Por Mônica Ramalho
Ao longo da entrevista, Ilessi deve ter citado mais de 80 nomes de músicos, cantores, compositores, produtores, técnicos de som e mestres que admira e a quem será sempre muito grata por todas as suas pequenas grandes conquistas profissionais. A mais nova delas se chama "Mundo Afora: Meada", nome inspirado no fundamental "Grande Sertão: Veredas", de Guimarães Rosa. O disco, segundo de uma carreira que está chegando à maioridade, entrou na etapa da masterização. Foi gravado em fevereiro, basicamente no mineirinho Estúdio Fazenda das Macieiras, do também compositor Alexandre Andrés, um dos rapazes que aumentam a lista de gratidão.
Quando idealizado, o álbum pretendia ser duplo, trazendo um panorama de jovens compositores de todas as regiões brasileiras. As 24 faixas sonhadas diminuíram para 16, até que Ilessi decidiu fazer dois discos com 10 faixas, cada. Ainda este ano, Ilessi lançará o primeiro, planejando gravar o segundo, já nomeado "Mundo Afora: Do Caminhar", em 2018. Ambos seguirão a mesma linha: arranjos cheios, em camadas, e instrumentação rara, com bastante pakawaj (da percussão indiana) e métalo (um metal tocado com baqueta que produz um som rascante) combinados a guitarras e sopros, por exemplo.
Autores de Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Brasília e Ceará entraram na seleção de "Mundo Afora: Meada", feito via crowndfunding. A ala paraense, paixão de Ilessi, assim como a faixa-título deste primeiro, estão escalados para a bolacha seguinte. "Ainda vou fazer um disco só com a música do Pará, com obras dos talentosos Floriano, Jorge Andrade, Marcelo Sirotheau e Leandro Dias, entre outros, que estavam no roteiro de um show que criei e apresentei em algumas casas só com esses compositores", rebobina.
Ilessi é pesquisadora nata, herdeira de Mário de Andrade - o gênio modernista que encarafunchou o Brasil atrás de sons regionais. Ela também se desdobra nas funções de professora de canto e, desde julho passado, faz a curadoria da edição carioca do projeto Sonora, capitaneado pela mineira Deh Mussulini. Desde 2011, a cantora de 35 anos vem juntando, em segredo, letras e melodias próprias. Muito recentemente se assumiu compositora, já com fôlego para encarar o palco da interessante Mostra Cantautores, de BH.
"O meu pai, Gonzaga da Silva, é compositor. Cresci vendo ele receber os parceiros lá em casa, em Jacarepaguá, e acordando de madrugada para se trancar no banheiro com o gravador e compor, sempre em jorros criativos, canções lindas. Por isso, a primeira música que gravei em estúdio, no ano 2000, tinha que ser dele. Escolhi 'Sem fronteiras', parceria com Arnaldo Costa", diz. Um prenúncio da missão de Ilessi, cujo trabalho soa atemporal e, de fato, sem fronteiras. Um dos pontos altos foi o intercâmbio que fez na Suécia, entre 2014 e 2015, através da UniRio, onde estuda licenciatura em música. Porém, esse desbravar de novos nomes é anterior.
"Já ficava indignada de ver que pouca gente conhecia as obras de Thiago Amud, Vicente Paschoal e Edu Kneip, entre outros. Comecei a criar projetos com esse pessoal e isso refletiu no meu repertório, que passou a ficar cada vez com menos músicas dos consagrados", diz. Com Amud, a sintonia é fina. Nos primeiros shows, ele convidou Ilessi para fazer uma participação especial. Ela cantou duas músicas. No seguinte, quatro, depois cinco, até que um dia, sem se dar conta, estava cantando o espetáculo inteiro. Esse ano, o show que criaram juntos será apresentado em 9 de setembro, no interior de São Paulo. Fique de olho na página da artista aqui para acompanhar a agenda.
Fã confessa da cantora Amelia Rabello, com quem aprendeu muito na Escola Portátil de Música, Ilessi sente muito orgulho do seu primeiro disco, "Brigador" (CPC-Umes), com parcerias de Pedro Amorim e Paulo César Pinheiro (uma delas, da dupla com Mauricio Carrilho), e arranjos de Luís Barcelos. Foi lançado em 2009 via selo paulistano, num empenho da cantora Adriana Moreira. "Brigador" vai completar dez anos e ela planeja fazer mais alguns shows com ele, que rodou pouco na ocasião. Até lá, muito som está previsto! Ilessi vai soltar "Mundo Afora: Meada" e fazer "Mundo Afora: Do Caminhar" e um disco em duo com Diogo Sili prometido a si mesma só com as obras de Manduka, irmão de Thiago Thiago de Mello - mais um projeto daqueles super do coração.
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