Amigos e parceiros de palco se despediram de Wilson das Neves, velado na escola de samba na Império Serrano, escola de samba da qual era padrinho
Por Márcia Maria Cruz
Depois da despedida realizada na noite de ontem na Escola de Samba Império Serrano, o corpo do instrumentista, cantor e compositor Wilson das Neves será enterrado hoje às 10h no Cemitério Jardim da Saudade no Rio de janeiro. Carioca da gema, admirado no mundo da música pelo talento e respeitado por sua história no samba, Wilson morreu aos 81 anos em decorrência de um câncer no Hospital da Ilha do Governador.
A morte foi anunciada por comunicado divulgado nas redes sociais no último sábado: “É com grande pesar que comunicamos a todos a partida do nosso grande mestre que foi tocar suas baquetas do outro lado. Ficaremos com as boas lembranças. Salve nosso Mestre! Salve Wilson das Neves!” O Império, agremiação de que Neves era Padrinho, decretou três dias de luto.“O Império e a sinfônica do samba lamentam o falecimento de seu baluarte. O Império declara luto oficial de três dias.”
Wilson das Neves não testemunhou a revolução que anunciava no samba que compôs com Paulo César Pinheiro. Em versos dizia que o Brasil mudaria, quando o morro descesse fora do carnaval, no entanto, as palavras do compositor, no entanto, seguem inspirando seja no morro ou no asfalto: “a evolução já vai ser de guerrilha e a alegoria um tremendo arsenal/ o tema do enredo vai ser a cidade partida / no dia em que o couro comer na avenida/ se o morro descer e não for carnaval.”
Começou a tocar como baterista de Chico Buarque na década de 1980 e por seu talento participou de cerca de 800 discos, em parceria com nomes como Elza Soares, Roberto Carlos, Elis Regina, Wilson Simonal, Elizeth Cardoso, Cartola, Nelson Cavaquinho, Clara Nunes, João Nogueira e Beth Carvalho. Recentemente, tocou com o rapper Emicida, participando da faixa “Trepadeira”. Com talento que extrapolava participou dos grupos Os Gatos e Os Catedráticos. Sambista do Império Serrano, foi parceiro de Aldir Blanc, Paulo César Pinheiro, Ney Lopes, Cláudio Jorge, Martinho da Vila, Moacyr Luz e Chico Buarque. Lançou-se como cantor em 1996, com o álbum “O som sagrado de Wilson das Neves”, em que registrou “O samba é meu dom”.
O talento e a genialidade de Wilson foram destacados por diversos artistas, que lamentaram a passagem do cantor, com a postagem de fotos em perfis da rede social. “Nosso profundo sentimento com a passagem de Wilson das Neves, um dos mais importantes músicos brasileiros. Nosso carinho para a família desse grande mestre”, disse Zeca Pagodinho. A cantora Teresa Cristina também se pronunciou. “Não há palavras para descrever o que representa a partida de Wilson das Neves. Sorte a nossa, de ter ouvido seus ensinamentos”, escreveu.
Parceiros de longa data, em 2015, Elza Soares e Wilson das Neves voltaram a se encontrar quando completava 47 anos da gravação do álbum Elza Soares – Baterista: Wilson das Neves. Em sua conta do Instagram a cantora demonstrou tristeza pela passagem do amigo: “Acabo de sair do palco, e receber a notícia sobre meu amado Wilson das Neves”. Fabiana Cozza lembrou do último encontro com o mestre, quando cantaram juntos O samba é meu dom", canção que Fabiana tomou emprestado para dar o título de seu primeiro trabalho. “Nosso último encontro em junho deste ano, na PUC-RJ. Eu não consigo dizer nada tamanha a minha tristeza. Só obrigada! Maria Gadu também postou em sua conta no Instagram: Ô sorte ter te conhecido e estado tantas vezes ao seu lado. Voa, Maestro!
O diretor de cinema Fernando Meirelles postou em sua conta no Instagram foto de Wilson na abertura das Olimpíadas do Rio de Janeiro, quando o bamba do samba dividiu o palco com o menino Thawan. Os dois vestidos de branco sambaram no centro do Maracanã na cerimonia que foi dirigida por Meirelles. “Dia triste. Foi-se Wilson das Neves” escreveu Meirelles.
Confira algumas fotos publicadas por artistas e amigos no Instagram:
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