sábado, 8 de julho de 2017

ALICE PASSOS - ENTREVISTA EXCLUSIVA

Diplomada por alguns dos maiores nomes da música instrumental brasileira, Alice Passos acaba de lançar "Voz e violões", projeto ricamente peculiar.

Por Bruno Negromonte


Recentemente, aqui mesmo em nosso espaço, tive a oportunidade de apresentar ao nosso público leitor a cantora e instrumentista Alice Passos, jovem e promissor talento da música popular brasileira que vem lançando o seu primeiro álbum cujo título "Voz e violões" sugere, erroneamente, o lugar-comum. A pauta publicada busca justamente quebrar essa ideia, traçando um perfil biográfico e profissional da artista em questão, além de abordar peculiaridades de um álbum que teve a capacidade de reunir alguns dos maiores nomes do violão nacional a exemplo de Guinga, Dori Caymmi, João Lyra, Mario Gil, Maurício Carrilho, Zé Paulo Becker, entre outros como pode-se conferir na pauta "BELEZA, VOZ, VIOLÕES E TALENTO". Hoje a artista carioca gentilmente está de volta ao Musicaria Brasil para esse bate-papo exclusivo, onde fala de algumas peculiaridades pessoais e profissionais como a produção deste seu primeiro CD. O que desejo a todos durante a leitura é que tenham o mesmo prazer que eu tive ao conhecer e ouvir esse nome que ainda há muito o que se falar.


Você vem de uma família para lá de musical, no entanto por vezes não atinamos para esse tipo de contexto e deixamos passar desapercebido essa propensão existente. Qual a lembrança mais remota que você do seu envolvimento com a música?

Alice Passos - Poxa, eu adoraria falar que é ouvindo minha mãe cantar no útero, mas minha memória pra infância é muito ruim. Lembro bem do tempo que eu passava na oficina do meu pai (ele era luthier) e via aquele monte de madeira que ia virar um instrumento um dia. Lembro muito de ir ao Bip Bip com a minha mãe, onde eu ficava de cara amarrada querendo ir pra casa. Lembro que uma das minhas músicas favoritas aos 8 anos era “Choro Bandido”, do Chico Buarque e Edu Lobo.


Quando foi perceptível para você que a música era um caminho sem volta?

AP - Quando nada mais na vida era mais empolgante e me dava mais prazer do que ir numa roda de samba.



Você, integrante da Orquestra de Sopros da Pro Arte, apresenta um trabalho fonográfico onde os instrumentos de sopro inexistem. Por qual razão fugir do óbvio de modo tão radical?

AP - Porque neste disco eu queria expor as canções cruas, expostas. Queria que o disco todo tivesse a mesma unidade, um fio condutor único. Queria cantar ao lado do violão sem que ele fosse apenas acompanhador, mas que ele fosse também o protagonista.


Apesar de ser um formato comum e simplório, você conseguiu fazer do “Voz e violões” um trabalho bastante peculiar a partir de algumas características enriquecedoras. Como se deu a concepção do álbum?

AP - Primeiro surgiu a ideia, da minha mãe e da companheira dela, de gravar um disco só de voz e violão, mas onde o violonista fosse também o compositor da música. A partir daí eu já tinha 80% dos convidados já na cabeça, no dia seguinte eu já tinha 90% e o último que entrou no disco foi o Miguel Rabello, que na época tinha 20 anos se não me engano e nunca tinha tido uma música sua gravada. A escolha do repertório foi bem diversa. Os fatores são muitos: não repetir muitos gêneros, não escolher muitas músicas em tom menor (minha tendência), se a música é inédita, se eu vou cantar ela bem, se vai ficar boa só com voz e violão, etc. Algumas eram certas como a morte: “Mestre”, do Dori Caymmi com o Paulinho Pinheiro, eu tinha certeza que tinha que abrir um disco meu. “Preta Bá”, música do Pedro Messina e do Chico Alves foi a que fez nascer o disco; ouvi numa roda de samba no primeiro aniversário que fui depois que meu filho nasceu e me emocionei muito quando ouvi a primeira vez. Daí, depois das certezas, comecei a balancear os gênero principalmente. Se deixasse eu só gravava valsa, que sou apaixonada e que fica muito bem de voz e violão. Procurei também não fazer um disco duplamente temático: voz e violões / canções de Paulo Cesar Pinheiro (o que não é nem um pouco uma má ideia, mas não era o que eu buscava para primeiro disco). Assim, pedi pros violonistas que tem muitas parcerias com ele (Zé Paulo Becker, João Lyra e Miguel Rabello) que me mostrassem músicas com outros letristas, e encontrei as maravilhas registradas no cd. Finalmente, procurei também dar alguns elementos nos arranjos: coro (Duas Estrelas), percussão (Sem Palavras e Samba de Mestre), propor que alguns dos meninos cantasse também, etc. A ideia do violão de aço na faixa do João Lyra foi dele e eu amei, dá um colorido super diferente. 


