Por Nei Lopes
O Morro do Salgueiro, desde a década de 1920, é uma das principais referências do samba e da cultura negra no Rio de Janeiro. Por isso foi abundantemente referido na obra de compositores sambistas dos primeiros tempos, como Noel Rosa, o poeta da Vila que, em seu repertório autoral, parece ter abordado mais o Morro da Tijuca do que seu próprio bairro, a Vila Isabel.
Na década de 1980, eu, já integrando a Velha-Guarda dos Acadêmicos do Salgueiro, escola à qual me integrei às vésperas do vitorioso carnaval de 1963, convivi com um núcleo familiar inesquecível. Nele, além de músicos excepcionais, como o mestre Iraci Serra, um dos maiores violonistas das escolas em seu tempo, havia também um mestre, Seu Geraldo, que preservava o caxambu, variante do jongo, trazida das velhas fazendas de café para aquele importante reduto. Nessa família, toda de grandes artistas espontâneos, sem instrução musical formal, nasceu Almir de Souza Serra, o Almir Guineto, que agora encerra sua jornada terrena.
Interessante é que eu, com vinte e poucos anos de idade, já ouvia falar num legendário Almir Guineto, que depois vim saber tratar-se de um jovem, quatro anos mais novo do que eu. Mas a lenda tinha razão de ser; e se confirmaria depois.
Guineto foi certamente um dos grandes sambistas da melhor tradição carioca: cantor de voz potente e bem timbrada, exímio violonista (filho e sucessor do mestre Iraci Serra, e sobrinho de Seu Geraldo do Caxambu) e cavaquinhista. Inspirado melodista e grande versador nas rodas de partido-alto, foi um dos diretores de bateria da Furiosa Salgueirense.
Com toda esta bagagem, tornou-se, na década de 80, um dos formatadores do samba moderno, rotulado como pagode de fundo de quintal – um estilo de samba tão inovador quanto foi a bossa-nova duas décadas antes. E principalmente porque Almir e seus colegas da seção harmônica do Fundo (Aragão, Arlindo e Sombrinha) conheciam as manhas de João Gilberto, Menescal, Tom Jobim e Companhia.
Assim, e pela biografia nem um pouco convencional, aliás, como as de tantos outros sambistas, do eixo Estácio-Oswaldo Cruz, e não necessariamente por atitude transgressora, tornou-se uma lenda. Por tudo isso, há de ser sempre lembrado.
Obrigado, Bateria!
ABENÇALGUEIRO!!!!
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