quinta-feira, 21 de abril de 2016

BANDA AVE SANGRIA BUSCA INDENIZAÇÃO NA JUSTIÇA POR CENSURA NOS ANOS 1970

Interdição da música Seu Waldir resultou na proibição da venda do LP e no fim da banda




Banda durante apresentação no Teatro de Santa Isabel em 2014. Foto: Rapha Oliveira/Divulgação 


Após mais de 40 anos, a banda de rock pernambucana Ave Sangria pode estar próxima de consertar uma injustiça do passado. Na época, o grupo havia acabado de lançar o primeiro e único LP, com o mesmo nome, pela gravadora Continental. A postura transgressiva, inspirada por artistas gringos como Rolling Stones e David Bowie, não impediu que o samba-rock Seu Waldir fizesse sucesso. Tudo mudou, no entanto, quando a letra caiu na censura da Ditadura Militar, e o disco teve que ser retirado das lojas. Hoje, a banda busca indenização na Justiça pelos danos causados.

"Destruiu a banda. Foi como um balde de água gelada. Não tinham nem como continuar depois daquilo. Pense, gravar um disco não era fácil. Logo quando lançamos o primeiro, acontece aquilo. Isso fica marcado.", revela Almir de Oliveira, baixista e violonista da banda.

O baque da censura não só causou a separação, como quase fez com que a banda fosse esquecida pelas gerações posteriores. "As pessoas não sabem hoje como era aquele sacrifício todo. Ter que ir na Polícia pra liberar show, tocar pra policial, carregar instrumento de um lado pro outro. Chega uma hora que cansa. Estava um dia na casa de um amigo e minha mãe chegou desesperada, chorando, dizendo que um policial tinha invadido a casa e revirado meu quarto todo", desabafa Almir.

O atual processo de indenização partiu do advogado brasiliense Fernando Antunes, que se interessou pela história após ver o documentário Sons de gaitas, violões e pés. Logo depois, ele entrou em contato com o trio original, formado por Marco Polo (vocais), Paulo Rafael (guitarra) e Almir para que se formalizasse o processo. As famílias dos falecidos Ivinho (guitarra), Agrício Noya (percussão) e Israel Semente Proibida (bateria) também serão contempladas. "Não sei ao certo o valor que ele está pedindo. Mas a maior recompensa é a justiça. Aquilo acabou com a nossa carreira", diz Almir.

A banda se separou ainda em 1974, após dois shows no Teatro de Santa Isabel. "Chegamos a reunir mais de duas mil pessoas no teatro. Tudo organizado. Ninguém quebrou nada. Foi um sucesso". A gravação do show virou o álbum ao vivo Perfumes y Baratchos, que circulou por anos na internet até ganhar lançamento oficial em 2014.


Futuro

A Ave Sangria retornou aos palcos em setembro de 2014, 40 anos depois do último show. A ocasião marcou o relançamento em CD e vinil do único álbum de estúdio, e ainda o disco ao vivo. Depois, eles levaram o show a outras cidades, como São Paulo e Santa Catarina.

A ideia é gravar mais discos, mas Almir destaca a dificuldade do processo. "Estamos estudando as possibilidades. Cada um tem seus compromissos. Fica complicado juntar todo mundo no mesmo lugar pra gravar. As agendas tem que encaixar, mas estamos vendo...", revela.



Fonte: Diario de Pernambuco

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