segunda-feira, 10 de junho de 2013

LUIZ GONZAGA É CEM: PREITO DE ANTONIO CARLOS & JOCAFI

Por Abílio Neto


Antonio Carlos & Jocafi é uma dupla de cantores, instrumentistas e compositores formada por Antônio Carlos Marques Pinto, nascido em Salvador/BA, ex-guitarrista da orquestra do maestro Carlos Lacerda, que na dupla faz uso da voz, banjo, cavaquinho e violão. O outro componente, Jocafi, mais precisamente José Carlos Figueiredo, que também nasceu em Salvador/BA e cursou Direito até o terceiro ano, se tornou Jocafi seguindo a redução onomástica com as três primeiras letras de seu nome e sobrenomes. Faz uso da voz e violão. Os dois tinham algum prestígio na Bahia em 1968, mas a dupla apareceu para o grande público no ano de 1969 quando inscreveu no "V Festival de Música Popular Brasileira" a música "Catendê" (Antônio Carlos, Jocafi e Ildásio Tavares), defendida por Maria Creuza. No ano seguinte, nova participação com a mesma música num festival no Nordeste. Em 1971, Maria Creuza gravou "Catendê" obtendo grande sucesso. Neste mesmo ano, a dupla participou do "VI Festival Internacional da Canção" com a composição "Desacato", classificando-se em segundo lugar. Logo depois assinou contrato com a RCA, lançando com êxito o LP "Mudei de idéia", no qual foram incluídas as faixas "Desacato" e "Você abusou", além da faixa-título, composições que fizeram enorme sucesso, recebendo inúmeras regravações, entre elas a de Maysa. 

Por essa época, a dupla era constantemente contratada para fazer trilhas para cinema e televisão. Entre as novelas da TV Globo destaca-se "O Primeiro Amor", para a qual compuseram o clássico infantil "Shazam e Xerife". Mais tarde, esta composição deu origem ao seriado homônimo, e ainda "Super-Manuela". Em 1972 a composição "Catendê" foi incluída no LP "Eu sei que vou te amar", de Maria Creuza, Toquinho e Vinicius de Moraes. A partir daí, o duo apresentou-se em vários festivais e excursionou pelo Brasil e exterior. No ano de 1974, a dupla obteve êxito com a composição das músicas "Toró de lágrimas" (c/ Vevé Calazans) e "Dona flor e seus dois maridos". No mesmo ano, conquistou o 2º lugar no primeiro "World Popular Song Festival", de Tóquio (Japão), com a música "Diacho de dor". Participou, em 1978, do "Projeto Pixinguinha" em turnê pelo Nordeste em show com Paulo Moura, Roberto Silva e Júlio São Paio. 


No ano seguinte, 1979, lançou o LP "Trabalho de base", lançado pela RCA Victor. Em 1984, lançou o LP "Pássaro fugido" pela gravadora Polydor, disco no qual a dupla assinou com o arranjador e guitarrista Júlio São Paio seis composições. Deste disco, destacou-se "Estrela amante", regravada mais tarde pelo cantor Peninha. No ano de 1986, os dois lançaram o LP "Feitiço moleque", no qual foram incluídas, entre outras, "Aventureiro" (Antonio Carlos, Jocafi e Júlio São Paio), que se tornou tema da novela da Globo "Sinhá-Moça", exibida no exterior, divulgando a composição em mais de 20 países. No ano seguinte, o grupo "Banda do Forró Forrado" gravou "Forrobodó", composição de autoria de Antonio Carlos, Jocafi e Júlio São Paio. Em 1994, gravou o disco "Samba, prazer e mistério", no qual incluiu as faixas "Vá brincando" e "Negócio de cumadre". No ano seguinte, a gravadora BMG lançou o CD "Grandes autores - Antônio Carlos & Jocafi". Em 2002, a dupla apresentou-se no Vinicius Piano Bar no Rio de Janeiro. No ano de 2006 eles apresentaram-se no Bar Brahma, em São Paulo e no Vinicius Piano Bar, em Ipanema, no Rio de Janeiro.


Em 2010 a dupla foi homenageada na cidade de Salvador pela Escola Baiana de Canto Popular, no palco do Teatro Solar Boa Vista, com o show "Kabaluerê", comemorando os seus 40 anos de atividades artísticas. No ano de 2011, a dupla voltou a fazer temporada no palco do Vinicius Piano Bar, no bairro de Ipanema, no Rio de Janeiro. 

O maior sucesso dos dois continua sendo a composição "Você abusou", que, a partir de 1973, virou sucesso internacional, especialmente na França, cuja versão passou a chamar "Fais comme l'oiseau", feita por Michel Fugain. Virou até hino do Partido Socialista, porém esse artista francês assinou como sendo ele o autor da música demonstrando que gente esperta existe até no primeiro mundo. A dupla teve que entrar na justiça, ganhando a causa, mas parte do povo da França acredita, infelizmente, que a composição é mesmo de autoria desse tal Michel. A mesma música também tem versões em espanhol e japonês, além de gravações de Célia Cruz, Sérgio Mendes e Stevie Wonder. Entre os intérpretes de Antônio Carlos e Jocafi destacam-se também Luiz Gonzaga, Elis Regina e Gilberto Gil.

