sábado, 16 de janeiro de 2016

PETISCOS DA MUSICARIA


OS MAIS IMPORTANTES CONJUNTOS MUSICAIS BRASILEIROS (III) – OS NOVOS BAIANOS




Os Novos Baianos



O que mais me impressionou ao ouvir e começar a colecionar os discos lançados pelos “Novos Baianos” no finzinho dos anos 1960, início dos 1970 foi a mixagem da guitarra mais eloquente daquele momento – Jimmy Hendrix, com o mais genuíno e brasileiro “Brasil Pandeiro”, do baiano, de Santo Amaro da Purificação, Assis Valente.

Músicas autorais de uma originalidade incomum, desconhecida mesmo aos ouvidos mais vanguardistas e uma gana quase irresponsável de lançar sons, um atrás do outro, com uma qualidade técnica e buscando uma novidade musical, que naquele momento tínhamos dificuldade de reencontrar.

Em algumas das três/quatro vezes que morei ou permaneci da Bahia, tinha como sonho me introduzir no grupo “d’Os Novos Baianos” e passar a viver aquela vida quase dadaísta, mas absolutamente ligada com o mundo da natureza e o mundo das grandes questões sociais e econômicas mundiais, bem como as mais prosaicas questões existenciais como revela a canção “Só se não fora brasileiro nessa hora”, de Moraes e Galvão, em que o “menino deixa a vida pela bola, só se não for brasileiro nessa hora”.

As letras dos Novos Baianos eram todas nossas, dos brasileiros, calados acuados, medrosos, mas ainda livres no pensamento mudo. Era a letra que atenuava os gritos de pavor e de dor dos ouvidos de verdade na fase mais dura da ditadura de 1964.

Brasil Pandeiro – música de Assis Valente – 1940:




Queria ser e muitos queríamos ser os Novos Baianos não só pela musicalidade extremadamente nacional, mesclando ou deglutindo todos os sons que nos chegavam das guitarras incendiadas do estrangeiro.



Queria ser um deles, porque viviam juntos, em comunidade, no “Sítio do Vovô” em Jacarepaguá, em vida coletiva, com afazeres designados ou aceitos por ofício. A comida, a roupa lavada, o sexo, as crianças, o convívio com a natureza, a liberdade – pelo menos aquela dali, daquele microcosmo.



Queríamos ser eles, porque jogavam futebol na hora do recreio, com todos jogando o “baba”, os bons e nem tanto pernas de pau, às vezes acompanhados por craques de fino trato e de cabeça avançada, com barba acintosa, como nosso “prezado amigo Afonsinho”.



E compor? Era a parte mais fácil!!! Não sei, mas era aquela que exigia uma concentração maior. No grupo dos músicos, Pepeu, o primeiro músico da banda, Baby Consuelo, cantora, Paulinho Boca de Cantor e os compositores cotidianos Moraes, que entrava ainda com voz e violão, e Galvão. Esse o núcleo original. Nas apresentações em palco, contavam com Dadi, no baixo, e Jorginho Gomes (irmão de Pepeu), na bateria.

Dos 9 (nove LPs) gravados, pelo menos dois são discos espetaculares: “Acabou Chorare” e “Novos Baianos F. C.”. Para quem não sabe, “Acabou Chorare” foi eleito pela revista ‘Rolling Stone’ como o melhor disco da história da música brasileira, em outubro de 2007.


Nas enciclopédias oficiais, os “Novos Baianos” são apresentados como conjunto musical brasileiro, originado na Bahia, ativo e no auge entre os anos de 1969 a 1979.

Marcaram a música popular e até o rock brasileiro dos anos 1970, utilizando-se de vários ritmos musicais brasileiros que vão da bossa-nova, frevo, baião, choro, afoxé, indo até o rock.

A Menina Dança – música de Moraes/Galvão – 1972


O grupo lançou vários trabalhos antológicos para a MPB. Influenciados pela contracultura e pela emergente “Tropicália”. Eram todos baianos, à exceção de Baby, que nasceu em Niterói-RJ, mas que adotou a Bahia no coração.



Seu som era produzido pela mescla da guitarra elétrica, baixo e bateria, com cavaquinho, chocalho, pandeiro a agogô.



Afonsinho, grande atleta e revolucionário do futebol e Galvão, letrista dos Novos Baianos


Onde entra João Gilberto

Não foi só de folia e caos que viveu o grupo. Os Novos Baianos também encontraram calma, reflexão e poesia em conversas João Gilberto, que Galvão conhecia desde a infância, quando ambos moravam em Juazeiro, na Bahia.

Além de influenciar diretamente na sonoridade celebrada de “Acabou Chorare”, o pai da bossa teve papel importante na própria criação do grupo.

“Em Juazeiro, eu já tinha mostrado alguns poemas para ele, que nem existem mais, foram perdidos. Ele dizia: ‘se você fizer isso no Rio e São Paulo, vai dar certo, as pessoas não pensam assim’. Quando fui dormir, pensei nisso que João Gilberto falou e escrevi para ele nos Estados Unidos: ‘estou indo fazer o que você falou, João’. E criou-se o Novos Baianos”, conta.


Espero que apreciem!

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