Por Jaquim Macedo Junior
O local: atitude, gênero e dança
A gafieira:
É o local que, por volta do fim do século XIX e início XX, que as classes mais humildes, tradicionalmente, frequentavam para praticar as danças de casal, ou danças de salão.
As gafieiras não chegavam a ser um clube e sim uma alternativa para essas pessoas e, pelo que conta a história, elas tiveram seu nascedouro no Rio de Janeiro.
Atualmente, há gafieiras espalhadas pelo bairro da Lapa, principalmente na Mem de Sá – entre eles o tradicional Clube dos Democráticos (fui levado ali pela minha filha, a Marina – nesse dia, com a Orquestra Imperial) e o recente Lapa 40º – e na Rua do Riachuelo – Teatro Odisséia, Carioca da Gema. Um dos primeiros foi o Estudantina. Em São Paulo, era famosa a Vila Sófia (Sofia?) que fora cassino até eles serem proibidos, na Capela do Socorro, Santo Amaro.
Samba de gafieira (dança):
É um estilo de dança de salão, derivado do maxixe, iniciado no princípio do século XX. É pequena a bibliografia sobre o tema, mas Marco Antonio Pema, em seu livro “Samba de Gafieira”, diz: “um dos principais aspectos observados no estilo samba de gafieira é a atitude do dançarino frente a sua parceira: malandragem, proteção, exposição a situações surpresa, elegância e ritmo. Na hora da dança, o homem conduz a sua dama, e nunca o contrário”.
“Antigamente – informam os pesquisadores – dizia-se que o ‘malandro da Lapa’ fazia uso de um terno branco, sapatos preto e branco, ou marrom e branco e, por debaixo do paletó, camisa preto e branca ou vermelha e branca, listradas, horizontalmente, além de um chapéu Panamá ou Palheta – há uma confusão sobre esses dois chapéus, parecidos de longe, porém, bem diferentes, de perto. Dentro do bolso, carregavam uma navalha”.
“A mão sempre ficava dentro de um bolso da calça, segurando a navalha em prontidão para o ataque; a outra gesticulava normalmente; suas pernas não andavam uma do lado da outra, paralelas, mas sempre uma escondendo o movimento uma da outra, como se estivesse praticamente andando sobre uma linha.
Dançando, o dito “malandro” sempre protege sua dama, dando a ela espaço para que ela possa se exibir para ele e para o baile inteiro ao seu redor e, ao mesmo tempo, impedindo uma aproximação de qualquer outro homem para puxá-la para dançar. Daí também a atitude de se sambar com os braços abertos, como se fosse dar um abraço, além de entrar no ritmo da música, proteger sua dama – é o que traz o ‘Samba de Gafieira’”.
A Música da Gafieira:
Como gênero musical, o samba de gafieira (isto é, como música composta pensando nos passos dos dançarinos do samba de gafieira), inclui o samba-choro (especialmente, o chamado choro de gafieira), o samba de breque e o samba sincopado.
Passos do Samba de Gafieira:
Nome de alguns passos:
Tirar a dama; puladinho; pião; Malandro; Meio-Malandro; – assalto; Romário; contra-tempo; meio giro; cruzado pausado; facão; facão invertido; dois tempos; andamento; elástico; perna esquerda; puladinho redondo; gancho redondo; escovinha fixa; pião aberto; dois tempos redondo; trança; e matrix.
Desde cedo, gostei muito da mística da gafieira, é, mais da mística do que dos bailes mesmo. Por conta dessa postura machista, da navalha, a proteção de guarda-costas das parceiras, o clima de quase hostilidade, num ambiente de dança e alegria. É possível que houvesse momentos de maior stress e até violência nesses bailes mais humildes, no entanto nada muito mais escandaloso que nos salões de dança dos bacanas.
Lá no meu bairro de São José, no Recife, juntamente a Santo Antonio e o bairro do Recife, havia muito “gafierity”. Quando mais ousado e com duas lapadas, enfrentava a mística desses bailes, com muito respeito e alguns companheiros, por garantia.
A música que mais gosto de cantarolar e que define como uma crônica a gafieira, como local de dança, a música e a dança, bem como o clima que rondava tudo aquilo, foi ‘Pistão da Gafieira’, do grande paraense Billy Blanco, geralmente na interpretação de Jorge Veiga e Nelson Gonçalves.
Vamos ouvi-la com nosso ‘caboclinho’ Silvio Caldas:
Na gafieira segue o baile calmamente
Com muita gente dando volta no salão
Tudo vai bem, mais eis porém que de repente
Um pé subiu e alguém de cara foi ao chão
Não é que o Doca é um crioulo comportado
Ficou tarado quando viu a Dagmar
Toda soltinha dentro de um vestido saco
Tendo ao lado um cara fraco, foi tirá-la pra dançar
O moço era faixa preta simplesmente
E fez o Doca rebolar sem bambolê
A porta fecha enquanto o duro vai não vai
Quem está fora não entra
Quem está dentro não sai
Mas a orquestra sempre toma providência
Tocando alto pra polícia não manjar
E nessa altura como parte da rotina
O piston tira a surdina
E põe as coisas no lugar
Fontes:
Bibliografia Perna, Marco Antonio (2001).
Samba de Gafieira – a história da dança de salão brasileira. ISBN 85-901965-5-0
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