Por Joaquim Macedo Junior
MULHERES CANTORAS E COMPOSITORAS DE PERNAMBUCO – ALMIRA CASTILHO
Almira Castilho
Lembrei-me das “mulheres de Tejucupapo”, que até hoje simbolizam a bravura das mulheres pernambucanas.
Aqui, mesmo tocando sempre no tema musical – em tese, aberto a todos os gêneros – pouco falo da participação feminina no cenário pernambucano.
Nesse plano, Chiquinha Gonzaga, está na posição de vanguarda. Podemos pleitear pioneirismo no choro, nas músicas do século XIX, inventados por João Pernambuco, de Sons Carrilhões, Luar do Sertão e Cabocla de Caxangá.
Mas, de parte das mulheres, talvez nossa grande desbravadora seja a magnífica Tia Amélia, a quem já dediquei uma coluna deste Megaphone e dedicarei mais.
Num rápido apanhado de nomes antigos e de gente nova – por favor, aguardo contribuição dos leitores – listei como mulheres cantoras e compositoras pernambucanas ou que fizeram carreira no solo na “Terra de Altos Coqueiros”, Almira Castilho, Anastácia, Marinês (e sua Gente), Tia Amélia, Clarice Falcão, Selma do Coco, Lia de Itamaracá, Teca Calazans (capixaba), Nena Queiroga (carioca, filha de Lula Queiroga), Ylana Queiroga, Glorinha do Coco, Isaar, Irmãs Acioman, Dalva Torres, Nanau Nascimento..
Começo com Almira Castilho, mulher de Jackson do Pandeiro por 12 anos, mas que, por certo, tem um lugar especial nesse universo, além do ultrapassado clichê “atrás de todo grande homem, há uma grande mulher”.
Num raciocínio rápido e superficial, posso pensar em Alma, esposa e mais que palpiteira, uma verdadeira parceira do marido, Alfred Hitchkock; Maria Bonita e Lampião. A conversão deste apotegma se estabelece com Bonnie and Clyde; d. Maria Tereza e Jango; Rita e Roberto de Carvalho, por exemplo.
Cantora. Compositora. Dançarina. De beleza brejeira e nordestina, era linda de se ver no palco, ao lado do exuberante pandeirista, cantando, dançando e arrebatando olhares e sorrisos de Jackson do Pandeiro, seu parceiro e marido.
Antes de seguir a carreira artística, atuou como professora. Dançava e cantava bem, também compunha e ficou famosa exatamente pela parceria com Jackson do Pandeiro, que ela conheceu em 1952, na rádio Jornal do Commercio, onde era rádio-atriz e cantora.
Chiques com chapéu de couro
Sua última aparição pública se deu 2009, quando, na cidade de Recife, recebeu homenagem em nome de Jackson do Pandeiro. Faleceu aos 87 anos, vítima de mal de Alzheimer.
“Chiclete com Banana”, de Gordurinha e Almira (1958), com Jackson do Pandeiro
Na opinião deste escriba, “Chiclete com Banana” se insere no contexto do antes e depois do modernismo-psicodelismo e tropicalismo da música brasileira. É um grande manifesto, com uma linguagem panfletária de cordel…
Olindense, Almira Castilho nasceu em agosto de 1924, deixando-nos quando já morava no Recife, em fevereiro de 2011, foi cantora, compositora e dançarina brasileira.
Parceira de Jackson do Pandeiro, com quem foi casada, sua carreira pontuou em composições e apresentações no rádio e no cinema. O casal esteve junto por 12 anos, de 1955 a 1967.
Forró Quentinho, de Almira Castilho
Almira Castilho era professora. Iniciou sua carreira artística em 1954, participando do coro na apresentação de “Sebastiana” por Jackson do Pandeiro. Foi rumbeira e rádioatriz na Rádio Jornal do Commercio, além de ter participado de algumas dezenas de filmes nacionais.
“Chiclete com Banana”, com Marjorie Estiano e Gilberto Gil
Fez mais de 30 músicas na parceria de Jackson, Gordurinha e Paulo Gracindo. “Chiclete com Banana” é o ponto alto de sua carreira. Foi a primeira que se usou o termo samba-rock na terminologia musical brasileira. Como se costuma fazer até hoje, a mídia em geral não registra os nomes dos compositores, arranjadores e produtores musicais, ficando a visibilidade maior para quem aparece e canta no palco do rádio e das televisões, nos CDs, DVDs, Spotify e mídias afins.
Muitas capas com Almira
Por que comecei esta série com Almira? Por um motivo muito pessoal. Era (e continuo) vidrado em Jackson, o rei do ritmo. Para mim, sempre esteve no patamar de Gonzagão, Humberto Teixeira e Zé Dantas, no que diz respeito a música nordestina.
Certa ocasião, Dagô – minha mãe e primeira professora da história da música que tive -alertou: “Junior, você adora Jackson, mas não esqueça que, “por trás dele existe uma artista de primeira grandeza chamada Almira Castilho”.
Penso que d. Dagô chamava a atenção para duas injustiças: a compositora Almira, que ficava mais escondida; e uma boa dose de feminismo pleiteando o espaço da mulher no universo da música nordestina.
Semana que vem, tem mais das mulheres de Tejucupapo da música regional….
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