terça-feira, 18 de junho de 2013

HISTÓRIA DA CARREIRA DO MAESTRO LUIZ AGUIAR SE CONFUNDE COM A EVOLUÇÃO DA MÚSICA E DA ÓPERA NA CIDADE

Músico acompanhou gerações de vozes e regentes marcantes em Minas Gerais.


Por Sérgio Rodrigo Reis




A paixão movia o fazer artístico. Os cenários dos espetáculos eram simples, os palcos não tinham tantos recursos técnicos, mas isso não impedia que realizassem temporadas anuais de até seis montagens. Hoje, os tempos são outros e, mesmo com o aumento do público em busca de novidades e melhoria técnica e artística, as temporadas operísticas ficaram mais tímidas e caras. A trajetória do maestro Luiz Aguiar, que completa 60 anos de carreira, confunde-se com essa história. Desde o início como bailarino e, mais adiante, como regente de coro ou na área que o notabilizou, o mundo da ópera.

Filho de italianos, só aprendeu português aos 8 anos. Até hoje, na casa dele, no Bairro Santa Efigênia, em Belo Horizonte, todos conversam em italiano. “Falo português como um brasileiro e italiano como um italiano”, resume.

A versatilidade lhe abriu portas. Mesmo tendo iniciado a carreira como estudante de medicina, sobretudo para satisfazer pressões familiares, quando estava no terceiro período ganhou bolsa para estudar música durante um ano, na Itália. Não pensou duas vezes. “Optei por Roma. Na época, já era bailarino, mas o preconceito era tanto que resolvi aprofundar os estudos de música, tocava piano.” Ao terminar a bolsa, foi surpreendido com a possibilidade de estudar mais um ano. Quando voltou ao Brasil, recebeu a notícia de que havia sido jubilado do curso de medicina. “Enquanto meu pai queria que eu terminasse os estudos, minha mãe insistia para que ele me deixasse fazer o que gostava. Vivia uma luta interior. Quando me jubilaram, dei o assunto por encerrado”, conta.


Transição

idade acabou perdendo um médico, mas ganhou uma das personalidades mais entusiasmadas da música e da ópera. “Minha vida se confunde totalmente com a trajetória de locais como o Francisco Nunes e o Palácio das Artes. No Chico Nunes, chegava às 9h da manhã e saía às 23h. No Palácio das Artes, não foi diferente.” Ao todo ele participou da produção de 80 óperas. De alguns títulos como 'La traviata', de Giuseppe Verdi, participou de 27 montagens. “Sou a transição. Conheci o passado, a época do Teatro Municipal, depois Teatro Metrópole; o apogeu do Francisco Nunes (ex-Teatro de Emergência) e vi o nascimento do Palácio das Artes e a sua evolução no campo da ópera, dos cenários pintados para os construídos, a partir da presença do grande arquiteto e cenógrafo Raul Belém Machado. Ele foi um grande passo para a modernidade.

O interesse pela ópera é antigo. A primeira montagem foi 'O sertão', baseada no clássico 'Os sertões', de Euclides da Cunha. Estreou em 29 de novembro de 1953, no Teatro Francisco Nunes. Foi composta pelo francês Fernand Jouteux durante 14 anos. Ele tinha vindo estudar no Brasil, no Nordeste, impressionou-se com aquela realidade, com o livro, e resolveu propor uma ópera. Como o título foi preterido por São Paulo e pelo Rio de Janeiro, acabou estreando primeiramente em Belo Horizonte, muito pelo entusiasmo da cantora lírica Lia Salgado, que havia se impressionado com a temática. Luiz Aguiar participou de forma secundária do processo, como dançarino do espetáculo. Tudo aquilo o impressionou. Tinha 18 anos. Foi ali que começou a se encontrar artisticamente. 


Vozes impecáveis

A chegada do maestro italiano Sergio Magnani a BH, em 1951, foi crucial para a carreira de Luiz Aguiar. Como não falava português, Magnini viu nele a possibilidade de parceria produtiva. Tornaram-se amigos. Aguiar lembra que, na época, seu trabalho à frente de coros particulares como o do Sesiminas, onde ficou por 30 anos, começou a chamar a atenção da cena local. “A experiência que adquiri ao lado de Magnani foi o mais importante na minha carreira. Aqueles tempos deixaram saudades. As universidades hoje estão desorientadas. Formam pessoas que têm informação mas não têm o saber”, compara. 

Daqueles tempos guarda informações preciosas. “Nos faltava tecnologia, mas as vozes eram impecáveis. Foi um período em que produzimos as principais vozes de Minas: da soprano Zilda Lourenço, da contralto Genuína Pinheiro, do tenor João Décimo Breschia, do barítono Murilo Badaró e do baixo Edson de Castilho.”

Ele acompanhou o surgimento de outras vozes, de uma segunda geração, com destaque para Maria Helena Buzelin (soprano), Maria Carmen Camarano (contralto), Montalvo Monducci (tenor), Wilson Simão (barítono) e Aymore Tomagnini (baixo). Também foi testemunha do trabalho de maestros vindos de fora como Mário De Bruno, Edoardo de Guarnieri e Santiago Guerra; e dos mineiros Sebastião Viana José Torre e Marum Alexander.

Como a história de Luiz Aguiar se confunde com a evolução musical de Minas, nas últimas décadas, toda vez em que ele se propõe a falar sobre sua experiência, alguns dos personagens cruciais para a evolução cultural do estado vêm à tona, assim como boas recordações de uma vida repleta de aplausos e realizações.


2 comentários:

Anônimo disse...

O Maestro Luiz Gonzaga de Aguiar, nascido no Brasil, conhecido mundialmente é, sem dúvida, um marco na História Universal. Competência e Cultura - Ícone da Musica em todos os tempos. Mestre Aguiar sempre diz: Música não é arte, música é ciência que ao ser interpretada musicalmente torna-se arte. Maestro Aguiar, na música faz ciência; na arte da regência desenha e colori sem pincéis. Isso faz a diferença. O Mundo agradece por você existir. AlmaGitana.

Anônimo disse...

O talentoso Maestro Luiz Gonzaga de Aguiar, orgulho da capital mineira, após 79 anos de idade - partiu ontem - 21/03/2014 - para a GRANDE VIAGEM. Cumpriu corajosamente aqui no planeta Terra a MISSÃO que lhe fora destinada caminhando por searas às vezes muito difíceis mesmo assim conseguiu seguir o FAROL que o conduziu aos cabedais do conhecimento, da experiência e do saber. Deixou-nos o legado de Cultura Musical num acervo incomparável que contará, em todos os tempos, dentro da sua própria História de Vida, a História das Artes Clássicas Musicais no Brasil. Colunas jornalísticas escritas por ele, desde 1959, deram origem a edição da obra que será lançada, em breve, no Grande Teatro Palácio das Artes,o que enriquecerá ainda mais o acervo cultural de Belo Horizonte. Maestro, o Universo agradece por você ter existido. AlmaGitana. Em 22-03-2014

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