sábado, 18 de fevereiro de 2017

REVOLUCIONÁRIO, O PRIMEIRO ÁLBUM DE MILTON COMPLETA 50 ANOS COM FRESCOR

Por Mauro Ferreira, do G1




Quando lançou o primeiro álbum em 1967, em edição do modesto selo Codil, Milton Nascimento já tinha música gravada por ninguém menos do que Elis Regina (1945 – 1982), cantora que em álbum de 1966 dera voz à Canção do sal, composta por este artista carioca de alma musical mineira. Sem grande repercussão, o próprio Milton já havia feito gravações em discos do Conjunto Holiday e do Quarteto Sambacana, na primeira metade dos anos 1960. Contudo, foi a defesa vitoriosa de Travessia (Milton Nascimento e Fernando Brant, 1967) na segunda edição do Festival Internacional da Canção (FIC) que abriu definitivamente as portas do mercado fonográfico para o cantor, compositor e músico criado em Três Pontas (MG). Vice-campeã deste festival de 1967, Travessia impulsionou a gravação do álbum de estreia do artista, Milton Nascimento, disco que completa 50 anos neste ano de 2017 com o frescor perene da obra deste artista de musicalidade original.

Ao longo das 10 músicas do álbum, Milton praticamente funda um escaninho na música brasileira, amalgamando sons do jazz, do samba-jazz, da música sacra, das trilhas das Geraes – inclusive o barulho do trem que atravessa toda a obra do compositor – e do rock feito no universo pop da época marcada pelo apogeu dos Beatles. Neste primeiro álbum, as duas obras-primas do repertório inteiramente autoral – Morro velho (Milton Nascimento, 1967), canção que vale por tratado sociológico sobre a relação entre patrões e empregados no Brasil da casa grande e das senzalas disfarçadas, e a obrigatória Travessia – têm arranjos originalmente criados pelo pianista Eumir Deodato, que abriu as portas do mercado fonográfico dos Estados Unidos para o cantor (tanto que, em 1968, Milton já lançava um álbum, Courage, direcionado para o público norte-americano).

Além de ter a marca de Deodato, o álbum Milton Nascimento foi gravado com o toque do Tamba 4, versão estendida do lendário Tamba Trio, formada naquele ano de 1967 por Luiz Eça (1936 – 1992) (arranjos e piano), Bebeto Castilho (flauta), Dório Ferreira (baixo) e Rubens Ohana (bateria). Não creditados como Tamba 4 na ficha técnica do disco, os músicos deste quarteto fantástico envolveram em modernidade atemporal músicas como Crença (Milton Nascimento e Márcio Borges, 1967), Três Pontas (Milton Nascimento e Ronaldo Bastos, 1967) e Outubro (Milton Nascimento e Fernando Brant, 1967).

Então em início de carreira, Danilo Caymmi toca flauta em Catavento (Milton Nascimento, 1967), música menos ouvida do repertório deste disco que deu frutos. Foi jogada no álbum Milton Nascimento a semente do som do Clube da Esquina que iria germinar ao longo dos próximos cinco anos. Milton Nascimento já está com o pé na estrada há mais de 50 anos, mas foi a partir deste já cinquentenário primeiro álbum que o Brasil e o mundo conheceram um som de personalidade singular, gerado a partir da vivência deste astro revolucionário que marcou a nascente MPB da era dos festivais sem ter ficado no olho do furacão tropicalista.

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