A discografia da dupla, didaticamente exposta, é esta:

Mudei de ideia (1971) – RCA Victor - LP
Cada segundo (1972) - RCA Victor - LP
Antonio Carlos & Jocafi (1973) - RCA Victor - LP
Definitivamente (1974) - RCA Victor - LP
Ossos do ofício (1975) - RCA Victor - LP
Antonio Carlos & Jocafi (1976) – RCA Victor - LP
Louvado seja (1977) - RCA Victor - LP
Elas por elas (1978) - RCA Victor - LP
Trabalho de Base (1980) - RCA Victor - LP
Pássaro fugido (1984) - Lança/Polygram - LP
Feitiço moleque (1986) - Continental - LP
Samba, prazer e mistério (1994) - RCA/BMG - -LP/CD
Grandes autores: Antônio Carlos e Jocáfi (1995) - BMG – CD
Antonio Carlos & Jocafi cantam Jorge Amado (1996) – BMG Brasil.

Seus maiores sucessos são estes: Você Abusou, Jesuíno Galo-Doido, Dona Flor e Seus Dois Maridos, Desacato, Toró de lágrimas, Mas que doidice, Sem Vergonheira e Catendê.
Impressões dos colegas, fãs e amigos:

Conheci Antônio Carlos, creio que por intermédio de Ildásio Tavares, seu letrista em várias composições, antes dele haver formando a dupla com Jocafi. Não era ainda célebre, mas já se casara com uma das maiores cantoras brasileiras, Maria Creuza, admirável artista e admirável pessoa, musa inspiradora do compositor. Ainda há pouco ouvi, num filme francês feito sobre romance baiano, sua voz magnífica interpretando melodias da dupla e de Walter Queiroz Júnior. Não conheço Jocafi pessoalmente, mas votei em composição sua, linda cantiga do Tororó, num festival do qual, ao lado de Caymmi e de Cyva Leite de Oliveira, fui juiz, festival inesquecível! Que vaia! O sucesso acompanha a dupla Antônio Carlos e Jocafi desde que ela se formou e apareceu diante do público. Os dois moços baianos situam-se hoje entre os compositores mais populares do Brasil, conhecidos, aplaudidos, amados não apenas no país, também no estrangeiro. Houve um momento, em 1974, que em Paris a canção mais cantada e tocada era “Você abusou, tirou partido de mim, abusou”. Perguntem a Calazans Neto que vibrava de patriotismo, a cada instante, com o sucesso dos rapazes.Sucesso merecido. Duplamente merecido quando as músicas por eles compostas são interpretadas por Maria Creuza, voz da Bahia.” (Jorge Amado)

Eu gosto muito do trabalho deles, porque apresentam um diferencial muito importante em sua arte: Antonio Carlos e Jocafi fazem uma música irresistivelmente popular, comunicativa, mas que tem muita essência. Eu cito como uma de minhas favoritas Dona Flor e Seus Dois Maridos, um samba sensacional que eu acredito ser uma das melhores coisas feitas aqui no Brasil.” (Rildo Hora – Produtor musical)

O trabalho com Antônio Carlos e Jocafi, é um marco de sucesso em minha vida profissional. Criatividade, qualidade e afeição eram palavras de ordem. Orgulho-me desse momento vivido, guardando-o com zelo e carinho.” (Leonardo Bruno – Maestro)

O Brasil é o país dos artistas. Todo mundo toca, todo mundo canta, todo mundo compõe músicas, mas foram poucos os que contribuíram efetivamente com sua criação, para esse variado e fabuloso cenário musical. Essa dupla conseguiu inovar na área mais tradicional da nossa musica, o samba. Lembro-me bem do susto que levei ao ouvi-los pela primeira vez. Que susto bom! Gostoso! Tive a sorte de, como arranjador e produtor, participar da gravação de vários de seus sucessos. Eles estão na história.” (Roberto Menescal – Músico e produtor musical)

Em 1977, a dupla aprontou uma presepada com Luiz Gonzaga convidando-o para participar da gravação do xote “Cordel”, de Jocafi e Antonio Carlos. A música gravada no fim da década de setenta e trazida para esta época ridícula do politicamente correto, faria do Rei do Baião certamente um homofóbico juramentado, conforme diria Odorico Paraguassu. Mas não é nada disso! A música é extremamente bem humorada e fala de um transviado fã de rock que chega ao sertão e manda (falando fino) parar um forró para tocar o seu gênero preferido com guitarra e distorção, contaminando até os jagunços ali residentes, a exemplo de Zé Sete Mortes. Se fosse uma música falando mal de cangaceiro, Gonzaga não participaria!

É uma das mais interessantes participações de Luiz Gonzaga em discos de outros artistas. Na festa dos seus 100 anos é bom escutá-la novamente.

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