sábado, 16 de fevereiro de 2013

SAMUEL CARNERO - ENTREVISTA EXCLUSIVA

De fina estirpe, o cantor, poeta e compositor Samuel Carnero expõe em melodias as crônicas e poemas compostos ao longo dos últimos anos.

Por Bruno Negromonte




O contexto cosmopolita ao qual Samuel Carnero está inserido não interferiu de modo algum em sua arte. Pelo contrário, talvez venha daí a essência de seus versos e melodias. De família de músicos e poetas, o artista foi protagonista em janeiro da pauta intitulada "A CRÔNICA, A MÚSICA E A POESIA COSMOPOLITA DE SAMUEL CARNERO" e agora retorna ao nosso espaço para esta entrevista exclusiva, onde nos fala, dentre outras coisas, das reminiscências de infância, o modo como concilia sua condição de poeta e cronista, seu álbum "Eu não posso parar", entre outras informações interessantes. Carnero, que vem gravando seu mais recente EP, deu uma pausa na gravação para nos conceder gentilmente esta entrevista exclusiva conforme o público leitor pode averiguar abaixo. Boa leitura a todos!


Você é um artista que toda uma genealogia que de certo modo o enveredou para a música. Quais as reminiscências de infância mais marcantes dessa família tão musical? 

Samuel Carnero - A arte sempre esteve presente na Família Lopes (ascendência materna). Ainda morando em São Paulo, na infância, me lembro da Vitrola Phillips 1983, onde eu e meu pai Gérson cantávamos e brincávamos de entrevistas. Lembro também de minha mãe Roseli ter me dado de presente uma cítara infantil, com algumas partituras. Sempre tinha música tocando em casa, LP´s, K7´s e Rádio. De cantores nacionais à internacionais. De Agepê à Chitãozinho & Xororó, de Erlon Chaves à We Are The World – “USA for Africa”. Já morando em Parapuã – SP, aos 9 anos de idade, eu sempre ia à casa de minha avó Maura, onde minhas tias cantavam, tocavam piano, faziam piadas, recitais...até hoje elas fazem isso. São artistas de alma. Compositoras, escritoras, artesãs, regente de coral e pianistas. Aos 12 anos mais ou menos peguei o violão de minha tia Nely e fui fazer aula no conservatório da cidade.


Já que havia músicos e poetas em sua família, em algum momento você se questionou em qual dessas veredas iria seguir ou você desde o início procurou conciliar versos e melodias? 

SC - Gosto muito de escrever sobre qualquer assunto, mas antes de saber escrever, eu já cantava e balbuciava palavras, por volta de 2 ou 3 anos de idade. A fusão letra / melodia vem naturalmente em meu processo de composição. Quando consigo musicar uma letra (crônica, poesia, homenagem...), fico muito feliz. Mas quando não tem como, o texto então fica apenas como texto mesmo, em blogs. É gratificante poder musicar um texto meu ou de alguém.


Você tem uma relação muito íntima, enquanto cronista e poeta, com a questão da escrita. Como se dá o seu processo de composição? Devido a essa condição de escritor é mais fácil a elaboração das letras antes das melodias ou isso não é problema? 

SC - O meu processo de composição musical não segue uma regra ou sequência. Quando bate a inspiração, eu crio a melodia ou a letra, ou as duas ao mesmo tempo. Tenho poesias que demorei 2 anos para musicar, como tenho melodias ainda sem letras. Mas sempre sinto que uma hora sai [risos].


Segundo sua biografia o início do seu processo de composição se deu ainda na época da Escola de Engenharia a cerca de 10 anos atrás. Deste álbum existe alguma dessa período?

SC - Sim, da época da faculdade existe LIRIOS, o reggae.


Atualmente você é colaborador de alguns espaços literários com as suas crônicas e suas poesias. Locais como o “Tribuna escrita” e o “Beco dos poetas” têm publicações suas. Você pretende ou já cogitou em algum momento juntar essa produção e publicar algo forma de livro? 

SC - Esses blogs são muito legais. Tribuna Escrita é de um amigo baiano, o poeta Manoel Hélio, grande pessoa! Já o Beco dos Poetas e Escritores é blog, sarau e editora literária, dos queridos Márcio Marcelo e Maria Jeremias. Eu tenho poesias publicadas em compêndios do “Beco”, de autores diversos. E sim, num futuro próximo pretendo escrever livros. Só ainda não sei sobre os gêneros: poesia, espiritualidade, sociedade, religião ou ciência. Ser eclético e universalista como eu às vezes embola o meio de campo [risos].


Em que momento você decidiu que deveria seguir carreira artística e começou a arquitetar o sonho da gravação do seu primeiro disco? 

