Por Joaquim Macedo Junior
RILDO HORA, MESTRE DA GAITA, COMPOSITOR, PRODUTOR
Rildo Hora, mestre da gaita ou do realejo, como dizemos no Recife
A gaita de boca (realejo) – não confundir com a gaita gaúcha – talvez tenha recebido mais atenção desde que Bob Dylan recebeu, ano passado, o Prêmio Nobel de Literatura. Afinal, o poeta americano, tocador de violão, auxiliado por uma gaita afixada acima do instrumento de cordas, fez a pequena harmônica tornar-se conhecida em todo o mundo, via country.
Rildo Hora é um dos maiores talentos brasileiros no instrumento. É apontado pelos colegas gaitistas (inclusive Toots Thielemans) como um dos principais instrumentistas em atividade.
Possui CDs lançados no Brasil e nos EUA. No show “Espraiado”, Rildo apresenta clássicos da MPB com arranjos que transitam entre o erudito e o popular. No repertório, canções próprias e de compositores como Milton Nascimento, Tom Jobim, Edu Lobo e Toots Thielemans.
“O Ovo” (Hermeto Pascoal), com Rildo Hora, gravado em 1987
Rildo Alexandre Barreto da Hora nasceu em Caruaru-PE, em 20 de abril de 1939 (78 anos). É gaitista, violonista, cantor, compositor, arranjador, maestro e produtor musical.
Seu pai, Misael Sérgio Pereira da Hora, alagoano, foi dentista, e a mãe, Cenira Barreto Hora, pernambucana, foi sua primeira professora de teoria musical e piano.
Em 1945, mudou-se com a família para a cidade do Rio de Janeiro, indo morar no subúrbio carioca de Madureira.
Aos seis anos de idade, interessou-se por harmônica de boca. Autodidata, passou a estudar o instrumento, mesmo sem mestre. Desenvolveu a sua técnica tocando frevos e choros que ouvia no rádio.
Estudou harmonia, contraponto e composição na Escola de Música Pró-Arte com o maestro Guerra Peixe, que escreveu especialmente para ele “Suite quatro coisas”. Teve aulas de violão com Meira e com Oswaldo Soares e freqüentou outros cursos no Centro de Estudos Musicais.
Ainda criança, frequentava o botequim do seu João Valentim e o bar do Nozinho, próximos à sua casa, em Madureira, apreciando o samba dos mestres Candeia, Waldir 59, Chico Santana, Alvaiade e Manacéa, entre outros da Portela.
Aos 11 anos, tocava em festas populares pelos subúrbios do Rio de Janeiro. Apresentou-se na Rádio Mayrink Veiga, no Programa Trem da Alegria, comandado pelo “Trio de Osso” (Lamartine Babo, Heber de Boscoli e Iara Sales). Nesta época, conheceu o violonista Mão de Vaca (Manoel da Conceição) e apresentou-se no programa “A Hora do Pato”, na Rádio Nacional, passando a frequentar a emissora.
Adulto, em 1961, quando trabalhava na Boate Carioca ‘Cangaceiro’, compôs com Clóvis Melo “Canção que nasceu do amor”, lançada por Cauby Peixoto e regravada mais tarde por Elizete Cardoso.
No ano seguinte Alaide Costa gravou, dele e Gracindo Junior, “Como eu gosto de você”, com arranjo de César Camargo Mariano. Acompanhou Elizete Cardoso, como violonista, em shows por todo o Brasil de 1965 a 1967.
A partir do ano de 1968 passou a trabalhar como produtor musical, a convite de Geraldo Santos, na gravadora RCA. Sua primeira produção foi o LP ‘Música Nossa’, seguida dos discos de Antonio Carlos e Jocafi, João Bosco, Martinho da Vila e Maria Creuza. A partir daí foi estudar harmonia, contra ponto e composição com o maestro Guerra Peixe.
“Visco de Jaca” (Rildo Hora e Sérgio Cabral), com Céu
Em 1973, participou como gaitista, da gravação do LP “Pérola Negra”, de Luiz Melodia, na música “Estácio Holly Estácio”. No mesmo ano, foi produtor do LP “João Bosco”, disco de estreia do cantor e compositor mineiro.
Produziu em 1978 o disco “Tendinha” de Martinho da Vila, no qual se destacou o sucesso “Amor não é brinquedo” (Martinho da Vila e Candeia). Depois, fez Ataulfo Alves Júnior, “Velha-Guarda da Portela” e “Os Meninos da Mangueira”, estas últimas compostas com Sérgio Cabral (pai).
Último Desejo, de Noel Rosa – Maysa e Rildo Hora
Em 1987, executou na Sala Cecília Meireles, no Rio, o “Concerto para Harmônica e Orquestra”, de Villa-Lobos, sob a regência do maestro Davi Machado. Em 1988, interpretou a “Suíte quatro coisas” de Guerra Peixe, escrita e orquestrada especialmente para ele. Desde então, trabalhou com vários artistas brasileiros tais como: Martinho da Vila, Mariza Rossi, Luiz Gonzaga, Jair Rodrigues, Carlos Galhardo, Vicente Celestino, Clara Nunes, Maria Creuza, Chiquinho do Acordeom, entre outros.
Em 1992, lançou o CD “Espraiado”, pela gravadora “Caju Music”, no qual interpretou “Cabriola”, “Pipoca no fogo”, “Chorinho nervoso pro Hermeto Pascoal”, “Cóe, cóe”, todas de sua autoria, e ainda “A implosão da mentira ou o episódio do Riocentro”, “Canção que nasceu do amor”, além da faixa-título, “Espraiado”. O disco contou ainda com uma composição de seu filho Misael, “Baião de flor”.
Distribuído nos Estados Unidos pela etiqueta Milestone, foi incluído pela crítica americana entre os 10 melhores discos de jazz latino.
Em 1998, a gravadora “Visom” compilou dois CDs de sua autoria, pela série “Virtuoso”, a saber: “Rildo Hora e Cia. de Cordas” e “Rildo Hora e Romero Lubambo”. Fez a produção do primeiro disco solo de Walter Alfaiate, pela gravadora Alma.
Lançou no ano de 2000 o “Casa de samba volume 4”, com a Velha Guarda da Portela e Alcione, Dudu Nobre e João Bosco, Noite Ilustrada e Cássia Eller, entre outras duplas inusitadas.
Em 2001, fez a produção do disco “Chorinho” para a gravadora alemã Teldec. Deste disco participaram Altamiro Carrilho, Carlos Malta, Sivuca, Henrique Cazes, “Época de Ouro”, Pedro Amorim, Joel Nascimento, Maria Teresa Madeira e Ademilde Fonseca.
Semana que vem, tem mais..
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