Daniela Mercury imita John Lennon e posa nua com sua mulher na capa do novo CD. Mas ela está longe de ser uma pioneira da ousadia
Caetano foi censurado com o lançamento de Joia durante a ditadura (Imagem: Divulgação)
Gal Costa, Índia (1973)
As coisas eram comportadas até a revolução sexual iniciada no fim da década de 1960. No Brasil, o pequeno problema é que a liberação de costumes coincidiu com o período repressivo do regime militar. Mesmo assim, Gal Costa arriscou. A capa era um close dos quadris da cantora vestindo uma tanga vermelha. Na contracapa, Gal aparecia de corpo inteiro com uma fantasia de indígena que mal cobria seus seios. Veio a ordem da censura para que o produto fosse envolvido em plástico que não permitisse a exposição pública de imagens tão sugestivas. Mas o boca a boca fez o LP vender ainda mais, uma vez que passou a ser um fruto proibido. Diga-se: o conteúdo musical era ótimo.
Tom Zé, Todos os Olhos (1973)
Mais cult e experimental que Gal, Tom Zé conseguiu perpetrar uma molecagem ímpar com a censura do regime militar. O conceito da capa, combinado com o poeta e publicitário Décio Pignatari, traz a sugestão de que o que se vê é um globo ocular e um ânus feminino. A rigor, a foto é de uma bola de gude presa pelos lábios da boca de uma modelo – algo que o próprio Tom Zé só viria a descobrir quase 20 anos depois. Mas a intenção é que se tornou lendária. Ignorado na época em que foi lançado (vendeu quase nada), o álbum ganhou status de histórico apenas nas últimas décadas.
Caetano Veloso, Jóia (1975)
Já consagrado como nome de ponta da MPB, Caetano lançou dois LPs ao mesmo tempo. Um eraQualquer Coisa, cuja capa era igual à do álbum Let it Be (1970), dos Beatles. O outro era Jóia (na época, ainda se acentuava a letra “o”), em que Caê fez sua interpretação da capa de Two Virgins (1968), em que John Lennon e Yoko Ono apareciam em nu frontal. Ciente de que estava no Brasil da ditadura, o artista baiano cobriu sua nudez com pinturas de pombas – embora sua mulher, Dedé, exiba um seio e o filho Moreno também esteja pelado. Previsivelmente, a arte foi censurada e a foto eliminada. O disco foi às lojas apenas com as aves pintadas. A foto da família Veloso só retornou anos depois, em relançamentos de Jóia.
Erasmo Carlos, Mulher (1981)
O parceiro de Roberto Carlos teve seu grande momento de sucesso pós-jovem guarda com o megassucesso Pega na Mentira. Pouco depois, o LP que incluía essa música chegou às lojas com uma imagem inesperada: Erasmo amamentado como um bebê por sua então esposa, Narinha. Era a forma dele de declarar visualmente o teor da faixa-título – uma exaltação às mulheres e uma declaração de dependência dos homens em relação a elas, independentemente da idade que tenham.
Lobão, O Rock Errou (1986)
Nos anos 1980, a ocupação principal de Lobão era a música. No auge do rock brasileiro, ele soltou um álbum de músicas de sucesso e capa bombástica: ele aparecia vestido de padre ao lado de Daniele Daumiere, sua companheira na época, nua e com um véu na cabeça. Com o tempo, a obra acabou sendo mais lembrada por faixas como Revanche e Canos Silenciosos – pelo menos até Lobão se tornar um paladino da estridência política. Epílogo triste: Daniele morreu em 2014, aos 46 anos, vítima de um AVC.
Karina Buhr, Selvática e Daniela Mercury, Vinil Virtual (2015)
Quando parece que nada mais surpreende na era da internet, duas cantoras baianas vêm com “declarações” visuais. Karina Buhr aparece com os seios expostos em Selvática, lançado em setembro. Foi censurada no Facebook, que não curte mamilos. Já Daniela Mercury, em seu novo CD, surge nua ao lado da esposa, Malu. Imagem inspirada em uma foto de John Lennon com Yoko Ono, tirada no dia da morte dele em 1980.
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