sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

LAYA É INDIE E MPB EM VIGOROSO DISCO DE ESTREIA SOLO


Por José Teles



O que chama primeiro atenção no disco de estreia solo da cearense Laya (integrante do grupo O Jardim das Horas) é a semelhança com Gal Costa. Proposital ou não, ela até canta Hotel das Estrelas(Jards Macalé/Duda Machado), canção do álbum Legal, que a baiana lançou, em 1970 no auge riponga da carreira. Porém Laya não é simplesmente um êmulo de Gal. A autoral Mais Brilhantes, que abre o disco (que tem seu nome por título), é um pop com arranjos temperado com jazz, com um diálogo de trompete e sax, circulando a voz da cantora.

Há influência do tropicalismo, melhor dizendo, do clima do tropicalismo já que rigorosamente não existe um gênero musical definido na Tropicália. Havia confluência de ideias, de músicos e intérpretes, a liberdade de cantar qualquer gênero, incursionar por qualquer estilo, fazer o que viesse à cabeça. É assim que procede Laya neste disco (YB Music/Circus).

A Luz que Corta (Laya e Mauricio Tagliari, também produtor do projeto) abriga estes elementos tropicalistas, como em Bela Cariri, que abre com uma levada de banda cabaçal, os ternos de pífanos da região do cariri cearense, e logo passa à modinha, para acelerar em seguida o andamento. Laya, o disco, esquiva-se à catalogação. Em trechos é indie, em outros MPB. Não chega ao experimentalismo, mas ousa em arranjos, instrumentação, e harmonias.

Nascida na França, crescida em Fortaleza, agora em São Paulo, Laya absorveu música por onde andou, e chega com maturidade à estreia solo. Em suas 14 faixas, o álbum é sempre afirmativo, não tem faixa onde se sinta indecisão. Ela arquiteta um arcabouço sonoro próprio, em que, apesar de tão urbano, assume um regionalismo, inevitável para quem é do Nordeste, onde a cultura ainda resiste às miscigenações com culturas de outras terras, trazidas pela globalização, agilizada pela Internet.

A toada Visão exemplifica bem a asserção (Ai que bom/cheguei no sertão/ que saudade deste cheiro/desta visão), em que se ouve mais uma vez um toque de banda cabaçal, dos zabumbas do interior. No repertório Diosa Pajaro, de Ava Rocha (em parceria com Mauricio Tagliari), em espanhol. Um bom disco, de uma cantora com potencial para chegar ao ótimo.

Confiram Laya no áudio de Alheia:


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