O FREVO
O Frevo, rica manifestação da cultura brasileira, se articula como um sistema em sua diversidade de expressões: música, dança, indumentárias, saberes, ofícios, atuações individuais e coletivas referendadas na imensa representatividade das suas Agremiações. Originado no espaço urbano do Recife, em meio aos embates sociais, o Frevo é propagado especialmente no carnaval das ruas. Sem, entretanto furtar-se aos palcos como uma manifestação centenária, em cuja resistência, estabelece processos constantes de experimentações e mudanças.
TERMO
A palavra frevo deriva da corruptela do verbo ferver, e passou a ser empregada referendando a ebulição vivenciada pelo povo na festa. Faz-se necessário mensurar essa agitação na própria vida social da cidade nos finais do século XIX. A primeira menção à palavra frevo designando a expressão artística, foi registrada pela imprensa no Jornal Pequeno, na edição de 09 de fevereiro de 1907. É importante mencionar o pesquisador Evandro Rabello como fonte desse relevante registro com a publicação do seu livro Memória da Folia – O carnaval do Recife pelos olhos da imprensa 1822/1925, que trata da ocorrência do carnaval tendo como foco as publicações feitas pelos jornais da época.
MÚSICA
No final do século 19 o frevo já se firmava no carnaval pernambucano. A princípio denominada Marcha Nortista ou Marcha Pernambucana e posteriormente como Frevo. A popularização do ritmo pelas gravações em disco e pela difusão radiofônica (1930) consagrou a subdivisão em Frevo de Rua, Frevo de Bloco e Frevo Canção.
FREVO DE RUA
É instrumental e se constitui emblemático no gênero. Nele ocorre a predominância de instrumentos de bocal (trombones, trompetes, tuba); instrumentos do naipe dito “das madeiras” (saxofones, clarinetes, requintas, flautas e flautins); e de percussão, surdos, caixas e pandeiros. Prescinde da letra e é a partir a sua execução que se promove a dança do Frevo, denominada Passo.
O frevo-de-rua costuma ser dividido, por uma convenção de origem incerta, mas que goza de ampla aceitação entre arranjadores e estudiosos, em: frevo-coqueiro, frevo-ventania e frevo-de-abafo.
Coqueiro – Nele se destacam os metais, trompetes, trombones, que dão notas muito altas.
Ventania – Aquele onde o naipe de saxofone tem um destaque maior do que os metais.
De abafo – Executado Quando dois blocos se encontram e uma orquestra tenta abafar o som da outra.
Exemplos de Frevos de Rua:
1. Vassourinhas, de Matias da Rocha e Joana Batista;
2. Último dia, de Levino Ferreira;
3. Trinca do 21, de Mexicano;
4. Menino Bom, de Eucário Barbosa;
5. Corisco, de Lourival Oliveira;
6. Porta-bandeira, de Guedes Peixoto
FREVO CANÇÃO
A instrumentação do Frevo Canção é basicamente a mesma do Frevo de Rua, porém sua execução é mais comum nos palcos, estúdios e outros locais com possibilidade para o canto. O que não impede de ser cantado nas ruas no acompanhamento das orquestras. Algumas vezes as letras desse gênero de frevo são comparadas à embolada, pela construção e rapidez da pronúncia, quase um trava-línguas.
Exemplos de Frevos Canção:
1. Borboleta não é ave, de Nelson Ferreira;
2. Cala a boca menino, de Capiba;
3. Hino de Pitombeira, de Alex Caldas;
4. Hino de Elefante, de Clídio Nigro;
5. Meu vestibular, de Gildo Moreno.
FREVO DE BLOCO
A instrumentação típica, chamada de pau-e-corda, é totalmente distinta dos outros dois tipos. Baseia-se em cordas dedilhadas ou tocadas com palhetas, acompanhamento, sobretudo de violões e cavaquinhos, e em sopros, especialmente flautas clarinetes e saxofones. A percussão se baseia em surdo, caixa e pandeiros, mas podem ser incorporados chocalhos, reco-recos e bandolins. Cantadas por um coro feminino as letras comumente apresentam hinos, relatam memórias ou histórias de compositores, exaltam heróis, personalidades e carnavalescos, algumas vezes evocam a memória da cidade e dos carnavais do passado e expressam o presente num diálogo leal entre o que foi e o que é.
