Nascido em São Vicente – SP, a 03 de janeiro de 1926, faleceu aos 51 anos de idade, deixando atrás de si um rastro indelével de saudade. Apelidado de Cicica por sua mãe Georgina, adicionava à sua voz personalíssima a facilidade do seu próprio acompanhamento ao violão e ainda a de solista exímio. Era olhado por muitos apenas como um boêmio sem remédio.Mas boemia está inerente à arte; uma coisa não viveria sem a outra. Trazido à carreira artística ainda muito novo pelas mãos de sua própria mãe (profunda conhecedora que era da arte vocal), formou com seu irmão Mauricio (outro fora de série), Gentil da Silva, Edésio e Jarina Resende (e posteriormente Avelino e Rachel Tomaz) o famoso Conjunto Calunga.
Já como profissional e solista do conjunto, sempre orientados pela sua mãe Georgina, obtiveram autorização do juiz de menores para abrilhantarem as noitadas do antigo Cassino Ilha Porchat, programas na Rádio Piratininga e outros “shows” por esse Brasil afora. Mais tarde, com a dissolução do conjunto, Cicica ingressou na Rádio Atlântica de Santos, onde já havia, em criança, participado do famoso “Programa de Dª. Dindinha Sinhá” e daí, levado pelas mãos de Silvio Caldas, em 1950, foi para São Paulo, para fazer parte do “cast” da Rádio Excelsior (antiga denominação da Rádio Nacional), juntando-se na época a Francisco Egídio; Sólon Sales; Oscar Ferreira; Cauby Peixoto; Roberto Luna; Homero Marques (outro da Baixada Santista) e logo após, para a Rádio Record, onde lhe foi oferecido programação exclusiva conquistando o famoso troféu “Roquete Pinto” como revelação do ano. Permaneceu em São Paulo durante quase 30 anos, vivendo somente da música, e era tido como um grande nome da noite.
Filósofo por natureza tinha, paradoxalmente, na sua aparente irresponsabilidade a sua grande responsabilidade: jamais quis contrair compromisso mais sério com o amor, mas sim com a noite, com quem se acasalava nas suas serestas românticas, junto aos amigos e sob sacadas que deixavam descer corações, igualmente enamorados. Mauricy era a noite, era o canto, era a boemia pura revestida de arte, era o descompromisso com a vida com a qual estava sempre de braços dados.
Mauricy era uma pessoa que não dependia de dinheiro: desprezava-o. Ele e seu próprio valor eram medidos pela presença sempre útil, valiosa e concentradora em qualquer ambiente que frequentasse.
Profissional e promocionalmente, não era muito divulgado, pelo seu desapego às coisas materiais, não havia dentro da noite paulistana quem o desconhecesse, tal a voz marcante que ao ser entoada o silêncio se impunha e o barulho desaparecia. Era o respeito a um canto inigualável.
Outra peculiaridade de Mauricy era que não portava documentos de espécie alguma: ele era a sua própria identificação; sua própria personalidade.
Como cantor possuía todos os dotes que alguém necessita para ser completo: grave, agudo e nuances vocais irrepreensíveis. Dava às canções que interpretava uma forma totalmente pessoal e talentosa, e não era à toa que era considerado por Silvio Caldas, Alfredo Borba, Ciro Monteiro, Elizeth Cardoso, Evaldo Rui, Wilson Batista e outros cultores da nossa música, como o mais completo seresteiro do Brasil.
Dentre inúmeras gravações, deixou interpretações primorosas de músicas que são ouvidas com emoção: “Flor de Maçã” de Denis Brean e O. Guilherme, "Irmã da Saudade” de Portinho e João Pacifico, “Meus Tempos de Criança” de Ataulpho Alves, “Maria da Piedade” de Evaldo Rui, “Mulata”, “Vou brigar com ela”, “Nunca” e “Homenagem” de Lupiscínio Rodrigues, “Mulher” de Jorge Duarte.
Não se casou, não deixou descendente. Morreu no Hospital Santa Verônica em São Paulo, a 23 de agosto de 1977. Está sepultado no cemitério de São Vicente, no mesmo túmulo onde repousam seus pais e o irmão Mauricio.
(Trechos da biografia retirados de artigo de Mario Santos )
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