Ao longo do ano, músico pernambucano receberá uma série de homenagens, que começam esta semana
Por Rebeca Oliveira
Chico Science não é o tipo de artista que precisa de efemérides para ser reverenciado. Mas o ano em que o ícone do movimento manguebeat completaria cinco décadas de existência não passará em branco nem em Pernambuco, terra natal de Francisco de Assis França, nem no restante do país. Isso em decorrência da dimensão da figura catalisadora que se tornou porta-estandarte da cultura brasileira desde que nela surgiu, em meados dos anos 1990. Os eventos não serão modestos, e as homenagens não param de ser anunciadas, como o Livro do disco sobre o álbum Da lama ao caos, e o lançamento do documentário Chico Science, um caranguejo elétrico.
A vida do garoto do mangue deve chegar às telas antes do aniversário do artista, em 13 de março, como uma coprodução da RTV, Globo Filmes e Globo Nordeste. A direção é de José Eduardo Miglioli, paulista que mora em Recife, e o filme contou com colaboração do jornalista José Telles na criação do roteiro. Parte das cenas se concentra em imagens inéditas de um show da Nação Zumbi feito há mais de 20 anos no Central Park, em Nova York. Há, também, espaço para detalhes pessoais, como as histórias contadas pela irmã, Gorete França. “São pessoas que realmente participaram da história dele”, detalha José Telles, que era amigo pessoal do cantor e escreveu O Meteoro Chico.
Segundo o jornalista, a produção dá a dimensão da relevância de Science para o estado de Pernambuco. “Depois dele, houve um processo musical pop e urbano muito forte em Recife. Nosso rock estava defasado em relação ao Sudeste. Não havia condição nenhuma de dizer que, na conjuntura social e econômica que vivíamos, tínhamos artistas”, comenta, lembrando que, à época, Recife foi considerada a quarta pior cidade do mundo para se viver — dado eternizado na letra da música Antene-se.
“Ele derrubou isso. Deu autoestima para a cidade, para o público. Esse legado não fica só na música, mas em outras esferas culturais, como o cinema. Esse boom da sétima arte local, por exemplo, começou com Baile perfumado, de Lírio Ferreira e Paulo Caldas, lançado em 1996, película na qual ele participou com o pessoal do manguebeat”, acrescenta Telles. “Era uma época em que não havia tantas ferramentas como hoje. A internet não era usada e ele já tinha essa amplitude enorme de conhecimento do que rolava na cena de fora, consumindo revistas, discos. Atualmente, Chico Science faria algo ainda maior, considerando o que fez na época e com poucos recursos. Seria até mais impactante do que naquele período”, acredita.
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