Exemplos de Frevos de Bloco:
1. Valores do Passado, de Edgard Moraes;
2. Marcha da Folia, de Raul Moraes;
3. Relembrando o Passado, de João Santiago;
4. Saudade, dos Irmãos Valença;
5. Evocação n° 1, de Nelson Ferreira;
6. Último regresso, de Getúlio Cavalcanti.
PASSO
É a presença da Capoeira – forma de luta desenvolvida pelas populações
negras escravizadas no Brasil colônia – que traz a destreza e os novos saltos inventados inspirando diretamente a criação do Passo, tipo de dança que acompanha o Frevo de Rua. São grupos de homens, negros ou mestiços, organizados, destacados à frente das bandas, que se enfrentam na defesa de interesses diversos, inclusive, de partidos políticos. Devido à repressão policial feita aos que a praticavam, é durante o carnaval, que os golpes vão sendo mesclados a piruetas, utilizados na defesa ou no ataque a grupos rivais e, enfim transformados em coreografias.
Assim como na música, assimilam-se movimentos de várias procedências, a princípio… Dobradiça, parafuso, tesoura, tramela, alicate, denominações conectadas ao universo do trabalho batizam muitos desses passos. Posteriormente, a influência de outras danças e o processo de escolarização que leva o Frevo aos palcos. Por se tratar de uma dança imprevista, o passista sempre ousa, improvisa, sem, entretanto, esquecer a fundamental relação dialógica com a música, as duas feitas de perguntas e respostas, ataque e defesa, tensão e liberdade, individualidade e coletividade.
SÍMBOLOS DO FREVO
SOMBRINHA
Parte do colorido que toma conta das ruas no Carnaval do Recife se deve ao uso das sombrinhas de frevo. O artefato integra o visual dos passistas em suas evoluções. Mas nem sempre foi assim, no passado, além do uso convencional, para a proteção do sol, sua presença vincula-se também aos capoeiras e brigões que acompanhavam os cortejos levando à mão guarda-chuvas e outros instrumentos, muitas vezes utilizados como Arma. Com o passar do tempo, a sombrinha se modifica sendo reduzida no tamanho e ampliada em cores, tornando-se componente emblemático do frevo.
ESTANDARTES
À frente dos cortejos posiciona-se um dos itens mais importantes das agremiações carnavalescas: o estandarte. O costume de apresentar um emblema que identifique o grupo é herança Ibérica, do período das Cruzadas, na Idade Média, quando as missões com fins militares e religiosos ostentavam bandeiras com símbolos alegóricos como cruzes e brasões, absorvidos por nós, através da colonização.
Os estandartes são, normalmente, confeccionados em veludo ou tafetá, com forro de cetim. Trazem evidenciado o nome da agremiação, seus símbolos e data de fundação. A bandeira é adornada com fios dourados, pedrarias, pinturas e bordados. Muitas insígnias representam instrumentos de trabalho, principalmente os mais antigos, o que explica suas origens vinculadas aos grupos de ofícios.
TÍTULOS
Desde 2007, marco oficial do centenário do Frevo, a manifestação foi registrada no Livro das Formas de Expressão tornando-se Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil, concedido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Inscrito em 2010 para concorrer ao título de Patrimônio Cultural da Humanidade, em 5 de dezembro de 2012 foi reconhecido pela UNESCO na 7º Sessão do Comitê Intergovernamental para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial. Sendo o único representante brasileiro desse ano.
Além do frevo, outras manifestações da cultura brasileira integram a Lista Representativa de Patrimônio Imaterial da Humanidade: o samba de roda do Recôncavo baiano; as expressões gráficas e orais da tribo Wajãpi (Amapá); O Círio de Nazaré (Pará) 2013 e a Roda de Capoeira, 2014.
FONTES
– Maestro Ademir Araújo (Formiga)
– Carmem Lélis – pesquisadora
– Documentos de inscrição do frevo na lista do Patrimônio Imaterial da Humanidade – UNESCO.
Disponível em:
PREFEITURA DO RECIFE. Guia do Folião. Recife: Prefeitura do Recife, 2008.
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