rádio Transmissora por seu diretor, Arnaldo Sampaio e, no ano seguinte, conseguiu realizar sua primeira gravação comercial, pela Odeon, cantando a valsa Lourdes, de Mário Rossi e George Bass, o qual lhe acompanhou ao acordeão. Ainda em 1945, gravou mais dois discos, acompanhado de Antenógenes Silva, com as valsas Sueli e Cada Vez Te Quero Mais, a marcha Alegria e o samba Meu Defeito, todas da autoria do acordeonista e de Miguel Lima. A parceria entre Gerardi e Silva seria bastante frequente nos primeiros anos de carreira do cantor.

Em 1948, gravou o samba-canção Pergunte a Ela, de Fernando Martins e Geraldo Pereira e, no ano seguinte, foi contratado pela Rádio Tupi, para qual trabalhou até 1953, quando se transferiu para a Rádio Nacional. Em 1950, gravou aquele que seria seu maior sucesso: o samba Antonico, de Ismael Silva, levando notoriedade a este sambista então esquecido pela mídia. Em 1955, foi contratado pelas Organizações Victor Costa (depois extintas).

Sua primeira composição foi A Filha do Coronel, em parceria com Irani de Oliveira, a qual ele mesmo gravou, agora pela Columbia. Era letrista e, em outras composições, teve como parceiros Ernâni Campos, Othon Russo, Antônio Soares, Lázaro Martins e Nilo Barbosa.

Nas décadas de 1950 e 1960, gravou alguns LP's que fizeram sucesso razoável, especialmente os de bolero. Seu último LP, gravado em 1976, foi uma homenagem aos quarenta anos de carreira do compositor Leonel Azevedo. Gerardi veio a falecer dois anos depois, em decorrência de um acidente automobilístico, ao voltar de um show, na Via Dutra.


Principais sucessos
Abaixo de Deus (Elpídio Viana e Geraldo Pereira), 1947
Pergunte a Ela (Fernando Martins e Geraldo Pereira), 1948
Céu Estrelado (Jamesson Araújo), 1948
Antonico (Ismael Silva), 1950
Rei dos Reis (Bibi e Fernando Martins), com Raul de Barros & Seu Conjunto, 1950
Ilha da Ilusão (Isle of Innisfree)(Dick Farrelly, versão de Juvenal Fernandes), 1954
Cabecinha no Ombro (Paulo Borges), 1958

sábado, 20 de janeiro de 2018

PETISCOS DA MUSICARIA

Por Joaquim Macedo Junior



SÉRIE GRANDES TRILHAS DE FILMES NACIONAIS – DEUS E O DIABO NA TERRA DO SOL
Deus e o Diabo na Terra do Sol: obra-prima, mesmo que você não goste

“Deus e o Diabo na Terra do Sol”, filme brasileiro, dirigido por Glauber Rocha, é considerado um marco do Cinema Novo, e apontado por muitos como a maior película nacional de todos os tempos, incluido na lista da Abraccine – a Associação Brasileira de Críticos de Cinema.

Músicas “Perseguição” – com falas de Antonio das Mortes (Mauricio do Valle) e Corisco (Othon Bastos) – e “O Sertão Vai Virar Mar”, do filme “Deus e o Diabo na Terra do Sol”. Letras de Glauber e músicas de Sérgio Ricardo


Resumo

O sertanejo Manoel e sua mulher Rosa levam uma vida sofrida no interior do país, uma terra desolada e marcada pela seca.

Manoel, no entanto, tem um plano: usar o lucro obtido na partilha do gado com o coronel para comprar um pedaço de terra.

Quando leva o gado para a cidade, alguns animais morrem no percurso. Chegado o momento da partilha, o coronel diz que não vai dar nada a Manoel, porque o gado que morreu era dele, enquanto o que chegara vivo era seu. Manoel se irrita, mata o coronel e foge para casa. Ele e sua esposa resolvem ir embora, deixando tudo para trás.

Manoel decide juntar-se a um grupo religioso liderado por um santo (Sebastião) que lutava contra os grandes latifundiários e em busca do paraíso após a morte. Os latifundiários decidem contratar Antônio das Mortes para perseguir e matar o grupo.

Música “Abertura”, do filme “Deus e o Diabo na Terra do Sol”. Letras do diretor Glauber Rocha, música de Sérgio Ricardo. A música não foi à versão final do filme


O Impacto de Deus e o Diabo

“Deus e o Diabo na Terra do Sol” foi realizado em meio à convulsão política do país, de 1963 e 1964, e estreou em três cinemas do Rio de Janeiro, há quase 54 anos, em 10 de junho de 1964.

Suas primeiras sessões privadas, realizadas nos meses anteriores, já haviam provocado assombro nos convidados do jovem diretor Glauber Rocha (então com 25 anos).

“É um grande filme, cruel, muitas vezes desconcertante, mas irresistivelmente envolvente”, escreveu Ely Azeredo, da Tribuna da Imprensa (em texto reproduzido no livro “Olhar Crítico”), editado pelo Instituto Moreira Salles, em 2010. O mesmo crítico afirma que, mesmo “sem ser como querem alguns exagerados, deixa muito para trás a quase obra-prima de Nelson Pereira dos Santos, citando “Vidas Secas” e mais “Os Fuzis” (Ruy Guerra, 1964), que comporiam a trilogia sertaneja que constitui a essência e a excelência do Cinema Novo Brasileiro”.

Yoná Magalhães em Deus e o Diabo na Terra do Sol

Exibido em Cannes na mesma edição para a qual foi selecionado “Vidas Secas”, “Deus e o Diabo na Terra do Sol” levou seu diretor a estreitar os laços com a prestigiosa crítica francesa, além de apresentar o Cinema Novo ao circuito dos grandes festivais europeus (“O Cangaceiro”, em 1953, e o “Pagador de Promessas”, de 1962), ofereceram experiências diferentes da produção do país.

Música “Antonio das Mortes”, da trilha sonora do filme “Deus e o Diabo na Terra do Sol”. Letras de Glauber Rocha, música de Sérgio Ricardo



Em que pese a grande repercussão de “Deus e o Diabo..”, foi com o “Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro” (1969), que Glauber ganhou o prêmio de Melhor Diretor no Festival de Cannes. Mas foi com “Deus e o Diabo…” que ele efetivamente mudou a história do cinema nacional.

Semana que vem, tem mais…

LinkWithin