sábado, 6 de fevereiro de 2016

PETISCOS DA MUSICARIA

CARNAVAL DE PERNAMBUCO – MÚSICAS ERAM LANÇADAS PERTO DO FIM DO ANO ANTERIOR


As músicas tocadas no Carnaval eram lançadas dois, três meses antes; quando a festa chegava, o folião já conhecia suas melhores canções

Dia desses, o amigo Fábio Cabral de Mello, grande agitador cultural do Recife, figura popular e comunicativa, produtor de múltiplas atividades e proprietário da mais emblemática casa de aquisição de cultura (em forma de livros, discos, CDs) da capital – ‘Passa Disco’, escreveu um post na internet que me chamou a atenção:

“Nos tempos da Rosenblit/Mocambo, em geral, as músicas de carnaval eram lançadas nos meses de outubro e novembro em diante. Assim, os foliões e ouvintes cotidianos passavam a conhecer e escolher as suas favoritas para o carnaval seguinte”. Outras gravadoras também seguiram a iniciativa da nossa Rosenblit.

Não sei qual é o tempo de antecedência atual. Naquela época, anos 60 e 70, lembro-me bem de sintonizar em rádios que mantinham programas de carnaval para ouvir as novidades. Se não estou equivocado, a rádio Tamandaré (na época ainda dos Diários Associados) era música o ano anterior.

Faço aqui duas homenagens. A segunda, com a mais simbólica e executada música do carnaval pernambucano ‘Vassourinhas’, frevo de rua composto em 1909, com Spock e o ótimo Ozi dos Palmares. A primeira, que segue abaixo é homenagem ao mestre Capiba, que ficou na minha mente assim que foi lançada e jamais esqueci um verso de sua canção.

De Chapéu de Sol Aberto, frevo-canção de Capiba – int: Zélia Barbosa e Quinteto Violado-Selo Marcus Pereira-1973


Os frevos (canção, de rua), maracatus (de baque solto e de baque virado), caboclinhos, marchas de bloco (bandas de pau de corda com coro feminino- blocos líricos), e toda sorte de manifestações musicais e coreográficas do carnaval de Pernambuco são tocados nas ruas, nas agremiações de rua, nas aglomerações instantâneas das esquinas, com instrumentos improvisados e também, e muito, nos clubes sociais, como Português, Internacional, Capanga, Clube das Paz, Batutas de São José, AABB, Náutico, Sport, Santa Cruz, onde se distinguiam orquestras como as de Clóvis Pereira, Guedes Peixoto, Duda, Nunes, José Meneses, agora ‘Orquestra da Bomba do Hemetério’, do maestro Forró, e a internacional ‘Spock Frevo Orquestra’ e seu frevo sem fronteiras.

Vassourinhas (*) – Spock Frevo Orquestra e Ozi dos Palmares – Teatro Municipal de Ribeirão Preto – 2008, composto por Matias da Rocha e Joana Batista Ramos, em 1909:



OZI DOS PALMARES:

O cantor e compositor Ozi dos Palmares, como seu próprio nome denuncia, nasceu em Pernambuco, na cidade localizada na zona da mata do estado. Em casa, começou a tomar gosto pela música, desde muito cedo, ora ouvindo os ensaios de clarinete que seu pai realizava, como integrante da Banda dos Ferroviários, ora dedicando-se a escutar as canções transmitidas por uma velha radiola, se possível, ao longo de todo o dia.

Ozi cresceu e viveu cercado da diversidade e da riqueza cultural presente na sua Palmares, celeiro de grandes nomes como o poeta Ascenso Ferreira, do escritor Hermilo Borba Filho e do artista plástico Darel Valença (nota do autor: e do nosso editor Luiz Berto).

Manifestações populares comumente desfilavam pelas ruas através de maracatus, cirandas, blocos, caboclinhos, cantadores, emboladores e repentistas de ruas e feiras livres eram parte de seu cotidiano.

A partir daí, o músico já existente em Ozi, tocou em caixotes e latas improvisadas. Cresceu, pesquisou, conviveu com múltiplos estilos e hoje traça seu próprio caminho com originalidade.

Seu trabalho revela a musicalidade que o surpreendeu na infância e na juventude, construída com um enorme sentimento de amor à terra, sempre presente em suas composições e em sua maneira ímpar de executar e interpretar uma canção.

A riqueza de sons e as dificuldades do Nordeste fizeram com que Ozi não fugisse à regra da inventividade e da criatividade humanas. Ele consegue fazer fluir sons interessantes de sua garganta, solando músicas com a voz, como se ela fosse um instrumento. É um trabalho inédito na música brasileira, explorando ritmos diversos.



Fontes:
Musicaria Brasil;
Diário de Pernambuco;
Youtube;
PassaDisco.

1 comentários:

Blog do Tiné disse...

Mais um interessante trabalho sobre a riqueza musical do Estado de Pernambuco. Deveria sair com frequência no JC ou no Diário de Pernambuco. Ou em livros como os de José Teles.
Flávio Tiné

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