Banda lança novo álbum sete anos após a bem-sucedida brincadeira de tocar músicas antigas com instrumentos para crianças, que participam também nos vocais
Por Mariana Peixoto
Como explicar a um grupo de crianças, algumas em fase de alfabetização, que em 1980 a new wave dominava a música pop e que uma banda da Georgia (EUA) com nome de um avião de guerra havia feito muito sucesso com a música Private Idaho?
Nasceu assim The Biff com Xuxu’s, a tradução que John Ulhoa, guitarrista, compositor e produtor do Pato Fu, encontrou para The B-52s, o quinteto criado na cidade de Athens que dominou as rádios e as pistas daquela década. No refrão de Private Idaho, gravado por Fernanda Takai, haveria a participação das crianças. Dessa maneira, pelo menos para os meninos, You’re living in your own private Idaho (Você está vivendo no seu Idaho particular) virou Iorón praivi raidarrô.
“Elas são meio desafinadas, não é tudo limpinho. Neste caso, a imperfeição é boa, o erro é legal, pois é uma criança que está ali”, comenta Fernanda. Sete anos atrás, quando o Pato Fu lançou o álbum Música de brinquedo, maior sucesso da banda mineira na última década, havia três crianças em cena, uma delas era Nina, única filha de Fernanda e John.
Sete anos mais tarde, Nina é uma adolescente prestes a completar 14, e o grupo volta à tona com Música de brinquedo 2. Agora não são mais as três (Nina e Mariana, cantoras do primeiro disco, só participaram de uma faixa do novo, Mamãe natureza), mas 10 crianças de até 8 anos – boa parte delas filhas dos primeiros fãs do Pato Fu – participaram das gravações. O álbum, que traz o mesmo conceito do anterior – antigos hits gravados com instrumentos de brinquedo – reúne 11 faixas (veja a lista abaixo). O lançamento será hoje nas plataformas digitais. O CD físico, pelo selo Rotomusic/Deck Disc, estará nas lojas a partir de 11 de setembro (R$ 29,90).
Tanto tempo depois do primeiro álbum, que rendeu shows até poucos meses atrás, ficou mais fácil ou mais difícil? “Continua sendo trabalhoso, mais ficou mais fácil”, afirma John, que pilota a produção de seu estúdio, 128 Japs, montado nos fundos de casa, na Pampulha. “Gravar a parte técnica é um negócio que chama a atenção, mas hoje aprendemos a técnica de estúdio, como gravar um instrumento pequeno. A parte mais difícil é a escolha do repertório.”
CRITÉRIOS E este tem de obedecer a alguns critérios da própria banda. A música tem que ser antiga (a mais recente do disco é Livin’ la vida loca, que Ricky Martin lançou no fim da década de 1990), ter sido um sucesso, mas o público tem que conhecer a parte instrumental. “A graça está em reconhecer uma música antiga com os instrumentos de brinquedo”, acrescenta John. E tem ainda que ser uma canção para adultos.
Depois de muito procurar, a banda chegou a um repertório bastante diverso. Das nacionais, a seleção vai de Palco (Gil) a Mamãe natureza (Rita Lee, que teve uma música no álbum anterior, Ovelha negra), passando por Genival Lacerda (Severina xique-xique) e João Bosco (Kid Cavaquinho). Das internacionais, além do B’52s e Ricky Martin, há também Police (Every breath you take) e Rita Pavone (Datemi un martello). D’yer mak’er, o reggae do Led Zeppelin dos anos 1970, estava na lista final, mas a editora da banda inglesa não liberou a gravação.
Tudo é de brinquedo no disco. “Mesmo que tenha um som eletrônico, ele vem de um instrumento, e não de um sample. O som de uma menina fazendo um gatinho (que abre Palco) vem de um tecladinho com cara de gato”, conta John. Houve exceções para alguns instrumentos “de adulto”. O solo de guitarra de I saw you saying, dos Raimundos, foi gravado com um stylophone, uma espécie de sintetizador portátil que deve ser tocado com uma caneta que se parece com um radinho portátil. Lançado nos anos 1960 e relançado recentemente, foi utilizado por David Bowie na gravação de Space oddity.
Além do Pato Fu – hoje formado por Fernanda, John e Ricardo Koctus, o núcleo-fundador, além do baterista Glauco Mendes e do tecladista Richard Neves e das crianças –, Música de brinquedo 2 conta, mais uma vez, com a participação de Groco e Ziglo. Os bonecos do Giramundo, com as vozes dos manipuladores Ulisses Tavares e Beatriz Apocalypse, que gravaram Não se vá e Severina xique-xique.
Agora com o disco pronto, o Pato Fu se prepara para um desafio ainda maior. Botar Música de brinquedo 2 no palco. A estreia será em outubro, no Sesc 24 de Maio, a recém-inaugurada unidade do Sesc no Centro de São Paulo. Serão oito apresentações entre os dias 12 e 15 (com duas sessões diárias). Belo Horizonte ainda não tem data confirmada. No palco, 10 pessoas. Os cinco “Fus” mais três manipuladores do Giramundo e dois músicos convidados (a tecladista Camila Lordy e o baixista Thiago Braga, da banda Todos os Caetanos do Mundo).
“No estúdio, é mais uma questão de bolar o arranjo e ver que instrumento serve para qual música. No show você tem que ter alguma eficiência como músico usando instrumentinhos”, conta John. É nessa hora que os músicos voltam à escola. Todos ganham deveres de casa, que é o de levar os instrumentos de brinquedo para casa para treinar e “não dar muito vexame nos ensaios”.
Música de brinquedo 2
• Artista: Pato Fu
• Gravadora: Rotomusic/Deck Disc
• Preço sugerido: R$ 29,90 (nas lojas a partir de 11/9)
• FAIXA A FAIXA
Confira o repertório do novo álbum
1 – Palco (Gilberto Gil, 1981)
2 – Livin’ la vida loca (Desmond Child/Robi Rosa, sucesso de Ricky Martin de 1999)
3 – Kid Cavaquinho (João Bosco/Aldir Blanc, 1975)
4 – I saw you saying (That you say that you say) (Gabriel Thomaz/Rodolfo, sucesso dos Raimundos de 1996)
5 – Rock da cachorra (Léo Jaime, 1982)
6 – Datemi un martello (If I had a hammer) (Lee Hays/Pete Seeger/ versão de Sergio Bardotti; a música original, em inglês, é de 1949; a versão italiana, sucesso de Rita Pavone, é de 1963)
7 – Severina xique-xique (João Gonçalves/Genival Lacerda, 1975)
8 – Every breath you take (Sting, sucesso do The Police de 1983)
9 – Mamãe natureza (Rita Lee, 1974)
10 – Private Idaho (Frederick Schneider/Julian Strickland/Ricky Wilson/Cynthia Wilson/Catherine Pierson, sucesso do The B-52’s de 1980)
11 – Não se vá (Tu t’en vas) (Alain Louis Bellec/versão de Thina; a música original, em francês, é de 1974; a versão em português, popular com a dupla Jane e Herondy, é de 1976)
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