Filme recupera a história de um dos últimos parceiros de Luiz Gonzaga
Por Ernesto Barros
Vencedor de quatro troféus Calungas no Cine PE do ano passado, inclusive o de Melhor Longa-Metragem da Mostra Competitiva, o documentário Danado de Bom – As Histórias e a Vida de João Silva estreou comercialmente no dia 6 de julho, no Cinema São Luiz. Na verdade, desde o início de junho – o mês do São João – que Danado de Bom vem conquistando espectadores de todo o Brasil.
O principal chamariz do filme é o compositor João Silva (1935-2013), o último parceiro de Luiz Gonzaga, o Rei do Baião. A pré-estreia aconteceu há exatamente um mês, em Arcoverde, terra natal de João, no majestoso Cinema Rio Branco, construído em 1917. Agora, a sala está equipada com projeção digital e conta com a curadoria do Programa Cine de Rua, da Secult-PE e Fundarpe.
Esquecido desde os anos 1980, quando terminou a parceria com Luiz Gonzaga, João Silva ganhou uma excelente introdução à sua obra de compositor, marcada por clássicos juninos como Nem se Despediu de Mim, Uma pa Tu, Uma pa Mim e Danado de Bom – a faixa título do LP homônimo que deu a Luiz Gonzaga o primeiro disco de ouro de sua carreira. Dezenas de canções pontuam o documentário, mas Pagode Russo se destaca pelo número de versões e recordações nordestinas (título de trabalho do filme) de quem a ouviu quando era criança. “Essa música faz parte da minha vida, uma das memórias afetivas mais fortes da minha infância”, revela cineasta Marianna Brennand, que produziu o filme, dirigido pela prima Deby Brennand. Pagode Russo é cantada em vários estilos ao longo do documentário, no qual ainda ganha uma análise precisa de Josildo Sá.
10 ANOS
O projeto do filme acompanhou mais de 10 anos as duas primas – da primeira viagem que fizeram a Arcoverde e à região do Crato, no Ceará, até a estreia nos cinemas. “Ainda lembro muito bem quando Roberta Jansen chegou acompanhada de João Silva, que se considerava esquecido”, diz a produtora. A jornada do compositor em busca de suas origens é recheada de momentos emocionantes. Ele visita Arcoverde, de onde havia saído há 30 anos, e vai até o povoado de Olho d'Água de Baixo, onde viveu com o pai à sombra de um umbuzeiro”. “Foi incrível o reencontro de João com a senhora que viu ele dormir, ainda menino, entre as folhas da árvore”, relembra Marianna.
João Silva iniciou a carreira de compositor nos estúdios da Rádio Mayrink Veiga, no Rio, no começo dos anos 1950. No filme, as músicas do compositor servem como narração, na voz de Siba, para que Deby conte a história de João, principalmente a parceria que manteve com Luiz Gonzaga, que estava passando um por uma má fase, fazendo poucos shows e com uma baixa vendagem de discos. Com um rica pesquisa de imagens a cargo de Antônio Venâncio, Danado de Bom recupera cenas de um Brasil que não se vê mais, além de apresentações ao lado de Luiz Gonzaga e shows de artistas que interpretaram os seus sucessos, como Alcione, Elba Ramalho, Gilberto Gil e Dominguinhos.
Para melhor cuidar da trajetória do filme, Marianna também tomou para si a sua distribuição nos cinemas e salas alternativas Brasil afora, através da Inquietude, a companhia que ele criou para projetos especiais, como a edição dos diários de Francisco Brennand. “Numa parceria com a plataforma Taturana, Danado de Bom já teve 49 sessões gratuitas em 13 estados brasileiros. Mais outras 19 estão para acontecer”, diz Marianna. De acordo com a Taturana, 901 pessoas viram o filme nas primeiras 15 exibições, com uma média de 60 espectadores por sessão.
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