Por Abílio Neto e Jaílson Paz
“Lalão, o pedreiro. Já escrevi algumas vezes que se houvesse a aplicação de princípios de direito econômico na música, o Rio de Janeiro seria punido por formação de cartel.
Acabo de chegar de uma roda de choro no Flamengo, no Rio, com um conjunto de músicos que brilharia em qualquer palco do mundo. O apartamento é do Rogério Caetano, o Rogerinho Sete Cordas, que o Reco me apresentou no Clube do Choro em Brasília, há alguns anos. Já era dos melhores. E não parou de crescer musicalmente, nem parou em Brasília: seguiu para o Rio.
Comandando a roda o gaúcho Yamandu Costa, que conheci aos 18 anos nos palcos do Tom Brasil. Muitas vezes exagera na velocidade, mas seu talento é ilimitado. A velocidade vem como se fosse um vulcão interno que não consegue parar dentro dele. Saiu do Rio Grande, parou no Rio.
Depois, o Alessandro, do Choro Rasgado, um piracicabano que começou a surgir para o choro há alguns anos no “Ó do Borogodó”. Toca de tudo, de violão a bandolim, e tem um nível quase similar ao do Yamandu. De Piracicaba foi para São Paulo. Vai acabar parando no Rio.
O quarto da roda era Armandinho, o bandolinista que conseguiu promover um corte na era Jacob e criar um novo estilo de tocar bandolim à altura do mestre maior. Tornou-se conhecido quando chegou ao Rio. Depois, chegou meu velho companheiro do Bar do Alemão, o Arismar do Espírito Santo.
E tocaram o paraguaio Barrios, e tocaram o venezuelano Lauro, e tocaram o argentino Eduardo Falú com um virtuosismo que não se vê nem em John Williams. Inacreditável o que fizeram com a Catedral, de Barrios, com a Valsa Criola, de Lauro, com a Quartelera, de Falú.
No final da minha estada, Yamandu sacou do coldre uma saraivada de choros de primeiríssima linhagem, uma mistura de Canhoto da Paraíba com Garoto, de uma sofisticação harmônica e melódica inacreditáveis. Os choros eram de Lalão.
Quem é Lalão? Lalão é um pedreiro que Yamandu conheceu em Recife há dois anos. Deve ter perto dos 50 anos. Este ano, Yamandu voltou só para gravar o gênio. Me disse que além de compor aqueles choros, Lalão interpreta como ninguém.
Vivo repetindo aos que falam em decadência da música brasileira: hoje em dia se tem a mais talentosa geração de instrumentistas da história. Mas poucos sabem. E menos ainda sabem que lá no Recife existe um pedreiro de nome Lalão capaz de compor choros que deixariam vermelhos de inveja os melhores harmonizadores do jazz.” (Luís Nassif em 26/07/2006)
Sobre esse fato de divulgarem que ele era pedreiro, Lalão não gostava e dizia que era “cachorrada”. Ele já tinha sido mestre de obras e esta experiência o capacitou para construir sua confortável casa de primeiro andar no bairro do Ibura. Mas não vivia nanando em dinheiro. Dizia que às vezes faltava grana para abastecer o carro.
Quando Canhoto da Paraíba já estava impossibilitado de tocar em função de um AVC que sofreu, houve um show em sua homenagem. E Canhoto foi logo avisando que tinha apenas um violonista em Pernambuco capaz de executar sua obra com toda a arte que ela exigia: Lalão.
Lalão vivia de música, mas não da que ele fazia. Tocava em bailes, em conjuntos de rock, interpretando repertório dos anos 80. Acompanhava na guitarra, desde 2008, o cantor Geraldo Azevedo em turnês, como aconteceu em 2012. Mas sua paixão mesmo era o violão, que ele só conseguia mostrar em saraus caseiros, em casas que visitava. Bastava começar a tocar para todos os presentes se encantarem. Mas, terminava a noite, ele recolhia suas composições e nada acontecia. Este final de semana, aos 57 anos, Esdras Mariano Rodrigues (Lalão) foi tocar para o Pai!!!
Morre Lalão, o "gênio anônimo do Recife"
Morreu neste sábado (16) no Recife o violonista Esdras Mariano Rodrigues, de 57 anos. Apelidado de Lalão, ele era admirado por músicos como Yamandu Costa e Luís Nassif, que também é jornalista e classificou o pernambucano de o “gênio anônimo do Recife”. O título foi o reconhecimento à qualidade das composições de Esdras.
Lalão faleceu na manhã deste sábado, horas depois de sentir-se mal. O músico havia sofrido um infarto antes do carnaval, razão pela qual não participou dos shows de Geraldo Azevedo, com quem trabalhava como guitarrista. Lalão havia recebido alta médica nessa sexta-feira (15). Ele estava internado no Hospital Agamenon Magalhães.
“Conversei com ele na Quarta-feira de Cinzas, e ele me disse que estava bem melhor. Esperava pela alta médica. Mas hoje veio essa notícia ruim”, contou o percussionista Jerimum de Olinda, também integrante da banda de Geraldo Azevedo.
O sepultamento de Lalão está previsto para este domingo (17), no Recife, mas a família ainda não havia acertado o lugar e o horário da cerimônia.
Em janeiro do ano passado, a Revista Aurora fez uma matéria de capa sobre o músico. Confira a edição do dia 29 de janeiro de 2012.
3 comentários:
Obrigado, Bruno. Lalão fará muita falta. Foi um baque para mim essa morte repentina dele!
Obrigado, caro Bruno, pela divulgação. Lalão fará muita falta. Para mim foi um baque essa morte repentina dele!
Obrigado, Bruno. Lalão fará muita falta. Foi um baque para mim essa morte repentina dele!
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