Banda liderada por Paula Toller anunciou seu fim na última sexta-feira, após mais de 30 anos de carreira
Por Gustavo Foster
Bruno Fortunato, Paula Toller e George Israel anunciaram o fim do Kid Abelha, que não fazia shows desde 2012
Se a década de 1980 foi uma das mais férteis no que diz respeito à produção musical no Brasil, com bandas que ajudaram a popularizar o rock no país e fizeram com que o público cantasse temas importantes e atuais, foi o Kid Abelhaquem melhor sintetizou em terras tupiniquins o pop feito no mundo à época.
Formado por Paula Toller, um misto brasuca de Debbie Harry (frontwoman do Blondie, grupo divisor de águas no rock americano) e Kate Pierson (vocalista divertida e ousada do B52's, um dos marcos do pop daquele país), pelo saxofonista George Israel e pelo guitarrista Bruno Fortunato, o grupo vendeu mais de 9 milhões de discos em mais de 30 anos de carreira – sucesso que teve seu boom nos anos 1980 e deu fôlego para outras duas décadas de shows lotados, coletâneas de sucesso e álbuns ao vivo.
– Daquela geração, eles eram a banda que apontava para um caminho mais contemporâneo, de uma música pop brasileira de fato, que fazia algo alinhado ao que acontecia no pop daquela época – lembra o jornalista Ricardo Alexandre, autor do livro Dias de Luta: O Rock e o Brasil dos Anos 80, que completa: – Além de ser muito importante para uma geração que queria olhar para o mundo, o Kid Abelha foi uma banda que tinha o frescor e o orgulho pop que ninguém mais tinha.
Não é à toa, portanto, que nos cinco primeiros anos de banda há hits praticamente eternos, como Pintura Íntima, Como Eu Quero, Fixação, Alice (Não me Escreva Aquela Carta de Amor) e Lágrimas e Chuva. A qualidade das composições – algo que tem muito a ver com Leoni, membro formador da banda, que saiu logo no início do grupo –, somada ao visual da banda e ao apreço pelo pop podem ajudar a entender o legado que o Kid Abelha deixa após seu fim.
– Eu conheço todos eles, são ótimos, o George Israel, por exemplo, é um dos caras mais generosos e excêntricos do rock nacional – diverte-se Thedy Corrêa, vocalista do Nenhum de Nós. – Era uma banda hitmaker. Principalmente com o Leoni, que foi quem deu o pontapé inicial com eles, era uma banda que não tinha medo de ser pop.
Paula Toller, George Israel e Bruno Fortunato, na prática, não tocavam juntos desde 2012. O último show foi no Rio, no dia 15 de dezembro daquele ano, quando encerraram a turnê que comemorava os 30 anos do grupo. Na última sexta, o grupo divulgou uma nota em que agradece aos fãs e informa que o rompimento foi "suave":
Querido fã:
Temos sido chamados para entrevistas sobre nossos projetos atuais, e claro, sempre há alguma pergunta sobre o Kid Abelha, nossa banda durante mais de 30 anos e que nos trouxe grandes alegrias na vida. Com gentileza, procuramos sempre contar a verdade, mas, surpreendidos por algumas publicações equivocadas, estamos fazendo este esclarecimento.
A vontade de experimentar outras formas de criar e o desgaste natural de tanto tempo juntos nos levaram a essa decisão. Optamos por um soft-ending, um final suave, evitando o sensacionalismo, com a convicção de que nossa trajetória vitoriosa sempre se deveu ao entusiasmo e dedicação sempre renovados a cada disco, cada turnê.
Foram três décadas de sucesso, aventuras, amizade, e também de momentos difíceis, altos e baixos dessa carreira desafiadora que escolhemos. Pela nossa filosofia e pelo amor à música, nunca tivemos o dinheiro como norte, e sim como conseqüência (ou não) de um trabalho original e bem realizado, que se tornou paradigma de pop-rock brasileiro.
Mas faltou o mais importante: Agradecer em negrito, com letras garrafais, a você!
Ao fã que nos acompanha há tanto tempo, viajando para nos assistir ao vivo, escrevendo cartas, mandando mensagens e comentando nas redes sociais, elogiando, criticando, se preocupando...a esse amigo, que convida seus amigos a nos ouvir, e cuja vida está marcada através das canções que nós fizemos, e cujo carinho e atenção também marcaram nossas vidas, MUITO OBRIGADO!
Saiba que, do fundo do coração, não nos esqueceremos nem dos aplausos, dos gritos e da voz em coro nos grandes eventos, nem de cada voz isolada num quarto, entoando uma melodia também criada num quarto, na solidão, na vontade de vencer o tédio e a tristeza através de uma canção bonita.
Com amor;
Paula, George e Bruno.
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