sábado, 9 de abril de 2016

PETISCOS DA MUSICARIA


DE QUEM SÃO ESSES CLÁSSICOS? (II)



Maestro Guio de Morais: “Pau de Arara”, parceria com Gonzagão, entre tantos sucessos

Semana passada, falei da canção “Último Pau de Arara”, composta por Venâncio, Corumba e José Rodrigues. Chamou a atenção o fato de ser uma música conhecida por todo mundo, porém com desconhecimento quase pleno de quem eram seus autores. Houve aqui manifestações de surpresa, até de nordestinos, ligados umbilicalmente com o gosto e a familiaridade com a música popular brasileira do Nordeste.

Meu mote continua o mesmo e trago mais um embaraço para nossas apreciações. Com o título contendo a expressão pau-de-arara, temos pelo menos três músicas: “O Último Pau de Arara”; “Pau de Arara”, de Guio de Morais e Luiz Gonzaga, que trago hoje, para mim uma obra-prima de lirismo; e por fim, “Pau de Arara” (subtítulo “Comedor de Gillete”), com letra jocosa e muitos clichês, que, gravada pelo comediante Ari Toledo, tornou-se retumbante sucesso nacional. Ari esteve tão bem na sua interpretação que muita gente achou que era nascido em nosso Nordeste.

Só vou fazer um suspensezinho, deixando para revelar os autores desta última na semana quem. Tenho certeza de que, como eu, os leitores ficarão perplexos. Ao começar a pesquisa, juro que nem desconfiava…

Com estas três canções muito semelhantes nos títulos, reforço, ainda mais, aqui, o quanto é fundamental a informação relacionada aos nomes, autores e intérpretes, por parte dos veículos de comunicação, shows, auto-falantes da praça principal e assim por diante.

Importante sobre as questões que reclamo desde o primeiro texto – a falta de compromisso de emissoras de rádio, por exemplo, de não ‘desanunciar’ as músicas, informando autores, intérprete e detalhes da execução.

Esta semana, vendo DVDs novos – ‘Edu, 70 anos’ e ‘Valencianas’, percebi que quando o trabalho é mais bem cuidado essa questão praticamente desaparece com a colocação das legendas com os nomes de música, autores etc. Na televisão, à exceção de “Sr. Brasil”, de nosso querido Rolando Boldrin, a maioria das demais emissoras de TV não está nem um pouco preocupada em registrar os dados a que me refiro, deixando não só os telespectadores desinformados, como impedindo o Ecad de contabilizar para os compositores, ou suas famílias os direitos autores, que lhes são de direito.

Pois voltemos para o nosso “Pau de Arara” de hoje, canção composta por Luiz Gonzaga e Guio de Morais, em 1952. Trago duas versões: uma com Dominguinhos e Waldonis, em espetáculo realizado em Nova Jerusalém-PE, para gravação do DVD do eterno sanfoneiro de Garanhuns. Depois, Chico Cézar mostra sua roupagem, sempre moderna e gostosa, para os sons de nossa música.

“Pau-de-Arara”, com Waldonis e Dominguinhos, de Luiz Gonzaga e Guio de Moraes:




Antes de soltar a versão com Chico Cézar, coloco aqui a simples e bela letra de “Pau de Arara”.

Quando eu vim do sertão,
seu môço, do meu Bodocó
A malota era um saco
e o cadeado era um nó
Só trazia a coragem e a cara
Viajando num pau-de-arara
Eu penei, mas aqui cheguei (bis)
Trouxe um triângulo, no matolão
Trouxe um gonguê, no matolão
Trouxe um zabumba dentro do matolão
Xóte, maracatu e baião


Tudo isso eu trouxe no meu matolão

Pau-de-Arara, arranjada e interpretada por Chico César:



Acho que posso pular o perfil de Gonzagão e ir direto ao do maestro Guio, possivelmente mais desconhecido do grande público, não?

Guio de Morais:

Este é o nome artístico de Guiomarino Rubens Duarte, nascido no Recife em 30 de julho de 1916. Artista completo, foi maestro, compositor, arranjador e pianista brasileiro.

Começou a atuar, com apenas 14 anos de idade, no conjunto “Os malucos do ritmo”. Foi diretor de espetáculos musicais. Dirigiu shows de cantores como Ataulfo Alves, Jorge Veiga e Aracy de Almeida.

Trabalhou como diretor artístico de diversas emissoras de rádio nordestinas. Já em Belo Horizonte, organizou sua primeira orquestra, intitulada de “Guio de Morais e Seus Parentes”.

Em 1950, teve o choro “Casca grossa” gravado na ‘Todamérica’ por Chiquinho do Acordeom. Nessa época, Luiz Gonzaga gravou aquele que seria um de seus maiores sucessos, o baião “No Ceará não tem disso não“.

Em 1952, noutra parceria com Luiz Gonzaga, foi gravado um dos clássicos da música popular brasileira: “Pau de arara”, que conta as agruras do migrante nordestino e seu deslocamento do nordeste em direção ao sudeste nos tristemente famosos caminhões “pau-de-arara”.

Em 1956, seu samba “Eu quero um samba” foi gravado por Léo Romano e gravou com sua orquestra pela ‘Todamérica’ o samba “Sua excelência o ritmo“, de Felícia Godoy, os motivos populares “Casinha pequenina” e “Prenda minha” com arranjos de Antônio Almeida e Felícia Godoy, o samba “Falsa baiana“, de Geraldo Pereira, e o maxixe “Artigo do dia“, de Felícia Godoy.

Em 1958, outro samba, “De perna bamba” foi interpretado pelo Trio Irakitan. Participou da excursão ao exterior idealizada por Humberto Teixeira, quando percorreram a Europa divulgando a música brasileira ao lado de Abel Ferreira, Sivuca, Pernambuco, Dimas e Trio Ikakitan.

Em 1962, teve a música “Sossego de você” gravada por Jamelão em “Jamelão canta para enamorados”. No mesmo ano, Jamelão gravou o samba-canção “Quem sou eu” no LP “Aqui mora o ritmo”. Atuou, na década de 1960, como maestro e arranjador na TV Globo.

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