E a participação desse time de grandes músicos? Qual foi o primeiro nome a receber o convite?

AP - Boa pergunta, não lembro qual foi o primeiro pra quem liguei. É bem capaz que tenha sido o Maurício Carrilho, que também produziu o disco.


Quanto as composições quais os critérios que você adotou para a seleção do repertório de canções inéditas?

AP - Pois é, tava pensando nisso. Não adotei.
3 das 7 inéditas são de compositores que nunca tinham sido gravados antes (João Camarero, Pedro Messina e Miguel Rabello). Então qualquer que fosse a música escolhida teria sido inédita. Do Sergio Santos eu sabia que tinha que ser inédita. Ele é um excelente cantor, arranjador, violonista, ou seja: não tinha muito motivo de regravar nada dele, eu provavelmente não iria representar nenhuma música melhor do que ele já havia feito. Daí fui futucar nas inéditas que eu tinha dele que a Anna Paes (violonista e compositora) generosamente tinha me passado. O “Samba de Mestre” do Maurício com o Paulinho Pinheiro era uma música que há muitos anos eu tinha vontade de cantar. Aliás, não sei como essa dupla tem tanta coisa inédita ainda. Do Mario Gil eu queria gravar uma inédita só pelo prazer de desenterrar coisa do baú, sabe? Porque ele tem relativamente poucas músicas gravadas. E finalmente, do Theo, eu tinha já umas inéditas e também pra dar uma equilibrada no disco, resolvi gravar a doce “Duas Estrelas” que caiu feito uma luva no disco e que adorei o resultado.



Você trouxe a responsabilidade de reler canções registradas por grandes intérpretes como Elba Ramalho e Alcione e a cumpriu de modo primoroso. De que modo se deu a escolha das regravações?

AP - Rapaz, vou te confessar que eu até hoje não conheço a gravação delas dessas músicas. “Toque de Amor” eu conheci uma gravação da minha irmã, Mariana Bernardes, que ela fez na casa do João com ele e “Sem Palavras” eu conheci direto pelo Thiago, escolhendo repertório pro nosso show, que volta e meia a gente faz. O Thiago me contou que a Alcione gravou o samba dele, mas eu só fui saber depois de gravar que a música do João tinha sido gravada pela Elba. Essas coisas eu não devia nem falar né? Mas a verdade cabe em qualquer lugar, acredito...
Quanto à por que essas músicas: Queria o lado nordestino do João, claro. Sempre gostei muito desta música, perguntei pra ele se dava pra fazer um arranjo de voz e violão e rolou lindamente. Na época de escolher qual ia ser a música do Thiago (tarefa bem difícil porque ele não só tem músicas lindas com vários parceiros como tem músicas lindas “sem a ajuda de ninguém”) eu tava muito ligada nesse samba, então nem pensei 3 vezes.



Paulo César Pinheiro faz-se presente em boa parte das composições presente em “Voz e violões”, essa aproximação da obra do Paulinho se deu de que modo?


AP - Se deu através de muita pesquisa e admiração pela pluralidade dele. O Paulinho escreve como se fosse o João Nogueira falando, como se fosse o Das Neves. Escreve como se fosse maranhense (sem nunca ter ido ao maranhão), como se fosse mineiro, como se fosse pescador, como se estivesse apaixonado, desiludido... Ele entende o que cada melodia pede, e quando é o compositor que musica (como é o caso de várias parcerias dele com o Dori Caymmi, Sergio Santos, entre outros), esse casamento também se dá com perfeição. Vou cantar ele sempre.



Trabalhos como “Voz e violões” tem uma ótima aceitação da crítica, mas esbarra em escusos critérios que regem o mercado fonográfico. Isso acaba por impedir o alcance do grande público. Como você encara esse desafio?

AP - Encaro com muita frustração mas também com muita vontade de dar certo. Com muita vontade de cantar, seja pra quantas pessoas forem, seja aonde for. Vontade de cantar a música que acredito que representa meu país.
Nunca vou fazer um disco pra agradar o mercado, para cumprir requisitos necessários para fazer sucesso. É um trabalho de formiguinha, é um trabalho a longo prazo.



O lançamento do “Voz e violões” já aconteceu no Rio não foi? Como anda a agenda de apresentações para este segundo semestre?


AP - 
Sim, aconteceu! Dia 12 de Agosto vou lançar o disco em SP na Casa da Banda. Marcado mesmo é este dia. Mas estou fechando dois shows em Minas com a ajuda da queria Maíra Delgado, produtora e musicista mineira; no Maranhão e no Rio no Bar Semente, Casa de Baco, Galeria 1618, entre outros lugares.



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