Por José Teles
terça-feira, 14 de fevereiro de 2017
LINDO SONHO DELIRANTE – 100 DISCOS PSICODÉLICOS BRASILEIROS
Em 1967, os ecos do “Verão do Amor”, alcançaram o Brasil, com eles a expressão “psicodélico”. Tudo de repente virou psicodélico, assim como, dez anos antes, aconteceu com “bossa nova”. Um seriado com Paulo Silvino (o comediante do “cara/crachá), na TV Globo foi intitulado de Os Psicodélicos. Criou-se imediatamente a primeira cantora psicodélica/hippie do Brasil, Adriana, uma adolescente de 15 anos, para quem Nonato Buzar (um do artífices do estilo pilantrália, ou pilantragem), compôs Anjo Azul (que Wilson Simonal gravaria como Vesti Azul).
Nas fotos de divulgação a garota, que ganhou o título de Miss Hippie Rio, aparecia com flores nos cabelos louros, pés descalços, com uma banda mineira, apropriadamente batizada de The Hippies. Essa Adriana é mesma que emplacou, em 1986, Amar É Tão Bom (Gilson/Joran). Assim como Adriana não era psicodélica, tampouco é boa parte dos álbuns catalogados no livro Lindo Sonho Delirante – 100 Discos Psicodélicos do Brasil, de Bento Araújo (Poeira Press).
Um rótulo mais adequado seria “A Música do Desbunde”. Desbundado, nos anos 60/70 era a turma do “tô nem aí pra ditadura”, cuja mais perfeita tradução foi a anárquico Equipe Mercado, da qual Naná Vasconcelos, foi um membro não efetivo. A mais desbundada turma do não menos desbundado bairro carioca de Santa Teresa. A EM foi parelha com Lula Côrtes, Lailson, Flaviola, Ave Sangria, Marconi Notaro, a turma do udigrudi pernambucano. Rotulado como psicodélico (não apenas neste livro), o incensado Ronnie Von, em seus discos dos anos 60, não vai além do tropicalismo mal digerido (ele, e muita gente na época).
Fábio, o paraguaio Juan Senor Rolón, gravou Lindo Sonho Delirante, a música que dá título ao livro de Bento Araújo, foi uma das muitas armações de Carlos Imperial, que era averso às drogas, e mal tomava Coca-Cola. Já o tropicalismo, inserido no contexto psicodélico, tem muito mais a ver com contestação estética e política do que com viagem lisérgica. A não ser os Mutantes, e lá pelo terceiro disco. Guilherme Lamounier, por exemplo, enquadrado na psicodelia, pode até ter viajado em ácido, mas sua música é pop, e foi formatado na Som Livre para substituir Guilherme Arantes, que foi levado para a Warner Music por Andre Midani.
Como psicodelia tornou-se um rótulo extremamente abrangente, o autor de Lindo Sonho Delirantescarimbou o que lhe pareceu psicodélico, tá valendo, pois. Além do mais o livro é louvável por trazer de volta nomes como Suely e os Kânticos, a Bangos, A Tribo, a citada Equipe Mercado, e até o emepebista SidneyMiller, esquecido craque da composição. Com estes vários nomes de carreira meteórica dos anos 70.
Confiram áudio da Equipe Mercado, com Mark K Esgoto das Maravilhas:
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