terça-feira, 29 de agosto de 2017

O QUE MUDA COM O STREAMING?

Por David Dines



Com a revolução digital dos últimos 20 anos, a indústria da música promoveu um aumento contínuo dos padrões de volume e compressão das gravações. Como esse fenômeno muda com o controle desses níveis nas mãos das plataformas de streaming?

A guerra dos volumes teve seu início antes mesmo do surgimento do CD. No centro do fenômeno está a compressão, efeito que aumenta a intensidade geral de determinado som em detrimento de sua dinâmica, e é utilizado especialmente para definir o volume final da faixa no processo de masterização.

Desde a década de 1960, diversas gravadoras lançavam mão de uma compressão maior nas faixas de compactos do que de álbuns, para que soassem mais altas e se destacassem nas rádios e jukeboxes. Com o CD e o áudio digital, foi possível elevar o padrão da compressão para além do que era fisicamente possível no vinil, e o desejo de soar mais potente na competição com outras mídias (especialmente televisão e Internet) esbarrou numa limitação do próprio efeito: o excesso de compressão causa a distorção do som e, consequentemente, diminui a qualidade geral do áudio. Nos anos 2000, álbuns como “Death Magnetic“, do Metallica, chamaram a atenção de público e imprensa em todo o mundo para os níveis muito elevados de volume e compressão, que faziam com que a audição se tornasse mais cansativa do que prazerosa.

No início da década de 2010, instituições ligadas a áudio e telecomunicações desenvolveram uma nova maneira de se medir a intensidade do som gravado, criando a unidade métrica LUFS (“loudness units full scale”, ou unidades de intensidade em ampla escala), mais apropriada para avaliar a compressão geral de uma gravação. Com o surgimento do iTunes Radio, os serviços de streaming começaram a intervir no áudio e estabelecer seus padrões de LUFS, que buscam uniformizar a experiência do usuário ao escutar músicas de diferentes épocas e estilos.

Recentemente, o YouTube e o Spotify tornaram-se notícia em blogs especializados por terem fixado seus padrões de compressão sonora em, respectivamente, -13 e -14 LUFS, que são relativamente altos, mas não excessivos. O que isso significa, na prática? Que, caso você abuse da compressão na sua masterização, o volume da sua faixa vai ser diminuído até atingir o padrão da plataforma, não importando o desejo de soar mais alto. Sua faixa pode, inclusive, soar mais baixa no serviço de streaming do que outras músicas que tenham sido masterizadas em um volume geral inferior e que tenham mais amplitude dinâmica.

No fim das contas, o benefício é geral: músicos e selos agora devem entregar suas masters com volumes e compressão menos agressivos para que soem melhores ao público, acabando com práticas de mercado que empobreciam a qualidade final do áudio.

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