quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

MACHO, FUJA DO SEU AMIGO CORNO E CIUMENTO, POIS ELE PODE BOTAR VOCÊ NUMA FRIA

Por Abílio Neto



Hoje vou falar de dois assuntos palpitantes: ciúme e chifre. E trago à baila um caso real de um corno brabo que se tornou um corno convertido, que é aquele que depois de chifrado aceita Jesus e se torna um corno bíblico, portanto, manso e pacífico. E passa a levar uma “vida de corno”, tal e qual esses versos iniciais da música gravada por Falcão:

“Canto esse brega rasgado / Só pra me vingar de um alguém que eu amei / Que me botou tanta ponta / E eu não sabia mas agora eu sei…”

O ciúme é uma das chagas da humanidade. A mulher que tiver um marido muito ciumento viverá num inferno, do mesmo modo que a recíproca é verdadeira. O ciúme sem controle leva à violência contra as mulheres. Se você vir as estatísticas da Polícia sobre crime passional no Brasil, sente-se e respire profundamente porque a coisa é muito séria. Um mal que avança sobre a classe média, que, melhor instruída, sempre soube lidar bem com o tema. Agora vou narrar o caso verídico que testemunhei.

Certa vez perdi uma amizade boa por causa de um marido ciumento. Isso foi lá pelo fim da década de 70. Eu namorava uma garota que tinha como amigos um rapaz de apelido Didi e sua esposa. A mulher dele era uma moça linda, saudável, apetrechada de um buzanfã fabuloso (daquele que os canalhas olham e dizem: quem tem um material desse só é pobre se quiser) e ainda por cima andava se rebolando. Ela era a bomba atômica em carne e osso e ele o pavio curto que podia explodir tudo a qualquer momento. Senti que o cara era ciumento em excesso e até evitava olhar pra moça, mas saíamos de vez em quando para ir a um cinema, um barzinho com música ao vivo ou até uma praia porque ninguém é de ferro.

O velho cinema São Luiz funcionava normalmente e um domingo, fomos, os quatro, ver um bom filme numa das sessões da tarde. Ao sairmos e antes de apanharmos o carro no estacionamento, passamos na calçada por três rapazes que visivelmente olharam de baixo até em cima para a mulher de Didi. Ele viu e não gostou e pouco adiante, desconfiado, se virou e percebeu que eles ainda olhavam o traseiro da sua amada. Voltou e foi discutir com os jovens atrevidos. Fizeram uma confusão danada e nisso um dos três falou: – olhei mesmo e daí? Sua namorada é bonita e boazuda!

Nisso, Didi partiu pra cima do rapaz como o Leão da Ilha do Retiro quando quer estraçalhar o bicho fedorento dos Aflitos e a mulher dele saiu correndo feito uma louca para apartar aquele provável início de briga. E conseguiu! Eu fiquei parado feito uma estaca, olhando e comentando o fato com a minha então namorada. Disse que achava aquele furor dele um desperdício, afinal um olhar não come nem tira pedaço. Na volta, Didi se arretou comigo, afirmando que, como amigo, eu não o defendi. E eu lhe disse sincera e pausadamente na ocasião: – você não sabe que a sua mulher chama a atenção? Então, comporte-se. Eu jamais vou comprar briga de marido ciumento.

E fiz muito bem. Eles esfriaram a relação comigo, porém aproximadamente um ano depois eu soube que o noivo da irmã de Didi arranjou um emprego para a mulher dele como secretária numa fundação que era dirigida por ele. Não demorou muito para sua irmã descobrir que sua cunhadinha estava lhe pondo chifres com o noivo dela. Foi um ba-fa-fá dos seiscentos diabos na família dele com a irmã o chamando de corno e dizendo que sua mulher não passava de uma putinha desclassificada. Didi separou-se por insistência da sua família, mas chorava todo dia por ter perdido sua gostosona. A irmã quase rompeu o noivado, mas obrigou o noivo a demiti-la do emprego. Além disso, passou a chamar o irmão de corno depressivo. Didi se transformou num evangélico. Andava com a Bíblia debaixo do braço e, bom cristão, perdoou a mulher, mas isso eu desconhecia.

Alguns meses depois eu encontrei na areia da praia de Boa Viagem um irmão dele que era professor universitário (UFPE) e perguntei como ele ia passando; se já tinha esquecido a ingrata da sua esposa que o traiu. A resposta dele me convenceu de uma coisa, que chifre acontece por vocação. Didi nasceu com essa inclinação pra ser corno e seguia feliz ao lado da galheira. Ou então era um homem que sabia piedosamente perdoar, tornando-se um legítimo corno evangelista. Mas vamos às palavras do irmão que eu ouvi: – aquilo é um corno safado e conformado. Eu não quero mais conversa com ele, assim como o proibi de frequentar minha casa. Eu fiquei desapontado e imaginando como corno sofre. Ou não! A única certeza que tenho é que Didi era pior do que aquele cara retratado na música “Lá Vai Ele”, de autoria de Alípio Martins e Marcelle, interpretada brilhantemente pelo cantor cearense Falcão no CD feito para homenagear antecipadamente os quinhentos anos de descobrimento do Brasil: “500 anos de chifre”, lançado em 1999. O sujeito da música pelo menos ignorava que era enfeitado. Didi não. E assim, pra sua família e amigos ficou conhecido como corno diplomado, convencido e laureado. O que ele sentia pela sua mulher era um amor da porra! Mesmo traído, para ele sua gostosa era my little coffer of love. Analisando sem desprezo o seu caso, acho hoje que ele teve uma grande motivação para se conformar: sua mulher era bonita, alegre, extrovertida, afetiva, ótima mãe e, acima de tudo, gostosa, muito gostosa! Quem sou eu para condenar Didi se afinal a borracha do tempo apaga tudo e ele era visivelmente um felizardo ao lado dela? Além do mais, tudo na vida tem um custo, até a gostosura de uma mulher.

Dos chifrudos que eu tomei conhecimento, há muita gente bem mais perigosa do que Didi. Um exemplo é aquele norte-americano que quase mata um velho. Ele tem a cabeça bem mais ornamentada e complicada do que a do meu amigo. Olhem bem a foto dele e me digam se estou errado ou não. Esse cara, aos 28 anos em 2010, foi preso na cidade de Tulsa, em Olkahoma, depois de tentar atropelar um idoso. Adepto do “body modification”, mandou implantar pequenos chifres na cabeça. É um chifrudo real. O idoso que esse estranho homem queria matar é vizinho da sua mãe e dono do apartamento onde o chifrudo mora com ela. Após ser preso, o norte-americano pagou fiança de US$ 10 mil e foi liberado. Esse corno da testa modificada realmente faz medo. Quem receber uma cabeçada dele ficará lascado!


Aqueles que conheceram a história de Didi, o brabo que amansou após os galhos invisíveis que a mulher lhe pôs no quengo, se não tivessem piedade cristã no coração, ao cruzarem com ele pelas velhas ruas do Recife, poderiam até cantar baixinho a mencionada música de Alípio Martins, grande sucesso de 1989, que já teve várias regravações. Vamos recordá-la agora na voz do impagável Falcão. Às vezes eu penso que a vida do corno é melhor do que a do normal. Será mesmo?



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