domingo, 5 de fevereiro de 2017

HISTÓRIAS E ESTÓRIAS DA MPB


Todos nós sabemos da importância das contribuições tanto de Vinicius de Moraes quanto de Baden Powell para a música popular brasileira. De um lado um dos mais expressivos compositores da MPB e que traz sob a sua assinatura alguns dos grande clássicos da MPB; do outro um não menor compositor, que trazia como característica mais marcante não a interpretação das canções de sua lavra, mas o violão que brilhantemente executava. Hoje, de ambos, só nos resta a saudade e uma discografia pontuada por alguns discos que entraram para o rol dos grandes álbuns já produzidos no Brasil. Uma prova irrepreensível desta afirmação completou ao longo do ano passado, cinco décadas de lançamento: Os Afro-sambas, considerado por muitos críticos como um divisor de águas na música brasileira por fundir vários elementos da sonoridade africana ao samba. Composto por oito faixas, o disco apresenta uma rica e singular musicalidade, que traz uma mistura de instrumentos do candomblé e da umbanda (como atabaques e afoxés) com timbres mais comuns à música brasileira (agogôs, saxofones e pandeiros). Dentre as canções presentes no disco está lá "Canto de Ossanha", futuro clássico da MPB, que conta com a participação nos vocais da atriz Betty Faria e na flauta de Nicolino Cópia. Os Afro-sambas tem arranjos e  regência do Maestro Guerra Peixe e participação especial nos vocais das meninas do Quarteto em Cy. No entanto a coluna de hoje não irá prender-se a importância de ambos para a nossa música pois isso já é público e notório. O que me fez relembrar o nome desses dois emblemáticos artistas foi a a música "Samba em Prelúdio", canção indefectível que teve o seu primeiro registro em disco por outro grande nome de nosso cancioneiro: Geraldo Vandré, que em 1963 (um ano após ser composta) a registrou.

Baden Powell costumava relatar que ao compor a melodia de "Samba em Prelúdio" chamou Vinicius (quem considerava "mais que um pai") para ouvir a música que compusera. Na cabeça do melodista só um letrista seria capaz de colocar uma letra digna daquela romântica e bela canção: Vinícius de Moraes. O poetinha ouviu a melodia uma, duas vezes e, sentados à mesa, deram início a empreitada de fazer uma letra para aquela melodia. Com papel, caneta, whisky e violão, começaram a parceria daquela canção que se destacaria anos mais tarde na obra de ambos. Secaram a primeira garrafa de whisky e nada... secaram a segunda garrafa de whisky e mesmo assim não havia surgido nada que pudesse ser considerada como a letra daquela melodia. Na terceira garrafa da bebida, enquanto a letra não saía, Vinícius de Moraes, constrangido, disse achar que a música era plagiada de Frédéric Chopin, ao que Baden Powell respondeu: "Você que bebeu demais e está implicando comigo!". Estava armado o impasse e este imbróglio só conseguiu ser solucionado quando Lucinha, então mulher de Vinícius, foi acordada às 3:00 da madrugada para tirar essa dúvida da dupla. Recorreram à Lucinha porque ela além de pianista ardorosa fã de Frédéric Chopin e conhecia toda a obra do músico polonês. Ao constatar que estava errado e que as notas realmente eram originais de Baden PowellVinícius de Moraes ficou sem graça e disse: "Então, Baden, Chopin esqueceu de fazer essa". Com a dúvida sanada, o poetinha pode, finalmente, inspirar-se à máquina de escrever e fazer a letra inteira da música "Samba em Prelúdio", uma das mais belas canções da dupla que já ganhou registro de alguns dos maiores nomes do cancioneiro brasileiro tais quais Toquinho, Paulinho Nogueira e outros.

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