domingo, 24 de abril de 2016

LUIZ EÇA, 80 ANOS


Luiz Eça teve formação de piano clássico e teoria musical a partir dos cinco anos de idade.


Em 1958, quando já era músico profissional e se apresentava na noite do Rio de Janeiro, recebeu uma bolsa do Governo brasileiro para aperfeiçoamento em piano clássico e orquestração na Áustria, onde passou dois anos. 

Lá, contou entre seus mestres com Friedrich Gulda – grande pianista erudito e um dos raros músicos a fazer carreira tanto nos clássicos quanto no jazz. 

Sempre rebelde, Luiz Eça usou uma composição popular – “Duas contas”, de Garoto – para escrever um arranjo de piano e quarteto de cordas no Conservatório de Viena; e, revoltado com a má recepção da sua idéia, resolveu encerrar sua primeira temporada européia. 

“Eu expulso a Academia de minha vida”. 

Mas essa rebeldia revela um aspecto quase desconhecido de sua formação. Luiz Eça, ainda bem jovem, tornara-se amigo de Garoto e passara a conviver com o círculo do violonista, que incluia Radamés Gnattali, Bené Nunes, Chiquinho do Acordeom e vários chorões. Além do clássico e do jazz, Luiz Eça teve uma forte raiz brasileira. 

“Numa tarde havíamos combinado um encontro em sua casa. Fui entrando, chamando por ele [Garoto] e o encontrei morto debruçado sobre o violão. Ele acabara de morrer – em 3 de maio de 1955 – e ainda tinha um sorriso. Infarto fulminante.” (Luiz Eça) 

“Sábado, 03 de julho [de 1954]: Luizinho e Candinho estão passando estes dias conosco. À noite, chorinho gostoso com Radamés”. (do diário de Garoto)




Iniciou sua carreira nos anos 1950 como pianista de casas noturnas no Rio de Janeiro. Antes mesmo de completar a maioridade, participou de encontros musicais como os ocorridos na casa do saxofonista Paulo Moura. Freqüentou também boates cariocas, onde ia ouvir músicos mais experientes como Johnny Alf, o qual acabou substituindo na Boate Plaza, no trio formado também por Ed Lincoln (contrabaixo) e Paulo Ney (guitarra). Mais tarde, com a saída de Ney, entraram no grupo João Donato (acordeom), Milton Banana (bateria) e a crooner Claudette Soares. 

Trabalhou na Rádio Mayrink Veiga onde, ao lado de Candinho (violão) e Jambeiro (contrabaixo), formou o Trio Penumbra. 

Na década de 1950, lançou os LPs "Uma noite no Plaza" (1955) e "Sambas da saudade - Luizinho e seu piano" (1956).

Participou ativamente como músico da chamada primeira fase da Bossa Nova (1958-1962), acompanhando inúmeros cantores da época. 

Gravou, em 1961, com o trombonista Astor, o LP "Luiz Eça & Astor - Cada qual melhor!". 

Formou o Tamba Trio, inicialmente ao lado do contrabaixista Otávio Bailly e do baterista Hélcio Milito. Em seguida, Otávio foi substituído por Bebeto Castilho, que tocava sax e flauta, e mais tarde a formação final contou com Dorio (baixo) e Ohana (bateria). O trio foi pioneiro na realização de pocket-shows, no Bottle's Bar do famoso Beco das Garrafas, reduto da Bossa Nova no Rio de Janeiro, e lançou vários discos. 

Ainda nos anos 1960, excursionou junto com o trio pelos Estados Unidos e Argentina. 

Estreou como arranjador no disco "Barquinho" da cantora Maysa, lançado em 1961 pela Columbia. 

Em 1968, dividiu, com Radamés Gnattali, o LP "Os 6 mais numa imagem barroca".

Formou o conjunto A Sagrada Família, com o qual lançou, em 1970, o LP "Luiz Eça e La Familia Sagrada". Nesse mesmo ano, gravou os LPs "Luiz Eça, piano e cordas" e "Brazil 70". 

Ainda na década de 1970, lançou os LPs "Vanguarda" (1972), com o Quinteto Villa-Lobos, "Laços Concerto Show", com Cláudia Versiani e Marcos Paulo (1976, e "Antologia do piano" (1976). 

Na década de 1980, lançou os LPs "Patápio Silva;Altamiro Carrilho, Luiz Eça, Galo Preto e Banda do Corpo de Bombeiros do Estado do Rio de Janeiro" (1983), "Luiz Eça" (1984), "Triângulo" (1985), com o baterista Robertinho Silva e o baixista Luiz Alves, "Pra tanto viver", com Pery Ribeiro, e "Duas suítes instrumentais", com o violinista Jerzy Milewski.

Constam também de sua discografia "Encontro marcado" (1992), com Maria Petersen, "Luiz Eça e Victor Assis Brasil no Museu de Arte Moderna" (1993) e "Luiz Eça Trio" (1995).

Foi professor de jovens músicos, tendo sua atividade didática registrada na dissertação de mestrado da pianista Sheila Zaguri "A harmonia criativa: uma descrição dos procedimentos didáticos de Luiz Eça", defendida em 1996 na UNIRIO. 

Atuou como pianista da casa noturna Chiko's Bar, no Rio de Janeiro.


Faleceu no dia 25 de maio de 1992.



Em 2003, foi lançado o CD "Reencontro", contendo obras de sua autoria: "Dolphin", "Alegria de viver", "Reencontro" (c/ Fernanda Quinderé), "Melancolia" (c / Ronaldo Bôscoli), "Oferenda" (c/ Lenita Eça), "Três minutos para um aviso importante" (c/ Novelli), "Quietly (Simplesmente)" (c/ Dorio e Ohana), "Imagem" (c/ Aloysio de Oliveira), "Reflexos" (c/ Fernanda Quinderé), "Weekend", "Quase um adeus" e "Prelúdio Pai e Filho". O disco contou com arranjos de Francis Hime, Mario Boffa Jr., Chico Adnet, Gilson Peranzzetta, Wagner Tiso, Mario Adnet, Alberto Rosenblit, Célia Vaz, Nelson Angelo, Jaques Morelenbaum e Nivaldo Ornelas, além do próprio compositor (na faixa "Quase um adeus").

Em 2004, Michel Legrand gravou, no Brasil, o CD "Michel Legrand - Luiz Eça", com a participação de Sérgio Barroso (contrabaixo), Kiko Freitas (bateria), Idriss Boudrioua (sax soprano), Jessé Sadoc (trompete e flugelhorn), Marcos Nimrichter (acordeom), Jaques Morelenbaum (cello) e Zé Nogueira (sax soprano), além de Francis Hime (piano elétrico), Ivan Lins (piano elétrico e voz) e Mario Adnet (violão), responsável também pela produção musical do disco. No repertório, as composições de Luiz Eça "Mestre Bimba" (c/ Bebeto e Hélcio Milito), "Dolphin", "Daielle" (c/ Bebeto), "Alegria de vivier", "Valsinha urgente para um cidadão passageiramente triste", "O homem" (c/ Fernanda Quinderé), "Lá vamos nós" (c/ Ruy Guerra), "Melancolia" (c/ Ronaldo Bôscoli), "Sempre será" (c/ Bebeto) e "Imagem", além de "Febrônio", esta recuperando um encontro entre os dois pianistas.

Fontes:
Dicionário da MPB
Músicos do Brasil

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