Por Joaquim Macedo Junior
Músicos de uma canção só que fizeram eterno sucesso nacional
André Filho/Cidade Maravilhosa
André Filho foi ator, violonista, bandolinista, banjoísta, violonista, pianista, compositor e cantor.
O múltiplo artista Antonio André de Sá Filho nasceu no Rio de Janeiro em 21 de março de 1906 e morreu na mesma cidade em 2 de julho de 1974, é o autor de “Cidade Maravilhosa”, escrito e com arranjo original de Silva Sobreira.
A marcha imortal de André Filho não tem uma origem consensual. São, pelo menos, duas versões para o nascimento da música.
Uma diz que a marcha foi lançada por ocasião da “Festa da Mocidade”, em outubro de 1934, não obtendo nenhum sucesso. Teria ganhado o segundo prêmio da prefeitura do então Distrito Federal, para o Carnaval de 1935.
De acordo com o “Dicionário Universal de Curiosidades”, foi o escritor Coelho Neto quem primeiramente denominou o Rio de Janeiro como “cidade maravilhosa”, num artigo publicado em 1908, no jornal “A Notícia”, onde enaltecia as belezas e os contornos da cidade. É possível que André Filho tenha se inspirado nessa crônica para criar a marcha que não só representou um dos grandes sucessos de 1935, mas se tornou o Hino Oficial da Guanabara (hoje Rio de Janeiro).
Aurora Miranda gravou a canção por sugestão de sua irmã, Carmen, que pretendia lançá-la no cenário artístico e no meio radiofônico. Carmen passou a incluir Aurora em todos os seus shows e no coro de suas gravações.
Quando o compositor André Filho mostrou-lhe a música “Cidade Maravilhosa”, Carmen também achou que aquela seria uma oportunidade de ouro para a irmã. André concordou imediatamente e gravou a marchinha, acompanhando Aurora.
Em outra versão de sua origem, o hino da cidade do Rio de Janeiro é chamado de “Cidade Maravilha”, o epíteto para a cidade usado pela escritora francesa Jane Catulle Mendès em seu livro de poemas “La Ville Merveilleuse”, publicado em Paris, em 1913, como uma homenagem às suas belezas naturais.
O título foi adotado num programa radiofônico de grande sucesso, apresentado por Cesar Ladeira, onde este lia as “Crônicas da Cidade Maravilhosa”, escritas pelo futuro imortal da Academia Brasileira de Letras, Genolino Amado.
No mais, tudo igual à primeira versão: André mostra a Carmen que sugere que a música seja interpretada por sua irmã, Aurora.
Polêmica pelo hino
O Rio esteve perto de perder seu hino em fins de 1967, quando o deputado Frederico Trotta apresentou um projeto, sugerindo à Assembleia a criação de um concurso para a escolha de um novo, em substituição a Cidade Maravilhosa.
O nobre deputado argumentava que a marcha tinha “música alegre, balanceante, carnavalesca e irreverente para o ritual de solenidades sérias e imponentes, às quais se torna forçoso o comparecimento de autoridades e personalidades notórias.
Registre-se que, com a criação do estado da Guanabara, “Cidade Maravilhosa” foi oficializada como “marcha oficial da cidade do Rio de Janeiro”, por meio da Lei nº 5, de 05 de maio de 1960.
O povo carioca protestou contra a ideia do parlamentar. Quando começou a tramitar o projeto do Trotta, no início de 1968, diversos articulistas e artistas, como Aracy de Almeida, Fernando Lobo e Grande Otelo vieram a público manifestar sua indignação.
Finalmente, em agosto de 1968, o presidente da Assembleia voltou atrás e sancionou a lei que restituía “Cidade Maravilhosa” à condição de hino oficial da cidade.
André Filho confessou depois, em 25 de setembro do mesmo ano que era também o autor de marchas que homenageavam outras duas cidades: Cambuquira (Cidade Morena, hino oficial); e Buenos Aires (Ciudad em Sueno). André Filho disse ainda que, por amor ao Rio, recusara-se a fazer uma marcha para Brasília.
O compositor foi autor de cerca de uma dúzia de músicas, algumas de relativo sucesso, mas nada que se comparasse à magistral “Cidade Maravilhosa”.
É pretensão da série apresentar os casos – não são poucos – de compositores, que ao longo da carreira fizeram dezenas de canções, mas apenas uma alcançou um sucesso arrebatador. Este é o caso de André Filho, por conta de Cidade Maravilhosa. É o caso do mecânico Otávio de Souza, com “Rosa’, em parceira com Pixinguinha. É, aliás, o contrário de Dorival Caymmi, que fez “poucas”, mas todas obras-de-arte. Por isso, embora não se comparem fama/sucesso, não posso deixar de reproduzir aqui “Filosofia”, de Noel Rosa, que tem, vejam bem, André Filho, como parceiro.
Semana que vem, tem mais…
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