sábado, 4 de fevereiro de 2017

ALCEU VALENÇA RECUPERA “DISCO PERDIDO” GRAVADO NA FRANÇA


Por José Teles



Um disco revestido da condição de lenda. Muitos juravam que não existia. Outros que foi gravado, mas se perdeu. Eis que em 1998, foi anunciado que o tal disco seria lançado. A lenda materializou-se em um CD, o Saudade de Pernambuco, de Alceu Valença, gravado num estúdio nos arredores de Paris, com o guitarrista Paulo Rafael, Zé da Flauta, e o percussionista Fernando Falcão. Foi distribuído como encarte do já extinto Jornal da Tarde, de São Paulo, numa série intitulada Sertanejo & Forró. Esgotaram-se, rapidinho, os 45 mil disquinhos comprados junto com o jornal.

O disco merecia melhor destino, tanto pelo repertório, quanto pelo que significou na carreira do artista, nascido enquanto viveu o que ele chamava de “exílio cultural” na França. Depois de três discos pela Som Livre, Alceu Valença deixou a gravadora e foi para a França. Seu agente no Brasil tentava convencer os executivos a o contratarem, mas recebeu repetidas recusas:. “Na Phonogram (hoje Universal), responderam que a quota de malucos deles estava completa, já tinham Raul Seixas”. Lembrou o cantor, em entrevista ao titular deste blog, quando Saudade de Pernambuco quando o disco estava sendo vendido em bancas.

Saudade de Pernambuco ganha agora uma edição como merecia, remixada, masterizada, e é incorporado à discografia oficial de Alceu Valença, um elo perdido na evolução de sua música. Na capa o cantor aparece numa fotografia no parque Jardin de Luxembourg, em Paris, mezzo cangaceiro, mezzo Luiz Gonzaga (o título de vem um baião homônimo lançado por Lua em 1953, de Sebastião Rosendo e Salvador Micelli).

Alceu avaliou a importância do disco, na citada entrevista, um trabalho que classificava como um divisor de águas em sua obra:

“Os meus primeiros discos, principalmente Molhado de Suor, têm uma sonoridade única, ninguém fazia aquilo no Brasil, mas a coisa do rock era mais intencional do que formal. Até em Espelho Cristalino havia o rock como intenção, mas as melodias eram bem nordestinas. Quando estava na França comecei a repensar isto. Ora, velho, quando passei um tempo nos Estados Unidos eu cantava coco nas praças, e os americanos gostavam, então pensei, por que nós também não curtimos esta música, por que elas continuam apenas como uma coisa folclórica? Comecei a lembrar na música de Pernambuco, coco, caboclinho, maracatu, teve também muita influência da convivência com Jackson do Pandeiro. Durante 1978, passei um ano fazendo turnê com ele. Então este disco deu uma nova direção à minha música”.

Saudade de Pernambuco chega às lojas, no dia 20, em formato físico (CD e Vinil) na caixa Alceu Valença 70, que abriga ainda os três discos solo do artista lançados pelo Som Livre, Molhado de Suor(1974), Vivo! (1976), e Espelho Cristalino (1977). O “pacote” Alceu Valença 70 (anos), é coroado pelo DVD Vivo/Revivo, registro de show realizado no Teatro de Santa Isabel, em 9 de outubro de 2015.

Confiram Alceu Valença em Saudade de Pernambuco (na versão de 1998):

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