sábado, 9 de janeiro de 2016

PETISCOS DA MUSICARIA

OS MAIS IMPORTANTES CONJUNTOS MUSICAIS BRASILEIROS (II) – OS MUTANTES




Os Mutantes

“O verão de 1972 em Salvador foi um dos mais efervescentes que se tem notícia. Em plena ditadura militar, as coisas aconteciam num universo paralelo e a malucada sabia onde encontrar diversão e alternativas para o ambiente cinzento do Brasil da era Garrastazu Médici”.

Estas eram as palavras que procurava para abrir o texto sobre os “Mutantes”, um dos mais importantes conjuntos musicais do Brasil em todos os tempos. Foram escritas em 2009 por Alexandre Mathias, no site “Trabalho Sujo”.

Antecipo-me aos muxoxos ou ao inevitável “impossível fazer uma lista destas sem a banda fulano de tal…”.

Nem pretendo criar ranking, nem os dez mais e muito menos estabelecer como paradigma a minha particularíssima visão de quais conjuntos firmaram-se como dos mais importantes na expressão musical brasileira.

Nestes quase 50 anos de ouvinte proativo tenho sim uma listinha dos que considero mais importantes, por fatores diversos: musicalidade, estética, vanguardismo, performance, repertório, qualidade e quantidade de canções compostas, projetos de apresentar a música e a musicalidade.


Ela tem os “Mutantes”, e em seguida, a um ponto de distância, “Os Novos Baianos”. Depois uma miscelânea que vai de “Os Oito Batutas”, “Quinteto Violado”, “Secos e Molhados” e “Quarteto Novo” (de curtíssima duração), entre outros. Nesse instante, por exemplo, num debate aberto em mesa de bar, que é lugar sagrado para discussão desta monta, me limitaria a dizer: “tenho certeza de que “Os Novos Baianos” e “Os Mutantes” certamente são os melhores. Os demais. Depois eu vejo”.



Os Mutantes – Balada de um Louco – Rita Lee e Arnaldo Baptista:

Pois quando encontrei a frase do Alexandre citada acima, na verdade procurava apenas confirmar a presença de Rita Lee. Ela estava ou não presente no show, que, vejam, tive a sorte de assistir lá na concha acústica do Teatro Castro Alves, em 28 de fevereiro de 1972. Pois bem, como diria o Carlinhos não posso “afirmar afirmativamente” que Rita tenha participado daquele showzaço. Vez por outra, relembro deste show como o mais louco, maravilhoso, estupendo e avassalador que vi na minha vida.


Era o momento em que Rita estava saindo do grupo e acabara de se separar de Arnaldo Baptista. Tinham terminado de gravar “Os Mutantes no país do Baurets”, em homenagem a Tim Maia, que chamava de baurets o cigarro de maconha.

Os integrantes dos Mutantes eram Arnaldo Baptista, seu irmão Sérgio Dias, Rita Lee, e contava com as participações de Liminha, no baixo e Dinho, na bateria.

Domingo no Parque, com Gilberto Gil – 1967:




Voltando ao verão de Salvador, ainda no relato do “Trabalho Sujo” naquele dia “o show estava marcado para as 21 horas e as arquibancadas da ‘Concha” já estavam completamente lotadas com mais de uma hora para o seu início. As encostas da Concha ali pelos fundos das Sacramentinas estavam repletas de invasores que pularam o muro do colégio e para lá se dirigiram.

Uma incrível ansiedade pairava no ar. As luzes da plateia se apagam, as luzes do palco se acendem e quando os Mutantes surgem o público vibra e fica de pé. Arnaldo com uma camisa de listras horizontais pretas e brancas se dirige ao teclado e fala ao microfone um sonoro “boa noite”. Dinho inicia uma marcação inacreditável, os vocais puxam “uláriii…uláriiii”… e a banda vai atrás. “Top top”. Pronto, o rock´n´roll baixou ‘de com força’ na terra da magia e ninguém mais ficou parado. Os hits se alternavam e aqueles anunciados 1000 watts de puro som se confirmavam a cada segundo. Tudo perfeitamente equalizado – instrumental e vozes, e o carisma da banda impressionava todos os presentes.


O Conjunto

Em 1964, os irmãos Arnaldo Baptista e Claudio Cesar Dias Baptista, juntamente com Raphael Vilardi e Roberto Loyola, fundaram o grupo “The Wooden Faces”. Um ano depois, conheceram e convidaram Rita Lee, – então no Teenage Singers – a integrar a banda. Ainda entraria Sérgio, o caçula dos Baptista. A nova banda passou a chamar-se “Six Sided Rockers”, depois “O Conjunto” e “O’Seis”, vendeu menos de 200 cópias. Ainda naquele ano, Cláudio César, Raphael e Roberto deixaram o grupo.

Em 1966, gravaram um compacto simples pela Continental com as composições “Suicida” (de Raphael e Robeeto) e “Apocalipse” (de Raphael e Rita), que vendeu menos de duzentas cópias.

Arnaldo, Rita e Sérgio mantiveram o grupo, que foi rebatizado com o nome definitivo de “Os Mutantes” – na época, Sérgio e Arnaldo leram o livro “O Império dos Mutantes”, ficção científica de Stefan Wul. Ronnie Von, uma das estrelas da Jovem Guarda, comandava o então programa dominical “O Pequeno Mundo de Ronnie Vin”, transmitido pela Record, e não havia gostado do nome anterior. Em 15 de outubro de 1966, Os Mutantes estrearam no programa.


Foto 2 Panis et Circenses

Panis et Circensis – Caetano Veloso e Gilberto Gil:




No início de 1967, mudanças na direção artística do programa do Ronnie reduziram gradativamente as apresentações dos Mutantes. À convite do maestro Chiquinho de Moraes, da Rede Bandeirantes, eles se exibiram no programa “Quadrado e Redondo”, apresentado por Sérgio Galvão. Nessa época, conheceram outro maestro, Rogério Duprat, que teria papel decisivo na história do trio. Apadrinhados por Duprar, “Os Mutantes” começaram a participar dos grandes festivais de música popular brasileira, que viviam sua fase áurea.

Em 1968, a banda participou, ao lado de vários artistas, de “Tropicália ou Panis et Circenses”, disco-manifesto do Movimento Tropicalista. No mesmo ano, participou de duas sequências – filmadas na boate “Ponto de Encontro” – de “As Amorosas”, de Walter Hugo Khouri, estrelado por Lilian Lemmertz, Paulo José e Anecy Rocha.

Semana que vem tem mais. Boa leitura!

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