SC - Desde pequeno eu gosto das artes e de me expressar para o mundo, seja na forma falada, escrita, tocada ou cantada. Foi o meio que encontrei para externar meus sentimentos. Sempre que posso ou tenho oportunidade, me apresento artisticamente. A gravação de meu primeiro disco se deu pois eu tinha mais ou menos 30 músicas gravadas em demos caseiras e muito toscas no formato voz / violão. Então senti que estava na hora de selecionar umas faixas e gravar em estúdio, com arranjos e banda.


O repertório do disco “Eu não posso parar” é totalmente autoral não é isso? Como foi feita a seleção das onze canções? 

SC - Sim, é um disco autoral, porém com três parcerias: “A Balada da Fejuca” é letra minha e de meu amigo publicitário Samuel Segatelli e melodia minha. “Lirios” é letra minha e de meu compadre Gustavo Sanches (Menudo) e melodia dele. “Ideal” e “Vitrine da Alma” são crônicas do livro Compêndio da Imaginação (Editora AG Book) de minha mãe Roseli Helena, onde tive a felicidade de musicá-los. A seleção de repertório se deu à partir de feedback de meu público, do arranjador Ronaldo Rayol e de meus gostos também. É um disco eclético, com vários estilos musicais e histórias. 


Não sei se estou enganado pois não sou especialista em poesia, mas vejo que “Selva de cerveja” tem um jogo de palavras que confere a canção um certo ar de poema abstrato. Como se deu o processo de composição dessa canção especificamente? E a utilização do neologismo tão recorrente nessa faixa? 

SC - Selva de Cerveja é uma das músicas mais loucas que tenho. Em 2005 eu e uns amigos saímos de Bauru – SP rumo à Londrina – PR, para o casamento de um amigo. Desde as primeiras cervejas, ainda em Bauru, até Londrina e depois por lá e na volta toda, todos nós “cozidos” falávamos e conversávamos mais ou menos assim: “ow passa a breja, vamos tomar mais uma bréja...me dá uma cerva...vamos tomar uma léuva, uma melva...”. E quanto mais “altos” ficávamos, mais apelidos carinhosos saíam para a cerveja. De volta à São Paulo (minha casa) escrevi o abecedário da cerveja, que conta a nossa saga rumo ao Paraná, Selva de Cerveja. E foi realmente uma selva [risos].


O artista independente nos dias atuais tem o total domínio sob seus projetos, desde a notória facilidade para a gravação até as questões mais burocráticas. A dificuldade que observo é quanto a distribuição desse material depois de pronto. Para que tudo isso reverbere de modo eficiente é preciso muito jogo de cintura para driblar os notórios jabás e total interatividade com as redes sociais e ferramentas cibernéticas. Como você trabalha esses dois aspectos? 

SC - De fato é difícil ser artista independente, principalmente pelo lado financeiro. Isso é minha percepção. Queria muito ter um empresário, produtor ou patrocínios. Todos os dias corro atrás disso. Não me importo em ter uma gravadora, mas queria apoio para poder realizar mais e de uma forma mais eficiente e abrangente. Ser músico é ter uma empresa. É necessário o financeiro, o administrativo, o marketing, a logística e a equipe. Eu tive uns pequenos patrocínios para gravar o meu primeiro disco. Divulguei-o em mídias sociais, players e YouTube. Também disponibilizei download grátis e distribuí mil cópias físicas, promocionais. Acredito que quanto mais pessoas baixarem, compartilharem e reproduzirem minhas músicas, melhor a minha promoção e popularização. Ainda não estou na fase de visar dinheiro com minha arte. Estou na fase da promoção, e feliz assim. A internet e o corpo a corpo tem me ajudado muito. Fazer sucesso não é sinônimo de qualidade artística. Eu sinto que todos tem o seu público e que há sim espaço para todos no mercado. É uma questão de tempo, foco, força e fé. E talento é claro, pois isso o perdurará no mercado. Outro meio de se “fazer sucesso” é um vídeo “estourado” no YouTube, um produtor / investidor ver potencial em você ou quem sabe depois de 15 anos na estrada você emplacar uma música. Conheço casos assim. Não há uma receita para o sucesso, pois sucesso é uma coisa muito pessoal. Cada um tem como meta o que é sucesso para si. Sucesso para mim é poder acordar todos os dias e fazer o que ama, e amar o que faz, sem pensar em dinheiro, pois dinheiro é consequência desse trabalho amoroso e bem feito. 


Quais os projetos arquitetados para este ano de 2013? 

SC - Para 2013 pretendo continuar fazendo que faço, só que com mais foco e mais força. Procurar mais e mais lugares para me apresentar artisticamente, com foco no autoral, fazer mais web clipes, compor / gravar novas músicas, escrever, blogar e dispender mais tempo para os trabalhos sociais e voluntários, o que me deixa muito realizado também. 
Obrigado ao Musicaria Brasil pela entrevista!

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