quarta-feira, 23 de março de 2016

VÔTE... ESCUTA SÓ: QUINTA SEMENTE (ZETO , E A SUA POESIA OUSADA E REBELDE)

Zeto


Vi Zeto pela primeira vez lá pelo fim dos anos oitenta num bar que ficava nas esquinas da rua Joaquim Nabuco e Guilherme Pinto nas Graças onde morei aqui no Recife.

Chamou-me a atenção aquele sujeito magro, sorridente e ainda jovem que num gesto singular (e imensamente poético) e corajoso "ousava" acompanhado pelo seu violão, declamar versos de cantadores e citar pra uma plateia totalmente desengajada, os nomes dos poetas autores daqueles versos tão belos quanto desconhecidos dos frequentadores daquele lugar.

Nós outros apesar da grande admiração pelos poetas e suas violas, guardávamos um certo pudor em torno do cantador e da cantoria, nessa beira d'água tão famosa quanto vaidosa Recife. Não é preciso dizer que de cara não só gostei daquele solitário menestrel como passei a ir ouvi-lo sempre que sabia da sua presença por aqui. Não é necessário também dizer que Zeto e sua espontaneidade foram abrindo caminhos até onde estavam os grandes cantadores de viola e as suas magníficas criações.

Dali pra o Pajeú foi só uma questão de tempo o que de fato aconteceu quando ele juntamente com Bia recebeu a unção de Louro,o guardião maior da poética pajeuzeira.
Lembro que ainda nos anos oitenta, levei Paulo Carvalho ao Pajeú, era sua primeira vez com aquele povo. E ele deslumbrado produziu imagens que ficariam na história da poesia daquele imenso e belo país.

Uma dessas imagens ficaria na minha retina, Louro do Pajeú com o então Antonio Marinho recém nascido nos braços. Quem sabe de Antonio Marinho, sabe do simbolismo que envolve essa foto.

Não só belos versos e canções ficaram da dupla Bia e Zeto, vieram também pra perpetuar a espécie Antonio Marinho e Miguel dois cabras de quem muito gosto e aposto como artistas que ainda vão jogar longe essa arte maior. Quanto a Zeto, ficaram uma amizade que durou até a sua partida antes do combinado.

E os versos de uma canção de Jorge Mautner com a qual ele costumava me saudar sempre que me via lhe assistindo: "No meu corpo o sangue não corre não, corre fogo e larva de vulcão."


Acho que Zeto e a sua rebeldia tinham alguma coisa a ver com isso...

Texto de Zelito Nunes


Zeto declama e canta O Ébrio de Vicente Celestino



Zeto declama: Escrava de Onestaldo Pennafort

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