sábado, 2 de fevereiro de 2013

FREVO: DO ANONIMATO DAS CLASSES ABASTADAS A ELEMENTOS DE IDENTIDADE DO ESTADO


Nascido da palavra “ferver”, o frevo vem carregado de sua essência extraído de fervura, efervescência, agitação. Genuinamente pernambucana, a música surgiu no fim do século XIX, a partir de uma mistura de músicas. Há quem defenda os dobrados e bandas de polca como maiores influências. Os passos da dança também seriam resultado de outras manifestações, como dança de salão da Europa, além de passos de ballet e dos cossacos.

A dança se originou dos antigos desfiles quando era preciso que alguns capoeiristas fossem à frente do cortejo, para defender os músicos das multidões, dançando ao rítmo dos dobrados. Assim nascia o passo. Os dobrados das bandas geraram o frevo, cujo primeiro registro público do qual se tem notícia é de fevereiro de 1908, no Jornal Pequeno. Daí começaram as variações: frevo de rua, executado somente com instrumentos, o frevo-canção com introdução forte de frevo seguida de canção e frevo orquestrado, e o de bloco, cantado e tocado por orquestra de pau e corda.

“Foi, de fato, no Recife dos fins do século XIX, começos deste, que a música foi aparecendo, conduzindo a dança, ou a dança foi tomando corpo, sugerindo a música. É impossível distinguir bem: se o Frevo, que é a música, trouxe o Passo ou se o Passo, que é a dança, trouxe o Frevo. As duas coisas foram se inspirando uma na outra e completaram-se”, chegou a dizer o teatrólogo e compositor Valdemar de Oliveira.

A pesquisadora Rita de Cássia Barbosa aponta o ambiente das classes mais abastadas como berço do gênero pernambucano. O frevo tem como praticantes integrantes das camadas mais populares e, depois, se desenvolve na esteira da classe operária: várias agremiações são batizadas com desdobramento de movimentos de trabalhadores da época, como Verdureiros em greve e Cigarreiras em Greve. Os primeiros blocos - tidos inicialmente como alegoria e crítica - começam a surgir a partir dos anos 1870. Desprezado pela elite econômica do período - para quem ele sequer poderia ser considerado elemento do carnaval -, o ritmo demorou quase duas décadas para ter o primeiro registro público conhecido.

A relação com a multidão no período de momo, marcado antes por brincadeiras organizadas em festas de máscaras ou em carros, toma corpo na primeira década do século passado. A manifestação encontrava resistência em função do tratamento dispensado pela polícia, em geral violento, e por conta das brigas e confusões provocadas pelos praticantes.O clima se apaziguou quando as forças de repressão começaram a entender o frevo como uma demonstração genuína do carnaval - e o Congresso Carnavalesco Pernambucano, criado em 1911, chamou todos os segmentos envolvidos para reduzir as animosidades. Daí em diante, o frevo caminhou para se tornar elemento indispensável para entendimento, construção e reverberação da identidade cultural do estado.


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